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Há poucos anos um paciente procurou-me com a queixa de duas crises de dor de cabeça muito fortes durante uma viagem de avião. Quanto à intensidade das crises, sempre pergunto aos pacientes em que nível eles classificam a dor numa escala de 1 a 10. Nota 11 foi a que o paciente atribuiu a ambas as crises. As duas crises aconteceram quando o avião estava pousando, de um lado só da cabeça e com lacrimejamento e corrimento nasal do mesmo lado. Semana passada outro rapaz queixou-se de sintomas idênticos.
Esses casos têm sido pouco descritos na literatura médica, mas acredita-se que o fenômeno seja bem mais comum do que parece. A classificação internacional de cefaleias reconheceu na sua última edição a cefaleia da altitude, condição que define a dor de cabeça que algumas pessoas vivenciam quando atingem locais de grande altitude. Entretanto, os casos descritos até o momento sugerem que em breve deverá ser incluída uma nova entidade que é a dor de cabeça associada à MUDANÇA de altitude. Já foi descrito um caso em Portugal em que o paciente apresentava os sintomas durante a descida do avião, mas também toda vez que descia de carro uma montanha de dois mil metros de altitude.
Hoje se discute se um novo tipo de cefaleia, a cefaleia do avião, deve ser incorporado à classificação internacional das cefaleias. Há uma série de cerca de 70 pacientes descritos com dor na hora do pouso, duração menor que 30 minutos, de um lado só da cabeça, sem outros sinais característicos da enxaqueca, como náuseas, e predomínio nos homens.