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A Academia Americana de Neurologia publicou recentemente em seu periódico Neurology evidências de que pressão alta na gravidez reduz o desempenho cognitivo décadas mais tarde. O efeito é ainda maior quando o quadro é de pré-eclâmpsia, condição em que os rins e outros órgãos são envolvidos. Esse efeito também foi maior nas grávidas que apresentam eclampsia que é quando a hipertensão arterial vem acompanhada de uma ou mais crises epilépticas, podendo evoluir até para um estado de coma.

Já sabemos que a pressão alta na gravidez é considerada um fator de risco para doença isquêmica do coração e acidente vascular cerebral e tem sido demonstrada uma associação com quadro demencial no futuro, apesar de resultados conflitantes. A disfunção cerebrovascular é um elemento chave para explicar a relação entre pressão alta na gravidez e demência, mas não devemos pensar apenas na demência vascular, quando lesões vasculares causam o déficit cognitivo, mas também na Doença de Alzheimer.  

 

Os achados do atual estudo, com número robusto de pacientes envolvidos, confirmam a ligação entre pressão alta na gravidez e déficit cognitivo futuro, chamando a atenção para o rigoroso controle da pressão nesse período, ou melhor, em qualquer período.

Um estudo acaba de ser publicado pela Neurology, periódico da Academia Americana de Neurologia, mostrando que mulheres na menopausa apresentam um contingente maior de lesões de pequenos vasos cerebrais quando comparadas a mulheres da mesma idade que não estão na menopausa. O volume dessas lesões também é maior nas mulheres na menopausa do que nos homens da mesma idade, mas isso não ocorre nas mulheres na pré-menopausa.

Mostraram ainda que o efeito deletério da hipertensão não controlada, quando se analisa a quantidade de lesões de pequenos vasos, foi maior entre as mulheres, independente de estarem ou não na menopausa.   Além disso, os pesquisadores demonstraram que a terapia de reposição hormonal não foi um fator que modificou essas correlações. Isso sugere que enxergar esses resultados como decorrentes da redução do hormônio estradiol pode ser uma visão reducionista. Uma série de outros mecanismos têm sido explorados para explicar essa maior vulnerabilidade da saúde vascular entre mulheres na menopausa.

Quando se fala em lesões dos pequenos vasos que chegam a provocar um buraquinho no cérebro, também chamadas de lacunas, estudos com ressonância magnética revelam que cerca de 20% dos idosos apresentam tais lesões sem nunca ter apresentado sintomas. Quando se fala em lesões que só fazem pequenas cicatrizes no cérebro, elas estão presentes em até 90% dos idosos e foram essas que foram analisadas no presente estudo. Muito frequentes, muito pequenas, mas nem tão inocentes assim.

O raciocínio habitual quando se pensa em doença dos pequenos vasos cerebrais é o de que uma ou duas lesões realmente não costumam provocar sintomas, a não ser quando se localizam em algumas regiões muito específicas, também chamadas de áreas eloquentes. Já o cérebro que apresenta inúmeras dessas cicatrizes, esse sim começa a funcionar de forma mais ineficiente. Algumas pessoas chegam a apresentar dificuldades graves do pensamento e da marcha, e hoje em dia reconhece-se que essa seja uma das principais causas de déficit cognitivo entre os idosos.

Existem fatores genéticos que determinam o quanto de lesões terá um cérebro que envelhece. Entretanto, é bem sabido que os conhecidos fatores de risco para aterosclerose (ex: hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, etc.) aumentam significativamente a chance de uma pessoa colecionar mais dessas lesões ao longo dos anos.

Isso mesmo. Estudo publicado por Joanna Syrda da Universidade de Bath na Inglaterra mostra que casais com filhos, em que a mulher ganha mais do que o homem, acabam fazendo a divisão do trabalho doméstico ainda mais desequilibrada. E esse desequilíbrio é no sentido de mais trabalho para a mulher. E estamos falando só de limpeza, cozinha e outros trabalhos domésticos, sem incluir qualquer trabalho com os filhos. Foram estudadas mais de seis mil famílias americanas num período de oito anos, todos os casais com relação heterossexual.

A racionalidade econômica sugere que o casal, especialmente aqueles que têm filhos, encontrará um equilíbrio ideal nas tarefas de casa quando se coloca no tabuleiro o tempo livre e ganhos de cada um. O homem ou a mulher quando precisam trabalhar mais horas e têm a chance de um ganho maior que seu cônjuge, tem uma justificativa até razoável de contribuir menos com as tarefas de casa. Mas o que Syrda apontou é que esse raciocínio parece ser válido só para os homens. Muitos casais partem de uma condição fora da norma, da mulher ganhando mais que o homem, promovendo simultaneamente um incremento da assimetria das atividades domésticas, o que permite parecerem, para si mesmos e para os outros, mais próximos da norma. E esse incremento de assimetria é a mulher cuidando ainda mais da casa que o homem, mesmo trabalhando mais e ganhando mais. Reafirmam assim identidades ameaçadas e aumentam a tradição que se espera de um casal.

Syrda lembra da importância do ajuste nessa divisão de participação no trabalho de casa, especialmente quando nascem os filhos. Um padrão de divisão disfuncional deve ser discutido já na sua gênese, pois depois de uma rotina estabelecida, tudo fica mais difícil de renegociar. Isso sem falar na experiência que os filhos terão assistindo essa divisão de trabalho sem sentido que poderá ser replicada quando chegarem à idade adulta. Ela conclui o artigo lembrando da revolução comportamental da década de 1960 que deveria, no longo prazo, vir a ter uma crescente participação dos homens nas atividades domésticas à medida que as mulheres estivessem na rua trabalhando, muitas das vezes, com salários superiores aos deles. Como reativar essa revolução?

Diante disso, finalizamos com o jargão que o homem não tem que ajudar sua mulher em casa. Tem sim é que fazer sua parte.  O homem tem que estar atento no que ela precisa, mesmo no meio de uma disputa. Gottmann, professor emérito da Universidade de Washington, estudou a fundo os fatores que promovem a estabilidade de um casal. Ele filmou o cotidiano de milhares de casais para analisar suas interações e apresentou os resultados de forma quantitativa. Ele lembra que podemos aplicar a Teoria dos Jogos nas relações conjugais também.  A princípio, se um ganha dois pontos, o outro perde dois.  O equilíbrio em que ambos ganham, em que cada um sai com um ponto, aproxima-se mais do equilíbrio de Nash – John Nash Prêmio Nobel de Economia. Rubem Alves trouxe a ideia das relações como um jogo de frescobol. Se o outro erra, o prejuízo é dos dois. Por isso vale a pena jogar a bola com capricho para o outro. Tudo isso precisa de esforço de ambas partes.

Man Wearing White Dress Shirt With Black Necktie

Sentimentos como nervosismo e entusiasmo são frequentemente associados mais a um gênero do que ao outro. Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos EUA, avaliaram se as mulheres realmente são mais emotivas que os homens, já que a ideia de elas serem mais emotivas que eles pode ser só um estereótipo. É comum a flutuação emocional de um homem durante um jogo de futebol ser considerada “paixão”, enquanto as flutuações das mulheres, em qualquer situação e mesmo que provocadas, são interpretadas, por muitos, como irracionalidade.

O estudo acompanhou 142 voluntários (18 a 38 anos) por 75 dias para mapear as emoções positivas e negativas no dia a dia. Os resultados mostraram que os altos e baixos emocionais não foram diferentes entre os gêneros, apesar de terem sido desencadeados por razões diferentes. Entre as mulheres, a flutuação emocional não estava associada ao uso de pílula anticoncepcional.

Os achados têm uma grande implicação na redução do estigma de “mulheres à beira de um ataque de nervos”, já que os homens estão na mesma montanha russa emocional. A pesquisa trará impacto também na inclusão das mulheres em estudos que historicamente as excluem com o argumento de que a flutuação emocional é muito alta e hormônio-dependente. Inúmeros estudos com roedores apontam que essas flutuações na fêmea são até menores do que no macho.

Refrescando a memória sobre esse estereótipo na CPI da covid-19:

Simone Tebet foi chamada de “descontrolada”.

A senadora Leila Barros foi interrompida várias vezes pelo senador governista Marcos Rogério enquanto tentava cumprir seu papel na CPI. Rogério afirmou, na ocasião, que ela estaria “nervosa”.

Ninguém chamou um homem de nervoso ou descontrolado na CPI. Estavam todos em estado de relaxamento profundo.

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Ameaça de estereótipo é um fenômeno em que uma pessoa experimenta insegurança e ansiedade pelo receio de ter um pior desempenho por fazer parte de um grupo com estereótipo de inferioridade. Estamos falando da raça negra e gênero feminino, por exemplo.

As pessoas que fazem parte desses grupos têm pior desempenho quando “lembradas” desses estereótipos. Esse é o caso de meninas em testes de matemática quando lembradas que os meninos são melhores em matemática. O mesmo ocorre se as meninas recebem alguma mensagem subliminar durante uma partida de que meninos são superiores no xadrez. Além disso, o estereótipo de um campeão de xadrez é o de um homem esquisito e não o de uma mulher graciosa.

Negros também têm pior desempenho em um teste cognitivo quando são avisados que a resolução do problema depende de habilidade intelectual. Negros carregam o estereotipo que são menos inteligentes que os brancos. Pobres também carregam um estigma gigante.

A ameaça de estereótipos pode fazer com que mulheres não sigam uma série de carreiras que os homens são supostamente superiores. Pode fazer com que negros não desenvolvam plenamente suas habilidades cognitivas. Meninos também carregam seus estereótipos. Será que eles têm mesmo menores dons artísticos?

É fundamental a conscientização desse fenômeno por parte de pais e professores. Dar pistas para que se lembre da igualdade entre os gêneros e entre as raças pode fazer com que essas diferenças deixem de existir. E isso tem que acontecer desde cedo. Assim como no experimento do jogo de xadrez descrito acima, meninas já com oito anos de idade passam a se comportar de forma mais acanhada frente a uma figura masculina quando o assunto é negociação de uma premiação, semelhante ao que acontece entre adultos.

Isso foi recentemente demonstrado num estudo em que meninas e meninos tinham que negociar um prêmio após uma tarefa realizada. As meninas nas idades de 4 e 7 anos negociavam com um avaliador homem da mesma forma que o faziam com uma mulher, mas aos 8 anos já tinham uma demanda mais tímida frente a um homem. Com os meninos essa diferença não existiu. Com o passar dos anos, as meninas passavam a pedir um número menor de adesivos como prêmio, mas quando a negociação era com um adulto homem. Isso pode ser explicado por sinais subliminares, ou não, passados ano após ano às crianças. Ao negociar com uma mulher adulta, com a idade as meninas passavam a requisitar mais adesivos e com maior persistência! E lembramos mais uma vez: entre os meninos não houve qualquer diferença se o avaliador era homem ou mulher.

Close-Up Photography of Woman Wearing Red and Black Scarf

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Mais da metade das mulheres apresentam queixas de memória na fase de transição para a menopausa e temos algumas evidências de que, nessa fase da vida, elas realmente apresentam uma menor velocidade de processamento cognitivo e menor desempenho da memória verbal.

 

Uma forma de explicar essa lenhificação do pensamento na transição da menopausa é que a redução ou flutuação dos níveis do hormônio estrogênio pode dificultar o pleno funcionamento cerebral. Já foi bem demonstrado que algumas áreas cerebrais são ricas em receptores de estrogênio, regiões que são fortemente vinculadas à memória, como é o caso do hipocampo e o córtex pré-frontal. Além disso, estudos experimentais revelam que o estrogênio é capaz de elevar os níveis de neurotransmissores e também promovem o crescimento neuronal e formação de conexão entre os neurônios.

 

Nada de pessimismo! A boa notícia é que esses efeitos parecem ser limitados, já que as mulheres voltam a apresentar o mesmo desempenho cognitivo que tinham antes da menopausa após ultrapassarem a transição. Além disso, as mulheres que recebem reposição hormonal antes do término da menstruação são beneficiadas do ponto de vista cognitivo, o que não acontece com aquelas que começam esse tipo de tratamento após o término da menstruação. Essa é mais uma evidência de que a reposição hormonal deve ser utilizada pelo menor tempo necessário. Temos até evidências que o uso prolongado desse tipo de tratamento pode levar à perda do volume de substância cinzenta do cérebro e declínio cognitivo.

 

Uma recente pesquisa aponta também que, quanto mais tarde se dá o início da menopausa, melhores são os indicadores de desempenho cognitivo e o uso de reposição hormonal não teve qualquer influência. Esses resultados não foram válidos para os casos de menopausa cirúrgica, condição em que as mulheres têm os ovários removidos cirurgicamente. E este ano, a revista Menopause, da Sociedade Americana de Menopausa, mostrou que durante as ondas de calor, as mulheres na menopausa têm o desempenho cognitivo ainda mais prejudicado. Foram identificadas alterações em regiões responsáveis pela memória, especialmente o hipocampo e o córtex pré-frontal, pelo método de ressonância magnética funcional.

E suplementos de soja podem ajudar? A soja é a principal fonte de isoflavonas da dieta, micronutrientes que se ligam aos receptores de estrogênio do cérebro. Uma série de pesquisas tem procurado demonstrar seus efeitos sobre o desempenho cognitivo na menopausa e os resultados são bem discretos. Vale ressaltar que essas pesquisas envolveram mulheres já na menopausa e por isso a discussão está longe de ser encerrada. O efeito da soja na transição da menopausa pode ser diferente.

adult, arrival, beard

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Em países ricos, com menor diferença de oportunidades entre os gêneros, poderíamos esperar que as mulheres fizessem escolhas mais parecidas com as que tradicionalmente são associadas aos homens. Um estudo recém-publicado pela revista Science mostrou que as coisas não são bem assim.

Pesquisadores das Universidades de Bonn na Alemanha e da Califórnia nos EUA estudaram essa questão entre mais de 80 mil voluntários em 76 países e apontaram que as similaridades de escolhas entre os gêneros são menores em países ricos e com maior igualdade de gênero. Com mais oportunidades, homens e mulheres têm maior tendência em fazer “o que estão a fim”, com maior liberdade de escolha. As mulheres nesse cenário não se sentem pressionadas a tomar decisões que não condizem com suas crenças. O estudo investigou como os voluntários responderiam a cenários envolvendo seis diferentes questões: 1) comportamento de risco; 2) paciência; 3) altruísmo; 4) confiança; 5) reciprocidade positiva; 6) reciprocidade negativa. Os resultados mostraram que foram maiores as diferenças das repostas entre os gêneros em países mais ricos e com maior igualde de gênero.

Esse estudo me fez lembrar de uma pesquisa publicada pela Nature Human Behavior que mostrou que o processamento de comportamentos altruístas e egoístas é diferente entre os gêneros.  Ações altruístas estimulam nas mulheres os sistemas de recompensa cerebral de forma mais robusta. Já os homens têm esses sistemas fortemente ativos quando as ações são egoístas.

Essa pesquisa foi além desses achados. Quando as mulheres recebiam uma droga que deixava esses centros meio adormecidos, por inibirem a ação da dopamina, elas passavam a se comportar de forma mais egoísta. E, surpreendentemente, o contrário aconteceu com os homens. Após o bloqueio da ação da dopamina, eles se tornaram mais generosos.

É importante frisar que esses resultados não nos dizem que essas diferenças são inatas. Isso pode muito bem ser decorrente do aprendizado durante a vida, expectativas diferentes para homens e mulheres. As mulheres desde a infância podem receber mais feedbacks positivos quando agem de forma altruísta. Isso também pode ocorrer com ações egoístas no caso dos homens. E esse mesmo raciocínio é válido para os resultados da publicação da revista Science. Não é razoável reduzir o entendimento das diferenças somente por componentes biológicos. É difícil pensar que a cultura não exerça sua influência.

Black and White Photo of Mother and Children
Um dos fenômenos muito especiais da maternidade é o deslocamento do eixo de preocupações de uma fêmea: a vida orientada para suas próprias necessidades passa a se concentrar também no cuidado e bem-estar de seus filhos.
A natureza dá uma força para que esse projeto de cuidar da cria seja bem sucedido, já que as alterações hormonais características da gravidez, parto e lactação, permitem que o cérebro das mães seja “turbinado” nessas fases. O cérebro materno é por definição um modelo espetacular do fenômeno de neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro em criar novas conexões em resposta a um estímulo.

A maior parte das evidências de incremento de funções cerebrais com a maternidade tem origem em estudos com mamíferos inferiores, especialmente os roedores. Pesquisas apontam que não só as alterações hormonais, mas também o ambiente rico em estímulos associados à maternidade (ex: múltiplas novas tarefas, sons, cheiros), têm um papel importante nesse upgrade cerebral das mães.
A maioria dos mamíferos compartilha instintos maternais de defender seu ninho e sua cria. Ao ter que optar entre sexo, drogas, alimento ou seu ratinho recém-nascido, mamães ratas escolhem seus ratinhos. O cuidado com os filhotes ativa nas mães centros cerebrais de recompensa ligados ao prazer, mesmo no caso de filhotes adotivos, e essa também é uma forma de explicar as raízes do altruísmo. Esse fenômeno também foi demonstrado entre as mães humanas ao ouvir o choro dos filhos, ou simplesmente ao olhar para eles.
Em ratinhas, temos evidências de que a maternidade provoca aumento do volume dos neurônios e mais conexões em algumas regiões cerebrais. Mais recentemente, tem sido demonstrado também o fenômeno de geração de novos neurônios. Essas mamães passam a apresentar melhor desempenho em orientação espacial e memória, ficam mais corajosas e rápidas para capturar a presa, e com menos sinais de ansiedade em situações de estresse. Tudo em prol de uma maior capacidade de alimentar as crias. Talvez não seja à toa que Artemis é ao mesmo tempo a deusa grega do parto e da caça.
 

E esses efeitos parecem durar bastante. As mamães ratinhas chegam ao equivalente humano de 60 anos de idade com melhor desempenho e coragem, além de menor declínio cognitivo e também menos sinais de degeneração cerebral quando comparadas a ratinhas virgens da mesma idade.
 
E com os pais ? As pesquisas são menos abundantes do que com as mães, mas também revelam que tanto primatas como roedores apresentam mudanças cerebrais com a paternidade: aumento de conexões, melhor habilidade espacial e menos sinais de ansiedade.
 
É possível que a neurobiologia da maternidade humana não seja tão diferente daquilo que já foi demonstrado em mamíferos inferiores, já que a maior parte do código genético dos humanos é idêntica à dos ratinhos ou dos primatas. Não duvido que as mães modernas, com suas rotinas de malabaristas, apresentem adaptações cerebrais associadas à maternidade até mais robustas do que das ratinhas, já que são submetidas a um nível de estimulação ambiental como nenhuma outra espécie. Além de cuidar da cria e de sua própria sobrevivência, freqüentemente protagonizam diversos outros papéis simultâneos (esposa, amante, conselheira, profissional, dona-de-casa, etc.). É estímulo para dar, vender e jogar fora.

Close-Up Photography of Woman Wearing Red and Black Scarf

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Mais da metade das mulheres apresentam queixas de memória na fase de transição para a menopausa e temos algumas evidências de que, nessa fase da vida, elas realmente apresentam uma menor velocidade de processamento cognitivo e menor desempenho da memória verbal.

Uma forma de explicar essa lenhificação do pensamento na transição da menopausa é que a redução ou flutuação dos níveis do hormônio estrogênio pode dificultar o pleno funcionamento cerebral. Já foi bem demonstrado que algumas áreas cerebrais são ricas em receptores de estrogênio, regiões que são fortemente vinculadas à memória, como é o caso do hipocampo e o córtex pré-frontal. Além disso, estudos experimentais revelam que o estrogênio é capaz de elevar os níveis de neurotransmissores e também promovem o crescimento neuronal e formação de conexão entre os neurônios.

Nada de pessimismo! A boa notícia é que esses efeitos parecem ser limitados, já que as mulheres voltam a apresentar o mesmo desempenho cognitivo que tinham antes da menopausa após ultrapassarem a transição. Além disso, as mulheres que recebem reposição hormonal antes do término da menstruação são beneficiadas do ponto de vista cognitivo, o que não acontece com aquelas que começam esse tipo de tratamento após o término da menstruação. Essa é mais uma evidência de que a reposição hormonal deve ser utilizada pelo menor tempo necessário. Temos até evidências que o uso prolongado desse tipo de tratamento pode levar à perda do volume de substância cinzenta do cérebro e declínio cognitivo.

Uma pesquisa publicada na última edição do periódico da Academia Americana de Neurologia aponta também que, quanto mais tarde se dá o início da menopausa, melhores são os indicadores de desempenho cognitivo e o uso de reposição hormonal não teve qualquer influência. Esses resultados não foram válidos para os casos de menopausa cirúrgica, condição em que as mulheres têm os ovários removidos cirurgicamente.

E suplementos de soja podem ajudar? A soja é a principal fonte de isoflavonas da dieta, micronutrientes que se ligam aos receptores de estrogênio do cérebro. Uma série de pesquisas tem procurado demonstrar seus efeitos na menopausa e os resultados, apesar de conflitantes, não têm sido muito animadores. Os estudos mais robustos até chegaram a evidenciar uma melhora na capacidade de memória visual (ex: reconhecimento de rostos), mas sem impacto relevante em outras funções cognitivas. Vale ressaltar que essas pesquisas envolveram mulheres já na menopausa e por isso a discussão está longe de ser encerrada. O efeito da soja na transição da menopausa pode ser diferente.

Grayscale Photo of Woman

 

É no mínimo intrigante quando nos deparamos com resultados de pesquisas no Brasil e no exterior mostrando que até 90% das mulheres sofrem de algum grau de tensão pré-menstrual, problema que hoje é mais corretamente chamado de síndrome pré-menstrual (SPM), pelo fato dos sintomas não se limitarem à tensão nervosa, ansiedade e irritabilidade. Outros sintomas comuns incluem alterações no padrão de sono e do apetite, humor deprimido, dor de cabeça, inchaço no corpo e dor nas mamas.

Não é difícil reconhecer o impacto da SPM na vida das mulheres se fizermos uma conta curiosa. A menstruação costuma começar entre os 12 e 13 anos de idade e termina por volta dos 50 anos. Mesmo descontando dois anos sem menstruação em mulheres que têm dois filhos ao longo da vida, contando com o período de amamentação, a mulher experimentará cerca de 450 ciclos menstruais na sua fase fértil. Se considerarmos que os sintomas da SPM duram uma média de 6 a 7 dias por ciclo, fechamos nossa conta com quase 3.000 dias de sintomas durante a vida: oito anos! Resumindo: as mulheres com SPM passam mais de 10% suas vidas com sintomas pré-menstruais.

E sendo a SPM uma condição tão frequente, admite-se que ela possa representar uma vantagem evolutiva que herdamos dos nossos ancestrais e que talvez já não nos sirva muito mais. Nossas ancestrais fêmeas aumentavam suas chances de gerar descendentes devido a um comportamento mais “amigável” na fase fértil e mais “arisco” na fase infértil, como é o caso do período pré-menstrual. Entre os primatas, que apresentam comportamento sexual promíscuo, essa estratégia permite que o macho escolha a fêmea com mais sinais de fertilidade para copular.

Comparadas a mulheres de sociedades coletoras / caçadoras, as mulheres de hoje têm a primeira menstruação quase 4 anos mais cedo, têm menos filhos sendo que o primeiro em idade mais avançada e com períodos de aleitamento mais curtos e têm a menopausa também mais tardiamente. Tudo isso leva a mulher moderna a apresentar três vezes mais ciclos menstruais do que a mulher em ambiente mais primitivo, e, a princípio, pode sofrer até três vezes mais com os sintomas da SPM ao longo da vida.

O mais comum é que os sintomas da SPM sejam leves ou moderados, mas em cerca de 5-8% dos casos os sintomas adquirem sua forma e apresentação mais severa, também chamado de transtorno disfórico pré-menstrual. Nesses casos a mulher apresenta sintomas com significativo impacto no seu trabalho / escola, atividades sociais ou relacionamentos afetivos.

O cérebro está cheio de receptores aos hormônios sexuais em regiões que regulam o comportamento e as emoções, como é o caso da amígdala e o hipotálamo. Entende-se atualmente que mulheres com SPM têm uma maior sensibilidade cerebral às flutuações hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual podendo influenciar a liberação de neurotransmissores envolvidos na regulação do humor, comportamento e funções cognitivas, especialmente a serotonina. Sabemos que os sistemas de serotonina são capazes de modular os efeitos comportamentais dos hormônios sexuais (ex: agressividade), fato bem apoiado pelo efeito positivo de medicações que elevam os níveis de serotonina em mulheres com SPM. Além disso, sistemas hormonais que controlam a concentração de água e eletrólitos no corpo também podem ser influenciados pela flutuação hormonal, o que poderia explicar os sintomas de inchaço.

Há muito que se fazer para reduzir o impacto da SPM no dia a dia. Estratégias medicamentosas é que não faltam, passando por suplementação de cálcio, magnésio, vitamina B6, intervenções hormonais e antidepressivos que aumentam as concentrações de serotonina (tanto de forma contínua ou só na segunda metade do ciclo). Além disso, medidas comportamentais são bem-vindas, tais como atividade física e técnicas de relaxamento. Quanto à dieta, é frequente a recomendação de restrição de calorias e fracionamento da dieta, mas não há evidências científicas suficientes para “prescrevermos” uma dieta específica. Além disso, estudos com dietas com alto teor de carboidratos complexos sugerem benefícios às mulheres com SPM, talvez por aumento nas concentrações cerebrais de serotonina. É a história do chocolate como melhor amigo da mulher na fase pré-menstrual.

 

 

Person Gather Hand and Foot in Center

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Elas processam comportamentos altruístas e egoístas de forma diferente. Ações altruístas estimulam nelas os sistemas de recompensa cerebral de forma mais robusta. Já os homens têm esses sistemas fortemente ativos quando as ações são egoístas. Essas são as conclusões de um estudo recém-publicado pela prestigiada revista Nature Human Behavior.

Pesquisadores alemães e suíços mostraram que as mulheres se mostram mais generosas em experimentos que envolvem compartilhamento de uma soma de dinheiro. E foi a primeira vez que foi demonstrado como é diferente a ativação dos centros de recompensa cerebral entre mulheres e homens estimulada por ações altruístas. A pesquisa foi além desses achados. Quando as mulheres recebiam uma droga que deixava esses centros meio adormecidos, por inibirem a ação da dopamina, elas passavam a se comportar de forma mais egoísta. E surpreendentemente o contrário aconteceu com os homens. Após o bloqueio da ação da dopamina, eles se tornaram mais generosos.

É importante frisar que os resultados não nos dizem que essas diferenças são inatas. Isso pode muito bem ser decorrente do aprendizado durante a vida, expectativas diferentes para homens e mulheres. As mulheres desde a infância podem receber mais feedbacks positivos quando agem de forma altruísta. Isso também pode ocorrer com ações egoístas no caso dos homens.

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É sempre bom lembrar que não há qualquer evidência científica de que os homens são mais brilhantes que as mulheres. Testes de inteligência têm mostrado que as pessoas têm apresentado melhor desempenho de geração em geração, fenômeno intrigante conhecido por efeito Flynn. Nosso QI tem mais chance de ser maior que dos nossos pais enquanto o dos nossos filhos será maior que os nossos. James Flynn, o pesquisador que inspirou o termo por ter sido o primeiro a demonstrá-lo na década de 1980, revelou recentemente que sua última pesquisaa pontou pela primeira vez que as mulheres não deixam nada a dever aos homens nos escores de QI. A amostragem da pesquisa envolveu voluntários da Austrália, Nova Zelândia, Estônia, África do Sul e Argentina.

 

De acordo com Flynn, o resultado pode ser explicado pelo maior acesso das mulheres a educação e trabalho, entre outras oportunidades de estímulo cognitivo do mundo moderno. Será que elas vão ultrapassar os homens nas próximas décadas?

Semana passada tivemos a publicação de um grande estudo na revista Psychological Science envolvendo mulheres de 27 países mostrando que elas apresentam um desempenho de memória melhor que os homens em países que têm mais condições de igualdade entre os gêneros. O país em que as mulheres tiveram o melhor desempenho, maior que os homens, foi a Suécia enquanto Gana foi o país em que o desempenho delas foi pior. Além de oportunidade de estudo e trabalho, a tal almejada igualdade entre os gêneros inclui também valores e atitudes.

 

Presta atenção Temer!!

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Um estudo recém-publicado por pesquisadores da Universidade da Florida no periódico Frontiers in Psychology mostrou mais uma vez que meninas são tão boas em matemática quanto os meninos. A novidade é que eles se auto-avaliam melhor. Os meninos acreditam que têm mais habilidade, 27% a mais do que as meninas. Efeito cultural? Sabemos que as mulheres têm mais tendência ao perfeccionismo enquanto os homens são incitados desde cedo a enfrentar desafios.

Os alunos estudados nessa pesquisa estavam no fim do ensino médio, época decisiva na escolha do curso superior. Essa menor confiança das meninas pode explicar em parte o menor numero de mulheres em profissões como engenharia, ciência e tecnologia.

Em 2015, outra pesquisa publicada pela revista Science avaliou 1800 pesquisadores e estudantes de graduação, de 30 diferentes disciplinas. Entre outras perguntas, eles tinham que responder quais qualidades julgavam importantes para alcançar o sucesso em seus ramos.  As áreas em que os entrevistados julgavam que o brilhantismo era fundamental foram também as menos representadas por mulheres. Essa crença leva as mulheres a inconscientemente se afastar desses campos do conhecimento.  Pode também levar à discriminação em exames de seleção.

É bom lembrar que não há qualquer evidência científica de que os homens são mais brilhantes que as mulheres. Testes de inteligência têm mostrado que as pessoas têm apresentado melhor desempenho de geração em geração, fenômeno intrigante conhecido por efeito Flynn. Nosso QI tem mais chance de ser maior que dos nossos pais enquanto o dos nossos filhos será maior que os nossos. James Flynn, o pesquisador que inspirou o termo por ter sido o primeiro a demonstrá-lo na década de 1980, revelou recentemente que sua última pesquisaapontou pela primeira vez que as mulheres não deixam nada a dever aos homens nos escores de QI. A amostragem da pesquisa envolveu voluntários da Austrália, Nova Zelândia, Estônia, África do Sul e Argentina.

De acordo com Flynn, o resultado pode ser explicado pelo maior acesso das mulheres a educação e trabalho, entre outras oportunidades de estímulo cognitivo do mundo moderno. Será que elas vão ultrapassar os homens nas próximas décadas?

Woman Wearing Yellow Dress Beside Woman Wearing Red Dress
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Estamos familiarizados com a ideia de que existem poucas mulheres em posições de poder. Menos de 15% dos cargos executivos são representados por mulheres e elas compõem menos de 5% da lista dos 500 tops da revista Fortune.
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As mulheres enfrentam mais obstáculos que os homens para alcançar posições de poder e, quando alcançam, os obstáculos são maiores do que no caso dos homens. Estamos falando de discriminação mesmo. Elas ainda hoje carregam o estigma de serem menos competentes e preparadas para assumir cargos de liderança.  Além disso, muito preconceito ainda existe ao ver as mulheres “roubarem” tempo da família para se dedicar ao trabalho. A CEO do Yahoo recentemente foi bastante criticada, e por muitos quase “apedrejada”, quando decidiu por uma licença maternidade bem curta após gerar dois filhos gêmeos.
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Estudos têm-nos mostrado que existem outras questões que fazem com que as mulheres subam menos na escada de poder no trabalho. Pesquisadores da Universidade de Harvard estudaram mais de 4000 indivíduos incluindo executivos em posições de liderança, alunos de MBA de excelência e até estudantes do college. Eles mostraram que, em todas essas fases da vida profissional, as mulheres têm objetivos de vida mais diversificados, como tempo para se dedicar às suas coisas pessoais (atividade física, lazer e amigos) e tempo para filhos e família. Elas enxergam as posições de poder no trabalho, da mesma forma que os homens, como formas de alcançar respeito, prestígio e riqueza. Entretanto, elas identificam mais pontos negativos que os homens como o estresse e sacrifício da vida pessoal.
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Elas consideram que têm o mesmo potencial que os homens em alcançar as posições de poder, mas preferem ficar num degrau intermediário. Elas podem ter o poder, mas não querem. Quando mulheres e homens são interrogados para apontar numa escada três posições hierárquicas, a que eles consideram estar no momento, a que eles teriam capacidade de alcançar e a posição que gostariam de estar, homens e mulheres não são diferentes nas posições que estão no momento e nas que podem alcançar, mas as mulheres se posicionam abaixo dos homens onde gostariam de estar.
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Muitas transformações, recentes transformações. As mulheres não querem só comida (poder). Querem comida, diversão e arte. Elas não querem só dinheiro. Querem dinheiro e felicidade. (Comida – TITÃS).

Woman Wearing Gray Scarf and Gray Coat Near Group of People

Estima-se que 2/3 dos casos de doença de Alzheimer ocorram entre as mulheres

As mulheres vivem mais, mas parece que existem outros fatores biológicos que ajudam a explicar essa diferença. Muitos candidatos estão na fila, mas sem resultados conclusivos até o momento. Um deles é a redução dos níveis de estrogênio com a menopausa. Isso pode potencializar o risco de uma mulher que já é geneticamente predisposta a apresentar a doença.

 

Outra possível explicação é o efeito protetor da educação formal. Apesar das diferenças educacionais entre os gêneros terem diminuído fortemente nos últimos anos, elas ainda existem em muitas regiões do mundo, especialmente em populações mais idosas.

 

Uma diferente resposta ao estresse e a maior prevalência de ansiedade e depressão entre as mulheres podem fazer a diferença. Eventos desgastantes como doenças, divórcios e problemas no trabalho parecem aumentar o risco de demência entre as mulheres, mas o mesmo não acontece com os homens. O estado de ansiedade de uma mulher aumenta as chances dela desenvolver a doença e essa associação não foi demonstrada entre os homens.

 

A doença é mais agressiva no caso delas

As pesquisas mostram que, após o diagnóstico de Alzheimer, os homens têm um melhor desempenho em diferentes domínios cognitivos como memória, habilidades visuoespaciais e até mesmo linguagem, função esta que as mulheres levam vantagem sobre os homens quando se pensa em indivíduos saudáveis.

 

A chance de apresentarmos um quadro de demência chega a 25% após os 80 anos, 50% após os 90, sendo que a causa mais comum é a Doença de Alzheimer. Ela é mais freqüente entre as mulheres e as evidências apontam que as lesões cerebrais associadas à doença têm maior repercussão clínica entre elas. Essas pesquisas solidificam o conceito de que a doença nas mulheres é mais agressiva.

 

Além disso, mulheres cuidam de parentes com a doença de Alzheimer 2.5 vezes mais que os homens, e em 20% dos casos têm que abandonar o trabalho.

Woman Wearing Black Hijab Behind Bare Tree during Day Time

 

Mulheres têm um melhor desempenho de memória verbal e faz com que testes cognitivos para o diagnóstico de Alzheimer sejam menos sensíveis para elas. Essa é a conclusão de um estudo publicado hoje pelo periódico Neurology da Academia Americana de Neurologia.

 

A pesquisa foi conduzida pela Universidade da Califórnia nos EUA e demonstrou que o desempenho delas era melhor que o dos homens em testes de memória verbal, mesmo em condições que o exame PET scan demonstrava redução do metabolismo cerebral, condição encontrada na Doença de Alzheimer. Na verdade, o desempenho das mulheres foi melhor em situações em que o metabolismo era normal ou com redução leve ou moderada. Quando a queda do metabolismo já era severa, não havia diferenças entre os gêneros nos testes de memoria.

 

Esses resultados sugerem que as mulheres têm maior capacidade de compensar perdas da função cerebral por conta de sua maior reserva cerebral nas fases iniciais da doença. Novos estudos deverão ser realizados, e se os achados  forem confirmados, os testes cognitivos para o diagnostico da Doença de Alzheimer deverão ser ajustados de acordo com o sexo do paciente.

Um estudo recém-publicado pelo periódico Current Biology mostrou que os homens são mais amigáveis após o término de um conflito do que as mulheres. Isso parece soar meio desafinado, pois é fato que os homens são mais agressivos e competitivos. Que história é essa de amigáveis?

Pesquisadores da Universidade de Harvard analisaram centenas de vídeos de “guerras do dia a dia moderno” de 44 diferentes países. Estamos falando de competições esportivas. Eles demonstraram que ao final de uma partida os homens têm uma maior proximidade com o “inimigo” do que as mulheres. Isso foi identificado como abraços, apertos de mãos e tapinhas nas costas.

A explicação evolutiva para esse comportamento é que os homens, após terminado o conflito, têm a tendência em se aproximar do “inimigo” para garantir alianças para uma futura guerra. Eles garantem a perpetuação da espécie não só vencendo disputas para conseguir gerar mais filhos, mas também por preservarem a comunidade como um todo em conflitos entre grupos. Isso seria algo que os homens herdam dos seus ancestrais.

Estudos com chimpanzés evidenciam essa mesma tendência: os machos depois de um quebra-pau dão mais abracinhos que as fêmeas. Quanto às fêmeas, sabemos muito bem que no universo família elas são mais cooperativas. Porém, as mulheres sentem-se mais abaladas após um conflito de trabalho com outra mulher quando comparamos com a mesma situação em que os personagens são dois homens.

Muitos concordam que uma decisão longe dos extremos, na maioria das vezes, é o melhor caminho. Individualmente não há muita diferença de gênero quanto a essa questão, mas quando duplas têm que tomar uma decisão, é bom que  uma mulher participe. Duas mulheres tomam decisões ponderadas. Uma mulher e um homem também. Agora quando você junta dois homens…

 

Uma pesquisa recém-publicada pelo periódico Journal of Consumer Research  mostrou que quando você junta dois homens para tomar uma decisão eles têm uma tendência maior de não querer muita negociação. Quando dois homens estão escolhendo um carro, se um está interessado em um modelo muito seguro e o outro em um modelo que economiza combustível, é mais difícil eles saírem dos extremos e partir para um terceiro modelo que oferece um meio termo de segurança e economia. É como se inconscientemente eles quisessem “marcar território”.

 

O estudo foi conduzido por pesquisadores da Escola de Business de Pittsburgh – EUA e envolveu quase dois mil estudantes universitários. Pares homem-homem, mulher-mulher-mulher e homem-mulher tinham que tomar decisões de compras de itens diversos como impressoras, pasta de dente, reserva em hotel e algumas situações em que a dupla tinha que escolher entre baixo e alto grau chance de retorno. Independentemente do produto, as duplas homem-homem foram mais extremos. As duplas mulher-mulher foram bem ponderadas, assim como as homem-mulher. Interessante é que houve críticas por parte dos homens quanto ao “caminho ponderado”, posição que as mulheres elogiavam.  

 

A pesquisa tem grande aplicação aos profissionais de marketing e aos vendedores. Se o produto é para ser decidido por dois homens (e.g., pai comprando carro para filho), o ideal é que se ofereça extremos e não produtos ponderados. Já no caso de produtos em que a escolha é feita em pares homem-mulher ou mulher-mulher, é mais indicado que se ofereça alternativas longe dos extremos. Isso também pode ser aplicado a organizações que têm interesse em decisões mais ponderadas. Em casos de tudo ou nada, pode ser que a ausência feminina faça algum sentido. Sei não.

Mais da metade das mulheres apresentam queixas de memória na fase de transição para a menopausa e temos algumas evidências de que, nessa fase da vida, elas realmente apresentam uma menor velocidade de processamento cognitivo e menor desempenho da memória verbal.

 

Uma forma de explicar essa lenhificação do pensamento na transição da menopausa é que a redução ou flutuação dos níveis do hormônio estrogênio podem dificultar o pleno funcionamento cerebral. Já foi bem demonstrado que algumas áreas cerebrais são ricas em receptores de estrogênio, regiões que são fortemente vinculadas à memória, como é o caso do hipocampo e o córtex pré-frontal. Além disso, estudos experimentais revelam que o estrogênio é capaz de elevar os níveis de neurotransmissores e também promovem o crescimento neuronal e formação de conexão entre os neurônios.  

 

Nada de pessimismo! A boa notícia é que esses efeitos parecem ser limitados, já que as mulheres voltam a apresentar o mesmo desempenho cognitivo que tinham antes da menopausa após ultrapassarem a transição. Além disso, as mulheres que recebem reposição hormonal antes do término da menstruação são beneficiadas do ponto de vista cognitivo, o que não acontece com aquelas que começam esse tipo de tratamento após o término da menstruação. A Academia Americana de Neurologia publicou nesta semana a maior pesquisa realizada até então (mais de 500 mulheres) confirmando essa posição. Essa é mais uma evidência de que a reposição hormonal deve ser utilizada pelo menor tempo necessário.

 

E suplementos de soja podem ajudar? A soja é a principal fonte de isoflavonas da dieta, micronutrientes estes que se ligam aos receptores de estrogênio do cérebro. Uma série de pesquisas tem procurado demonstrar seus efeitos na menopausa e os resultados, apesar de conflitantes, não têm sido muito animadores. Os estudos mais robustos até chegaram a evidenciar uma melhora na capacidade de memória visual (ex: reconhecimento de rostos), mas sem impacto relevante em outras funções cognitivas. Vale ressaltar que essas pesquisas envolveram mulheres já na menopausa e por isso a discussão está longe de ser encerrada. O efeito da soja na transição da menopausa pode ser diferente.  

 

Os pais estão sempre antenados em vigiar o conteúdo a que seus filhos estão expostos nas diferentes mídias e existe um senso comum que se é produção da Disney não precisa se preocupar. Uma pesquisa publicada nesta última semana pelo periódico Child Development mostra-nos que a inocência Disney é discutível em alguns casos.  O estudo chama a atenção para o fenômeno da cultura de princesas Disney e seu poder de potencializar estereótipos de gênero, especialmente na cabeça das meninas. Estereótipos não são necessariamente bichos papões, mas estudos anteriores já haviam demonstrado que estereótipos de gênero limitam os horizontes das meninas.

O presente estudo avaliou as repercussões da cultura das princesas Disney sobre o comportamento de crianças americanas pré-escolares. Os resultados mostraram que 96% das meninas e 87% dos meninos já haviam assistido a alguma princesa Disney na mídia. 61% das meninas brincavam com a boneca de uma das princesas pelo menos uma vez por semana, enquanto que com os meninos era só 4%. Após acompanhamento de um ano, as crianças que tinham mais interação com as princesas tinham maior comportamento estereotipado de gênero e as meninas com menor auto-estima eram as que mais se envolviam com as princesas.

Para as meninas o reforço desse estereótipo de gênero pode limitar o alcance de suas potencialidades, pois podem achar que muitas opções na vida não foram feitas para mulheres. Matemática? Ciência? Atividades que sujam o corpo? Isso é coisa de homem… Os meninos podem reforçar esse estereótipo, dificultando as oportunidades das meninas. Por outro lado, as princesas podem também contrabalancear o estereótipo hiper-masculino de super-herói.

As crianças não devem ser desencorajadas a viver as princesas, mas os pais podem ensaiar com bastante cuidado uma análise crítica com elas. Uma boa oportunidade é o caso da “princesa” Mérida da animação Valente. Era uma guerreira que foge do modelo das princesas, mas ao lançar a boneca no mercado, a Disney retirou o arco e flecha e criou a estética de uma legítima princesinha.

A autora principal do estudo lembra que os pais podem ajudar as meninas a terem certa consciência desses jogos de imagens. Diz também que fica entediada quando alguém encontra sua filha e diz: “Olá minha princesa”, mas nunca diz: “Olá menina esperta, inteligente”…

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