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Um estudo publicado esta semana pelo periódico oficial da Academia Americana de Neurologia revela que as crianças com diagnóstico de enxaqueca têm uma chance 30% maior de ter um rendimento escolar abaixo da média.
Foram estudados mais de cinco mil brasileirinhos de 18 diferentes estados com idades entre cinco e 12 anos. Os professores dessas crianças responderam a um questionário que contemplava o desempenho acadêmico dos alunos e a identificação de problemas emocionais e do comportamento. Os pais também respondiam questões relacionadas ao histórico de dores de cabeça e outros antecedentes patológicos dos filhos.
Quase um quarto das crianças apresentava dores de cabeça com características de enxaqueca e a associação entre as dores de cabeça e pior desempenho escolar foi ainda mais forte entre as crianças com crises mais fortes e mais freqüentes, assim como naquelas que tinham mais problemas de comportamento. O pesquisador Marcelo Bigal, brasileiro radicado nos EUA e um dos autores do estudo, dá o recado que enxaqueca é coisa séria e freqüente entre as crianças e por isso merece toda a atenção por parte dos pais e professores.
Esta semana, um estudo de pesquisadores da Universidade da Califórnia – EUA foi divulgado pelo periódico oficial da Academia Americana de Neurologia sugerindo que a cólica dos lactentes pode na verdade ser uma precursora da enxaqueca ao mostrar que o risco é mais de duas vezes maior nos bebês que têm mães que sofrem de enxaqueca.
Através de um questionário, foram estudadas 165 mães e o comportamento de seus bebês que tinham uma média de idade de oito semanas. 14% dos lactentes preenchiam os critérios para cólica e 18% das mães tinham enxaqueca, índices comparados à média da população geral. Enquanto 29% dos bebês de mães com enxaqueca apresentavam cólica, apenas 11% daqueles de mães sem enxaqueca tinham o problema. O estudo não é definitivo para conclusões inequívocas da relação entre cólica e enxaqueca, mas abre uma grande porta para pesquisas mais robustas. O ideal seria acompanhar as crianças com cólica até a idade adulta e observar a freqüência de enxaqueca nessa fase da vida.
Existem algumas condições clínicas que acontecem de forma recorrente na infância e que são entendidas como expressões precoces de genes que mais tarde serão expressos como enxaqueca. Entre essas condições podemos citar crises de torcicolo, vertigem, além das misteriosas cólicas dos bebês.
O choro normal da criança começa a se intensificar nas primeiras semanas de vida, alcança o seu topo entre a sexta e oitava semana, e aos três meses já começa a dar uma trégua. A tal cólica dos bebês é uma forma intensificada desse choro e é definida como crises de choro por pelo menos três horas e pelo menos três vezes por semana. Também é chamada de choro inconsolável e está associada a uma maior incidência de casos da síndrome do bebê chacoalhado, condição em que um adulto sacode a criança para discipliná-la ou para tentar interromper o choro. Isso pode levar a lesões traumáticas de diferentes gravidades.
O termo cólica traz uma conotação de que o desconforto tem origem no aparelho digestivo, mas não existe qualquer evidência que aponte para essa localização. Estudos tentam ligar a cólica com gases intestinais, alergia à proteína do leite, intolerância à lactose, mas todos têm apresentado resultados negativos.
Por que seria um bebê com bagagem genética de um “cérebro de enxaqueca” mais propenso a ter crise de choro? Uma das maiores características de um cérebro enxaquecoso é a hiperexcitabilidade, uma maior sensibilidade a estímulos sensoriais como ruídos e luz. A transição do útero para o mundo cheio de estímulos pode fazer mesmo diferença a partir de algumas semanas, a partir de um nível de desenvolvimento da acuidade visual e auditiva. Isso pode explicar o porquê da cólica ser mais freqüente entre a sexta e oitava semana de vida, e não no período neonatal. Uma pesquisa chegou a demonstrar que a restrição de estímulos sensoriais foi capaz de reduzir o problema.
Com esse corpo de conhecimento, já se discute a modificação do termo cólica por algo como “Agitação Paroxística do Lactente” já que a raiz do problema tem mais chance de vir do cérebro do que da barriga.
Antes da puberdade, os meninos até têm um pouco mais de enxaqueca que as meninas, mas aos 20 anos a freqüência já é duas vezes maior entre as mulheres e três vezes maior aos 40 anos.
O candidato mais forte para explicar essa diferença é o perfil hormonal das mulheres e temos várias pistas que apóiam essa idéia: 1) enxaqueca passa a ser mais frequente entre elas a partir da puberdade; 2) mais de 50% apresentam enxaqueca no período menstrual e cerca de 70% das enxaquecosas têm crises mais freqüentes e/ou mais fortes nessa fase do ciclo; 3) a maioria tem menos crises na menopausa e durante a gravidez.
Outra possível explicação é uma diferente resposta das mulheres à percepção do estresse e da dor. Essa é uma idéia que é apoiada por estudos de ressonância magnética que apontam que os circuitos neuronais que envolvem o processamento de emoções são mais robustos entre elas, tanto do ponto de vista estrutural como funcional. Nas mulheres, estímulos dolorosos estimulam esses circuitos de forma mais intensa. Essas peculiaridades são uma preciosa janela para a melhor compreensão das razões que fazem as mulheres terem distúrbios de dor de forma mais frequente, e isso não se limita à enxaqueca.
Problemas de saúde que são muito freqüentes e que têm base genética inequívoca, como é o caso da enxaqueca, fazem-nos sempre refletir se não poderia haver uma vantagem evolutiva para que tantos indivíduos apresentem essa condição. Ao pensarmos nos fatores que comumente desencadeiam crises de enxaqueca (ex: jejum prolongado, estresse, cheiros fortes), poderíamos até compará-los a situações predatórias. Essa é uma forma de encarar a enxaqueca como um aliado e não como um inimigo, um alarme cerebral que nos avisa quando estamos fora do nosso equilíbrio ideal. O cérebro das mulheres então teria evoluído mais do que o dos homens? As mulheres são mais expostas a “situações predatórias”?
Hipoteticamente, ao longo da evolução da espécie muitos se beneficiaram desse alarme e alguns poucos pagam o preço. Estes são os que têm crises de enxaqueca fortes e frequentes. Que bom que a medicina também evoluiu e hoje temos inúmeras opções de tratamento para essa condição neurológica.
O derrame cerebral, principal causa de morte em nosso país, é mais comum entre os idosos, mas tem acometido cada vez mais os jovens. Uma pesquisa realizada em Porto Alegre e Salvador revelou que 7.5% dos pacientes internados pela doença têm menos de 45 anos. Outro estudo, publicado na última semana pelo periódico da Academia Americana de Neurologia, aponta que nos EUA o derrame cerebral tem acometido cada vez mais os jovens, já chegando a contabilizar uma fatia de quase 20% de todos os casos.
Não podemos dizer de forma inequívoca que as mulheres jovens sejam mais susceptíveis, já que os estudos que examinaram essa questão são conflitantes. Entretanto, elas têm alguns fatores de risco para derrame cerebral que os homens não têm e outros que elas apresentam de forma bem mais freqüente.
Pílula anticoncepcional.
Já é bem reconhecido que o risco de derrame é maior entre mulheres que fazem uso de pílula anticoncepcional e esse risco é proporcional à concentração dos hormônios, especialmente o estradiol. O efeito da pílula sobre a chance de derrame também é maior entre mulheres com mais de 35 anos e naquelas com outros fatores de risco vascular como hipertensão arterial, dislipidemia, obesidade, tabagismo, enxaqueca com aura e algumas condições genéticas.
Gravidez. O terceiro trimestre da gravidez e o puerpério são períodos em que a mulher tem mais chance de apresentar eventos vasculares, incluindo o derrame cerebral. As mudanças hormonais, na circulação e coagulação sanguínea podem responder por esse maior risco.
Enxaqueca com aura. Cerca de 25% das pessoas que sofrem de enxaqueca também apresentam sintomas que precedem as crises de dor de cabeça como por exemplo flashes visuais e formigamento de um lado do corpo. A esses sintomas dá-se o nome de aura e há inúmeras evidências de que a enxaqueca com aura aumenta a chance de derrame e o risco é ainda maior quando outros fatores de risco estão presentes. Vale lembrar que as mulheres têm três vezes mais enxaqueca que os homens.
A relação entre a enxaqueca e o derrame cerebral envolve uma complexa interação de particularidades do cérebro, vasos sanguíneos, coagulação, e até mesmo do coração de que tem enxaqueca. Os derrames costumam ocorrer mais nas regiões posteriores do cérebro e nos enxaquecosos com crises mais freqüentes. O risco é ainda maior quando existem outros fatores como uso de pílula anticoncepcional, dislipidemia, hipertensão arterial e obesidade.
A enxaqueca, também conhecida como migrânea, é uma disfunção cerebral com reconhecido componente genético. Indivíduos que têm familiares com enxaqueca têm mais chance de apresentá-la, mas nem sempre. As crises de enxaqueca podem se iniciar já na infância, mas é mais freqüente entre os 25 e 55 anos, a fase de vida economicamente mais produtiva do indivíduo.
A enxaqueca afeta cerca de 20% das mulheres e é três vezes mais comum que nos homens. A dor de cabeça costuma ser forte, unilateral, de caráter latejante, com piora às atividades rotineiras, freqüentemente associada a náuseas, intolerância à luz, som e odores. As crises habitualmente duram entre 4 e 72 horas.
Menstruação. Cerca de 50-60% das mulheres com enxaqueca apresentam crises durante a menstruação e isso está associado ao súbito declínio dos níveis do hormônio estrogênio nessa fase do ciclo menstrual. Além disso, até 20% das mulheres com enxaqueca tem crises somente no período perimenstrual. O primeiro dia antes da menstruação é o dia em que a mulher tem mais chance de ter uma crise. Um pouco mais de 15% das mulheres com enxaqueca tem sua primeira crise na época da sua primeira menstruação.
Pílula anticoncepcional. O uso de contraceptivos orais pode dificultar o controle das crises, e pílulas com menor concentração de estrogênio podem favorecer o controle, inclusive no caso da enxaqueca menstrual.
A mulher deve evitar o uso de pílula anticoncepcional com conteúdo de estrogênio, especialmente se tiver mais de 35 anos de idade, se for portadora de fatores de risco vascular (tabagismo, hipertensão arterial) ou se tiver história pessoal ou familiar de eventos vasculares (trombose). A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a enxaqueca com aura como categoria 4 na indicação do uso de pílula anticoncepcional com conteúdo de estrogênio, o que quer dizer que é uma condição de saúde em que os riscos do uso da pílula são inaceitáveis. Riscos, nesse caso, são os relacionados ao derrame cerebral.
O conceito de AURA é o de um aviso, um sinal de que uma crise de enxaqueca está por começar, mas também pode ocorrer já na fase da dor de cabeça. Entre 15 e 30% das pessoas que sofrem de enxaqueca podem experimentar o fenômeno, habitualmente como sintomas visuais (pontos luminosos, flashes em ziguezague, falhas no campo visual), geralmente durando menos de uma hora. A AURA pode se apresentar como formigamento de um lado do corpo, dificuldade para falar e raramente como perda de força de um lado do corpo. Algumas pessoas experimentam aura sem apresentar dor de cabeça.
Gravidez. Durante a gravidez, as crises costumam melhorar em 60-80% das mulheres. Deve-se evitar tratamentos profiláticos medicamentosos devido a potenciais conseqüências ao feto. Algumas medicações sintomáticas são contra-indicadas na gravidez.
Uma série de estudos demonstra que mulheres com enxaqueca apresentam maior risco de apresentar hipertensão arterial na gravidez (pré-eclâmpsia) e bebês com baixo peso. Além disso, também é maior o risco de eventos vasculares nesse período entre as enxaquecosas, e aí podemos incluir derrame cerebral, infarto do coração e tromboembolismo pulmonar.
Lactação. Após o parto, as crises voltam a piorar em até 50% das mulheres no primeiro mês. Há evidências de que a amamentação confere proteção às crises nessa fase.
Menopausa. Até 80% das mulheres apresentam melhora das crises de enxaqueca após a menopausa espontânea. Entretanto, por volta de 20% das mulheres começam a ter crises após os 50 anos, e raramente após os 60 anos. No caso da menopausa cirúrgica, há uma tendência de piora das crises de enxaqueca em dois terços das mulheres.
Já é consenso que a indicação de terapia de reposição hormonal [TRH] para a melhora de sinais e sintomas da menopausa deve ser restrita a mulheres com sintomas moderados a severos e utilizada pelo menor tempo e com mínimas doses possíveis. Essas recomendações são decorrentes do fato de que a TRH prolongada eleva o risco de câncer de mama, trombose nas veias e derrame cerebral. No caso da enxaqueca, mesmo a com aura, a TRH com doses baixas de estradiol pode ser considerada.
No dia anterior à menstruação, a queda abrupta da concentração de estradiol faz com que esse seja o dia do ciclo em que a mulher tem mais chance de apresentar uma crise deenxaqueca. Durante a gravidez, há um aumento expressivo dos níveis desse hormônio, e as crises costumam melhorar na maior parte das mulheres. Entretanto, uma pequena parcela tem suas crises exacerbadas e outra minoria tem as primeiras crises nessa época.
Estima-se que um terço das mulheres apresente dor de cabeça na primeira semana após o parto, sendo que a grande maioria destas tem a recorrência de um quadro de dor de cabeça pré-existente. No caso da enxaqueca, mais da metade das mulheres voltam a apresentar crises no primeiro mês pós-parto.
Uma pesquisa publicada esta semana pelo periódico da Sociedade Americana de Cefaléia confirma que o fator que mais está associado à dor de cabeça na gravidez é a história de dor de cabeça anterior a esse período. Por outro lado, os antecedentes mais comuns entre as mulheres que tiveram dor de cabeça nas primeiras 72 horas após o parto foram a presença de dor de cabeça durante a gravidez e anestesia regional (e.g.; raquianestesia). O estudo envolveu cerca de 2500 mulheres de quatro diferentes hospitais nos EUA, Suíça e Bélgica
** A dor de cabeça associada à raquianestesia acontece por uma diminuição da pressão do líquido da espinha que reduz a pressão interna do crânio. A característica mais importante desse tipo de dor é a sua melhora quando na posição deitada e, ao ficar em pé, a dor volta a piorar. O tratamento consiste em hidratação vigorosa, antiinflamatórios, cafeína, e, se não houver melhora, é indicada a infiltração de sangue do próprio paciente próximo ao local da punção original da anestesia. Esse procedimento tem o objetivo de obliterar o orifício que provocou o escape do líquido da espinha.
Dor de cabeça é um problema que afeta cerca de 50% da população em todo o mundo e, em países como os Estados Unidos e o Canadá, estima-se que até um terço dessas pessoas jamais chegou a procurar um serviço médico para cuidar desse problema. A grande maioria acaba usando analgésicos sem orientação médica o que pode, em alguns casos, dificultar ainda mais o controle das crises de dor. No Brasil as coisas não são muito diferentes. É o que aponta uma pesquisa recém-publicada pelo Headache, periódico oficial da Sociedade Americana de Cefaléia.
Pesquisadores da Faculdade Pernambucana de Saúde, Universidade de Pernambuco e Instituto de Medicina Integral Fernando Figueira avaliaram 200 pacientes adultos atendidos em três diferentes Unidades Básicas de Saúde da cidade do Recife-PE. Aqueles que referiam ter apresentado pelo menos um episódio de dor de cabeça nos últimos 12 meses responderam a um questionário para melhor caracterização do quadro clínico.
Os resultados mostraram que 52% dos pacientes avaliados referiram ter apresentado dor de cabeça nos últimos 12 meses, mas apenas 10% haviam procurado um médico por esse motivo. O problema já acontecia em média há 10 anos e as mulheres representavam quase 80% dos pacientes. Como já esperado, os diagnósticos mais freqüentes eram os de cefaléia tensional episódica e enxaqueca, os tipos de dor de cabeça mais comuns em nível global.
Aqueles com cefaléia tensional quase não buscaram um médico para orientação, enquanto quase metade dos que tinham o diagnóstico de enxaqueca já havia procurado assistência médica. Além disso, aqueles que não foram atrás de assistência tinham níveis de redução da qualidade de vida por conta das dores não menos significativos do que os que procuraram ajuda.
A principal razão para a não ir ao médico foi o fato dos analgésicos conseguirem controlar as crises de dor, sendo que onze por cento disseram que era porque acreditavam que a dor era secundária a problemas como pressão alta, alterações emocionais e da visão. Essa é uma idéia muito arraigada em nossa cultura, mas essas não são nem de longe as principais causas de dor de cabeça.
Onze por cento desses pacientes que não buscaram ajuda apresentavam mais de 10 dias de dor por mês, resultados que são compatíveis com pesquisas que apontam que a condição de dores de cabeça quase diárias é mais comum no Brasil. Fatores que podem ajudar a explicar esse cenário são o fácil acesso a analgésicos sem prescrição médica e a falta de informação da população de que uma das principais causas de dor de cabeça crônica é o uso exagerado de analgésicos. São comuns em nosso meio os informes publicitários de analgésicos para dor de cabeça, mas não vemos campanhas que esclareçam que o tratamento em muitos casos necessita de uma medicação para prevenir as crises. Essas medicações não são os analgésicos. No presente estudo, mais da metade dos pacientes que não buscaram ajuda eram fortes candidatos a um tratamento profilático.
Os resultados são muito próximos aos de estudos anteriores realizados em Unidades Básicas de Saúde no estado de São Paulo.
Ouço frequentemente no consultório uma pergunta que costuma vir acompanhada de uma entonação pessimista: “Então doutor? Pelo jeito, enxaqueca não tem cura mesmo, não é?” Cura? Vamos conversar melhor sobre esse assunto.
Os órgãos do nosso corpo apresentam um sistema de dor que nos serve como um alarme. No caso do cérebro de uma pessoa que tem enxaqueca, essa tarefa é realizada pelo nervo trigêmeo em conjunto com os vasos sanguíneos cerebrais que são capazes de disparar o fenômeno de dor. Essa é uma forma de entender a enxaqueca como um fenômeno de proteção do cérebro que nos avisa que algo não está bem. Tanto os neurônios como os vasos cerebrais estão envolvidos como principais protagonistas da enxaqueca, mas ainda há muito por se descobrir.
Podemos dizer que a pessoa que apresenta enxaqueca tem um cérebro que funciona um pouquinho diferente. É um cérebro que se excita com mais intensidade a diferentes estímulos externos, como é o caso da luminosidade e cheiros, ou a estímulos internos, como por exemplo, a privação de sono e o estresse psíquico. Sabemos que essa super-excitação cerebral, condição determinada geneticamente, predispõe o indivíduo com enxaqueca à liberação de componentes neuroquímicos que podem desencadear a dor de cabeça.
Felizmente, a maioria das pessoas que tem enxaqueca apresenta crises mensais ou até menos do que isso. Quando as crises atingem uma freqüência maior ou igual a três vezes por mês, ou uma freqüência até menor, mas sem resposta satisfatória aos analgésicos, um tratamento profilático é indicado. Esse tratamento é feito através do uso diário de uma medicação independente da presença de dor e por um período de pelo menos seis meses.
Um tratamento de sucesso é aquele que consegue reduzir a intensidade e freqüência das crises em pelo menos 75%. Pode-se perceber que a meta não é a cura, pois mesmo após o sucesso do tratamento, a pessoa pode continuar a apresentar crises esporádicas, especialmente quando enfrenta situações que já são reconhecidas como precipitantes de crises. Essas situações são muito individuais e, por isso, listas de proibições rígidas podem ser mais penosas do que benéficas ao paciente.
Enxaqueca não se cura, mas pode ser controlada. Parando para pensar, quais são as condições clínicas que realmente podem ser curadas? Talvez você não consiga enumerar mais exemplos do que o número de dedos que tem na sua mão.
Uma pesquisa publicada na última edição do Headache, periódico oficial da Academia Americana de Cefaléia, aponta que metade dos americanos que apresenta enxaqueca, ou outros tipos de dor de cabeça intensa, faz uso da Medicina Complementar e Alternativa (MCA), sendo que a metade destes não discutem a indicação com o médico de referência.
Essa cifra foi significativamente maior entre os enxaquecosos, quando comparados à população geral (49.5% X 33.9%), e a maioria deles procuravam a MCA por sintomas de ansiedade, dores no corpo, para melhorar o estado de bem estar e prevenir doenças. Em apenas 4.9% dos casos, a razão da procura era para tratar especificamente as dores de cabeça. Os resultados também mostraram que terapias “Mente e Corpo” são as mais utilizadas, e aqui podem ser incluídas ioga, meditação e técnicas de relaxamento. A pesquisa envolveu 23 mil voluntários com uma boa representação nacional.
O tratamento convencional da enxaqueca tem dois alvos principais. O primeiro é o controle da crise de dor com medicações sintomáticas e o outro é o tratamento profilático com medicações que trabalharão a química cerebral para reduzir a freqüência e intensidade das crises no futuro próximo.
Uma boa parte das pessoas que sofre de enxaqueca dá preferência a tratamentos não farmacológicos, muitas vezes por serem mais congruentes com seus valores, crenças e orientações filosóficas. Além disso, podem representar uma ótima opção em situações específicas como na gravidez ou em casos de intolerância, contra-indicação ou ausência de resposta aos medicamentos habituais. Alguns estudos avaliaram a combinação da medicação profilática com intervenções não medicamentosas e o resultado foi melhor do que o tratamento apenas com a medicação. Entre os tratamentos ditos não convencionais, os que tiveram melhores resultados em pesquisas científicas foram alguns fitoterápicos, acupuntura e as terapias “MENTE-CORPO”.
O processo de provocar a manifestação do paciente quanto às suas expectativas no tratamento, crenças e preferências, faz com que a relação médico-paciente tome um corpo mais forte. Muitas dessas terapias têm forte comprovação científica, como é o caso da acupuntura, e o médico deve sim transmitir esses detalhes ao paciente. Medicina alternativa/complementar com evidências científicas pode andar de mãos dadas com a medicina convencional, e a essa abordagem mais plural foi dado o nome de Medicina Integrativa. Então essa é a medicina do futuro? Não. Essa é melhor medicina de qualquer tempo: do passado, do presente e do futuro.
Esta semana um senhor de meia idade me procurou com a queixa de duas crises recentes de dor de cabeça muito fortes durante uma viagem de avião. Quanto à intensidade das crises, sempre pergunto aos pacientes em que nível eles classificam a dor numa escala de 1 a 10. Nota 11 foi a que o paciente atribuiu a ambas as crises. As duas crises aconteceram quando o avião estava pousando, de um lado só da cabeça e com lacrimejamento e corrimento nasal do mesmo lado.
Esses casos têm sido pouco descritos na literatura médica, mas acredita-se que o fenômeno seja bem mais comum do que parece. A classificação internacional de cefaléias reconheceu na sua última edição a cefaléia da altitude, condição que define a dor de cabeça que algumas pessoas vivenciam quando atingem locais de grande altitude. Entretanto, os casos descritos até o momento sugerem que em breve deverá ser incluída uma nova entidade que é a dor de cabeça associada à MUDANÇA de altitude. Já foi descrito um caso em Portugal em que o paciente apresentava os sintomas durante a descida do avião, mas também toda vez que descia de carro uma montanha de dois mil metros de altitude.
Não há como prevenir o derrame cerebral.
Mito. Quando uma pessoa está tendo um derrame cerebral, um vaso sangüíneo do cérebro esta sendo obstruído ou rompido naquele momento, e uma parte do cérebro está por ser destruída. O derrame cerebral é mais comum entre as pessoas que têm hipertensão arterial, diabetes, colesterol alto, doenças do coração e naqueles sedentários, que fumam e usam muito álcool. Calcula-se que o indivíduo que identifica e trata um desses fatores de risco reduz seu risco de AVC pela metade. Mais importante ainda é o fato que esse mesmo indivíduo que adota hábitos de vida saudáveis é capaz de influenciar as pessoas ao seu redor a assumirem também esses bons hábitos. Saúde é mesmo contagiante!
O derrame cerebral está se tornando menos comum.
Verdade, mas só nos países ricos. Nas últimas quatro décadas (1970-2008), a incidência de derrame cerebral diminuiu em 42% em países ricos e aumentou mais de 100% em países de baixa e média renda, sendo que o Brasil se encaixa nesse último caso. Na última década, a incidência de derrame cerebral em países de baixa e média renda ultrapassou pela primeira vez a dos países ricos (20% maior).
A cidade de Joinville-SC não acompanha essa tendência dos países de baixa e média renda. Num intervalo de dez anos (1995-2006) houve uma redução relativa de um terço na incidência e mortalidade por derrame cerebral e na sua taxa de fatalidade. A redução da incidência de derrame cerebral sugere que a população recebeu mais assistência primária e melhores ações preventivas: controle de pressão alta, diabetes, colesterol, redução do tabagismo, etc. A redução da incidência na mortalidade reflete, em parte, um melhor atendimento em nível hospitalar. Os indicadores demonstrados são comparáveis aos de países ricos.
Derrame cerebral é coisa só de gente velha.
Mito.
O problema é mais comum entre os idosos, mas acontece também entre os jovens, muitas vezes por malfomações congênitas dos vasos sanguíneos do cérebro, problemas da coagulação, doenças do coração e por consumo de sustâncias como cigarro, cocaína e crack.
Todo tipo de pílula anticoncepcional ou reposição hormonal aumenta risco de derrame cerebral entre as mulheres?
Mito. No caso da pílula anticoncepcional, as pílulas sem hormônio estradiol podem ser vistas como seguras mesmo para as mulheres que já têm uma predisposição para eventos vasculares, como é o caso da enxaqueca com aura, enxaqueca em que a dor é precedida ou acompanhada de sintomas neurológicos como flashes na visão ou alteração da sensibilidade de um lado do corpo. Já a reposição hormonal para alívio dos sintomas da menopausa, o uso prolongado desse tipo de tratamento, além de não proteger a mulher da doença coronariana, aumenta o risco de derrame cerebral, trombose nas veias e câncer de mama. Há evidências também de que não há aumento do risco de derrame cerebral quando a dose do hormônio estradiol é baixa e quando usado sob a forma de adesivos na pele.
Medicações para controlar o colesterol diminuem o risco de derrame cerebral mesmo para quem tem o colesterol normal?
Em parte é verdade. O atual corpo de evidências aponta que indivíduos que apresentam fatores de risco vascular como o diabetes e a hipertensão arterial podem se beneficiar do uso das estatinas como prevenção de derrame cerebral, especialmente aqueles com mais de 65 anos de idade. E esse benefício existe mesmo que o indivíduo não tenha problemas com seus níveis de colesterol.
A erva Ginkgo biloba ajuda a prevenir o derrame cerebral.
Mito.
São mais de duas décadas de estudos clínicos com resultados que não justificam o uso do Ginkgo biloba paraprevenção de derrame cerebral ou da Doença de Alzheimer.Há estudos em que o uso da erva já foi até associado a um maior risco de derrame cerebral.
Ter uma visão otimista da vida protege-nos do derrame cerebral.
Verdade. Uma expectativa negativa do futuro pode influenciar a saúde através de mudanças nos hábitos de vida, mas também por fatores biológicos, como alterações na atividade do sistema nervoso autônomo.
Comer peixe ajuda a prevenir o derrame cerebral.
Verdade. Consumo de peixe reduz sim o risco de derrame cerebral. O importante é que esse efeito protetor deixa de existir quando o peixe é frito.
O consumo de café faz mal à saúde e pode até aumentar o risco de derrame cerebral?
Mito. O consumo de café está associado a menores índices de mortalidade, especialmente pela redução de infarto do coração e derrame cerebral. Quatro a cinco xícaras por dia traz mais benefícios que consumos menores.
Comer frutas e verduras todos os dias reduz o risco de derrame cerebral.
Verdade. O hábito de comer cinco porções de frutas e verduras por dia traz benefícios inequívocos à saúde dos vasos sanguíneos, com redução expressiva dos riscos de infarto do coração e derrame cerebral. Essa é a atual recomendação da Associação Americana do Coração.
Uma dose de álcool por dia reduz o risco de derrame cerebral.
Verdade. Nos últimos anos, uma série de estudos tem demonstrado que o consumo moderado de álcool reduz o risco de doenças cardiovasculares, incluindo o infarto do coração e o derrame cerebral. Isso significa que quem bebe pouco tem menos eventos cardiovasculares do que aqueles que não bebem. Entretanto, o consumo exagerado traz mais risco. Devemos entender consumo moderado como até duas doses de bebida por dia para homens e uma dose para mulheres. As pesquisas ainda apontam que esse efeito protetor do consumo diário e moderado deixa de existir quando a pessoa exagera na dose mesmo que seja por apenas um dia no mês.
Mesmo com essas evidências, não é recomendável que indivíduos que não bebem comecem a beber. Entretanto, entre aqueles que já têm o hábito de beber, estes devem beber moderadamente e de preferência vinho tinto.
Praticar exercícios físicos e manter o peso em dia são atitudes que nos protegem das doenças do coração, mas não do derrame cerebral.
Mito.
Atividade física regular associada ao hábito de não fumar e uma dieta inteligente é capaz de reduzir pela metade o risco de derrame cerebral. Não é pouca coisa não.
É só uma cabeça equilibrada em cima do corpo / Procurando antenar boas vibrações / Procurando antenar boa diversão.
Chico Science
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Cefaléia nada mais é que o termo técnico para a tão popular dor de cabeça. Esse sintoma tão comum pode ter inúmeras causas, desde as mais comuns, como a cefaléia do tipo tensional e a enxaqueca, assim como causas bem incomuns, como doenças neurológicas que a maioria das pessoas nunca nem ouviu falar.
A Sociedade Internacional de Cefaléia classifica a cefaléia em mais de 150 tipos e estima-se que cerca de 60% dos homens e 75% das mulheres apresentem pelo menos um episódio de dor de cabeça por mês. O tipo de cefaléia chamada atualmente de cefaléia do tipo tensional já teve diferentes nomes como cefaléia por contração muscular, cefaléia do estresse e cefaléia psicogênica. Essa multiplicidade de nomes reflete em parte os diferentes critérios diagnósticos utilizados ao longo dos anos e as diferentes formas de entender a causa desse tipo de dor de cabeça.
É difícil dizer o quanto a cefaléia do tipo tensional faz parte da vida de crianças e adolescentes, já que são heterogêneos os resultados de estudos epidemiológicos, mas chegam a mostrar uma prevalência que vai de 10 até 80%. No Brasil, um recente estudo epidemiológico envolvendo adultos das cinco regiões geográficas constatou uma prevalência de cefaléia do tipo tensional de 13%, um pouco maior entre os homens (15.4%), quando comparado às mulheres (9.5%) (Queiroz et al., Headache 2010). Chamou a atenção o fato de que os jovens na faixa etária entre 18 e 29 anos eram os que apresentavam o diagnóstico com maior prevalência.
As crianças costumam apresentar crises de cefaléia do tipo tensional já por volta dos sete anos, com crises que costumam durar cerca de duas horas e usam medicações para dor em média uma vez por mês. Uma pesquisa recentemente publicada pelo periódico oficial da Academia Americana de Neurologia (Robberstad et al., Neurology 2010) confirmou aquilo que o bom senso já indicava: adolescentes com hábitos de vida pouco saudáveis têm mais dores de cabeça, incluindo a cefaléia do tipo tensional. Os resultados mostraram que sedentarismo, sobrepeso e tabagismo estavam associados de forma independente à freqüência de dor de cabeça experimentada pelos adolescentes. Além disso, esses fatores tinham efeito aditivo: os que apresentavam dois ou três fatores tinham mais dor de cabeça do que aqueles que possuíam apenas um deles.
Já é bem reconhecido que o estresse emocional é um dos fatores que mais desencadeiam crises de dor de cabeça e, de forma geral, qualquer atitude que promove um melhor estado de equilíbrio do corpo e da mente ajuda a evitar crises. Um sono regular deve fazer parte desta receita, e os pais podem ajudar muito quando impõem limites no tempo de exposição dos filhos às mídias eletrônicas. Para as crianças, brincar é fundamental. A rotina de mini-executivos que muitas delas enfrentam com seus múltiplos cursos não combina mito com um dia a dia sem dor de cabeça. O mesmo pode-se dizer da pressão psicológica que um adolescente vivencia para ter um resultado de sucesso no vestibular, pressão que muitas vezes já começa anos antes do início das provas.
É muito comum as pessoas que apresentam enxaqueca relatarem que costumam ter crises de dor de cabeça quando expostas a determinadas situações, mas pouco foi estudado até o momento no que diz respeito ao tipo de paciente que é mais suscetível a essas situações. Uma pesquisa acaba de ser publicada na última edição da revista Headache, periódico da Academia Americana de Cefaléia, e veio preencher parcialmente essa lacuna no conhecimento sobre a enxaqueca, condição que acompanha cerca de 20% das mulheres e 8% dos homens.
Duzentos pacientes consecutivos (172 mulheres) de um serviço americano especializado em dor de cabeça, e que apresentavam o diagnóstico de enxaqueca, responderam a um questionário que avaliava fatores desencadeantes de suas crises de dor de cabeça, também chamado de gatilhos de crises, além de outras características da enxaqueca.
Os resultados mostraram que 91% dos pacientes reconheciam ao menos um fator que desencadeava suas crises e 82.5% deles reconheciam múltiplos fatores. Os mais citados foram o estresse emocional (59%), privação ou excesso de sono (53.5%), alguns tipos de odores (46.5%) e jejum prolongado (39%). O clima, especialmente o calor, foi mencionado como um fator desencadeante por 19% dos voluntários e 18% identificavam algum alimento, sendo o chocolate, queijos e salsicha os mais lembrados. Outros gatilhos menos comuns foram a exposição à luz e ruídos fortes e o consumo de cafeína.
Entre as mulheres que apresentavam ciclo menstrual, 62% delas relataram que a menstruação era um gatilho de crises. Aquelas que apresentavam enxaqueca associada à menstruação, 67% responderam que suas crises no período menstrual eram mais fortes e duradouras, e também mais difíceis de passar após o uso de analgésicos. Um quarto das mulheres que apresentava enxaqueca apenas no período menstrual tinha ocasionalmente crises com duração superior a três dias, condição conhecida por estado de mal enxaquecoso. A freqüência de crises, assim como o tempo que a pessoa já apresentava o diagnóstico, não foram fatores que influenciaram a sensibilidade aos diferentes estímulos.
Os resultados da presente pesquisa são concordantes com estudos anteriores realizados em diferentes regiões geográficas, em diferentes climas, sugerindo que os gatilhos de crises não são muito diferentes nas diferentes regiões estudadas. A pesquisa reforça ainda a importância de se identificar os gatilhos de crises e tentar evitá-los quando possível, já que isso pode vir a colaborar de forma significativa no controle das crises. Vale ressaltar que não existe uma lista rígida de situações que devem ser evitadas, pois cada pessoa responde de forma diferente a cada uma delas.
A revista Neurology, periódico oficial da Academia Americana de Neurologia, acaba de publicar uma pesquisa apontando que adolescentes com maus hábitos de vida têm dores de cabeça com maior freqüência e que essa associação é mais forte nos casos de dor do tipo enxaqueca.
Cerca de seis mil noruegueses com idades entre 13 e 18 anos foram estudados através de avaliação clínica e de um questionário que abordava a prática de atividade física e a presença ou não de tabagismo. Os resultados mostraram que sedentarismo, sobrepeso e tabagismo estavam associados de forma independente à freqüência de dor de cabeça experimentada pelos adolescentes. Além disso, esses fatores tinham efeito aditivo: os que apresentavam dois ou três fatores tinham mais dor de cabeça do que aqueles que possuíam apenas um deles.
Enxaqueca é uma disfunção cerebral com forte componente genético e que sofre grande influência de fatores ambientais, já que vários estímulos são capazes de disparar as crises de dor de cabeça. A resposta a cada estímulo é muito individual e por isso é desejável que cada indivíduo identifique os fatores que provocam suas crises e tente evitá-los. Para alguns, o contato com a fumaça do cigarro representa um forte componente desencadeador. Quanto ao exercício físico, alguns portadores de enxaqueca até têm crises por ele provocadas, mas também é bem reconhecido que é um grande aliado para o controle de crises de enxaqueca. Sabe-se também que o sobrepeso está associado a crises de enxaqueca mais freqüentes e o presente estudo foi o primeiro a demonstrar que esse efeito ocorre também entre os adolescentes.
De uma forma geral, qualquer atitude que promova um melhor estado de equilíbrio do corpo e da mente pode ajudar a evitar crises de enxaqueca de quem sofre do problema. E esse problema não tem nada de pequeno. Cerca de 20% das mulheres e quase 10% dos homens têm enxaqueca e a Organização Mundial da Saúde a classifica como a 19ª doença que mais leva à incapacidade funcional das pessoas em países desenvolvidos. No caso da mulher, ela fica em 12º lugar.
Cefaléia nada mais é que o termo técnico para a tão popular dor de cabeça. Esse sintoma tão comum na população pode ter inúmeras causas, desde as mais comuns, como a cefaléia do tipo tensional e a enxaqueca, assim como causas incomuns, como doenças neurológicas que a maioria das pessoas nunca nem ouviu falar.
A Sociedade Internacional de Cefaléia classifica a cefaléia em mais de 150 tipos e estima-se que cerca de 60% dos homens e 75% das mulheres apresentem pelo menos um episódio de dor de cabeça por mês. A cefaléia realmente é um grande problema de saúde pública, e para se ter uma idéia, a Organização Mundial da Saúde classifica a enxaqueca como a 19ª doença que mais leva à incapacidade funcional das pessoas em países desenvolvidos, e no caso da mulher, ela fica em 12º lugar. No Brasil a situação não é muito diferente. Além disso, ela afeta até mesmo a economia de um país. Alguns estudos têm demonstrado que pessoas com enxaqueca perdem de 1 a 4 dias de trabalho por ano devido ao problema. Nos EUA, estima-se que o absenteísmo secundário à enxaqueca leva a um prejuízo de 8 bilhões de dólares ao ano.
Apesar do enorme impacto que a cefaléia tem sobre a vida da população, apenas uma minoria é diagnosticada corretamente e recebe tratamento apropriado. Um amplo trabalho de conscientização dessa importante condição clínica, voltado tanto aos pacientes como aos médicos, é fundamental para mudar esse cenário.
Quem tem enxaqueca nem sempre tem convicção de que a dor de cabeça é apenas uma das manifestações do problema. Essas pessoas têm mais chance de apresentar transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade, sintomas do labirinto, entre outras manifestações clínicas. Já há evidências também de que o sono das pessoas com enxaqueca é menos eficiente e uma pesquisa publicada na última edição do periódico especializado Journal of Neurology Neurosurgery and Psychiatry demonstra que a síndrome das pernas inquietas é um dos componentes que pode atrapalhar o sono de quem sofre de enxaqueca.
Essa síndrome é caracterizada por uma sensação de incômodo nas pernas, ou até mesmo nos braços, que provoca uma vontade irresistível de mexê-las. O problema afeta entre 5 a 15% da população geral e os sintomas são piores quando a pessoa se deita para descansar. Isso pode levar a uma piora da qualidade do sono, e para quem tem enxaqueca, esse é um fator que tem o potencial de piorar as crises de dor.
O presente estudo demonstrou que a síndrome das pernas inquietas é mais freqüente entre indivíduos com diagnóstico de enxaqueca (11.4%) do que em outros tipos de dor de cabeça. Além disso, os indivíduos com enxaqueca e síndrome das pernas inquietas apresentavam sintomas de enxaqueca mais severos. A causa dessa associação entre as duas condições? Uma forte hipótese é que ambas dividem a mesma herança genética que promove uma disfunção do sistema do neurotransmissor dopamina.
Apesar da maioria das pessoas que sofre de enxaqueca costumar ter uma ou duas crises de dor de cabeça por mês, a cada ano, cerca de 15% delas passam a apresentar crises quase diárias. Quando as crises ultrapassam a marca de mais de 15 crises mensais por três meses consecutivos, a enxaqueca deixa de ser classificada como enxaqueca episódica e passa a ser chamada de enxaqueca crônica. Uma pesquisa publicada na última edição do periódico Journal of Neurology Neurosurgery and Psychiatry reforça o conceito já bem reconhecido pela literatura médica de que a enxaqueca crônica é um problema que vai muito além das dores de cabeça.
Foram estudados mais de 12 mil americanos com o diagnóstico de enxaqueca, cerca de 80% do sexo feminino. Os indivíduos com enxaqueca crônica apresentaram indicadores de saúde piores do que aqueles com a forma episódica: tinham mais depressão, ansiedade, dor crônica, bronquite e asma, hipertensão arterial, diabetes, obesidade, e maior risco de doença coronariana e derrame cerebral. Além disso, os portadores de enxaqueca crônica apresentavam mais problemas no trabalho como o absenteísmo, uma maior chance de estarem desempregados e ainda uma menor renda familiar. Estudos anteriores já haviam evidenciado que os portadores de enxaqueca crônica têm menor produtividade no trabalho e menor qualidade de vida em família.
A Organização Mundial da Saúde classifica a enxaqueca como a 19ª doença que mais leva à incapacidade funcional. No caso da mulher, ela fica em 12º lugar. Apesar do enorme impacto que a doença tem sobre a vida da população, apenas uma minoria é diagnosticada corretamente e recebe tratamento apropriado. Um amplo trabalho de conscientização dessa importante condição clínica voltado tanto aos pacientes como aos médicos é fundamental para mudar esse cenário.
A enxaqueca faz parte da vida de uma em cada cinco mulheres e sua prevalência é três vezes menor entre os homens. Por ser tão comum e por ser geneticamente herdada, há uma tese de que ela deve corresponder a uma vantagem da espécie humana construída ao longo da evolução, como se fosse um alarme que faz doer a cabeça quando estamos expostos a situações que não combinam com a preservação da espécie (ex: privação de sono, jejum prolongado).
Por conta desse alarme, existe uma crença de que as pessoas com enxaqueca tenham um estilo de vida mais saudável, com menos excessos. Entretanto, um estudo publicado na última edição online da revista Neurology, periódico oficial da Academia Americana de Neurologia, demonstrou que as pessoas com enxaqueca têm uma maior chance de apresentar fatores de risco vascular como hipertensão arterial, diabetes e colesterol alto, condições que têm um componente genético, mas que também têm forte associação com hábitos de vida.
O estudo acompanhou mais de onze mil americanos e ainda mostrou que os portadores de enxaqueca têm maior risco de infarto do coração, doença arterial periférica e derrame cerebral, independente de apresentarem fatores de risco vascular. No caso do derrame cerebral, esse risco só foi maior naqueles com enxaqueca com aura, que é quando a enxaqueca é precedida ou acompanhada de sintomas neurológicos como flashes na visão ou alteração da sensibilidade de um lado do corpo.
Esses resultados reforçam ainda mais a idéia de que os médicos devem encarar a enxaqueca como uma condição que vai muito além da dor de cabeça. Ações de prevenção de outras condições clínicas que aumentam o risco vascular devem ser fortemente encorajadas. No caso das mulheres com enxaqueca com aura, essas devem ser orientadas a evitar o uso de pílulas anticoncepcionais que contenham o hormônio estradiol. Cigarro nem em pensamento. Uma questão ainda em aberto é se o tratamento adequado das crises de enxaqueca é capaz de reduzir o risco de doenças vasculares. Que melhora muito a qualidade de vida ninguém tem dúvida.
A cada ano, até 15% das pessoas com enxaqueca passam a apresentar crises quase diárias. Já conhecemos alguns fatores de risco modificáveis que aumentam o risco para a cronificação da enxaqueca: obesidade, distúrbios do sono, excesso de cafeína, tabagismo, eventos estressantes e dor crônica. Entretanto, nenhum fator tem tanto impacto como o uso excessivo de analgésicos. Os estudos epidemiológicos revelam que cerca de 3-4% da população mundial sofre de dor de cabeça diária, grande parte devido ao excesso de analgésicos. Seu consumo não deve exceder mais do que 2 vezes por semana. É um ciclo vicioso: quanto mais analgésicos, mais dor de cabeça. Entretanto, não é difícil imaginar que a divulgação desse problema contraria interesses comerciais de proporções gigantes.
Resolve-se o problema com a suspensão abrupta dos analgésicos e o início de um tratamento com medicação que recolocará a química cerebral no seu lugar certo e que deve durar pelo menos seis meses. Há evidências do benefício do uso de corticóides e/ou neurolépticos nos primeiros dias da “abstinência” dos analgésicos. Durante a retirada, deve-se evitar o uso de analgésicos associados a tranquilizantes, opióides, barbitúricos, cafeína, assim como mistura de analgésicos. Os anti-inflamatórios não hormonais são boas opções nesses casos.
Além do risco de cronificação da enxaqueca, o uso de analgésicos sem instrução médica pode levar a outros riscos, já que algumas medicações são contra-indicadas a depender do tipo de enxaqueca e dos antecedentes patológicos do indivíduo.
Enxaqueca não é coisa só de adultos. As crianças já podem apresentar este tipo de dor de cabeça, os meninos começando em média aos 7 anos e as meninas um pouco mais tarde, aos 11 anos. Quando as crises de enxaqueca passam a ser muito freqüentes, é indicado um tratamento que vai além dos analgésicos para aliviar a dor. O tratamento pode ser feito com o uso de medicações de uso diário, também chamado de tratamento profilático, que trabalhará a química cerebral para reduzir a freqüência e intensidade das crises. Entretanto, algumas pesquisas têm demonstrado que a mudança de certos hábitos de vida pode colaborar para o controle das crises de enxaqueca, especialmente nas crianças.
Uma pesquisa publicada na última edição do periódico Headache, jornal oficial da Sociedade Americana de Cefaléia, confirma que as crianças podem ter melhora significativa de suas crises ao evitar exposição direta do sol na cabeça, quando têm regularidade nos horários de dormir, acordar e se alimentar, e quando assumem uma dieta que evita alguns alimentos que costumam desencadear crises, entre eles: carnes processadas, queijos amarelos, chocolate, alimentos com glutamato (ex: miojo, molho Shoyu). O estudo ainda revelou que as crianças com menos de seis anos foram as que mais tiveram benefícios desses cuidados.
Esses resultados reforçam a prática que muitos médicos têm de tentar otimizar hábitos como sono e dieta das crianças antes da introdução de um tratamento medicamentoso. Essa é uma prática ainda controversa, mas uma recomendação inequívoca é a de que a criança deve evitar a exposição a estímulos que já foi reconhecido como fator desencadeante de crise no seu caso específico. Não existem listas de proibições que devem ser aplicadas de forma generalizada, mas não custa evitar aquilo que não faz bem à saúde das crianças num sentido mais amplo, como é o caso de um sono irregular.