Dor de cabeça é um problema que afeta cerca de 50% da população em todo o mundo e, em países como os Estados Unidos e o Canadá, estima-se que até um terço dessas pessoas jamais chegou a procurar um serviço médico para cuidar desse problema. A grande maioria acaba usando analgésicos sem orientação médica o que pode, em alguns casos, dificultar ainda mais o controle das crises de dor. No Brasil as coisas não são muito diferentes. É o que aponta uma pesquisa recém-publicada pelo Headache, periódico oficial da Sociedade Americana de Cefaléia.
Pesquisadores da Faculdade Pernambucana de Saúde, Universidade de Pernambuco e Instituto de Medicina Integral Fernando Figueira avaliaram 200 pacientes adultos atendidos em três diferentes Unidades Básicas de Saúde da cidade do Recife-PE. Aqueles que referiam ter apresentado pelo menos um episódio de dor de cabeça nos últimos 12 meses responderam a um questionário para melhor caracterização do quadro clínico.
Os resultados mostraram que 52% dos pacientes avaliados referiram ter apresentado dor de cabeça nos últimos 12 meses, mas apenas 10% haviam procurado um médico por esse motivo. O problema já acontecia em média há 10 anos e as mulheres representavam quase 80% dos pacientes. Como já esperado, os diagnósticos mais freqüentes eram os de cefaléia tensional episódica e enxaqueca, os tipos de dor de cabeça mais comuns em nível global.
Aqueles com cefaléia tensional quase não buscaram um médico para orientação, enquanto quase metade dos que tinham o diagnóstico de enxaqueca já havia procurado assistência médica. Além disso, aqueles que não foram atrás de assistência tinham níveis de redução da qualidade de vida por conta das dores não menos significativos do que os que procuraram ajuda.
A principal razão para a não ir ao médico foi o fato dos analgésicos conseguirem controlar as crises de dor, sendo que onze por cento disseram que era porque acreditavam que a dor era secundária a problemas como pressão alta, alterações emocionais e da visão. Essa é uma idéia muito arraigada em nossa cultura, mas essas não são nem de longe as principais causas de dor de cabeça.
Onze por cento desses pacientes que não buscaram ajuda apresentavam mais de 10 dias de dor por mês, resultados que são compatíveis com pesquisas que apontam que a condição de dores de cabeça quase diárias é mais comum no Brasil. Fatores que podem ajudar a explicar esse cenário são o fácil acesso a analgésicos sem prescrição médica e a falta de informação da população de que uma das principais causas de dor de cabeça crônica é o uso exagerado de analgésicos. São comuns em nosso meio os informes publicitários de analgésicos para dor de cabeça, mas não vemos campanhas que esclareçam que o tratamento em muitos casos necessita de uma medicação para prevenir as crises. Essas medicações não são os analgésicos. No presente estudo, mais da metade dos pacientes que não buscaram ajuda eram fortes candidatos a um tratamento profilático.
Os resultados são muito próximos aos de estudos anteriores realizados em Unidades Básicas de Saúde no estado de São Paulo.
4 comentários
11 dezembro, 2011 às 7:15 pm
Márcia
Há uns 2 meses senti dores muito fortes na cabeça. Depois dos mais prováveis remédios, saí às pressas para a capital (São Luís – MA). na consulta com o Neurologista, de cara ele disse que as dores eram decorrentes da Fibromialgia, e depois de muita insistência nossa, solicitou uma Angio tomografia. O exame concluiu que eu estava com pan sinusite (crônica, avaliada pelo Otorrino que consultei posteriormente). Porém, a Angio tomografia, diagnosticou também um aneurisma entre 2 a 4 mm, que só depóis da Angiografia (diga-se de passagem, que exame horrível!) ficou claro estar localizado no segmento oftálmico. Já sofro com a Fibromialgia há algum tempo e, quando a situação tá crítica, volto a tomar o Aitril e o Dolamin Flex. Sou muito ansiosa, levo uma vida pra lá de estressante, tenho 30 anos, 45 Kg, sou casada, tenho dois filhos (1 e 3 anos), não fumo, bebo raramente, PA entre 8/5 e 9/6… pergunto: Qual a verdadeira importância do meu caso? É realmente grave? As dores eram só da sinusite ou tinham a pequena parcela do aneurisma? E esse segmento oftálmico, quer dizer que vou ficar cega?
O médico me pediu que evitasse esforço físico, isso inclui carregar meus filhos no colo? Chega a ser tão grave assim?
Estou tentando levar uma vida normal e mostrar para as pessoas que estou levando este problema numa boa, mas estou muito preocupada com o meu futuro. Meus pais não estudados ainda não assimilaram bem o caso, acho que pensam não ter tanta importância… Tive um caso na família (uma tia, irmã do meu pai) que não resistiu à cirurgia e veio a óbito. Marquei minha cirurgia para março. O que devo fazer? Para controlar a Fibromialgia preciso de algum exercício… Quero fazer mais uma faculdade este ano… O que me diz?
12 dezembro, 2011 às 12:03 am
Ricardo Teixeira
Oi Márcia
Acho que se você está insegura quanto à importância da cirurgia, seria importante você voltar a discutir os prós e contras com o neurocirurgião ou até mesmo pedir uma segunda opinião. Para a fibromialgia, medicações podem ajudar, assim como inúmeras atividades que podem deixar sua mente em equilíbrio, como é o caso do exercício físico.
21 setembro, 2011 às 1:01 am
Será que algumas frutas são melhores que outras para prevenir o derrame cerebral? «
[…] Twitter Updates follow me on Twitter « Por que tantas pessoas sofrem de dor de cabeça e nem se queixam disso ao médico? […]
20 setembro, 2011 às 1:36 am
Leonardo Fontenelle
Esse fenômeno permeia todo o campo da saúde, ou seja, não é de forma alguma restrito às dores de cabeça. Em 2001, o New England Journal of Medicine publicou um artigo que, por sua vez, era a atualização de um clássico de 1961. Ambos tiveram resultados muito semelhantes.
Num mês qualquer, 80,0% das pessoas sentem alguma coisa, mas apenas 21,7% procuram um médico. Dessas 21,7%, 11,3% consultam um médico de atenção primária à saúde (como um médico de família e comunidade), e portanto apenas 10,4% para consultam algum especialista (como um neurologista). Em um mês qualquer, menos de 0,1% das pessoas são internadas em algum hospital de ensino, que é onde tradicionalmente os médicos aprendem a profissão.
Não importa o que a gente pense do assunto, na prática o dono da dor de cabeça é a pessoa, e não a gente (para quem não me conhece, também sou médico).
É a pessoa quem consulta o médico sobre o que fazer com a dor de cabeça, se e quando ela estiver preocupada ou achar que o médico tem algo de substancial para oferecer.
A autonomia das pessoas para cuidar da própria saúde é algo muito importante. Não dá para falarmos em letramento em saúde ao mesmo tempo em que criticamos as pessoas por não nos consultarem por qualquer sintoma. Mas, ao mesmo tempo, é como você disse: muitas pessoas usam medicamentos inapropriados, ou perdem a oportunidade de fazer uma profilaxia.
A propósito, você acredita que até hioscina as mulheres têm usado por aqui?