A informação sobre saúde nunca foi tão democratizada como hoje. Há muito pouco tempo esse conhecimento era quase que exclusivo dos profissionais da saúde, e a internet virou esse cenário de cabeça para baixo. A situação não é tão diferente da história da bíblia na antiguidade, época em que só o sacerdote tinha acesso à palavra de Deus. Não era possível para um homem comum ter um exemplar da bíblia, pois era tudo muito sofisticado e caro, e além do mais, só existia a versão em latim. Estamos numa fase de transição conhecendo um novo homem e um novo paciente que tem acesso à informação como nunca antes pensada. E é por isso que os meios de comunicação de massa têm hoje uma responsabilidade cada vez maior no incremento da cultura em saúde da população.
A comunicação em saúde tem sido definida como a principal moeda de saúde do século 21, e nos Estados Unidos, ela vem sendo encarada como a mais importante área da ciência relacionada à saúde nesse século, fazendo parte dos objetivos Healthy People 2010, a agenda oficial de saúde pública do governo americano. No Brasil, deliberações das Conferências Nacionais de Saúde apontaram informação, educação e comunicação como elementos estratégicos para consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) e para a conquista da cidadania plena no Brasil. O investimento em cultura em saúde é imperativo e para se ter uma idéia de sua importância, estima-se que nos EUA anualmente são gastos entre 106 e 236 bilhões de dólares anuais por conta do baixo nível de cultura em saúde da população e suas conseqüências como a não procura de ajuda médica quando necessária, a dificuldade em assumir hábitos de vida saudáveis e erros no uso de medicações.
A internet certamente está colaborando para a criação de um cidadão com maior capacidade de tomar decisões sobre sua própria saúde. Os médicos estão se acostumando a compartilhar com o paciente a tomada de decisão, o que é o ideal da relação médico-paciente. O paciente, por sua vez, ainda está aprendendo a buscar informação relevante e confiável, assim como inserir de forma afinada o conteúdo de suas pesquisas no momento da consulta médica. Alguns estudos chegam a demonstrar que os médicos acreditam que a relação médico-paciente é prejudicada quando o paciente faz uma pré-consulta com o “Dr. Google”. Por outro lado, é bem reconhecido que o paciente informado faz com que a qualidade do atendimento médico seja melhor. Esse é um fenômeno que está em evolução, tanto no que diz respeito ao médico, como também no caso do paciente.
Na escola médica, há muito que se ensinar sobre o modelo de participação do paciente nas tomadas de decisão e isso pode ser treinado. Uma coisa é o médico perguntar: “Você prefere que eu tome as decisões a respeito do seu tratamento ou você mesmo pode tomá-las?”. Provavelmente teremos uma diferente resposta se o médico perguntar: “Você quer que eu tome decisões sobre seu tratamento sabendo o que é importante para você, ou sem saber o que é importante para você? Comunicação em saúde é uma disciplina que deve fazer parte do currículo das escolas de medicina. O aprofundamento do conhecimento nessa área não se destina apenas a uma melhor construção da relação interpessoal médico-paciente, mas envolve também a melhor compreensão da dimensão intrapessoal do paciente, incluindo suas crenças, valores e atitudes. E não pára por aí. Médicos e demais profissionais da saúde, conscientes da importância da comunicação em saúde, têm mais chance de se envolverem na criação e implantação de ações de promoção à saúde em níveis mais abrangentes do que a tradicional medicina médico-paciente. Esse é um ponto de alta relevância na formação do médico. Não tem nada de periférico. Vale lembrar o recado de Escurinho, músico pernambucano radicado na Paraíba: O PRINCÍPIO BÁSICO É A COMUNICAÇÃO.
11 comentários
3 abril, 2010 às 2:59 pm
Denise Teixeira
Prezado Dr. Ricardo
Parabéns pela sua consciência em relação à comunicação em saúde. Assim como outros leitores do seu blog, gostei muito do comentário “Comunicação em saúde é uma disciplina que deve fazer parte do currículo das escolas de medicina. O aprofundamento do conhecimento nessa área não se destina apenas a uma melhor construção da relação interpessoal médico-paciente, mas envolve também a melhor compreensão da dimensão intrapessoal do paciente, incluindo suas crenças, valores e atitudes.”
Aproveito a oportunidade para convidá-lo a participar do V Seminário Nacional Médico/Mídia, que acontece nos dias 15 e 16 de abril, no Hotel Pestana, Rio de Janeiro. A programação completa pode ser acessada no portal da Federação Nacional dos Médicos (www.fenam.org.br). Obrigada,
Denise Teixeira, jornalista e criadora e organizadora do Seminário Médico/Mídia
5 abril, 2010 às 2:17 pm
Ricardo Teixeira
Oi Denise Teixeira – é o nome da minha irmã!
Obrigado pelo convite e sucesso no evento.
Ricardo
5 abril, 2010 às 5:01 pm
Andre Bressan
Eu estarei lá, no dia 15/4!
3 março, 2010 às 9:31 pm
Dra. Juliana
Parabens pelas suas materias por isso você ganhou em primeiro, gostaria de uma materia com a importância do serviço de Home Care.
5 março, 2010 às 2:22 am
Ricardo Teixeira
Obrigado Jualiana,
Ficarei com sua idéia na cabeça. quando eu conseguir , abordarei o tema.
2 março, 2010 às 2:53 pm
Marcelo Hernandes
Olá, Dr. Ricardo
Recentemente, ajudei a organizar um debate realizado em Salvador, que tratou das questões mencionadas em seu post, com a presença de profissionais de saúde e personalidades com forte atuação nas mídias sociais. No evento, denominado Paciente Informado, foi discutida também a possibilidade de se criar uma espécie de selo que conferisse credibilidade aos sites e blogs de saúde, o chamado “Selo Médico”.
Se lhe interessar mais informações, segue o link do post que falou sobre o evento: http://saudeconectada.com.br/2009/10/23/por-uma-sociedade-bem-informada/
Gostei bastante de seu post, especialmente deste trecho:
“Comunicação em saúde é uma disciplina que deve fazer parte do currículo das escolas de medicina. O aprofundamento do conhecimento nessa área não se destina apenas a uma melhor construção da relação interpessoal médico-paciente, mas envolve também a melhor compreensão da dimensão intrapessoal do paciente, incluindo suas crenças, valores e atitudes.”
Os novos tempos indicam isso mesmo. Agora, o negócio é procurar acompanhar, da melhor maneira.
Abs!
2 março, 2010 às 6:38 pm
Ricardo Teixeira
Obrigado Marcelo
Muito bom o post que você indicou assim como o vídeo do evento.
5 março, 2010 às 4:09 am
Andre Bressan
Marcelo e Ricardo,
Existe o HONcode (http://www.pediatraemcasa.com/p/principios-eticos.html) que confere um selo (revisado anualmente) para blogs de saúde considerados ^de qualidade^.
Também teremos um evento (no RIo de Janeiro) chamado Seminário Nacional Médico/Mídia 2010 (http://www.pediatraemcasa.com/2010/02/seminario-nacional-medicomidia-2010.html).
Desculpem a divulgação de 2 links para meu blog (Ricardo, vc sabe que não é do meu feitio), mas é onde eu tenho estas informações.
Um abraço.
5 março, 2010 às 11:37 am
Ricardo Teixeira
Caro Andre,
é uma honra para mim sua colaboração pra lá de pertinente.
Abraço
Ricardo
1 março, 2010 às 3:15 pm
andre bresan
Quando meu flho de 7 anos me pergunta alguma coisa que eu não sei, e digo que eu vou pesquisar, completa com: “é só procurar no GOogle, pai”.
Isso é que eu chamo de criar cultura…. e olha que eu nunca falei do google com ele…
Um abraço.
1 março, 2010 às 4:41 pm
Ricardo Teixeira
Caro André
Esta geração que já nasceu com o Google será realmente diferente. Minha filha de 5 anos já tem como prática o raciocínio de que se ela não sabe e o pai não sabe, é hora de pesquisar. Pai, a história do menino da porteira ( da música) é de verdade ou é só história? // Não sei minha filha. // Então vamos pesquisar, pai. // Nossa pesquisa está dizendo que é só uma história , minha filha.