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Ricardo Afonso Teixeira*

Quando se pensa em sonambulismo é muito comum vir à mente a imagem de uma criança andando pela casa de pijaminha. Entretanto, essa é uma condição clínica também comum entre os adultos. Cerca de 30% referem ter apresentado pelo menos um episódio de sonambulismo na vida e 3 a 4% destes relatam pelo menos um episódio no último ano. É mais comum entre aqueles com história familiar dessa condição e naqueles que têm quadros psiquiátricos como ansiedade, depressão e transtorno obsessivo-compulsivo. Entre as crianças, a frequência é maior e os estudos apontam que uma em cada cinco apresentará alguma vez essa condição.  

Um episódio de sonambulismo geralmente dura menos de 15 minutos, mas pode chegar a mais de uma hora. Qualquer evento que influencie o estado de equilíbrio do cérebro pode desencadear o fenômeno naqueles que têm predisposição. Podemos listar privação de sono, álcool, medicações, estresse, febre, entre outros.

O sonâmbulo mantém os olhos abertos, não responde aos estímulos do meio e, muitas vezes, realiza tarefas complexas como se vestir, arrumar a cozinha e até sair de carro. No outro dia, o paciente não se recorda do que fez e, quando acordado no meio do episódio, mostra-se confuso. Metade deles apresentam sonolência diurna no dia seguinte, um sinal de que o sono não foi reparador.

Há algum tempo ainda se acreditava que o sonambulismo era um fenômeno de sonhar acordado, mas não é bem isso o que acontece. O sonambulismo inicia-se na fase do sono não associada aos sonhos. É uma forma de estar acordado pela metade. A parte do cérebro responsável pelos movimentos está acordada, mas aquela associada à consciência e processos cognitivos ainda dorme. Adaptar a casa para evitar acidentes é importante e o tratamento medicamentoso é indicado especialmente para as pessoas que têm maior risco de acidentes.

Os cuidados voltados ao ambiente em que o sonâmbulo dorme não devem ser vistos como exagero. O sonambulismo provoca acidentes em cerca de metade daqueles que sofrem dessa condição. O curioso é que até 80% dos acidentados não acordam durante esses episódios, como se estivessem em um estado de analgesia. Sentem as dores no corpo só no outro dia quando acordam. Há descrição de queda de uma altura de três metros sem despertar!

Existe um mito de que não devemos acordar um sonâmbulo, pois ele pode nos agredir. Não é por aí. Na verdade, não precisamos acordar o sonâmbulo. Vamos conversando calmamente e sugerindo que ele volte para a cama e, em casos de risco iminente de acidente, aí sim devemos acordá-lo. De uma forma geral, no sonambulismo, no pesadelo, no terror noturno, não precisamos acordar a pessoa, já que ao despertar ela terá muito mais chances de se lembrar do episódio que frequentemente gera estresse psíquico.

Se o sonâmbulo demonstra sinais de medo intenso devemos pensar em terror noturno, uma variante do sonambulismo, e ambos podem ocorrer na mesma pessoa. Por outro lado, se percebemos que a pessoa está atuando no seu próprio sonho, como se estivesse lutando com alguém, por exemplo, aí pensamos no transtorno do sono REM, condição mais frequente em adultos de meia idade ou mais. No pesadelo a pessoa não faz essa atuação, pois no sono REM, que é quando acontece a maioria dos sonhos, o sistema motor está desativado para que a pessoa não encene seu sonho ou pesadelo. No caso do transtorno do sono REM, o raciocínio de acordar ou não a pessoa não é diferente, já que em situações de risco, devemos acordar o paciente. Aqui o risco recai também sobre outrem que dorme na mesma cama. Medicações podem ser indicadas e muitas vezes há a recomendação que os casais durmam em camas separadas.

Por último, chamo a atenção para alguns tipos de crises epilépticas durante o sono que podem parecer sonambulismo. São bem menos comuns que o sonambulismo e a pessoa pode iniciar movimentos estereotipados ainda na cama, como o de pedalar deitado ou outros padrões de movimentos repetitivos. Aqui o diagnóstico requer a experiência clínica de um neurologista e, por vezes, é necessária a monitorização do eletroencefalograma durante a noite.  

*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

Ricardo Afonso Teixeira*

Ela tinha 18 anos, foi morar sozinha e iniciar seu curso universitário a mil
quilômetros dos pais. Tudo era novo, mais trabalhoso do que no ninho da
família, mas estava firme e confiante nas suas decisões. Até que após três
meses veio um blues súbito, sem explicação, querendo muito o colo da mãe. Não
estava na TPM, não tinha brigado com o crush. Pelo contrário, na noite anterior
tinha se reunido com os amigos em casa e aí é que aparece o principal suspeito.
Só foi dormir, e pouco, após as sete da manhã.

 

Eti Ben Simon, uma das maiores lideranças na pesquisa sobre efeitos psicológicos da
privação do sono, fez um relato muito curioso nesta última semana na Scientific American. Ela diz que, ainda na época de graduação, ela conduzia uma pesquisa com estudantes
em que media o impacto emocional de uma noite sem dormir.  Virava as
noites monitorando os voluntários do estudo e numa manhã, após uma dessas
noites sem dormir, percebeu que também sofria as consequências emocionais da
privação de sono. Ela subitamente desatou a chorar incontrolavelmente ao ouvir
uma canção romântica no rádio do carro, comportamento atípico na sua história
de vida.

 

Ainda na década de 1960, estudos já demonstravam dificuldades cognitivas e
alucinações visuais ou sensoriais após duas noites de privação de sono. Após a
terceira noite de privação, voluntários passavam a ficar agressivos e a ter
delírios paranoides. Em todos esses casos, o comportamento voltava à
normalidade após um dia inteiro de sono.  Hoje, pesquisas com privações de
sono extremas de vários dias são consideradas antiéticas. Entretanto, estudos
continuam sendo realizados com privações de uma noite e demonstram que, mesmo
por apenas uma noite, a falta do sono desregula a sintonia dos circuitos
neuronais que controlam as emoções.

 

Têm-se mostrado que uma noite sem dormir reduz a atividade do córtex pré-frontal,
estrutura associada à modulação do nosso cérebro emocional, as amigdalas.
Quando nos deparamos com alguma incerteza ou um desafio emocionalmente intenso,
as amígdalas disparam a liberação de neurotransmissores e hormônios para nos
deixar mais prontos ao combate ou à fuga.  Essas alterações ficam sem um
maestro quando o córtex pré-frontal está adormecido após a privação de sono e
assim as emoções podem ficar exageradas por um estímulo que pode nem ser tão
ameaçador. Além disso, o circuito de comunicação entre as amídalas e o córtex
pré-frontal também ficam adormecidos após a privação de sono.

 

Essas modificações no funcionamento cerebral ocorrem até com privações de sono menos
radicais, como uma noite de sono de menos de seis horas. Com a restrição de
sono, por exemplo, nossas amígdalas são ativadas na mesma intensidade ao vermos
uma foto de uma cena que inspira cuidados, como uma criança chorando, ou de um
passageiro sentado na poltrona de um trem. Para quem dormiu bem na última
noite, a visão da criança chorando ativa mais as amígdalas do que o passageiro.
Isso explica, em parte, o choro descontrolado de Eti Ben ao ouvir a música
romântica no seu carro.  

 

E voltando à garota de 18 anos que descrevemos no início, certamente ela
continuará a virar noites com os amigos. O que eu posso aconselhar como
neurologista é que, depois de trocar a noite de sono pela diversão, ela passe a
se programar para dormir umas sete horas na manhã seguinte.

 

*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso
de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

 

Há poucos dias o periódico Nature Communications publicou a análise de uma grande amostragem de mais de 700 mil indivíduos em 68 diferentes países em cinco continentes mostrando que as pessoas têm dormido em média sete horas por noite. Países próximos ao Equador dormem um pouco menos e o Brasil ficou bem próximo à média.

Além da enorme abrangência do estudo, o ineditismo dos resultados incluiu a demonstração de três momentos diferentes na idade adulta e diferentes durações do sono, independente do país e nível educacional. Os indivíduos estudados eram maiores de 18 anos e até os 33 anos foi o período em que dormiam mais. A partir dessa idade houve um platô de estabilidade até os 53 anos, após o que os voluntários voltavam a ter incrementos no tempo de sono. 

Você acha que seus ancestrais dormiam mais que você?

É bastante tentador imaginar que o mundo contemporâneo, com toda sua eletricidade, aparelhos eletrônicos e cafeína além da conta, tem o hábito de dormir menos que nossos ancestrais. Isso sem falar nos atuais índices de depressão, ansiedade e obesidade que costumam atrapalhar o sono. Podemos encontrar relatos já no fim do século XIX de que as pessoas estavam dormindo menos que os antigos, mas parece que a história é um pouco diferente.

Uma pesquisa publicada no prestigiado periódico Current Biology mostrou que caçadores-coletores de três diferentes partes do mundo dormem até um pouco menos do que os homens de vida moderna. O registro da rotina de sono de comunidades de caçadores-coletores na Namíbia, Tanzania e Bolívia que vivem sem luz elétrica apontou que eles dormem em média 6.5 horas, menos que a média das sociedades atuais que é de aproximadamente 7 horas.

A pesquisa ainda demonstrou que essas comunidades unplugged não tiram cochilos durante o dia, deitam-se para dormir cerca de três horas após o pôr do sol e acordam antes do sol nascer. Eles também dormem uma hora a menos no verão. Apesar de terem genéticas e viverem em ambientes bem diferentes, os hábitos de sono não foram diferentes entre as comunidades. O padrão de sono descrito na Europa antiga dividido em dois tempos separados por um intervalo em vigília não foi identificado nas comunidades estudadas, sugerindo que esse sono não interrompido deva ser o padrão natural dos nossos ancestrais mais antigos, e que o sono europeu repartido já foi uma adaptação às condições ambientais do continente.

Chamou muita a atenção a quase inexistência de insônia, o que nos faz interrogar se a simulação desses ambientes arcaicos não poderia ser eficaz no tratamento da insônia dos homens de vida moderna.

Uma das publicações do The Lancet, eClinical  Medicine, acaba de publicar uma pesquisa conduzida pela Universidade Birmingham, na Inglaterra, apontando que adultos na meia idade que apresentam pesadelos frequentes têm mais chance de desenvolver um quadro de demência no futuro. Os resultados sugerem que os pesadelos frequentes podem ser indícios de uma doença degenerativa que se apresentará anos ou até décadas mais tarde.

A pesquisa foi feita com mais de 600 voluntários saudáveis com idades entre 35 e 64 anos e 2600 com idades acima de 79 anos, todos sem demência ou Parkinson no início do estudo. Após um acompanhamento clínico por cinco a nove anos, foi demonstrado que os adultos de meia idade que apresentavam pesadelos pelo menos uma vez por semana tinham uma chance quatro vezes maior de apresentar declínio cognitivo nesse período. O risco de desenvolver um quadro demencial foi duas vezes maior nos voluntários com mais de 79 anos quando comparados àqueles sem pesadelos frequentes. Entre os idosos, quando se analisou apenas os homens, o risco foi cinco vezes maior.

Pesquisas anteriores já tinham mostrado uma associação entre pesadelos frequentes e uma maior chance de uma pessoa vir a apresentar a Doença de Parkinson. Mostraram também a associação com uma pior evolução cognitiva nesses pacientes e até uma maior atrofia de regiões frontais do cérebro. Estudos não longitudinais também já tinham despertado a atenção para uma associação entre pesadelos e déficit cognitivo entre idosos na população geral.    

Pesadelos são comuns na população geral, especialmente entre os idosos, e estima-se que 5% dos adultos apresentam essa condição numa frequência mensal. Estudos apontam que os pesadelos são mais comuns entre as mulheres, mas só até a sexta década de vida, quando a proporção homem/mulher fica mais equilibrada. São ainda mais frequentes em pacientes com síndromes demenciais, assim como na Doença de Parkinson. Por fim, muito interessante é o resultado de uma pesquisa conduzida em camundongos que demonstrou redução dos marcadores patológicos da Doença de Alzheimer com a administração do anti-hipertensivo prazosin, medicação de escolha no tratamento de pesadelos.      

“Serviço aos outros é o aluguel que pagamos pelo nosso quarto aqui na Terra.” – Muhammad Ali

Um estudo recém-publicado pelo periódico PLOS Biology e conduzido por pesquisadores da Universidade de Berkeley no EUA demonstra que a falta de sono afeta nossas interações sociais fazendo com que tenhamos menor tendência em ajudar os outros. No dia seguinte a uma noite mal dormida, os voluntários se mostraram com menor tendência a ações altruístas simples, como abrir a porta para o outro. O estudo mostrou também que a privação de sono leva a uma menor ativação no cérebro de áreas envolvidas na empatia e, por último, de que doações para fundos de caridade são 10% menores na primeira semana do horário de verão, nos estados americanos que adotam essa medida.

A pesquisa aponta a importância do sono não mais focada no indivíduo, mas sua relevância nas interações sociais. Individualmente, já sabíamos que a privação de sono está associada a um maior risco de doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão arterial, obesidade, depressão e disfunção sexual. O presente estudo revela que um sono insuficiente degrada as interações sociais entre os indivíduos, degrada nossa consciência social básica de ajudar o outro. Não dormir bem afeta não só o seu bem estar físico e emocional, mas os efeitos deletérios do seu círculo social e até de estranhos. O sono adequado poderia até ser considerado um “lubrificante social”.

Estudos anteriores mostraram que a privação de sono leva a um julgamento mais negativo das expressões faciais dos outros e pode estar associado a uma menor motivação para a interação social no mundo real. Isso também foi sugerido pelos resultados de uma pesquisa publicada pela Nature Communications em 2018. Muito interessante é o fato de que a privação de sono dispara um sinal de repulsa social naqueles que estão sem dormir, mas também entre aqueles que estão interagindo com o insone. Como dizemos anteriormente, os efeitos se dão em rede!

E a relação entre privação de sono e sociabilidade é de via dupla. Camundongos submetidos a isolamento social passam a ter o sono menos eficiente. Em humanos acontece o mesmo. Em humanos, a promoção de socialização melhora o padrão do sono e a falta de sono aumenta a tendência ao isolamento social. Sabemos também que a privação de sono está associada uma maior ativação das amígdalas cerebrais quando em frente a estímulos de contextos negativos ou prazerosos. Vale lembrar que amígdalas ativadas aumentam o hormônio do estresse cortisol e nos deixam prontos para a luta ou para a fuga.

O consumo de café antes de fazer compras aumenta em 30% a quantidade de itens comprados e em 50% nos gastos. Esses são os resultados de uma pesquisa conduzida liderada pela Universidade da Florida nos EUA e publicada recentemente pelo periódico Journal of Marketing.

Os pesquisadores conduziram três experimentos para chegar a esses resultados envolvendo até 300 voluntários comparando o consumo de café expresso (100mg cafeína) com café descafeinado e água. Além de comprar e gastar mais, aqueles que tomaram o expresso compraram mais itens não essenciais, como velas aromáticas e fragrâncias. Isso foi demonstrado tanto em lojas físicas como em laboratório em compras pela internet. O efeito da cafeína sobre o comportamento de consumo foi bem menor estre aqueles que já consumiam café em grandes quantidades. Impulsividade associada à cafeína já foi demonstrada entre jogadores patológicos e até mesmo entre indivíduos com comportamento sexual de risco.

Por outro lado, a cafeína nos deixa mais alertas e pode inibir o comportamento impulsivo associado à privação de sono. A privação de sono deprime a função dos sistemas envolvidos no julgamento e percepção de risco e a cafeína minimiza esses efeitos negativos. A substância, nessa situação, ajuda, mas não em todas as dimensões cognitivas. Uma noite mal dormida deixa o cérebro menos eficiente em tarefas que demandam atenção e outras funções executivas. Uma dose de cafeína tem o poder de melhorar o desempenho cognitivo apenas em tarefas que exigem vigília e atenção, mas não naquelas que exigem processamento executivo mais complexo. Na privação de sono, mesmo com cafeína, a chance de erro é maior.

Uma pesquisa demonstrou, através de Ressonância Magnética Funcional e testes psicológicos, que uma noite sem dormir muda a forma como o cérebro processa a chance de ganhar ou perder. Uma noite com privação do sono provoca aumento de atividade cerebral em regiões que processam expectativas otimistas e reduz a atividade de outras que processam expectativas pessimistas. Além disso, os testes psicológicos evidenciaram que os voluntários se mostraram mais sensíveis a recompensas e com menor sensibilidade a consequências negativas.

Um estudo da Universidade de Uppsala, na Suécia, mostra que após uma noite de privação de sono, as pessoas têm menor contato visual com os outros e uma avaliação diferente às suas expressões faciais. A pesquisa foi publicada recentemente pelo periódico Nature and Science of Sleep. Expressões faciais de raiva elicitavam uma impressão de se tratar de um indivíduo menos saudável e de menor confiabilidade, enquanto expressões neutras ou de medo davam a impressão de serem pessoas menos atrativas.

O estudo usou a tecnologia de rastreamento ocular em 45 jovens que eram apresentados a imagens de indivíduos com diferentes expressões faciais. Eles eram testados após uma noite de oito horas de sono e depois após uma noite de privação total do sono. O menor tempo de fixação visual encontrado após a privação de sono, especialmente da metade superior da face, aumentou a chance de interpretação imprecisa do estado emocional dos outros.

No presente estudo, a privação de sono levou a um julgamento mais negativo e pode estar associado a uma menor motivação para a interação social no mudo real. Isso já foi sugerido pelos resultados de uma pesquisa publicada pela Nature Communications em 2018. Muito interessante é o fato de que a privação de sono dispara um sinal de repulsa social naqueles que estão sem dormir, mas também entre aqueles que estão interagindo com o insone.

  

E a relação entre privação de sono e sociabilidade é de via dupla. Camundongos submetidos a isolamento social passam a ter o sono menos eficiente. Em humanos acontece o mesmo, enquanto a promoção de socialização melhora o padrão do sono. Sabemos também que a privação de sono está associada uma maior ativação das amígdalas cerebrais quando em frente a estímulos de contextos negativos ou prazerosos.

Por Dr. Ricardo Teixeira*

É só uma cabeça equilibrada em cima do corpo (Chico Science & Nação Zumbi)

Costumo provocar alguns dos meus pacientes que buscam minha orientação sobre como melhorar o funcionamento do cérebro de que existe uma hierarquia nas tarefas. A maioria está pensando em melhorar a memória, concentração e capacidades executivas. A hierarquia de tarefas se dá numa certa direção. Para otimizar essas capacidades precisamos estar vivos. Precisamos estar acordados.  Precisamos prestar atenção nas coisas. Só então atingiremos bom desempenho na memória e outras funções cognitivas complexas. Só que no meio desse caminho há uma pedra: nosso equilíbrio psíquico. Você pode estar vivo, mas se o equilíbrio emocional não estiver bem modulado, o resto da cadeia fica bem prejudicada.

Isso já se reflete no segundo passo que é estar acordado. O sono é influenciado sobremaneira pelas nossas emoções. Fica extremamente perturbado quando estamos preocupados, ansiosos ou deprimidos, sem falar de tantas outras condições que perturbam a qualidade do sono, muitas delas muito comuns, como o excesso de trabalho e o consumo exagerado de álcool. Como exigir desempenho do cérebro sem um sono reparador? O fato é que muitos desses fatores ameaçam também o primeiro estágio de nossa hierarquia que é o de nos mantermos vivos. Maiores índices de doenças que reduzem nossa expectativa de vida não nos ajudarão a passar para os próximos estágios.  

Temos um “zilhão” de evidências de que muitas ações que promovem o melhor funcionamento cerebral carregam também o potencial de modular nossas emoções. A atividade física regular libera substâncias no cérebro que o faz funcionar melhor. A mesma atividade física também ajuda no controle das emoções no dia a dia por outras vias neuroquímicas. E aqui nossa hierarquia de ações ganha autonomia de voo, com menos obstáculos para melhores resultados nas funções cognitivas complexas. O mesmo raciocínio vale para a sociabilidade, o trabalho altruísta, a experiência da arte, o contato com a natureza. E coisa boa atrai outras coisas boas.  Onde encontramos lazer, encontramos também mais limites no tempo dedicado ao trabalho. É claro que estamos falando daqueles que têm poder de escolha. Chico Science nos lembra disso em Samba Makossa: A responsabilidade de tocar o seu pandeiro é a responsabilidade de você manter-se inteiro. Se temos poder de escolha, somos um pouco mais responsáveis em manter-nos inteiros do que aqueles que não tem teto, comida na mesa ou que vivem num sistema Casa Grande e Senzala.

E coisa ruim atrai outras coisas ruins. O uso de substâncias neurotóxicas, por exemplo, atrai comportamentos que afetam toda nossa cadeia hierárquica, comprometendoa chance de nos mantermos vivos, nosso sono, nossa cognição. É o tão conhecido círculo vicioso.

Mas se essa discussão está ficando mais embolada do que você esperava, caro leitor, vamos a uma lista simples de atitudes para turbinar seu cérebro.

Durma bem

Pratique atividade física regularmente

A dieta mediterrânea pode preservar o funcionamento do seu cérebro ao longo dos anos (peixes, cereais integrais, frutas, legumes, azeite, pouca carne e laticínios)

Evite substâncias neurotóxicas e aqui se inclui o uso exagerado de álcool 

Sua socialização faz muita diferença

Seu cérebro precisa de atividades estimulantes  

E nesses tempos de pandemia e guerra, mantenha sua cabeça equilibrada em cima do corpo, procurando antenar boas vibrações, preocupando antenar boa diversão. Termino com Lenine, mais um ilustre pernambucano: Enquanto todo mundo espera a cura do mal… A gente espera do mundo e o mundo espera de nós, um pouco mais de paciência.

*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília

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Thomas Edison inventou a lâmpada e tinha um estranho hábito de dormir numa cadeira segurando duas bolas de aço. Quando adormecia ele acordava com o barulho das bolas e defendia que isso o fazia resolver problemas complexos que não tinha sido capaz de resolver quando em vigília.

Um estudo acaba de ser publicado na revista Science Advances mostrando que que Edison tinha razão. Voluntários que despertavam na transição entre a vigília e o sono superficial, antes de iniciar o sono profundo, tinham uma capacidade até três vezes maior de resolver problemas matemáticos. Esse benefício não era observado imediatamente ao acordar, mas já ia se revelando após 30 minutos.

O período dessa transição é curto, mas ganhar consciência nesse momento pode trazer um maior insight em questões ainda não respondidas. Podemos chamá-lo de “janela criativa”, um estado de consciência que dá acesso a conteúdos inacessíveis na vigília (experiências hipnagógicas) e menos acessíveis ainda no sono profundo. E o cérebro trabalha e muito durante o sono. É quando consolidamos nossa memória e agora temos esse fenômeno criativo demonstrado.

O estudo, conduzido por pesquisadores franceses envolveu mais de cem voluntários sem qualquer dificuldade em induzir ou manter o sono. Aqueles que não conseguiam resolver problemas matemáticos na vigília eram submetidos à mesma tática de Edison: relaxar numa poltrona reclinável segurando um objeto. A história aponta que gigantes como Albert Einstein, Alexandre o Grande e Salvador Dali eram simpatizantes dessa tática. E então? Vai experimentar?

Silhouette of Bird Above Clouds

O número ideal de horas de sono é aquele que faz com que a pessoa no outro dia sinta que dormiu o suficiente. Um percentual pequeno de pessoas sente-se bem com menos de 7 horas, e estes são chamados de dormidores curtos. Há também os dormidores longos, aqueles que precisam de mais de 8 horas de sono e que também representam uma minoria. Porém, a maior parte da população mundial, incluindo os brasileiros, dorme entre 7 e 8 horas por noite.

Temos evidências de que as pessoas que dormem as 7 horas, mas acordam mais tarde, têm maior risco de desenvolver um quadro de depressão. Discutimos recentemente um estudo que mostrou que basta dormir 1 hora mais cedo que esse risco é reduzido em 23%. Se dormir 2 horas mais cedo essa tendência pode ser reduzida em quase 40%.

Como explicar esse efeito? Temos evidências de que uma maior exposição à luz durante o dia (tem que acordar cedo!) está associada a padrões hormonais que influenciam o humor. Outra explicação é o impacto psicológico de estar desalinhado da maioria das pessoas que dorme cedo e acorda cedo.  E o hábito de ir dormir cedo e acordar cedo traz benefícios ao coração também.

Uma pesquisa divulgada esta semana pela Sociedade Europeia de Cardiologia apontou, após acompanhar 88 mil voluntários por 6 anos, que aqueles que iam para a cama entre 22 e 23h tinham menor chance de apresentar um evento cardiovascular como infarto do coração ou derrame cerebral. Isso comparado aos que iam dormir mais cedo ou mais tarde e a explicação seria o rompimento do ciclo circadiano que é o nosso relógio biológico.  Os que iam dormir depois da meia noite foram os que apresentaram maior risco. Já temos um corpo robusto de evidências mostrando que dormir e acordar tarde têm impacto negativo no controle de nossa glicemia e aumenta a incidência de hipertensão arterial e obesidade. O estudo também confirmou o que já sabíamos através de várias outras pesquisas: dormir pouco aumenta o risco de eventos vasculares.

Black Ring Bell Alarm Clock

O número ideal de horas de sono é aquele que faz com que a pessoa no outro dia sinta que dormiu o suficiente. Um percentual pequeno de pessoas sente-se bem com menos de 7 horas, e estes são chamados de dormidores curtos. Há também os dormidores longos, aqueles que precisam de mais de 8 horas de sono e que também representam uma minoria. Porém, a maior parte da população mundial, incluindo os brasileiros, dorme entre 7 e 8 horas por noite.

Temos evidências de que as pessoas que dormem as 7 horas, mas acordam mais tarde, têm maior risco de desenvolver um quadro de depressão. Um estudo publicado recentemente pelo periódico JAMA Psychiatry mostrou que basta dormir 1 hora mais cedo que esse risco é reduzido em 23%. Se dormir 2 horas mais cedo essa tendência pode ser reduzida em quase 40%.

A pesquisa envolveu 840.000 voluntários e foi a evidência mais robusta até o momento de que a tendência em dormir tarde e acordar mais tarde influencia o risco de depressão. Uma das grandes virtudes do estudo, além do número elevado de pessoas estudadas, foi a análise do perfil genético dos voluntários para a tendência em dormir cedo ou tarde. É estimado que esse perfil explique de 12 a 42% a preferência em ir dormir cedo ou tarde. Na população estudada, 9% consideravam que tinham a tendência em ir dormir tarde, um terço em dormir cedo e o restante em um patamar intermediário. Na média, eles iam para a cama às 23h e acordavam às 6h.  

Aqueles que dormiam tarde ou o grupo intermediário eram contemplados com menor rico de depressão ao ir dormir mais cedo. O estudo não pode dizer se os que já dormiam e acordavam cedo teriam o mesmo benefício. Mas é fato que na população estudada, aqueles com perfil genético de ir cedo para a cama tinham menor chance de apresentar depressão.     

E como explicar esse efeito? Alguns estudos apontam que uma maior exposição à luz durante o dia (tem que acordar cedo!) está associada a padrões hormonais que influenciam o humor. Outra explicação é o impacto psicológico de estar desalinhado da maioria das pessoas que dorme cedo e acorda cedo.  

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Por Dr. Ricardo Teixeira*

O uso da cafeína após a privação de sono nos deixa mais alerta, mas não resolve tudo. Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos EUA, acabam de publicar um estudo demonstrando que uma noite maldormida deixa o cérebro menos eficiente em tarefas que demandam atenção e outras funções executivas. Mostraram também que uma dose de cafeína tem o poder de melhorar o desempenho cognitivo apenas em tarefas que exigem vigília e atenção, mas não naquelas que exigem processamento executivo mais complexo. Os resultados são relevantes para profissionais que confiam na cafeína após a privação de sono. A chance de erro é maior.

Por outro lado, a cafeína pode amenizar a tendência a comportamentos de risco associados à privação de sono, independente do estado de alerta do indivíduo. A privação de sono deprime a função dos sistemas envolvidos no julgamento e percepção de risco e a cafeína minimiza esses efeitos negativos.

Uma pesquisa demonstrou, através de Ressonância Magnética Funcional e testes psicológicos, que uma noite sem dormir muda a forma como o cérebro processa a chance de ganhar ou perder. Uma noite com privação do sono provoca aumento de atividade cerebral em regiões que processam expectativas otimistas e reduz a atividade de outras que processam expectativas pessimistas. Além disso, os testes psicológicos evidenciaram que os voluntários se mostraram mais sensíveis a recompensas e com menor sensibilidade a consequências negativas.

As repercussões desse tipo de mudança de comportamento do cérebro não devem ser tão inocentes. Já sabemos que problemas de sono só perdem para o álcool como causa de desastres no trânsito, especialmente pela redução da atenção e dos reflexos. Imaginem se ainda adicionamos uma pitada de comportamento valente e de risco.

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As pessoas não têm a menor expectativa que podem se comunicar com alguém que esteja sonhando. Entretanto, pesquisadores de diversos centros de pesquisa no mundo conduziram um estudo mostrando que isso é possível sim. Os resultados foram recém-publicados pela prestigiada revista Current Biology.

Foram estudados 36 voluntários em quatro diferentes centros de pesquisa na Europa e nos Estados Unidos que tinham sonhos lúcidos, sonhos em que as pessoas têm consciência de que estão sonhando. Os pesquisadores demonstraram que é possível que uma pessoa sonhando possa seguir instruções elementares, fazer cálculos matemáticos simples, responder a questões sim / não e até diferenciar diferentes estímulos sensoriais. As respostas eram identificadas através de sinais eletrofisiológicos no eletrencefalograma além de movimentação palpebral e contração de músculos faciais. A esse fenômeno os cientistas chamaram de “sonho interativo”.

O mesmo método empregado pode ter utilidade fora dos laboratórios ao permitir que as pessoas aprendam enquanto dormem, solucionem problemas e pode até ajudar as pessoas que sofrem com pesadelos.   

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A relação entre os sonhos e a experiência do medo tem sido mostrada ao longo do tempo em diversas culturas. O que os nossos ancestrais interpretavam como conselhos de divindades, hoje a neurociência e a psicologia enxergam nos sonhos um mecanismo cerebral de processamento de emoções negativas com chance de aprendizado para preparar o indivíduo para os desafios do dia a dia.

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco, têm desenvolvido técnicas para interpretação do sofrimento humano através de aplicativos que analisam as entrelinhas dos relatos de sonhos. Eles analisaram, com a ajuda de softwares, áudios que voluntários gravaram em seus smartphones sobre o conteúdo dos seus sonhos no ano de 2019 e nas primeiras semanas do anúncio da pandemia em 2020.   

Os resultados mostraram que os sonhos durante a pandemia eram mais relacionados a sentimentos negativos como tristeza e agressividade quando comparados aos sonhos antes da pandemia. No período da pandemia, a narrativa dos sonhos trazia mais ideias de contaminação e limpeza e as pessoas que expressavam esses conteúdos de forma mais robusta eram os que tinham maior dificuldade em se se adaptar à quarentena e que apresentavam maior sofrimento psíquico.

Outros estudos têm mostrado que as pessoas têm sonhado mais e dois conteúdos bastante recorrentes nos sonhos têm sido ameaças de outras pessoas e tarefas mal executadas, como perder o controle da direção de um automóvel. Uma pesquisa realizada com 100 enfermeiros em Wuhan na China apontou que 45% estavam apresentando pesadelos, cifra duas vezes maior que a de pacientes psiquiátricos e muitas vezes maior que os 5% da população geral.

Estamos longe de um normal, não é?

Woman in Gray Tank Top

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Uma pesquisa recém-publicada pelo periódico Sleep da Academia Americana do Sono aponta que a privação de sono faz com que as pessoas percebam que passaram o dia com mais raiva.

 

Primeiro os pesquisadores analisaram por um mês os diários de estudantes universitários que continham seus padrões de sono, fatores estressantes e sentimento de raiva. A análise desses diários mostrou que os estudantes sentiam mais raiva nos dias em que tinham dormido menos na noite anterior.

 

O estudo incluiu também uma experiência com voluntários da população geral que eram submetidos à exposição de um ruído irritante. Uma parte dos voluntários era instruída a dormir nas duas noites anteriores à exposição apenas cinco horas e foram esses os que menos se adaptaram ao ruído e reportaram mais o sentimento de raiva. Resultados semelhantes foram demonstrados em uma pesquisa que investigou esse mesmo efeito da privação do sono em um jogo competitivo.

 

Privação de sono tem mesmo a capacidade de mexer com muitas dimensões da nossa mente e do nosso corpo. Ficamos mais raivosos, comemos mais, compramos mais, mais pressão alta, aterosclerose e doença cardiovascular, mais comportamentos de risco, mais enxaqueca, e , claro, piora do desempenho cognitivo.

Person Touching Black Two-bell Alarm Clock

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Contrário à crença comum, pesquisadores australianos da Universidade RIMT demonstraram que os alarmes Beep, Beep são menos eficazes que músicas para que a gente acorde menos grogues. Isso pode ter sérias implicações para aqueles que precisam estar super alertas logo em seguida ao momento em que acordam, como é o caso de plantonistas de emergências.

Esse estado grogue logo após acordar, conhecido como inércia do sono, pode durar segundos, minutos, até quatro horas, dependendo da pessoa, e está associado a acidentes muitas vezes fatais. A inércia do sono é mais comum quando a gente dorme para compensar um período de privação de sono prévio e também em alguns transtornos do sono e condições psiquiátricas, como a depressão. Quase metade dos adolescentes relatam essa inércia do sono e até astronautas da NASA reportam que essa experiência atrapalha seus desempenhos. O assunto foi muito discutido após o acidente com o acidente do avião da Air India Express em 2010 que matou 158 pessoas. O acidente foi logo após o piloto acordar de um cochilo programado.

 

 

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Uma boa parte das pessoas que tem o hábito da siesta diz que, na verdade, é a reposição de um sono atrasado. Aqueles que trabalham em turno invertido podem tirar os cochilos como forma de se preparar para uma noite de trabalho. Outros vão responder que fazem a siesta por puro prazer. Mas o fato é que a siesta traz muitos benefícios à saúde.

 

Os ganhos à saúde vascular são incontestáveis. O jornal Heart acaba de publicar uma pesquisa mostrando que a soneca uma a duas vezes por semana reduz para quase metade o risco de ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral. E os benefícios se estendem também às funções cerebrais não vasculares.  O hábito de tirar um cochilo de uns 20 minutos depois do almoço melhora o humor das pessoas e dá uma turbinada nas funções cognitivas como memória, atenção, raciocínio lógico e tempo de reação. Outro fato interessante é que os “siesteiros” têm um sono noturno mais reparador.

 

Dez minutos já é uma soneca boa, mas parece que as de 20 minutos são melhores ainda. Siestas mais prolongadas não são recomendadas, pois deixam as pessoas com “ressaca” ao acordar de um sono que atingiu estágios profundos.  Além disso, siestas longas podem atrapalhar o sono durante a noite.  Para melhor sincronia com o relógio biológico, o horário ideal gira em torno de duas às quatro da tarde.

 

É bastante tentador imaginar que no mundo contemporâneo, com todo o estresse que vivemos, temos menos chances de ter o hábito da siesta quando comparados aos nossos ancestrais. Mas a história parece que não é bem assim. O registro da rotina de sono de comunidades de caçadores-coletores na Namíbia, Tanzania e Bolívia que vivem sem luz elétrica apontou que eles, como a maioria de nós, não têm o hábito de tirar cochilos durante o dia.

 

Por fim, para aqueles que sofrem de insônia, deixem a siesta para os outros.

Woman Sleeping on Mattress Covered With Blanket

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Você chega do trabalho inconformado com aquela puxada de tapete ou está preocupado se vai conseguir fechar as contas do mês, ou ambos. Essas situações desagradáveis e apreensivas disparam o alarme do cérebro que é o sistema límbico, especialmente as amígdalas. Para o cérebro continuar a funcionar bem, esse alarme deve ser desativado e dormir pode ser um santo remédio. Pesquisadores holandeses demonstraram recentemente que o sono REM, aquele em que acontecem nossos sonhos, precisa estar bem preservado.

Durante o sono REM nosso cérebro é de certa forma desconectado do corpo para que a gente não encene nossos sonhos. Muitas doenças psiquiátricas estão associadas a um sono REM desajustado e agitado e estudos mostram que isso influencia negativamente a neuroplasticidade. Há pessoas que têm esse mecanismo de desconexão ainda mais ineficiente e podem chegar a agredir quem dorme ao lado, se o sonho for de uma luta, por exemplo. Nesse recente estudo, os pesquisadores apontaram que as pessoas portadoras de transtornos do sono REM têm ainda uma incapacidade de desligar o alarme do sistema límbico e isso implica na dificuldade do cérebro em se adaptar e se recuperar de eventos estressantes com o simples ato de dormir. Já aqueles que tinham o sono REM eficiente tinham os benefícios da desconexão límbica noite após noite, mesmo que o estímulo desagradável fosse mantido.

Os achados foram publicados na prestigiada revista Current Biology e podem ser de grande utilidade para a maioria das pessoas que sofrem de algum transtorno mental e que também apresentam transtorno do sono REM. Melhorar o sono REM pode ajudar a desligar o alarme límbico e a processar melhor as memórias com conteúdo emocional.

Brain in a head

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Por Dr. Ricardo Teixeira

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Pesquisadores suíços demostraram que nosso cérebro pode adquirir vocabulário de uma nova língua durante o sono e que esse aprendizado pode ser resgatado no período de vigília. Mostraram ainda que essa nova informação durante o sono envolve as mesmas áreas cerebrais, incluindo os hipocampos, no processo de aprendizado durante a vigília. Os resultados foram publicados recentemente no prestigiado periódico Current Biology.

Na década de 1950, dois pesquisadores americanos, Simons e Emmon, conduziram um experimento que deu um banho de água fria nas expectativas da capacidade do cérebro aprender dormindo.  Eles fizeram quase cem perguntas a um grupo de voluntários e, em seguida, deram as respostas numa gravação enquanto dormiam. O resultado foi que ninguém aprendeu nenhuma das respostas e, assim, concluíram que o aprendizado durante o sono seria praticamente impossível.  Mas a ciência não parou por aí.

Nos últimos 20 anos, uma série de estudos tem contestado os resultados pioneiros de Simons e Emmon demonstrando que nosso cérebro, enquanto dorme, é capaz de aprender, reativar memórias e solidificar conteúdos recém-aprendidos.

Há tempos sabemos que nosso cérebro não para de trabalhar durante o sono, especialmente no processamento afetivo e na organização e consolidação daquilo que aprendemos quando acordados. Além disso, é no sono que o cérebro descarta memórias pouco relevantes para nossa vida e isso se dá não por falta de espaço no hardware. O cérebro precisa manter sua mesa de trabalho livre de penduricalhos supérfluos.

Mesmo com todo esse trabalho cerebral durante o sono, ainda temos muito o que evoluir no conhecimento dessa relação entre aprendizado e sono para achar que vamos aprender conteúdos complexos enquanto dormimos. Ou então, quem sabe um dia teremos implantes de chips no cérebro para uploads noturnos?

Sleeping Woman in Front of Turned-on Table Lamp Beside Books

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Por Dr. Ricardo Teixeira

 

São muitos os fatores que levam a garotada a dormir menos e o mais lembrado é o mundo digital. Uma pesquisa recém-publicada pelo periódico da Academia Americana de Medicina do Sono mostra que crianças e adolescentes que dormem pouco realmente são mais expostas às telas de smartphones, tablets, TVs, etc. Porém, o que chama mais atenção no estudo é que elas também têm maior tendência à obesidade e têm uma dieta pouco saudável: comem mais doces e fast-foods e mais frequentemente ficam sem o café da manhã.

 

De um total de quase 200 mil crianças americanas estudadas, cerca de 40% dormiam menos que o recomendado que são 9-12 horas entre as crianças de 6-12 anos de idade e 10 horas entre os adolescentes de 13 a 18 anos. Além disso, adolescentes com privação de sono também tinham menos capacidade aeróbica.

 

Pesquisas robustas já haviam demonstrado que crianças e adolescentes têm dormido cada vez menos ao longo das últimas décadas. Além da exposição à mídia eletrônica, há também, entre os adolescentes, o consumo excessivo de cafeína e isso acaba virando um círculo vicioso. Ao dormir menos, o adolescente usa mais cafeína para combater a sonolência diurna, substância que sabidamente pode provocar insônia.

 

Os adolescentes ainda são expostos a outros fatores de estresse que podem contribuir para que eles durmam menos, como a pressão por um brilhante desempenho acadêmico. Essa privação de sono aumenta o nível de cochilos na escola, e os efeitos vão muito além disso. Crianças e adolescentes que dormem pouco também têm maior risco de depressão, alergias e exacerbação de crises de asma

 

 

 

 

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