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Por Dr. Ricardo Afonso Teixeira


Alimentos com altos teores de carboidratos e gorduras têm grande poder de estimular nossos centros cerebrais relacionados ao prazer e à sensação de nos sentirmos recompensados, promovendo a liberação de neurotransmissores como a dopamina, serotonina e a endorfina. Sabemos que a ativação desses centros de recompensa cerebral está fortemente associada à sensação de bem-estar e já foi demonstrado que até o simples contato na boca de uma solução de carboidratos, sem sua ingesta, é capaz de ativar esse sistema cerebral.

A interpretação para esse fenômeno é a de que nosso cérebro é programado desde os tempos ancestrais a ter prazer em consumir alimentos calóricos e com isso ter maior vantagem evolutiva. Baseado nessa teoria, a preferência por alimentos calóricos seria inata sim, mas ao consumirmos alimentos calóricos, o cérebro muda suas conexões em curtíssimo prazo, como se fosse treinado a repetir a ação em um futuro próximo. Isso foi o que pesquisadores do Instituto Max Planck na Alemanha e da Universidade de Yale acabaram de demonstrar em estudo publicado pela respeitadíssima revista Cell Metabolism.

Voluntários comeram diariamente um pudim com uma dose extra de gordura, por um período de oito dias, e passaram a apresentar uma ativação do sistema dopaminérgico de recompensa numa intensidade bem maior do que aqueles que comeram o pudim com menos gordura. Essa maior ativação não se desfaz do dia para a noite, o que nos faz pensar que cada alimento hipercalórico que ingerimos faz com que o cérebro, dias ou semanas depois, ainda esteja bem treinado a sentir o prazer novamente. E mais: outros estudos já mostraram que, após semanas comendo alimentos supercalóricos, o cérebro não se ativa como antes a alimentos pouco calóricos.

Em tempos que não mais caçamos ou coletamos, tempos de geladeira e supermercado, esse “treinamento” do sistema de recompensa dopaminérgico é um motor potente que contribui sobremaneira para a espiral de obesidade que vivemos hoje.

*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e diretor do Instituto do Cérebro de Brasília

Estudos robustos nos mostram que os homens são mais amigáveis após o término de um conflito quando comparados às mulheres. Isso parece soar meio desafinado, pois é bem reconhecido que os homens são mais agressivos e competitivos. Que história é essa de amigáveis?

Em um desses estudos, pesquisadores da Universidade de Harvard analisaram centenas de vídeos de “batalhas do dia a dia moderno” de 44 diferentes países. Estamos falando de competições esportivas. Eles demonstraram que ao final de uma partida os homens têm uma maior proximidade com o “inimigo” do que as mulheres. Isso foi identificado como abraços, apertos de mãos e tapinhas nas costas.

A explicação evolutiva para esse comportamento é que os homens, após terminado o conflito, têm a tendência em se aproximar do oponente para garantir alianças para uma futura guerra. Eles garantem a perpetuação da espécie não só vencendo disputas para conseguir gerar mais filhos, mas também por preservarem a comunidade como um todo em conflitos entre grupos.

Estudos com chimpanzés evidenciam essa mesma tendência: os machos depois de uma briga dão mais abracinhos que as fêmeas. Quanto às fêmeas, sabemos muito bem que no universo família elas são mais cooperativas. Porém, as mulheres sentem-se mais abaladas, quando um conflito ocorre com outra mulher quando comparamos com a mesma situação em que os personagens são dois homens.

Voilà Jair. Ligue para o Lula dando as congratulações, faça uma daquelas suas lives pedindo para os caminhoneiros desobstruírem as estradas e, no dia primeiro de janeiro, entregue a faixa e dê uns tapinhas nas costas do Lula.  

No contexto da evolução das espécies, o ser humano pode ser considerado um recém-nascido. Os mamíferos apareceram há 225 milhões de anos, os primatas há 65 milhões, e os ancestrais hominídeos apareceram há cinco milhões de anos. Alguns podem achar cinco milhões de anos muito tempo, mas pode ser interessante lembrar que nosso código genético, que é como se fosse um texto composto por três bilhões de letras, é idêntico ao de um chimpanzé em 98,5% do seu conteúdo.

A população mundial está envelhecendo, e isso é explicado em parte pelos grandes avanços da ciência nas últimas décadas. A expectativa de vida do Australopitecus há quatro milhões de anos era de apenas 15 anos, 25 anos para europeus na Idade Média, cerca de 40 anos no século XIX, 55 anos no início do século XX, e atualmente, em muitos países, a expectativa de vida já é maior que 75 anos de idade. Como podemos perceber, nossos ancestrais não envelheciam e toda a programação genética estava concentrada em oferecer condições para que o indivíduo conseguisse se reproduzir e perpetuar a espécie.

Nossa grande longevidade é um fenômeno bem recente, e não houve tempo de nos adaptarmos geneticamente a esse novo cenário. Essa é uma forma importante de entender o porquê das doenças degenerativas. Mas vamos deixar de lado as doenças, e focar no nosso envelhecimento normal.

Temos inúmeras evidências do declínio funcional de nosso organismo em idades mais avançadas. O impacto no sistema nervoso é significativo, pois é este sistema que permeia toda nossa interação com o mundo à nossa volta (e.g.; órgãos dos sentidos, respostas motoras, emoção), também chamada Vida de Relação. Talvez seja também o sistema cuja perda de funções seja mais temida por nós. O próprio conceito de envelhecimento da Organização Mundial de Saúde reflete sobremaneira a dimensão de perdas do sistema nervoso: redução da adaptabilidade a estímulos sensoriais.

Já se conhece bastante sobre as alterações cerebrais morfológicas e fisiológicas associadas ao processo de envelhecimento normal. Por volta dos 15 anos de idade nosso encéfalo alcança seu maior peso (~ 1350g), com uma perda de cerca de 1,5% desse peso a cada década.  Essa redução se dá muito mais por redução do tamanho dos neurônios do que por destruição dos mesmos. Paralelamente, há uma redução no número de conexões entre os neurônios e significativo acúmulo de substâncias associadas ao envelhecimento que dificultam o pleno funcionamento cerebral.

Do ponto de vista funcional, essas alterações estruturais só começam a ter impacto após a sexta década de vida. Em média, só a partir dos 60 anos é possível confirmar declínio de capacidades psicométricas, com exceção da fluência verbal que declina levemente já na quinta década de vida. O declínio dessas capacidades é muito modesto até os 80 anos, quando se torna mais acentuado em pelo menos 50% dos indivíduos.

Um conceito fundamental para entendermos melhor como investir bem em nosso cérebro é o conceito de Reserva Cerebral. Se o nosso cérebro tem uma tendência natural a perder um pouco de seu desempenho em idades mais avançadas, quanto mais conexões formarmos no decorrer da vida, quanto mais aumentarmos nosso repertório, menor a chance de que pequenas perdas estruturais tenham repercussão funcional. E o que dirá quando o indivíduo apresenta doença cerebral como a Doença de Alzheimer? Maiores reservas fazem com que mais tempo de doença seja necessário para que ela se manifeste clinicamente. Ou seja, quanto maior a reserva, mais tempo o cérebro mantém seu funcionamento normal, mesmo que ele esteja doente. E isso já foi demonstrado em inúmeros estudos.

O status sócio-econômico e educacional é sem sombra de dúvidas um dos pilares mais fortes de nossa Reserva Cerebral, sendo que quanto maior esse status, maior a reserva. Até mesmo a época em que nascemos faz diferença, sendo que indivíduos que nasceram e cresceram em épocas mais recentes apresentam melhor desempenho cognitivo do que suas gerações anteriores.

Pesquisas recentes demonstram que o cérebro do idoso ao ser treinado responde com melhora de desempenho nas habilidades ensinadas. Tais treinamentos foram realizados com exercícios para estimulação da memória, resolução de problemas, velocidade de processamento, alguns deles por meio de sofisticados softwares. Entretanto, parece que atitudes mais instintivas e artesanais podem ter efeito também bastante significativo: a atividade de lazer é um exemplo.

Há cerca de uma década, repetidos estudos vêm demonstrando que lazer é coisa séria, e é um hábito que está associado a um menor risco de desenvolver demência. A explicação reside no fato de que o lazer também é capaz de treinar nossos cérebros, aumentando nossa Reserva Cerebral. O interessante é que algumas atividades de lazer parecem ser mais positivas do que outras. Estudos realizados na cidade de Nova York revelaram que as atividades mais “protetoras” foram leitura, palavras cruzadas, jogos de tabuleiro, passeios turísticos, visitas a amigos e parentes, idas ao cinema, restaurante ou a evento esportivo, tocar instrumento musical.

Uma pesquisa recém-publicada pela Neurology da Academia Americana de Neurologia mostrou que o efeito protetor dessas atividades é menor entre os portadores de genótipo associado à Doença de Alzheimer – APOE4. Mostrou também o quanto a atividade física pode incrementar nossa Reserva Cerebral especialmente na velocidade do pensamento. Vale lembrar que o lazer para muitos está intimamente ligado a atividades esportivas.

De qualquer forma, precisamos estar atentos em estimular os nossos jovens a desenvolver um repertório amplo de atividades de lazer “inteligentes”, pois os hábitos são mais fáceis de serem adquiridos quando iniciados em fases mais precoces da vida. Quanto aos nossos idosos, atenção redobrada. Podemos começar por melhor conhecer e demandar aquilo que está escrito no Estatuto do Idoso, em vigor em nosso país desde 2003:

Art. 3º – É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

Art. 21º – O Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados.

Art. 24º – Os meios de comunicação manterão espaços ou horários especiais voltados aos idosos, com finalidade informativa, educativa, artística e cultural e ao público sobre o processo de envelhecimento.

Os Titãs não estavam falando em luxo com: “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.

Photo credit: Kevin Mazur - Getty Images

Recentemente pudemos acompanhar cenas do show da lenda do jazz Tony Bennet junto a Lady Gaga no Radio City Music Hall em Nova Iorque. Nos ensaios, ele não era capaz de reconhecer Lady Gaga, amiga e companheira em inúmeros projetos. Mas no dia do show, ele falou o nome dela com muita emoção quando ela subiu ao palco. Tony sofre de doença de Alzheimer desde 2016, está com 95 anos e a turnê era sua despedida dos palcos. O vídeo é emocionante. Clique aqui para assistir.

Depois do show Lady Gaga disse: “Eu quero que as pessoas saibam que, se tem alguém que você ama com Alzheimer, há uma maneira de se comunicar e tocar uma magia no coração que ainda está lá. E eu acho que cabe a nós questionarmos por quais maneiras podemos despertar esses sentimentos e assim nos comunicarmos melhor com eles.” O recado de Lady Gaga é precioso às famílias que têm um ente querido com a doença.

Calcula-se que a chance de desenvolvermos um quadro demencial seja de 25%, se ultrapassarmos os 80 anos de vida, e de 50% se passarmos dos 90. Esse cenário era bem diferente no caso de nossos ancestrais, pois eles não envelheciam e toda a programação genética estava concentrada em oferecer condições para que o indivíduo conseguisse se reproduzir e perpetuar a espécie. Nossa grande longevidade é um fenômeno bem recente, e não houve tempo de nos adaptarmos geneticamente a esse novo cenário. Vale lembrar que a expectativa de vida do Australopitecus, há 4 milhões de anos, era de apenas 15 anos, 25 anos no caso dos europeus na Idade Média, cerca de 40 anos no século XIX e 55 anos no início do século XX.

Já que não somos geneticamente tão “atualizados” assim, e esse tipo de atualização é coisa para milhão de anos, o que podemos fazer para chegar aos 80 anos com a cabeça tinindo é investir em atitudes de vida saudáveis. As estrelas de primeira grandeza são a atividade física regular e uma rotina em que o cérebro tenha muitas demandas, e aí o lazer certamente está incluído.

Além disso, a ciência demonstra, de forma inequívoca, que o padrão da dieta mediterrânea ajuda a prevenir a demência. Essa é uma dieta rica em peixes, verduras, legumes, frutas, cereais (melhor se forem integrais), azeite e outras fontes de ácidos graxos insaturados, e baixo consumo de carnes e laticínios e outras fontes de gorduras saturadas, além do uso moderado, porém regular, de álcool.

Tão importante quanto o incremento dessas atitudes saudáveis é evitar condições que diminuam as reservas do cérebro, como é o caso do tabagismo, álcool em excesso e o uso de outras drogas neurotóxicas. Para quem tem problemas de saúde como hipertensão arterial e diabetes, o tratamento rigoroso dessas condições é de extrema importância para proteger o cérebro das principais causas de “esclerose”, que são a doença de Alzheimer e demência vascular. Esta última é resultante de lesões causadas por vasos cerebrais doentes.

Person Holding String Lights Photo

Os neurônios-espelho foram descobertos meio sem querer por pesquisadores italianos ainda na década de 1990. Pela primeira vez constatou-se que a simples observação de ações dos outros era capaz de ativar as mesmas regiões do cérebro responsáveis pelo movimento do próprio observador. A percepção visual inicia uma espécie de simulação ou duplicação interna dos atos de outros. As mesmas regiões também são ativadas quando o próprio indivíduo executa a ação.

Sabe aquela situação em que o carro está parado num cruzamento, faz que vai, mas não vai, e o carro de trás já arrancou cheio de vontade e CRASH? Por outro lado, é mais fácil dirigir na estrada atrás de outro carro. Assistir a um jogo de tênis pode ser visto como um treinamento para quem pratica o esporte. São os comandos automáticos dos neurônios-espelho. Também são esses neurônios que explicam o que faz o bocejo ser tão contagiante.

Fazemos mentalmente tudo o que assistimos o outro fazer e o que a neurociência tem-nos mostrado é que isso vai muito além de movimentos. Neurônios-espelho foram encontrados nas áreas do córtex pré-motor e parietal inferior, associadas a movimento e percepção, bem como no lobo parietal posterior, no sulco temporal superior e na ínsula, regiões associadas à nossa capacidade de compreender o sentimento de outra pessoa, entender a intenção e usar a linguagem.

O cérebro entende através dos neurônios-espelho até mesmo a intenção de uma ação. Uma série de neurônios é disparada ao olharmos para uma imagem de uma mesa bem arrumada e uma mão pegando uma xícara – com a provável intenção de beber o café. Um diferente grupo de neurônios é disparado quando olhamos para a mesma cena da mão pegando a xícara, mas numa mesa desarrumada – com a provável intenção de lavar a xícara.  Sentir nojo ou ver uma pessoa com olhar repulsivo de nojo faz com que neurônios-espelho das mesmas regiões do cérebro sejam estimulados.

Dessa forma, neurônios-espelho têm papel essencial na percepção de intenções e na experiência da empatia. É o outro entrando em nosso cérebro – empatia origina-se da palavra grega empátheia, que significa “entrar no sentimento”. Não há muita dúvida de que os neurônios-espelho foram cruciais no desenvolvimento de nossas habilidades sociais através de avanços na comunicação e aprendizado. Com eles a informação é espalhada e amplificada colaborando para a promoção da cultura. Alguns cientistas chegam a chamar esses neurônios de DNA da neurociência.

Você deve estar se perguntando se na leitura de um romance os neurônios-espelho também estão a pelo vapor? A resposta é sim e já temos boas evidências de que eles fazem a gente viver na carne, melhor dizendo, no cérebro, a vida dos personagens. Nós compreendemos o personagem porque temos dentro de nós a mesma experiência. O conteúdo de um livro pode ativar circuitos neuronais da mesma forma que estímulos sensoriais, como a visão de uma ação do outro. A literatura coloca em ação partes do cérebro que vão fazer o leitor experimentar, no próprio cérebro, as sensações físicas e emocionais como num filme mais do que 3D; um superfilme que ativa infinitas dimensões. E é claro que quando falamos de cinema, nem é preciso apontar o quanto vivemos a vida de quem está na tela.

Scenic View of the Forest During Sunrise

Vocês irão concluir que o oxigênio do título acima refere-se ao espaço verde, mas tem outras conotações também. Pesquisas têm revelado que durante a pandemia as pessoas têm procurado mais contato com a natureza. O mais recente estudo foi conduzido no estado de Vermont nos EUA durante os primeiros meses da pandemia, numa época de fechamento de escolas e comércio não essencial e restrição de viagens. Dois terços dos moradores passaram a visitar os parques naturais com maior frequencia e 80% declararam que as visitas aos parques passaram a ter uma importância ainda maior na pandemia para o equilíbrio físico e mental. Entre aqueles que em 2019 não tinham o hábito de frequentá-los, 26% passaram a aproveitar os parques nesse período.    

Em tempos de crise como a que vivemos agora, a garantia de acesso ao espaço verde deve ser vista como uma questão de saúde pública para mitigar os impactos mentais negativos em situações dramáticas. Em 2011, a cidade de Futaba no Japão sofreu simultaneamente um terremoto, um tsunami e um acidente nuclear. O governo imediatamente recriou uma série de ecossistemas na cidade para promover o bem estar psíquico da população.

E falando um pouco mais de catástrofe e governos, o presidente da Coalisão de Saúde Mental Mundial recentemente rejeitou a orientação da Associação Americana de Psiquiatria ao dar um diagnóstico psiquiátrico a uma pessoa pública, no caso, Donald Trump, sem examiná-lo pessoalmente. A Coalizão se valeu da Declaração de Genebra que defende que médicos podem se expressar quando frente a governos destrutivos, Declaração criada após a experiência do Nazismo.

De acordo com a Coalisão, o fenômeno Trump e seus seguidores estão embasados em um narcisismo simbiótico e uma psicose compartilhada. Por narcisismo simbiótico devemos entender que um líder, faminto por adulação para compensar sua baixa autoestima, projeta uma onipotência grandiosa, enquanto seus seguidores, carentes pelo estresse social e econômico, buscam ansiosamente por uma figura parental. Quando esses indivíduos assumem posições de poder, eles elicitam a mesma patologia numa parte da população com encaixe perfeito, como uma chave feita para aquela fechadura. Quanto à psicose compartilhada, eles a chamam também de folie à million. Folie à deux (loucura a dois) é um fenômeno descrito na psiquiatria desde o século XVII e refere-se a sintomas delirantes compartilhados por duas pessoas geralmente da mesma família ou próximas. A folie à deux também é chamada de transtorno psicótico induzido, e folie à million, socorro! Quando um indivíduo muito sintomático é colocado em posição de poder e influência, seus sintomas podem se propagar à população por meio de ligações emocionais, amplificando patologias pré-existentes e afetando até indivíduos previamente saudáveis. E o fator delirante provavelmente é mais forte do que um cálculo estratégico, pois ele se dissemina mais facilmente.          

É importante salientar que os indivíduos com transtornos mentais como um grupo não são mais perigosos que a população geral, mas quando o transtorno mental vem acompanhado de componentes destrutivos, esses indivíduos são mais perigosos sim. E de onde vem esse elemento destrutivo? Simplificando, se uma pessoa não recebe amor, ela busca respeito. Se ela não tem o respeito, ela realiza ameaças. Trump vive hoje a rejeição e a violência é uma compensação à perda de poder.

Esta não é uma história de ficção e qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real aqui nos trópicos não é mera coincidência. 

Foto profissional grátis de alimento, amarelo, ao ar livre, aquecido

É isso mesmo. Localizamos alimentos com alto valor calórico com maior eficiência do que aqueles com menor conteúdo de energia, e isso é independente do prazer que o alimento promove. Essa é a conclusão de um recente estudo publicado pela prestigiada revista Scientific Reports.

Mais de 500 voluntários caminharam por uma sala experimentando amostras de alimentos de baixo e alto valor energético. Após a fase de degustação, as pessoas tinham que se recordar onde estava cada alimento e isso foi 30% mais fácil no caso dos alimentos mais calóricos. O mesmo aconteceu com a localização de amostras de odores, mas a diferença foi menos robusta.

A interpretação é a de que nosso cérebro é programado desde os tempos ancestrais a reconhecer com maior eficiência a localização de alimentos com alto valor energético. Esta vantagem evolutiva pode não ter tanta relevância no mundo contemporâneo de supermercados e geladeiras. Pelo contrário, com as facilidades de hoje, nossas memórias que fixam mais os alimentos de alto valor energético pode contribuir sobremaneira para a epidemia de obesidade.

Resultado de imagem para the opposites attract themselves

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Por Dr. Ricardo Teixeira

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Uma série de pesquisas aponta que não. Se você apresentar rapidamente a uma pessoa uma série de rostos desconhecidos, e incluir uma foto da própria pessoa manipulada e com aparência do sexo oposto, esta será considerada uma das fotos mais atraentes (New Scientist 2002). E mais: uma pessoa tem mais chance de escolher outra para uma relação de longo prazo quando ela tem um DNA parecido.

 

A tal história que os opostos se atraem realmente parece ser um mito. As pessoas costumam se casar com outras com nível educacional / socioeconômico parecido, com crenças religiosas e políticas semelhantes e que têm mais interesses em comum. E a bagagem que carregamos no nosso código genético influencia também a escolha do nosso parceiro.

 

Não faz muito tempo, o periódico Proceedings of the National Academy of Sciences publicou uma pesquisa mostrando que uma pessoa tem o código genético mais parecido com o do seu parceiro ou parceira quando comparado ao DNA de outras pessoas com mesmo nível socioeconômico, etnia e origem de nascimento.

 

A ideia de semelhança do código genético dos casais foge um pouco do senso comum. Evitamos casar com nossos parentes e estudos mostram que mulheres se sentem mais atraídas pelo cheiro de homens que tem genes do sistema imunológico diferentes dos delas. Isso parece uma contradição, mas esses genes imunológicos podem ter influência diferente. Os estudos que sugerem uma maior atração por pessoas com o código genético parecido analisaram todo o genoma.

 

Em janeiro de 2017, outra pesquisa publicada pela revista Nature Human Behavior confirma a tese que DNAs parecidos se atraem. Pesquisadores australianos estudaram os genes de milhares de casais e mostraram uma inequívoca associação entre os genes vinculados a peso e altura de um indivíduo com o peso e altura do(a) parceiro(a). Do ponto de vista evolutivo, isso garante uma maior chance de perpetuação das características fenotípicas à prole.

 

Resumo da ópera. Pessoas com mais semelhanças que diferenças têm mais chance de se atrair para construírem uma relação de longo prazo. Entretanto, vale sempre a pena lembrar que respeitar e incentivar as diferenças pode ser uma das melhores receitas para que essa relação se sustente.

 

Woman Drinking Wine

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As mesmas regiões do cérebro estão envolvidas no processamento da orientação espacial e do olfato. Isso lhe parece lógico? Até o mês passado isso não passava de uma construção teórica de que uma das principais funções do olfato é a navegação, já que a maioria dos animais usam esse sentido para buscar alimento e fugir dos predadores.

Pesquisadores da Universidade de McGill no Canadá publicaram recentemente na revista Nature Communications  um estudo demonstrando essa relação pela primeira vez entre humanos e que as regiões cerebrais  envolvidas são o hipocampo e o córtex orbitofrontal medial. A pesquisa envolveu adultos jovens que passavam por testes de orientação espacial numa cidade virtual  e também um teste para identificar 40 tipos diferentes de odores. Aqueles que se saíram melhor nos testes de orientação também foram os que melhor identificavam os diferentes cheiros. O achado inédito de que essas duas funções são desempenhadas pelas mesmas áreas cerebrais sugerem que os dois sistemas evoluíram ao mesmo tempo no nosso cérebro.

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As pessoas paqueram, apaixonam-se, namoram, ora são aceitas, ora são rejeitadas, até encontrarem uma parceria que julgam ser a mais acertada para viverem juntos, terem filhos, etc. Isso costuma ser um processo longo e cauteloso e poucos vão dizer que é uma perda de tempo e energia.  Para a perpetuação da espécie seria mais econômico paquerar e procriar sem toda essa experimentação? A espécie precisa mesmo do amor romântico? Os passarinhos podem nos ajudar a responder.

Ornitólogos do Instituto Max Planck na Alemanha demonstraram resultados de experiências com passarinhos que têm parcerias parecidas com as dos humanos: costumam escolher um(a) companheiro(a) e seguem toda a vida juntos e dividem o trabalho da criação dos filhotes.

Eles estudaram 160 passarinhos e promoveram uma paquera inicial entre grupos de 20 fêmeas que podiam escolher livremente um macho em um grupo de 20 também. Depois que os pássaros formavam casais eles eram divididos em dois grupos: casais que se entenderam espontaneamente e casais que foram separados pelos pesquisadores que em seguida eram forçados a novas parcerias.

Os resultados não deixam dúvida que a escolha espontânea faz a diferença. Os filhotes de passarinhos que continuaram com seus pares espontâneos tinham 37% mais chances de sobreviver nos primeiros dias de vida, provavelmente reflexo do cuidado dos pais. Não houve diferença na mortalidade dos embriões entre os dois grupos, o que sugere que a atração pelo outro não é uma escolha pela melhor genética, mas atração por atributos comportamentais que favorecem a complementariedade.

Aqueles com “casamento arranjado” tinham o ninho com mais ovos não fertilizados ou desaparecidos. Os machos deram a mesma atenção às fêmeas independentemente de serem da turma romântica ou arranjada. Já as fêmeas arranjadas foram menos receptivas ao macho e copulavam menos. Os casais arranjados eram também mais infiéis.

Isso parece familiar?

Uma série de experimentos acaba de ser publicada por pesquisadores da Universidade de Rochester nos EUA em parceria com o centro Herzliya de Israel  e aponta que, entre os humanos, a relação é sexualmente mais forte quando o(a) candidato(a) parece ser mais viável para uma parceria romântica no longo prazo. Poderíamos dizer que o turbilhão da atração sexual é potencializado pelo amor romântico que sinaliza uma complementariedade e segurança. O mesmo fenômeno foi observado entre casais que já tinham uma relação estável. Os que demonstravam mais respeito mútuo, consideração e afeto eram os que tinham a maior atração sexual.

Black and White Photo of Mother and Children
Um dos fenômenos muito especiais da maternidade é o deslocamento do eixo de preocupações de uma fêmea: a vida orientada para suas próprias necessidades passa a se concentrar também no cuidado e bem-estar de seus filhos.
A natureza dá uma força para que esse projeto de cuidar da cria seja bem sucedido, já que as alterações hormonais características da gravidez, parto e lactação, permitem que o cérebro das mães seja “turbinado” nessas fases. O cérebro materno é por definição um modelo espetacular do fenômeno de neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro em criar novas conexões em resposta a um estímulo.

A maior parte das evidências de incremento de funções cerebrais com a maternidade tem origem em estudos com mamíferos inferiores, especialmente os roedores. Pesquisas apontam que não só as alterações hormonais, mas também o ambiente rico em estímulos associados à maternidade (ex: múltiplas novas tarefas, sons, cheiros), têm um papel importante nesse upgrade cerebral das mães.
A maioria dos mamíferos compartilha instintos maternais de defender seu ninho e sua cria. Ao ter que optar entre sexo, drogas, alimento ou seu ratinho recém-nascido, mamães ratas escolhem seus ratinhos. O cuidado com os filhotes ativa nas mães centros cerebrais de recompensa ligados ao prazer, mesmo no caso de filhotes adotivos, e essa também é uma forma de explicar as raízes do altruísmo. Esse fenômeno também foi demonstrado entre as mães humanas ao ouvir o choro dos filhos, ou simplesmente ao olhar para eles.
Em ratinhas, temos evidências de que a maternidade provoca aumento do volume dos neurônios e mais conexões em algumas regiões cerebrais. Mais recentemente, tem sido demonstrado também o fenômeno de geração de novos neurônios. Essas mamães passam a apresentar melhor desempenho em orientação espacial e memória, ficam mais corajosas e rápidas para capturar a presa, e com menos sinais de ansiedade em situações de estresse. Tudo em prol de uma maior capacidade de alimentar as crias. Talvez não seja à toa que Artemis é ao mesmo tempo a deusa grega do parto e da caça.
 

E esses efeitos parecem durar bastante. As mamães ratinhas chegam ao equivalente humano de 60 anos de idade com melhor desempenho e coragem, além de menor declínio cognitivo e também menos sinais de degeneração cerebral quando comparadas a ratinhas virgens da mesma idade.
 
E com os pais ? As pesquisas são menos abundantes do que com as mães, mas também revelam que tanto primatas como roedores apresentam mudanças cerebrais com a paternidade: aumento de conexões, melhor habilidade espacial e menos sinais de ansiedade.
 
É possível que a neurobiologia da maternidade humana não seja tão diferente daquilo que já foi demonstrado em mamíferos inferiores, já que a maior parte do código genético dos humanos é idêntica à dos ratinhos ou dos primatas. Não duvido que as mães modernas, com suas rotinas de malabaristas, apresentem adaptações cerebrais associadas à maternidade até mais robustas do que das ratinhas, já que são submetidas a um nível de estimulação ambiental como nenhuma outra espécie. Além de cuidar da cria e de sua própria sobrevivência, freqüentemente protagonizam diversos outros papéis simultâneos (esposa, amante, conselheira, profissional, dona-de-casa, etc.). É estímulo para dar, vender e jogar fora.

Pile of Covered Books

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O hábito de colecionar coisas, mesmo as que não têm qualquer utilidade à primeira vista, é comum entre crianças e adultos, tanto em sociedades modernas quanto em primitivas. Tal costume também é descrito em outras espécies. O hábito de estocar comida é descrito em diversas famílias de pássaros, mamíferos e vários tipos de insetos. E o de colecionar não é restrito à comida. Alguns tipos de pássaros costumam juntar objetos metálicos e coloridos e hamsters preferem coletar contas de vidro.

A estocagem de alimento faz todo o sentido do ponto de vista de adaptação das espécies como forma de preparação para tempos de vacas magras. Entre os humanos, o comportamento de colecionador pode representar esse mesmo instinto arcaico, e é difícil pensar em alguém que nunca tenha colecionado nada durante a vida. As coleções podem ser justificadas pelo valor estético e emocional dos objetos e até mesmo pelo valor material, como é o caso de obras de arte.

O fato é que, em algumas situações, o comportamento de colecionador não traz nenhuma dessas justificativas anteriores e pode representar um sintoma patológico. Nessa situação, o indivíduo coleciona exageradamente, de forma indiscriminada, e tem muita dificuldade de se desfazer das quinquilharias. Nesses casos, é mais comum a coleção de objetos que podem ser facilmente obtidos e, após a aquisição, são deixados de lado. O interesse pelos objetos volta a acontecer quando outra pessoa ameaça dar um fim na coleção. O ato de colecionar é um fim em si mesmo, comportamento semelhante ao dos roedores, que acumulam por acumular, independentemente se suas reservas estão em alta ou em baixa.

Várias doenças neuropsiquiátricas podem estar associadas a um comportamento de colecionador patológico, como é o caso do transtorno obsessivo-compulsivo, autismo, esquizofrenia, síndrome de Tourette e diferentes tipos de demência. Estudos recentes têm demonstrado que lesões ou alterações no funcionamento de regiões frontais do cérebro, especialmente do lado direito, estão associadas ao comportamento de colecionador patológico. É como se essa região do cérebro funcionasse como freio para o instinto arcaico de acumular por acumular, que tem origem em outras regiões do cérebro, como o sistema límbico, um dos maestros de nosso comportamento. Talvez as crianças ainda não tenham esse freio bem desenvolvido, pois se dependesse delas, elas teriam todos os modelos de brinquedos disponíveis no mercado. Consumismo pode não ser o melhor nome para isso.

Em um extremo, podemos imaginar o colecionador comum e “saudável” que tem toda a obra de seu escritor predileto, e já leu pelo menos uma parte dos livros que comprou. No outro extremo, está o indivíduo que começa a guardar em casa quilos e quilos de objetos sem utilidade que poderiam estar num ferro-velho. Entre os dois extremos, estariam aquelas mulheres que têm um quarto em casa só para guardar a coleção de centenas de sapatos, pessoas que já têm uma respeitável coleção de dinheiro suficiente para sustentar três gerações, mas continuam a trabalhar 18 horas por dia pelo prazer de ver sua coleção aumentando.

 

 

.adult, alone, black and white

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As redes sociais estão cheias de recados para ficarmos atentos com pessoas com grande nível de estresse e isso realmente parece ter bons fundamentos. No caso de pessoas queridas, acredito que ficar atento não quer dizer abandonar o barco, mas sim ajudar o outro a tentar enxergar o que pode ser mudado para minimizar essa condição.

Recentemente, uma preciosa peça foi colocada nesse quebra-cabeça. Pesquisadores da Universidade de Calgary no Canadá mostraram que camundongos estressados transmitem esse estado a outros que não receberam os estímulos estressantes. Isso já sabíamos. Dessa vez registraram que o cérebro daqueles não expostos ao estresse real apresentaram alterações celulares idênticas aos daqueles que foram expostos. Registraram mudanças nas sinapses de neurônios no núcleo paraventricular do hipotálamo que secretam o hormônio liberador de corticotropina, que por sua vez estimulam a liberação de outro hormônio na hipófise (ACTH) para finalmente provocar a produção do cortisol. O cortisol é considerado o hormônio do estresse e seus níveis elevados estão muito associados a quadros de ansiedade e depressão.

Os pesquisadores foram além. Demonstraram que o efeito negativo nas sinapses foi minimizado após interações sociais com camundongos que até então não tinham participado do experimento. Entretanto, só as fêmeas se beneficiaram. Resolveram também manipular a atividade desses neurônios, tipo ativar ou desativar. Quando esses neurônios eram desativados, toda a sequência de influência sobre os outros foi desativada, mesmo após o estímulo estressante. E quando eles ativaram, o contágio nos outros acontecia, mesmo sem o estresse real.  Essa ativação promovia a liberação de um sinal químico, como se fosse um feromônio de alarme, que é capaz de transmitir a informação para os outros membros do grupo. Isso serve para muitas espécies para comunicar situações de risco. Entre os humanos essa comunicação também parece acontecer, mas em épocas que não precisamos saber que um leão está se aproximando, isso talvez gere mais prejuízos do que benefícios.

A pesquisa foi publicada no prestigiado periódico Nature Neuroscience.

Sliced Tuna With Green Leaf Vegetables

Crianças por volta de seus dez anos de idade que consomem peixe pelo menos uma vez por semana dormem melhor e ainda têm uma maior pontuação em testes de QI. Essa é a conclusão de uma pesquisa recém-publicada pelo renomado periódico Scientific Reports. Os pesquisadores recomendam que os pais já poderiam criar esse hábito alimentar nas crianças desde os dois anos de idade para que elas se acostumem, já desde cedo, com esse alimento tão nobre para o cérebro.

Esses resultados foram interpretados pelos autores como tendo uma relação causa e efeito bem possível: melhorando a qualidade do sono, as crianças teriam melhores pontuações nos testes de Q.I. O mais provável é que o fator sono responda apenas parcialmente pelos resultados positivos do consumo de peixe na cognição.

A teoria da evolução defende a tese que nós humanos chegamos até aqui com o cérebro que temos pelo menos em parte graças ao nosso padrão de alimentação. Há uma série de evidências paleontológicas que nos aponta que existe uma relação direta entre acesso ao alimento e tamanho do cérebro, e que mesmo pequenas diferenças nesse acesso podem influenciar a chance de sobrevivência e o sucesso reprodutivo. Entre os hominídeos, pesquisas mostram que o tamanho do cérebro está associado a diversos fatores, que em última instância, refletem o sucesso em se alimentar, como é o caso da capacidade de preparar alimentos, estratégias para poupança de energia, postura bípede e habilidade em correr.

O consumo de ácidos graxos da família Ômega 3 é a mais estudada interação entre alimento e a evolução das espécies. O ácido docosahexanóico (DHA) pode ser considerado o ácido graxo mais importante para o cérebro, já que é o mais abundante nas membranas das células cerebrais e são considerados essenciais por não serem produzidos pelo organismo humano que precisa obtê-los por meio de dieta. Acredita-se que o consumo de Ômega 3 teria sido fundamental para o processo de aumento na relação peso cérebro/ peso corpo, fenômeno conhecido como encefalização, ou seja, aumento progressivo do tamanho do cérebro em relação ao corpo ao longo do processo evolutivo. Estudos arqueológicos apoiam essa hipótese, já que esse processo de encefalização não ocorreu enquanto os hominídeos não se adaptaram ao consumo de peixe.

 

 

 

injeja

 

O filósofo alemão Arthur Schopenhauer dizia que sentir inveja é humano, gozar do infortúnio dos outros é diabólico. Pesquisas recentes têm-nos provocado novas reflexões sobre o quanto esses sentimentos devem ser vistos como patológicos ou não.

Situações competitivas podem gerar sentimentos positivos de identificação com outros membros do grupo capazes de gerar alianças, mas podem também estimular sentimentos como a inveja e até mesmo satisfação com o infortúnio dos outros. A inveja pode ser definida como o desejo de possuir aquilo que é do outro (ex: sucesso, bens materiais) e/ou o desejo que o outro não possua aquilo que é invejado. A língua alemã usa a palavra schadenfreude, sem equivalente em português, para descrever algo diferente da inveja, mas que costuma andar lado a lado com ela: um sentimento de alegria ou prazer pelo sofrimento ou infelicidade do outro.

Já foi demonstrado que algumas regiões cerebrais são fortemente envolvidas no processamento desses sentimentos. Um recente estudo conduzido por pesquisadores israelenses da Universidade de Haifa revelou que indivíduos que apresentam lesões cerebrais nas regiões frontal e parietal têm reduzida capacidade de perceber inveja ou prazer com o infortúnio alheio em testes psicológicos que simulam esses sentimentos.Aqueles com lesão cerebral do lado direito do cérebro tiveram mais dificuldade em perceber situações com contexto de inveja enquanto aqueles com lesões do lado esquerdo entendiam com mais dificuldade situações em que havia prazer com o infortúnio alheio. Teoricamente, na vida real, esses mesmos indivíduos teriam mais dificuldade em modular seus próprios sentimentos de injeja e prazer no infortúnio alheio. Lesões cerebrais nas mesmas regiões frontais já foram associadas a comportamento social inapropriado, menor desempenho executivo, menor capacidade de arrependimento, ciúme patológico, e até mesmo a sociopatia.

A revista Science publicou um estudo em que pesquisadores japoneses demonstraram que as mesmas áreas cerebrais ativadas no processo de dor física são ativadas também em testes psicológicos que envolvem a “dor” de assistir o sucesso do outro – a inveja. Demonstraram ainda que testes psicológicos que envolvem a percepção do infortúnio alheio ativa o mesmo circuito de recompensa cerebral que é ativado quando experimentamos situações prazerosas como comer uma barra de chocolate. Isso deve explicar o o sucesso dos programas tipo “video-cacetadas” e também o porquê  dos meios de comuincação de massa venderem tão bem notícias de tropeços e escândalos de celebridades.

O comportamento animal é recheado de atributos competitivos como a disputa por território, parceiros sexuais e alimentos. A neurociência têm-nos mostrado que não somos tão diferentes assim e cada um de nós carrega diferentes graus desses instintos arcaicos. Desde que bem dosados, ciúme, interesse pela vida alheia, inveja e prazer com o infortúnio dos outros, não devem ser vistos como sentimentos que devem ser reprimidos a todo custo. Todos eles fazem parte de um grande repertório que colaborou sobremaneira para o sucesso da espécie, e ainda deve colaborar em certo grau.

 

Woman Wearing White Long Sleeve Dress Holding Pink Wedding Bouquet

 

Uma série de pesquisas aponta que não. Uma pessoa tem mais chance de escolher um(a) companheiro(a) quando essa outra pessoa tem o DNA parecido.

 

A tal história que os opostos se atraem realmente parece ser um mito. As pessoas costumam se casar com outras com nível educacional / socioeconômico parecido, com crenças religiosas e políticas semelhantes e que têm mais interesses em comum. E a bagagem que carregamos no nosso código genético influencia também a escolha do nosso parceiro.

 

Não faz muito tempo, o periódico Proceedings of the National Academy of Sciences publicou uma pesquisa mostrando que o uma pessoa tem o código genético mais parecido do seu parceiro ou parceira quando comparado ao DNA de outras pessoas com mesmo nível socioeconômico, etnia e origem de nascimento.

 

A ideia de semelhança do código genético dos casais foge um pouco do senso comum. Evitamos casar com nossos parentes e estudos mostram que mulheres se sentem mais atraídas pelo cheiro de homens que tem genes do sistema imunológico diferentes dos delas. Isso parece uma contradição, mas esses genes imunológicos podem ter comportamento diferente dos demais. Esse estudo foi o primeiro a analisar as semelhanças do código genético entre membros de um casal utilizando todo o genoma.

 

Em janeiro de 2017, outra pesquisa publicada pela revista Nature Human Behavior confirma a tese que DNAs parecidos se atraem. Pesquisadores australianos estudaram os genes de milhares de casais e mostraram uma inequívoca associação entre os genes vinculados a peso e altura de um indivíduo com o peso e altura do(a) parceiro(a). Do ponto de vista evolutivo, isso garante uma maior chance de perpetuação das características fenotípicas à prole.

 

Resumo da ópera. Pessoas com mais semelhanças que diferenças têm mais chance de se atrair para construírem uma relação de longo prazo. Entretanto, vale sempre a pena lembrar que respeitar e incentivar as diferenças pode ser uma das melhores receitas para que essa relação se sustente.

cooking, food, garlic

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Mulheres preferem o cheiro de homens que se alimentaram há pouco tempo de alguns tipos de alimento e entre eles está o ALHO!

 

Já existiam pistas de que fêmeas de algumas espécies dão preferência a machos que se alimentaram recentemente de dietas ricas em nutrientes. Esse é o caso das salamandras, por exemplo. Recentemente, pesquisadores da República Tcheca demonstraram que as mulheres têm mais prazer em sentir o cheiro do suor de homens que comeram alho. Elas relatavam que o cheiro era mais másculo e atraente do que o suor de um grupo controle. Pelo menos quatro dentes de alho ou uma cápsula com um grama de extrato de alho foram necessários para esse efeito. O alho tem poder bactericida e antioxidante e é capaz de mudar o cheiro do suor.  Uma das hipóteses para a maior atração das mulheres por esse suor é que ele pode disparar um aviso de que aquele macho é um potencial parceiro saudável.

 

Um outro estudo publicado este ano demonstrou que as mulheres dão preferência ao cheiro de camisetas de homens que consumiram mais alimentos ricos em carotenoides como cenoura e abóbora. Esses alimentos provavelmente disparam um mecanismo arcaico nas fêmeas de que aquele macho é mais saudável. Deficiência de carotenoides está associada a mais infecções e mortalidade. Além disso, homens brancos são considerados visualmente mais atraentes pelas mulheres quando têm na pele mais pigmentos amarelados dos carotenoides.

 

** O hálito de alho não costuma ser atraente. Portanto, não é uma boa ideia comer uma cabeça de alho logo antes de sair de casa para um jantar romântico.

 

 

 

Um estudo recém-publicado pelo periódico Current Biology mostrou que os homens são mais amigáveis após o término de um conflito do que as mulheres. Isso parece soar meio desafinado, pois é fato que os homens são mais agressivos e competitivos. Que história é essa de amigáveis?

Pesquisadores da Universidade de Harvard analisaram centenas de vídeos de “guerras do dia a dia moderno” de 44 diferentes países. Estamos falando de competições esportivas. Eles demonstraram que ao final de uma partida os homens têm uma maior proximidade com o “inimigo” do que as mulheres. Isso foi identificado como abraços, apertos de mãos e tapinhas nas costas.

A explicação evolutiva para esse comportamento é que os homens, após terminado o conflito, têm a tendência em se aproximar do “inimigo” para garantir alianças para uma futura guerra. Eles garantem a perpetuação da espécie não só vencendo disputas para conseguir gerar mais filhos, mas também por preservarem a comunidade como um todo em conflitos entre grupos. Isso seria algo que os homens herdam dos seus ancestrais.

Estudos com chimpanzés evidenciam essa mesma tendência: os machos depois de um quebra-pau dão mais abracinhos que as fêmeas. Quanto às fêmeas, sabemos muito bem que no universo família elas são mais cooperativas. Porém, as mulheres sentem-se mais abaladas após um conflito de trabalho com outra mulher quando comparamos com a mesma situação em que os personagens são dois homens.

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Podemos dizer que um chimpanzé só olha para o próprio umbigo.  Por um lado, ele não tem a mínima tendência em oferecer alimento a parceiros do mesmo grupo, mesmo que a atitude não custe nada a ele. Por outro lado, ele também não costuma impedir que outro tenha acesso a alimento.

Dividir com os outros, pelo menos com os membros do próprio grupo social, é uma característica única do ser humano. Um estudo publicado pela revista Nature mostrou que nosso lado altruísta não nasce pronto, mas vai se desenvolvendo durante a primeira década de vida. Pesquisadores suíços demonstraram que crianças entre 7 e 8 anos de idade já são capazes de dividir seu alimento de forma igualitária com parceiros do mesmo grupo social (coleguinhas de escola), mesmo quando têm a chance de ficar com a maior parte. Nesse estudo, as crianças ainda apresentaram aversão a situações em que a divisão era feita com desigualdade. A metodologia usada permitiu inferir que os resultados observados são independentes do efeito reputação, ou seja, a atitude altruísta das crianças foi considerada independente do fato de se “fazer o bem” porque tem gente olhando e que por isso a ação poderia trazer benefícios futuros. No caso de adultos, é mais difícil isolar o efeito reputação, já que mesmo instruídos de que as respostas serão mantidas em sigilo, o comportamento pode ser influenciado pela sensação de que sempre alguém pode estar olhando.

Em contraste, no mesmo estudo crianças ente 3 e 4 anos não tinham muita tendência em dividir com seu grupo. É sabido que crianças, até com menos de dois anos de idade, são capazes de colaborar com outras na realização de tarefas motoras, fenômeno chamado de altruísmo instrumental, e essa é uma condição também observada entre nossos ancestrais chimpanzés. Porém, dar uma forcinha para abrir uma porta é uma coisa. Já dividir o alimento é outra bem diferente.

O estudo demonstra que o altruísmo humano já existe entre as crianças e mais uma vez nos revela que a cooperação é mais forte entre indivíduos do mesmo grupo social, também conhecida pela ciência como cooperação paroquial. O altruísmo “extra-paroquial” é uma das mais marcantes habilidades do ser humano e que não é encontrada em outras espécies: a capacidade de criar e manter laços de cooperação com indivíduos que não são de seu mesmo núcleo familiar.

** Outro interessante estudo chama a atenção que excesso de empatia dificulta a compreensão do problema do outro. Empatia demais faz com que a pessoa não consiga ter aquela visão crítica “de fora” que os amigos tanto precisam. O estudo envolveu análise de ressonância magnética funcional e mostrou que as pessoas muito empáticas têm maior ativação de áreas cerebrais que dificultam entender as peculiaridades da situação.

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Um dos fenômenos muito especiais da maternidade é o deslocamento do eixo de preocupações de uma fêmea: a vida orientada para suas próprias necessidades passa a se concentrar também no cuidado e bem-estar de seus filhos.

A natureza dá uma forçinha para que esse projeto de cuidar da cria seja bem sucedido, já que as alterações hormonais características da gravidez, parto e lactação, permitem com que o cérebro das mães seja “turbinado” nessas fases. O cérebro materno é por definição um modelo espetacular do fenômeno de neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro em criar novas conexões em resposta a um estímulo.
A maior parte das evidências de incremento de funções cerebrais com a maternidade tem origem em estudos com mamíferos inferiores, especialmente os roedores. Pesquisas apontam que não só as alterações hormonais, mas também o ambiente rico em estímulos associados à maternidade (ex: múltiplas novas tarefas, sons, cheiros), têm um papel importante nesse upgrade cerebral das mães.
A maioria dos mamíferos compartilha instintos maternais de defender seu ninho e sua cria. Ao ter que optar entre sexo, drogas, alimento ou seu ratinho recém-nascido, mamães ratas escolhem seus ratinhos. O cuidado com os filhotes ativa nas mães centros cerebrais de recompensa ligados ao prazer, mesmo no caso de filhotes adotivos, e essa também é uma forma de explicar as raízes do altruísmo. Esse fenômeno também foi demonstrado entre as mães humanas ao ouvir o choro dos filhos, ou simplesmente ao olhar para eles.

Em ratinhas, temos evidências de que a maternidade provoca aumento do volume dos neurônios e mais conexões em algumas regiões cerebrais. Mais recentemente, tem sido demonstrado também o fenômeno de geração de novos neurônios. Essas mamães passam a apresentar melhor desempenho em orientação espacial e memória, ficam mais corajosas e rápidas para capturar a presa, e com menos sinais de ansiedade em situações de estresse. Tudo em prol de uma maior capacidade de alimentar as crias. Não é à toa que Artemis é ao mesmo tempo a deusa grega do parto e da caça.

 
E esses efeitos parecem durar bastante. As mamães ratinhas chegam ao equivalente humano de 60 anos de idade com melhor desempenho e coragem, além de menor declínio cognitivo e também menos sinais de degeneração cerebral quando comparadas a ratinhas virgens da mesma idade.

 

E com os pais ? As pesquisas são menos abundantes do que com as mães, mas também revelam que tanto primatas como roedores apresentam mudanças cerebrais com a paternidade: aumento de conexões, melhor habilidade espacial e menos sinais de ansiedade.

 
É possível que a neurobiologia da maternidade humana não seja tão diferente daquilo que já foi demonstrado em mamíferos inferiores, já que a maior parte do código genético dos humanos é idêntica à dos ratinhos ou dos primatas. Não duvido que as mães modernas, com suas rotinas de malabaristas, apresentem adaptações cerebrais associadas à maternidade bem mais robustas do que das ratinhas, já que são submetidas a um nível de estimulação ambiental como nenhuma outra espécie. Além de cuidar da cria e de sua própria sobrevivência, freqüentemente protagonizam diversos outros papéis simultâneos (esposa, amante, conselheira, provedora, profissional realizada ou em busca de realização, dona-de-casa, etc.). É estímulo para dar, vender e jogar fora.

 

 

 

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