Artigo publicado hoje no Blog Saúde para Todos – Correio Braziliense
É no mínimo intrigante quando nos deparamos com resultados de pesquisas no Brasil e no exterior mostrando que até 90% das mulheres sofrem de algum grau de tensão pré-menstrual, problema que hoje é mais corretamente chamado de síndrome pré-menstrual (SPM), pelo fato dos sintomas não se limitarem à tensão nervosa, ansiedade e irritabilidade. Outros sintomas comuns incluem alterações no padrão de sono e do apetite, humor deprimido, dor de cabeça, inchaço no corpo e dor na mama.
Não é difícil reconhecer o impacto da SPM na vida das mulheres se fizermos uma conta curiosa. A menstruação costuma começar entre os 12 e 13 anos de idade e termina por volta dos 50 anos. Mesmo descontando dois anos sem menstruação em mulheres que têm dois filhos ao longo da vida, contando com o período de amamentação, a mulher experimentará cerca de 450 ciclos menstruais na sua fase fértil. Se considerarmos que os sintomas da SPM duram uma média de 6 a 7 dias por ciclo, fechamos nossa conta com quase 3.000 dias de sintomas durante a vida: oito anos! Resumindo: as mulheres com SPM passam mais de 10% suas vidas com sintomas pré-menstruais.
E sendo a SPM uma condição tão freqüente, admite-se que ela possa representar uma vantagem evolutiva que herdamos dos nossos ancestrais e que talvez já não nos sirva muito mais. Nossos ancestrais fêmeas aumentavam suas chances de gerar descendentes devido a um comportamento mais “amigável” na fase fértil e mais “arisco” na fase infértil, como é o caso do período pré-menstrual. Entre os primatas, que apresentam comportamento sexual promíscuo, essa estratégia permite que o macho escolha a fêmea com mais sinais de fertilidade para copular.
Comparadas a mulheres de sociedades coletoras / caçadoras, as mulheres de hoje têm a primeira menstruação quase 4 anos mais cedo, têm menos filhos sendo que o primeiro em idade mais avançada e com períodos de aleitamento mais curtos, têm a menopausa também mais tardiamente. Tudo isso leva a mulher moderna a apresentar três vezes mais ciclos menstruais do que a mulher em ambiente mais primitivo, e, a princípio, pode sofrer até três vezes mais com os sintomas da SPM ao longo da vida.
O mais comum é que os sintomas da SPM sejam leves ou moderados, mas em cerca de 5-8% dos casos os sintomas adquirem sua forma e apresentação mais severa, também chamado de transtorno disfórico pré-menstrual. Nesses casos a mulher apresenta sintomas com significativo impacto no seu trabalho / escola, atividades sociais ou relacionamentos afetivos.
O cérebro está cheio de receptores aos hormônios sexuais em regiões que regulam o comportamento e as emoções, como é o caso da amígdala e o hipotálamo. Entende-se atualmente que mulheres com SPM têm uma maior sensibilidade cerebral às flutuações hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual podendo influenciar a liberação de neurotransmissores envolvidos na regulação do humor, comportamento e funções cognitivas, especialmente a serotonina. Sabemos que os sistemas de serotonina são capazes de modular os efeitos comportamentais dos hormônios sexuais (ex: agressividade), fato bem apoiado pelo efeito positivo de medicações que elevam os níveis de serotonina em mulheres com SPM. Além disso, sistemas hormonais que controlam a concentração de água e eletrólitos no corpo também podem ser influenciados pela flutuação hormonal, o que poderia explicar os sintomas de inchaço. Entretanto, esse ainda é um tema bem controverso.
Há muito que se fazer para reduzir o impacto da SPM no dia-a-dia. Estratégias medicamentosas é que não faltam, passando por suplementação de cálcio, magnésio, vitamina B6, intervenções hormonais, e antidepressivos que aumentam as concentrações de serotonina (tanto de forma contínua ou só na segunda metade do ciclo). Além disso, medidas comportamentais são bem vindas, tais como atividade física e técnicas de relaxamento. Quanto à dieta, é freqüente a recomendação de restrição de calorias e fracionamento da dieta, mas não há evidências científicas suficientes para “prescrevermos” uma dieta específica. Além disso, estudos com dietas com alto teor de carboidratos complexos sugerem benefícios às mulheres com SPM, talvez por aumento nas concentrações cerebrais de serotonina. É a história do chocolate como melhor amigo da mulher na fase pré-menstrual…
5 comentários
25 maio, 2011 às 11:12 pm
ivoen
não são somente esses sintomas, venho percebendo também que todo o sistema digestivo fica alterado a quantidade de gazes é absurda minha barriga fica enorme, o intestino preso! Os seios ficam inchados e doloridos a pele fica horrorosa os cabelos parece que nada ajuda. Meu Deus preciso de algo que amenize esses sintomas, pois meu rendimento cai sensivelmente no trabalho, no relacionamento. Há dias que não consigo me levantar.
30 março, 2010 às 8:09 pm
Jussara
Leonardo, é que pelo seu comentário anterior ficou parecendo que os sintomas eram inventados ou não existissem. Mas como agora vc falou que os sintomas existem, sim, ficou mais claro pra mim o que vc quis dizer antes sobre a pesquisa com as mulheres que foram sugestionadas.
21 março, 2010 às 8:36 pm
Jussara
Pra mim, dieta nunca funcionou para aliviar os sintomas, até pq minha alimentação já é balanceada. Mas acho que diminuir açúcar, sal, álcool (para as que bebem) e cafeína, ajuda. Exercícios físicos eu sempre faço, mas nessa fase o que eu sinto é vontade de ficar parada (e me entupir de doces, não necessariamente chocolate). Mês passado comecei um tratamento com esses minerais citados na matéria, vamos ver se vão ajudar…
Super interessante esses dados citando nossos ancestrais; mesmo não nos servindo mais, é exatamente assim que ficamos: passada a fase fértil, nos tornamos ariscas. Para muitas, a simples presença do namorado/marido passa a irritar. Tenho até um livro que diz que “segundo as pesquisas, um dos piores fatores de risco para TPM é… viver com um homem! ” rs.
Passar oito anos com sintomas da TPM é muita coisa! Chocante! Acho que a correria da vida pós-moderna, com a mulher fazendo tripla jornada, contribui muito para a agravação dos sintomas.
Quanto à pesquisa que o Leonardo citou , acho que ela tentou “provar” que quando sabem que vão menstruar, mesmo que a data esteja errada, as mulheres começam a ter os sintomas da TPM, ou seja, que tais sintomas seriam meramente provocados pela mente. Só posso rir de uma pesquisa dessas. Daqui a pouco vão querer provar que seios e abdômen inchados e sensíveis, retenção de líquido e dor de cabeça são sintomas inventados tb? Acho que nenhuma mulher fica pensando no dia em que vai menstruar, mas sim, começa a perceber os sintomas e se dá conta que está na TPM.
23 março, 2010 às 1:01 am
Leonardo Fontenelle
Jussara, a T/SPM existe de fato, e ninguém contesta isso. Acontece que a mente e o corpo têm uma interação poderosa, em quatro tipos diferentes. Se a asma e o infarto têm relação com a mente, por que não a menstruação?
8 março, 2010 às 9:05 pm
Leonardo Fontenelle
O Speroff, livro dos mais conceituados em endocrinologia ginecológica, traz um relato curioso. Numa pesquisa, uma série de mulheres foram induzidas a acreditar que uma “máquina” seria o método mais confiável para detectar o dia da próxima menstruação. Em seguida, foram informadas de datas inventadas ao acaso, e várias delas sentiram tensão pré-menstrual (se não me engano, a pesquisa se restringuiu aos sintomas mentais) na data prevista pela “máquina”.