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Há cerca de um mês, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) decidiu pela proibição da comercialização de mamadeiras de plástico que contenham o componente tóxico bisfenol A. Já existe um grande corpo de evidências científicas dos riscos à saúde dessa substância, e parece que o problema já começa na barriga da mãe.

 

Mais uma pesquisa sobre o assunto foi publicada hoje pelo periódico oficial da Academia Americana de Pediatria, Pediatrics. Cerca de 250 mães americanas e seus filhos foram acompanhados de forma prospectiva desde o início da gestação. A concentração de bisfenol A foi medida na urina das mães durante a gestação e nos primeiros três anos dos filhos. As crianças também foram submetidas a testes de avaliação de comportamento e funções cognitivas. 

 

O bisfenol A estava presente na urina de 97% das gestantes e das crianças, sendo que a concentração era maior entre os pequenos. Quanto maior a concentração da substância nas mães durante a gestação, maiores eram os índices de ansiedade, hiperatividade e sintomas depressivos nas crianças, e de uma forma bem mais expressiva nas meninas. Essa mesma associação não pôde ser demonstrada com a concentração do bisfenol A das crianças.

 

Mas por que o efeito nas meninas é diferente? O bisfenol A tem ação similar ao hormônio estrogênio e pode influenciar os neurotransmissores e o sistema endócrino, o que pode alterar a diferenciação sexual do cérebro e o comportamento de uma forma diferenciada de acordo com o gênero.

 

Evitar a exposição ao bisfenol A é uma boa recomendação para todos nós, independente de gênero e idade. Uma gestante tem boas razões para ter mais cuidados ainda. Uma dica fácil é evitar alimentos e bebidas em lata e utensílios de cozinha plásticos que contenham a substância e que podem ser reconhecidos pelos números 3 ou 7 no símbolo de reciclagem do plástico.

 

 

 

 

 

Não há como prevenir o derrame cerebral.

Mito. Quando uma pessoa está tendo um derrame cerebral, um vaso sangüíneo do cérebro esta sendo obstruído ou rompido naquele momento, e uma parte do cérebro está por ser destruída. O derrame cerebral é mais comum entre as pessoas que têm hipertensão arterial, diabetes, colesterol alto, doenças do coração e naqueles sedentários, que fumam e usam muito álcool. Calcula-se que o indivíduo que identifica e trata um desses fatores de risco reduz seu risco de AVC pela metade. Mais importante ainda é o fato que esse mesmo indivíduo que adota hábitos de vida saudáveis é capaz de influenciar as pessoas ao seu redor a assumirem também esses bons hábitos. Saúde é mesmo contagiante!

 

O derrame cerebral está se tornando menos comum.

Verdade, mas só nos países ricos. Nas últimas quatro décadas (1970-2008), a incidência de derrame cerebral diminuiu em 42% em países ricos e aumentou mais de 100% em países de baixa e média renda, sendo que o Brasil se encaixa nesse último caso. Na última década, a incidência de derrame cerebral em países de baixa e média renda ultrapassou pela primeira vez a dos países ricos (20% maior).

 

A cidade de Joinville-SC não acompanha essa tendência dos países de baixa e média renda. Num intervalo de dez anos (1995-2006) houve uma redução relativa de um terço na incidência e mortalidade por derrame cerebral e na sua taxa de fatalidade. A redução da incidência de derrame cerebral sugere que a população recebeu mais assistência primária e melhores ações preventivas: controle de pressão alta, diabetes, colesterol, redução do tabagismo, etc. A redução da incidência na mortalidade reflete, em parte, um melhor atendimento em nível hospitalar. Os indicadores demonstrados são comparáveis aos de países ricos.

 

Derrame cerebral é coisa só de gente velha.

Mito.

O problema é mais comum entre os idosos, mas acontece também entre os jovens, muitas vezes por malfomações congênitas dos vasos sanguíneos do cérebro, problemas da coagulação, doenças do coração e por consumo de sustâncias como cigarro, cocaína e crack.

 

Todo tipo de pílula anticoncepcional ou reposição hormonal aumenta risco de derrame cerebral entre as mulheres?

Mito.  No caso da pílula anticoncepcional, as pílulas sem hormônio estradiol podem ser vistas como seguras mesmo para as mulheres que já têm uma predisposição para eventos vasculares, como é o caso da enxaqueca com aura, enxaqueca em que a dor é precedida ou acompanhada de sintomas neurológicos como flashes na visão ou alteração da sensibilidade de um lado do corpo. Já a reposição hormonal para alívio dos sintomas da menopausa, o uso prolongado desse tipo de tratamento, além de não proteger a mulher da doença coronariana, aumenta o risco de derrame cerebral, trombose nas veias e câncer de mama. Há evidências também de que não há aumento do risco de derrame cerebral quando a dose do hormônio estradiol é baixa e quando usado sob a forma de adesivos na pele.

 

Medicações para controlar o colesterol diminuem o risco de derrame cerebral mesmo para quem tem o colesterol normal?

Em parte é verdade. O atual corpo de evidências aponta que indivíduos que apresentam fatores de risco vascular como o diabetes e a hipertensão arterial podem se beneficiar do uso das estatinas como prevenção de derrame cerebral, especialmente aqueles com mais de 65 anos de idade. E esse benefício existe mesmo que o indivíduo não tenha problemas com seus níveis de colesterol.

 

A erva Ginkgo biloba ajuda a prevenir o derrame cerebral.

Mito.

São mais de duas décadas de estudos clínicos com resultados que não justificam o uso do Ginkgo biloba paraprevenção de derrame cerebral ou da Doença de Alzheimer.Há estudos em que o uso da erva já foi até associado a um maior risco de derrame cerebral.

 

Ter uma visão otimista da vida protege-nos do derrame cerebral.

Verdade. Uma expectativa negativa do futuro pode influenciar a saúde através de mudanças nos hábitos de vida, mas também por fatores biológicos, como alterações na atividade do sistema nervoso autônomo.

 

Comer peixe ajuda a prevenir o derrame cerebral.

Verdade. Consumo de peixe reduz sim o risco de derrame cerebral. O importante é que esse efeito protetor deixa de existir quando o peixe é frito.

 

O consumo de café faz mal à saúde e pode até aumentar o risco de derrame cerebral?

Mito. O consumo de café está associado a menores índices de mortalidade, especialmente pela redução de infarto do coração e derrame cerebral. Quatro a cinco xícaras por dia traz mais benefícios que consumos menores. 

 

Comer frutas e verduras todos os dias reduz o risco de derrame cerebral.

Verdade. O hábito de comer cinco porções de frutas e verduras por dia traz benefícios inequívocos à saúde dos vasos sanguíneos, com redução expressiva dos riscos de infarto do coração e derrame cerebral. Essa é a atual recomendação da Associação Americana do Coração.

 

Uma dose de álcool por dia reduz o risco de derrame cerebral.

Verdade. Nos últimos anos, uma série de estudos tem demonstrado que o consumo moderado de álcool reduz o risco de doenças cardiovasculares, incluindo o infarto do coração e o derrame cerebral. Isso significa que quem bebe pouco tem menos eventos cardiovasculares do que aqueles que não bebem. Entretanto, o consumo exagerado traz mais risco. Devemos entender consumo moderado como até duas doses de bebida por dia para homens e uma dose para mulheres. As pesquisas ainda apontam que esse efeito protetor do consumo diário e moderado deixa de existir quando a pessoa exagera na dose mesmo que seja por apenas um dia no mês.

 

Mesmo com essas evidências, não é recomendável que indivíduos que não bebem comecem a beber. Entretanto, entre aqueles que já têm o hábito de beber, estes devem beber moderadamente e de preferência vinho tinto.

 

 

Praticar exercícios físicos e manter o peso em dia são atitudes que nos protegem das doenças do coração, mas não do derrame cerebral.

Mito.

Atividade física regular associada ao hábito de não fumar e uma dieta inteligente é capaz de reduzir pela metade o risco de derrame cerebral. Não é pouca coisa não.

 

 

 

 

 

Um dos grandes marcos da medicina desse início de século foi o estudo Women’s Health Initiative (WHI) que teve de ser interrompido no ano de 2002, quando se demonstrou que a terapia de reposição hormonal (TRH) tinha mais potencial de provocar danos à saúde às mulheres na menopausa do que um comprimido placebo.  Desde então, as indicações de terapia de reposição hormonal diminuíram drasticamente, e já são muitas as evidências de que o uso prolongado desse tipo de tratamento, além de não proteger a mulher da doença coronariana, aumenta o risco de derrame cerebral, trombose nas veias e câncer de mama.

 

Nesta semana, o JAMA, periódico oficial da Associação Médica Americana, publicou mais um desdobramento do estudo WHI. Desta vez, após 11 anos de seguimento de mais de 16 mil mulheres, os pesquisadores confirmaram que a frequência de câncer de mama realmente é maior com o uso da TRH e que a doença é mais agressiva quando associada a esse tipo de tratamento: diagnóstico em estágios mais avançados da doença, lesões maiores e maiores índices de mortalidade.

 

Novos estudos deverão testar a segurança da TRH por períodos mais curtos e com doses mais baixas, e já existem alguns resultados otimistas nesse sentido: a TRH por via transdérmica, ou seja, por adesivos na pele, parece não aumentar o risco de derrame cerebral. Com o corpo de conhecimento que temos até o momento, é fundamental que o médico discuta muito bem o custo-benefício da TRH para que a mulher tome a decisão da forma mais consciente possível.

 

Obs: Já foi demonstrado que as vendas de medicações para TRH caíram fortemente já no primeiro ano após os primeiros resultados do estudo WHI. É de se esperar que futuras pesquisas evidenciem uma diminuição da mortalidade por câncer de mama nos últimos anos, e a redução da indicação de TRH pode ter sua parcela de contribuição.

 

RECOMENDAÇÕES ATUAIS PARA O USO DA TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL (TRH)

1- A TRH só deve ser indicada se os sintomas de menopausa forem moderados a severos;

2- As mulheres devem avaliar cuidadosamente os potenciais riscos e benefícios da TRH;

3- Os hormônios devem ser usados na mínima dose e pelo menor tempo possível;

4- A TRH não deve ser utilizada para a prevenção de doenças cardiovasculares ou demência;

5- A mulher em uso de TRH deve ser clinicamente reavaliada a cada 3-6 meses ou pelo menos anualmente.

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** CLIQUE AQUI e confira bate-papo entre o Dr. Ricardo Teixeira e o jornalista Estevão Damasio no dia 22 de outubro 2010 na Rádio CBN Brasília. Eles discutem uma pesquisa recém-publicada pelo periódico JAMA que analisa o custo-benefício do tratamento de reposição hormonal em mulheres na menopausa.

 

 

Já é consenso que a indicação de terapia de reposição hormonal [TRH] para a melhora de sinais e sintomas da menopausa deve ser restrita a mulheres com sintomas moderados a severos e utilizada pelo menor tempo e com a mínima dose possíveis. Essas recomendações são decorrentes do fato de que a TRH prolongada eleva o risco de câncer de mama, trombose nas veias e derrame cerebral. Entretanto, essas informações têm origem em estudos que analisaram a TRH por via oral e ainda não se sabe se por via transdérmica (adesivos na pele) o tratamento também oferece riscos às mulheres. Teoricamente, as repercussões biológicas do hormônio por via transdérmica sobre o sistema vascular são diferentes das formulações orais, especialmente por não terem passagem pelo fígado após sua absorção.

 

Uma pesquisa publicada neste mês pelo British Medical Journal revela que a TRH quando utilizada por via transdérmica e com baixas doses do hormônio estrogênio não aumenta o risco de derrame cerebral. Foram analisados os registros de ocorrência de derrame cerebral de 870 mil mulheres inglesas com idades entre 50 a 79 anos de idade num período de 20 anos. Quase 16 mil mulheres apresentaram diagnóstico de derrame cerebral nesse período e elas foram comparadas a um grupo controle de 60 mil mulheres sem história de derrame. Diversas características dessas mulheres foram analisadas, incluindo a exposição à TRH. O tipo de hormônio utilizado foi dividido nas seguintes categorias: estrogênio, progesterona, estrogênio associado a progesterona, tibolona. O hormônio do tipo estrogênio foi classificado ainda quanto à sua forma de administração – oral ou transdérmica – e quanto à dose – baixa ou alta.

 

Os resultados mostraram que o uso de TRH por via transdérmica com baixas doses de estrogênio, com ou sem progesterona, não aumentou o risco de derrame cerebral, mas com altas doses o risco foi maior. Já a TRH por via oral foi associada a uma maior chance de derrame cerebral, com altas ou baixas doses de estrogênio, com ou sem progesterona. A TRH por via oral apenas com estrogênio ofereceu maior risco de derrame do que quando associada à progesterona. Além disso, quanto maior o tempo de uso, maior também foi o risco.

   

As pesquisas têm apontado que a TRH por via transdérmica é considerada tão eficaz quanto as formulações por via oral para a melhora dos sintomas associados à menopausa. O presente estudo sugere que do ponto de vista cerebrovascular a TRH transdérmica com baixas doses de estrogênio é uma alternativa segura para melhorar os sintomas associados à menopausa. Já há evidências também de que por via transdérmica a chance de trombose das veias também é menor. Esses resultados não são definitivos e ainda são necessários novos estudos que confirmem a segurança desse tipo de tratamento.

 

 

 

Nesta semana, o British Medical Journal publicou uma pesquisa revelando que pessoas obesas têm uma vida sexual de qualidade inferior, sugerindo que esses dois problemas andam juntos num círculo vicioso.

 

A pesquisa foi conduzida na França e envolveu mais de 12 mil homens e mulheres com idades entre 18 e 69 anos. Os resultados mostraram que as mulheres obesas tinham uma chance 30% menor de ter um parceiro sexual nos 12 meses anteriores à pesquisa e tinham menos convicção de que o sexo representa uma questão importante para suas vidas. Além disso, as mulheres obesas conheciam mais frequentemente seus parceiros pela internet e era mais comum que esses parceiros fossem obesos também. O resultado mais preocupante do estudo foi o fato das mulheres obesas, com idades entre 18 e 29 anos, usarem métodos anticoncepcionais com menor freqüência e ainda apresentarem um risco quatro vezes maior de gravidez indesejada.

 

Já no caso dos homens, os obesos tinham uma chance 2.6 vezes maior de apresentarem disfunção erétil e apresentavam um maior risco de infecções sexualmente transmissíveis e comportamento sexual de risco. Os homens se enxergavam como obesos de forma menos comum do que as mulheres, e de uma forma geral, os efeitos da obesidade sobre a saúde sexual foram mais significativos nas mulheres, o que pode ser explicado pelo fato delas enfrentarem um estigma maior associado à obesidade.

 

O estudo francês serve de estímulo para que se investigue o impacto da obesidade na vida sexual de outras culturas. Deve também servir de alerta aos médicos de que a saúde sexual dos obesos merece uma atenção redobrada. É difícil imaginar um médico que não concorde que a sexualidade seja uma dimensão da experiência humana de grande importância para a promoção da saúde. Entretanto, pouco se conversa sobre esse tema no dia-a-dia das consultas médicas, pois nem os médicos, nem os pacientes, sentem-se muito à vontade. Da mesma forma, muitos médicos deixam de orientar seus pacientes a controlar o peso, por temerem que os pacientes possam se sentir melindrados, especialmente as mulheres.

 

 

 

Quem tem enxaqueca nem sempre tem convicção de que a dor de cabeça é apenas uma das manifestações do problema. Essas pessoas têm mais chance de apresentar transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade, sintomas do labirinto, entre outras manifestações clínicas. Já há evidências também de que o sono das pessoas com enxaqueca é menos eficiente e uma pesquisa publicada na última edição do periódico especializado Journal of Neurology Neurosurgery and Psychiatry demonstra que a síndrome das pernas inquietas é um dos componentes que pode atrapalhar o sono de quem sofre de enxaqueca.

 

Essa síndrome é caracterizada por uma sensação de incômodo nas pernas, ou até mesmo nos braços, que provoca uma vontade irresistível de mexê-las. O problema afeta entre 5 a 15% da população geral e os sintomas são piores quando a pessoa se deita para descansar. Isso pode levar a uma piora da qualidade do sono, e para quem tem enxaqueca, esse é um fator que tem o potencial de piorar as crises de dor.

 

O presente estudo demonstrou que a síndrome das pernas inquietas é mais freqüente entre indivíduos com diagnóstico de enxaqueca (11.4%) do que em outros tipos de dor de cabeça. Além disso, os indivíduos com enxaqueca e síndrome das pernas inquietas apresentavam sintomas de enxaqueca mais severos. A causa dessa associação entre as duas condições? Uma forte hipótese é que ambas dividem a mesma herança genética que promove uma disfunção do sistema do neurotransmissor dopamina.

 

 

A última edição do periódico Occupational and Environmental Medicine traz uma pesquisa inédita demonstrando que mulheres que trabalham sob grande pressão psicológica têm mais risco de apresentarem doença isquêmica do coração. Estudos anteriores já haviam demonstrado esse efeito nocivo do trabalho estressante sobre o coração, mas apontavam que entre as mulheres esse efeito era menos significativo.

 

O atual estudo foi realizado com mais de doze mil enfermeiras dinamarquesas, com uma média de idade de 51 anos e que foram acompanhadas por quinze anos. No início do estudo, foi aplicado um questionário que media o nível de estresse no trabalho, assim como o grau de influência que essas mulheres tinham sobre as decisões no dia-a-dia do trabalho.

 

As mulheres que relataram ter um trabalho com estresse levemente alto apresentaram um risco de doença isquêmica do coração 25% maior quando comparadas àquelas com um nível de estresse fácil de administrar. Já as mulheres com um nível de estresse muito alto, estas tiveram um risco 50% maior, e mesmo levando em conta outros fatores de risco cardiovascular, como o tabagismo, a chance de doença do coração ainda persistiu 35% maior. As mulheres com maior risco foram aquelas com menos de 51 anos. O nível de controle sobre as decisões do trabalho não teve associação com a doença do coração.

 

O presente estudo dá mais um passo nas evidências de que o estresse no trabalho não combina com saúde, e é um dos raros estudos que demonstra esse efeito entre mulheres. Medidas de redução desse estresse devem ser pensadas como uma das medidas para a prevenção de doença isquêmica do coração, que é uma das principais causas de mortalidade em nosso meio, e que afeta igualmente homens e mulheres.

 

 
 

 

Artigo publicado hoje no Blog Saúde para Todos – Correio Braziliense

 
Por Dr. Ricardo Teixeira
 
 
 
 
 
 
 

 

É no mínimo intrigante quando nos deparamos com resultados de pesquisas no Brasil e no exterior mostrando que até 90% das mulheres sofrem de algum grau de tensão pré-menstrual, problema que hoje é mais corretamente chamado de síndrome pré-menstrual (SPM), pelo fato dos sintomas não se limitarem à tensão nervosa, ansiedade e irritabilidade. Outros sintomas comuns incluem alterações no padrão de sono e do apetite, humor deprimido, dor de cabeça, inchaço no corpo e dor na mama.

Não é difícil reconhecer o impacto da SPM na vida das mulheres se fizermos uma conta curiosa. A menstruação costuma começar entre os 12 e 13 anos de idade e termina por volta dos 50 anos. Mesmo descontando dois anos sem menstruação em mulheres que têm dois filhos ao longo da vida, contando com o período de amamentação, a mulher experimentará cerca de 450 ciclos menstruais na sua fase fértil. Se considerarmos que os sintomas da SPM duram uma média de 6 a 7 dias por ciclo, fechamos nossa conta com quase 3.000 dias de sintomas durante a vida: oito anos! Resumindo: as mulheres com SPM passam mais de 10% suas vidas com sintomas pré-menstruais.

E sendo a SPM uma condição tão freqüente, admite-se que ela possa representar uma vantagem evolutiva que herdamos dos nossos ancestrais e que talvez já não nos sirva muito mais. Nossos ancestrais fêmeas aumentavam suas chances de gerar descendentes devido a um comportamento mais “amigável” na fase fértil e mais “arisco” na fase infértil, como é o caso do período pré-menstrual. Entre os primatas, que apresentam comportamento sexual promíscuo, essa estratégia permite que o macho escolha a fêmea com mais sinais de fertilidade para copular.

Comparadas a mulheres de sociedades coletoras / caçadoras, as mulheres de hoje têm a primeira menstruação quase 4 anos mais cedo, têm menos filhos sendo que o primeiro em idade mais avançada e com períodos de aleitamento mais curtos, têm a menopausa também mais tardiamente. Tudo isso leva a mulher moderna a apresentar três vezes mais ciclos menstruais do que a mulher em ambiente mais primitivo, e, a princípio, pode sofrer até três vezes mais com os sintomas da SPM ao longo da vida.

O mais comum é que os sintomas da SPM sejam leves ou moderados, mas em cerca de 5-8% dos casos os sintomas adquirem sua forma e apresentação mais severa, também chamado de transtorno disfórico pré-menstrual. Nesses casos a mulher apresenta sintomas com significativo impacto no seu trabalho / escola, atividades sociais ou relacionamentos afetivos. 
 
O cérebro está cheio de receptores aos hormônios sexuais em regiões que regulam o comportamento e as emoções, como é o caso da amígdala e o hipotálamo. Entende-se atualmente que mulheres com SPM têm uma maior sensibilidade cerebral às flutuações hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual podendo influenciar a liberação de neurotransmissores envolvidos na regulação do humor, comportamento e funções cognitivas, especialmente a serotonina. Sabemos que os sistemas de serotonina são capazes de modular os efeitos comportamentais dos hormônios sexuais (ex: agressividade), fato bem apoiado pelo efeito positivo de medicações que elevam os níveis de serotonina em mulheres com SPM. Além disso, sistemas hormonais que controlam a concentração de água e eletrólitos no corpo também podem ser influenciados pela flutuação hormonal, o que poderia explicar os sintomas de inchaço. Entretanto, esse ainda é um tema bem controverso.

Há muito que se fazer para reduzir o impacto da SPM no dia-a-dia. Estratégias medicamentosas é que não faltam, passando por suplementação de cálcio, magnésio, vitamina B6, intervenções hormonais, e antidepressivos que aumentam as concentrações de serotonina (tanto de forma contínua ou só na segunda metade do ciclo). Além disso, medidas comportamentais são bem vindas, tais como atividade física e técnicas de relaxamento. Quanto à dieta, é freqüente a recomendação de restrição de calorias e fracionamento da dieta, mas não há evidências científicas suficientes para “prescrevermos” uma dieta específica. Além disso, estudos com dietas com alto teor de carboidratos complexos sugerem benefícios às mulheres com SPM, talvez por aumento nas concentrações cerebrais de serotonina. É a história do chocolate como melhor amigo da mulher na fase pré-menstrual…

 

 

 

 

 
 
 
 
 
 

 

 

 

 

Em 1996, uma força tarefa americana publicou uma recomendação para que todas as mulheres com chances de engravidar façam uso de suplemento de ácido fólico para reduzir o risco de malformações do sistema nervoso do feto. Esse uso não deve ser restrito ao período da gravidez, pois os benefícios são bem demonstrados quando as mulheres usam ácido fólico mesmo antes de ficarem grávidas. Em 2009, a mesma força tarefa publicou um novo documento que confirma as recomendações de 1996, demonstrando que a literatura científica continua dando respaldo aos benefícios do suplemento de ácido fólico entre mulheres férteis.

  

O folato é um tipo de vitamina B, e sua forma sintética, o ácido fólico, está fortemente presente nos suplementos vitamínicos e alimentos fortificados. No Brasil, desde 2002, existe uma lei que torna obrigatório a suplementação da farinha de trigo com ácido fólico por parte dos fabricantes de farinha. Entretanto, a atual recomendação chama a atenção que não existem evidências de que os alimentos fortificados com ácido fólico sejam suficientes para prevenir malformações do sistema nervoso. As mulheres férteis devem usar de 0.4 a 0.8mg diários de ácido fólico, e os comprimidos comercializados no Brasil contêm 2mg ou 5mg. Existem também apresentações em gotas, em que 1ml (20 gotas) contém 0.2 ou 0.4mg.  

 

As últimas recomendações de 2009 também indicam que não existem evidências de efeitos adversos associados à suplementação da vitamina. No fim de 2009, tivemos a publicação no respeitado periódico JAMA de um estudo que deu uma chacoalhada nesse último conceito. O estudo foi realizado na Noruega e demonstrou que a suplementação de ácido fólico 0.8mg/dia e vitamina B12 0.4mg/dia por três anos e meio esteve associado a um aumento de 21% no risco de câncer, especialmente de pulmão, da próstata e do sangue.   

 

A relação entre câncer e ácido fólico ainda é uma questão em aberto. Algumas pesquisas já haviam demonstrado um menor risco de câncer do intestino associado ao consumo de folato, especialmente o proveniente da dieta. Estudos experimentais apontam que a deficiência de folato é capaz de desencadear os estágios iniciais do câncer, enquanto altas doses de ácido fólico promovem o crescimento de células cancerígenas. Uma das hipóteses para explicar o aumento de risco de câncer associado a suplementação de ácido fólico é o estímulo ao crescimento de câncer ainda em fase latente.

 

Por enquanto, as mulheres com chance de ficarem grávidas devem continuar a usar suplementos de ácido fólico, independente de consumir alimentos fortificados. Essa história do ácido fólico é uma grande oportunidade de reflexão para os médicos e pacientes de que suplemento de vitaminas não é nenhuma canja de galinha. Muitas vezes esses suplementos não têm qualquer efeito na prevenção de doenças crônicas e ainda podem trazer prejuízo à saúde. O Conselho Federal de Medicina tem uma posição bastante clara sobre esse assunto.

 

Vale a pena conhecer: https://consciencianodiaadia.com/2008/06/09/detergentes-ortomoleculares-2/

 

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Um estudo que acaba de ser publicado no periódico British Medical Journal revela que mulheres obesas já a partir dos 18 anos de idade e na meia-idade têm 80% menos chance de ter uma vida longa e com saúde. Foram estudadas mais de 17 mil mulheres americanas que atingiram os 70 anos de idade sendo que apenas 10% delas foram classificadas como tendo alcançado uma velhice com saúde.

 

Vida saudável após 70 anos de idade foi definida como bom desempenho cerebral, boa saúde física e mental e ausência de doenças crônicas sérias como câncer, diabetes, doenças do coração, pulmonares e neurológicas. A análise mostrou que cada quilo a mais no peso que as mulheres tinham aos 18 anos é capaz de reduzir em 5% a chance de elas atingirem o padrão de vida saudável após os 70 anos. As mulheres que já apresentavam sobrepeso aos 18 anos e ainda ganharam 10 kg ou mais na meia-idade foram aquelas que menos chances tinham de alcançar em idades mais avançadas o estado de vida saudável.

 

A obesidade está associada a uma menor longevidade e a um maior risco de uma série de doenças, incluindo as mais temidas, como o câncer e as doenças cardiovasculares. Essas doenças estão relacionadas à morte prematura, e o que esse estudo nos mostra de forma inédita é que mesmo as mulheres que chegam aos 70 anos sentem os prejuízos da obesidade à saúde. Os resultados ainda reforçam a importância de se manter o peso já precocemente na vida, pois a obesidade já no início da vida adulta irá influenciar o estado de saúde em idades avançadas.

 

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Pregnancy

 

Um estudo recém-publicado pelo British Medical Journal revela que o uso de antidepressivos na gravidez aumenta o risco de defeitos no coração no bebê. O estudo analisou 400 mil crianças dinamarquesas nascidas entre 1996 e 2003 e a relação entre a prevalência de malformações congênitas e o uso pela mãe de inibidores seletivos de recaptação de serotonina durante a gravidez. Os antidepressivos citalopram e sertralina na gravidez aumentaram a chance de defeitos no septo cardíaco, parede que separa o lado direito do lado esquerdo do coração. Esse efeito não foi observado entre outros antidepressivos da mesma classe como a fluoxetina e a paroxetina.

 

O risco desse tipo de malformação entre as crianças que não foram expostas à medicação foi de 0.5% comparado à chance de 0.9% das que foram expostas à medicação e de 2.2% no caso de exposição a mais de um tipo de antidepressivo. Pode-se dizer que uma em cada 246 crianças apresentará defeitos no septo cardíaco quando a mãe faz uso de antidepressivo na gravidez. Esse risco é quatro vezes maior quando o uso foi de mais de um tipo de antidepressivo: uma em cada 62 crianças é acometida.

 

Cerca de um quinto das mulheres apresenta depressão durante a gravidez e a decisão de tratamento com medicações deve ser pautada pelos potencias riscos de malformações no feto. Até o ano de 2005, uma série de estudos indicava que o uso de antidepressivos inibidores seletivos de recaptação de serotonina durante a gravidez não trazia riscos ao bebê. Entretanto, novos estudos têm demonstrado um discreto aumento da prevalência de malformações congênitas, sendo que o atual estudo revelou que esse risco só é aumentado no caso de defeitos do septo cardíaco. O risco absoluto é considerado baixo, mas deve ser visto como um importante fator na decisão do tratamento antidepressivo das mulheres grávidas. Devem também ser consideradas as conseqüências à mãe e ao feto de uma depressão não tratada.   

 

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Um estudo publicado na última edição do periódico Neurology, jornal oficial da Academia Americana de Neurologia, confirma que a enxaqueca vai muito além das crises de dor de cabeça: a doença está associada a um maior risco de eventos vasculares como o infarto do coração e derrame cerebral.

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Vinte e oito mil mulheres americanas com mais de 45 anos de idade foram acompanhadas por doze anos, sendo que 13% delas eram portadoras de enxaqueca. As mulheres com enxaqueca sem aura não apresentaram maior risco de eventos vasculares. Vale lembrar que aura são sintomas que acompanham a dor de cabeça como alterações visuais e da sensibilidade, e que ocorrem em 25% das pessoas que têm enxaqueca. No presente estudo, as mulheres com enxaqueca com aura e crises frequentes (≥ 1 vez por semana) tiveram risco de derrame cerebral quatro vezes maior. Mesmo aquelas com crises pouco frequentes (< 1 vez por mês) também apresentaram maior risco vascular, com chance duas vezes maior de ter um infarto do coração quando comparadas às mulheres sem enxaqueca. 

Esses resultados não devem gerar pânico em quem têm enxaqueca com aura, já que o risco absoluto de eventos vasculares é baixo: das 180 mulheres com enxaqueca com aura, apenas duas delas apresentaram um infarto do coração e quatro delas um derrame cerebral ao longo de 12 anos.  Entretanto, é importante o recado de que indivíduos com enxaqueca com aura já saem à frente das outras pessoas com risco maior de eventos vasculares, e por isso devem evitar e controlar a todo custo outros fatores de risco como o tabagismo e, no caso das mulheres, o uso do hormônio estrogênio.

 

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Confira artigo de minha autoria  recém-publicado na Revista de Jornalismo Científico ComCiência em que discuto quais as possíveis explicações para o maior risco de derrame cerebral entre as pessoas que têm enxaqueca. É discutido também como minimizar esse risco, especialmente entre as mulheres.

 Clique aqui para ler o artigo na íntegra. 

 

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Calcula-se que mais de 100 milhões de mulheres no mundo façam uso de pílulas anticoncepcionais. Podemos encontrar no mercado dezenas de tipos de pílulas com as mais diferentes concentrações dos hormônios estrogênio e progesterona e a escolha depende muito mais do perfil de efeitos colaterais de cada tipo de pílula, já que do ponto de vista de eficácia elas são muito parecidas.

 

A trombose das veias das pernas é um desses efeitos adversos, e reconhece-se que ela é cinco vezes mais freqüente entre mulheres que usam pílula. Apesar de não ser um efeito adverso muito comum, esse tipo de trombose é uma condição clínica grave, pois pode levar à trombose das veias pulmonares e que por sua vez pode até levar à morte.

 

Duas grandes pesquisas acabam de ser publicadas na última edição do British Medical Journal e nos ajudam a entender melhor a relação entre o uso de pílulas e trombose. Um dos resultados mais relevantes dessas pesquisas foi que o tipo de pílula combinada (estrogênio + progesterona) fez toda a diferença: as com baixas doses de estrogênio estão associadas a um menor risco de trombose assim como aquelas com tipos de progesterona chamados de levonorgestrel ou norestisterona. Já as pílulas sem estrogênio e os dispositivos anticoncepcionais intra-uterinos não se mostraram associados ao aumento de risco de trombose. Foi demonstrado ainda que apesar de existir uma relação entre maior tempo de uso da pílula e maior risco de trombose, a época de maior risco foram os primeiros três meses de uso.

 

Essas recomendações devem ser feitas de forma ainda mais rigorosa a mulheres com história pessoal ou familiar de trombose, já que essas não devem usar pílulas que contenham estrogênio. O mesmo deve ser recomendado a mulheres com história de enxaqueca com aura, que são dores de cabeça associadas a alguns sintomas tais como visão de pontos luminosos e sensação de formigamento de um lado do corpo. No caso daquelas que usam pílulas para o tratamento de espinhas, há estudos bem robustos mostrando que as que contêm levonorgestrel são tão eficazes como as outras com maior risco de trombose, e também não diferem entre si quanto ao risco de ganho de peso.

 

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breast

 

Uma pesquisa recém-publicada pelo periódico Cancer Epidemiology Biomarkers and Prevention confirma recentes evidências de que mulheres com diagnóstico de enxaqueca têm menor risco de câncer de mama. Dessa vez os pesquisadores estudaram quase 10 mil mulheres com idades entre 34 e 64 anos e evidenciaram um risco 26% menor de câncer de mama entre as que tinham história de enxaqueca. Além disso, a redução de risco mostrou-se presente tanto nas mulheres na pré-menopausa como naquelas na pós-menopausa. 

Uma forma de explicar  esse efeito protetor da enxaqueca seriam hábitos de vida mais saudáveis entre as pessoas que sofrem com dores de cabeça: menor consumo de álcool e cigarro ou menor uso de terapia de reposição hormonal. Esses são conhecidos fatores desencadeantes de crises de enxaqueca e que também aumentam o risco de câncer de mama. Entretanto, o estudo demonstrou que o menor risco de câncer de mama entre essas mulheres com enxaqueca não podia ser explicado por esses hábitos.  Também não houve associação entre o risco de câncer e a idade em que as mulheres começaram a apresentar crises de enxaqueca. 

 

Outra hipótese é que o maior consumo de antiinflamatórios por mulheres com enxaqueca poderia ser implicado no menor risco de câncer de mama, já que o uso dessa classe de medicação está associado a um menor risco desse tipo de câncer. Porém, os pesquisadores do atual estudo já divulgaram que essa não deve ser uma explicação razoável, e resultados negativos dessa associação estão em processo para uma nova publicação.

 

Não é de se espantar uma relação entre a enxaqueca e o câncer de mama já que ambas são doenças intimamente associadas aos hormônios sexuais. A enxaqueca é duas a três vezes mais comum entre as mulheres e o período em que a mulher tem mais chance de ter crises é justamente na fase do ciclo menstrual em que os níveis de estrogênio caem abruptamente: nos dias que antecedem a menstruação. Além disso, mulheres que usam pílula anticoncepcional têm mais crises na semana livre de hormônios. Por outro lado, durante a gravidez, época em que os níveis de estrogênio estão elevados, as mulheres costumam ter menos crises de enxaqueca.  

 

Os resultados dessa pesquisa precisam ser confirmados em outras populações. Fica também em aberto o porquê de um menor risco de câncer de mama entre as enxaquecosas. A pesquisa também reforça o conceito de que a enxaqueca pode ter representado alguma vantagem evolutiva ao logo dos tempos, e por isso é uma condição geneticamente herdada e tão freqüente. Em consonância com essa idéia estão os resultados de um estudo populacional publicado em 2007 que demonstrou que indivíduos com enxaqueca envelhecem com o cérebro mais afiado do que aqueles sem enxaqueca. Pelo que podemos ver, até a enxaqueca também pode ter seu lado positivo.

 

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ROSA 

 

Um estudo recém-publicado pelo American Journal of Epidemiology confirma pesquisas anteriores de que a terapia de reposição hormonal, apesar de poder reduzir os sintomas de menopausa, não traz vantagens à saúde da mulher. Já são muitas evidências de que o uso prolongado desse tipo de tratamento, além de não proteger a mulher da doença coronariana, aumenta o risco de derrame cerebral, trombose nas veias e câncer de mama.

 

Ainda pairava no ar a suspeita de que se a terapia de reposição hormonal fosse iniciada em fases mais precoces na transição para a menopausa, os benefícios seriam maiores. Entretanto o presente estudo deu um certo banho de água fria nessa hipótese. Quando se comparou as mulheres que iniciaram a terapia de reposição hormonal mais tardiamente com as que iniciaram precocemente, não houve diferença na incidência de doença coronariana, derrame cerebral ou trombose venosa. Além disso, houve até mesmo uma leve tendência ao aumento de câncer de mama entre as mulheres que iniciaram a terapia mais precocemente.

 

Esses são resultados do desdobramento do mesmo estudo que, ainda em 2002, fez com que as indicações de terapia de reposição hormonal diminuíssem drasticamente após a demonstração de seus riscos numa população de milhares de mulheres. Veja abaixo que essas indicações estão cada vez mais restritas, posição atualmente consensual nos quatro cantos do mundo.

 

RECOMENDAÇÕES PARA O USO DA TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL (TRH)

 

1- A TRH só deve ser indicada se os sintomas de menopausa forem moderados a severos;

2- As mulheres devem avaliar cuidadosamente os potenciais riscos e benefícios da TRH;

3- Os hormônios devem ser usados na mínima dose e pelo menor tempo possível;

4- A TRH não deve ser utilizada para a prevenção de doenças cardiovasculares ou demência;

5- A mulher em uso de TRH deve ser clinicamente reavaliada a cada 3-6 meses ou pelo menos anualmente.

 

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pregnancy

 

Em vários países, a metoclopramida (Plasil) é considerada a droga de escolha para combater os vômitos entre mulheres grávidas. Nos EUA, há uma certa restrição ao seu uso. No Brasil, a bula do medicamento traz a informação de que estudos em pacientes grávidas não indicaram má formação fetal ou toxicidade neonatal durante o primeiro trimestre da gravidez e que uma quantidade limitada de informações em mulheres grávidas indicou não haver toxicidade neonatal nos outros trimestres. A bula ainda conclui que, se necessário, o uso da droga pode ser considerado durante a gravidez.

 

Realmente ainda existem evidências limitadas quanto à segurança da metoclopramida durante a gravidez, mas um estudo recém-publicado pelo periódico The New England Journal of Medicine vem reforçar o conceito de que a droga não traz riscos ao bebê. Os pesquisadores analisaram o registro de mais de 80 mil bebês de um distrito na região sul de Israel, sendo que 4.2% deles haviam sido expostos à metoclopramida no primeiro trimestre de gravidez. Quando se comparou bebês expostos à droga com bebês não expostos, não houve diferença no risco de malformações congênitas, tampouco no risco de baixo peso ao nascimento, prematuridade ou morte perinatal.

 

Os resultados trazem ainda mais segurança às grávidas que precisam usar metoclopramida para aliviar sintomas de náuseas e vômitos tão  comuns no primeiro trimestre da gravidez.

 

 

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 menopause

 

Apesar de 60% das mulheres apresentarem queixas de memória na fase de transição para a menopausa, poucas pesquisas foram feitas para entender o que realmente ocorre com o cérebro das mulheres nessa fase da vida. Um estudo recém-publicado pelo periódico científico Neurology revela que mulheres na fase de transição para a menopausa apresentam uma menor velocidade de processamento cognitivo e menor desempenho da memória verbal.

 

 O estudo acompanhou mais de duas mil mulheres com idades entre 49 e 61 anos e com exames seriados ao longo de quatro anos. A boa notícia é que esses efeitos parecem ser limitados, já que as mulheres voltaram a apresentar o mesmo desempenho cognitivo que tinham no período pré-menopausa após ultrapassarem o período de transição. Além disso, as mulheres que receberam reposição hormonal antes do término da menstruação foram beneficiadas do ponto de vista cognitivo. Em contraste, a reposição hormonal iniciada após o término da menstruação promoveu piora nos testes cognitivos.    

  

Uma forma de explicar as freqüentes queixas de memória na transição da menopausa é que a redução ou flutuação dos níveis do hormônio estrogênio podem dificultar o pleno funcionamento cerebral. Já foi bem demonstrado que algumas áreas cerebrais são ricas em receptores de estrogênio, regiões que são fortemente vinculadas à memória, como é o caso do hipocampo e o córtex pré-frontal. Além disso, estudos experimentais revelam que o estrogênio é capaz de elevar os níveis de neurotransmissores e também promovem o crescimento neuronal e formação de conexão entre os neurônios.  

 

O presente estudo sugere que a reposição de estrogênio pode ser benéfica ao desempenho cerebral na fase de transição da menopausa e que esse efeito positivo  parece não ser sustentado após o período de transição. Essa é mais uma evidência de que os benefícios do uso prolongado de reposição hormonal não consegue superar os riscos.

 

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cigar 

 

 

O cigarro é uma das principais causas de morte prematura no mundo e o fato é que grande parte dos tabagistas gostaria de parar de fumar, tenta parar de fumar, mas a cada ano apenas 2-3% dos fumantes tem êxito em se livrar do tabagismo. Uma das razões para esse baixo sucesso na interrupção do tabagismo é que boa parte dos fumantes ainda não se sente preparada para largar o cigarro de um dia para o outro. Alguns estudos têm revelado que o tratamento com reposição de nicotina pode aumentar a chance de sucesso em parar de fumar ao facilitar a redução do consumo para só depois o indivíduo parar de uma vez.

 

Uma pesquisa recém-publicada pelo British Medical Journal confirma que a terapia de reposição de nicotina é realmente eficaz nessa estratégia de reduzir o consumo para depois parar. A análise das principais pesquisas realizadas sobre o tema, envolvendo quase 3 mil indivíduos, evidenciou que, após 6-18 meses de terapia, o sucesso em parar de fumar é duas vezes maior quando comparado ao placebo. Além disso, a terapia não desencadeou efeitos adversos sérios. Só foram incluídos nessa análise os estudos em que os voluntários declaravam não ter intenção de parar de fumar a curto prazo.

 

É fortemente recomendado que, ao decidir parar de fumar, o fumante escolha uma data para largar o vício e que também se beneficie de apoio psicoterápico e das terapias medicamentosas atualmente disponíveis, incluindo a terapia de reposição de nicotina. Entretanto, mesmo os fumantes que não têm a intenção de marcar essa data, mas que gostariam de parar com o cigarro, estes também podem se beneficiar do uso da terapia de reposição de nicotina. 

 

 

 

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pregnant

  

Um estudo recém-publicado pelo British Medical Journal demonstrou que a mulher que fuma e descobre que está grávida ainda tem chance de minimizar os danos ao feto se parar com o cigarro ainda no começo da gravidez. O estudo comparou a evolução de 2500 mulheres grávidas que foram divididas em três diferentes grupos: as que nunca fumaram, as que pararam de fumar antes da 15ª semana de gestação e as que continuaram fumando. Não houve diferença entre o grupo de mulheres que parou de fumar e aquelas que nunca fumaram quanto às taxas de nascimento prematuro e baixo peso. Porém, aquelas que continuaram a fumar apresentaram taxas três vezes maiores de nascimento prematuro e duas vezes maiores de baixo peso ao nascimento quando comparadas às mulheres que pararam de fumar.

 

Esses resultados representam um grande incentivo para que as mulheres parem de fumar já ainda no começo da gravidez. Porém, o ideal é impedir que os bebês sejam expostos à fumaça do cigarro desde o momento da concepção, já que a relação entre cigarro e o desenvolvimento dos bebês não se restringe ao tamanho e o peso que eles nascem. Temos evidências inequívocas de que a exposição do feto à fumaça do cigarro está associada a um maior risco de malformações congênitas e ainda é capaz de promover puberdade precoce.  Os bebês fora da barriga das mães também sofrem com a fumaça: eles têm um maior risco de síndrome de morte súbita infantil, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, comportamento anti-social e déficit de aprendizagem. Isso sem falar nos problemas respiratórios e infecciosos.

 

A fumaça de cigarro absorvida por uma mulher grávida é capaz de se ligar a receptores de nicotina no cérebro do feto, e a mulher nem precisa fumar para que isso aconteça, pois o fumo passivo já é suficiente para isso.  Por isso, manter os bebês e crianças longe da fumaça é uma tarefa não só para a mãe, como também aos papais e agregados de plantão.

  

 

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