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O derrame cerebral, principal causa de morte em nosso país, é mais comum entre os idosos, mas tem acometido cada vez mais os jovens. Uma pesquisa realizada em Porto Alegre e Salvador revelou que 7.5% dos pacientes internados pela doença têm menos de 45 anos. Outro estudo, publicado na última semana pelo periódico da Academia Americana de Neurologia, aponta que nos EUA o derrame cerebral tem acometido cada vez mais os jovens, já chegando a contabilizar uma fatia de quase 20% de todos os casos.   

 

Não podemos dizer de forma inequívoca que as mulheres jovens sejam mais susceptíveis, já que os estudos que examinaram essa questão são conflitantes. Entretanto, elas têm alguns fatores de risco para derrame cerebral que os homens não têm e outros que elas apresentam de forma bem mais freqüente.  

 

Pílula anticoncepcional.

Já é bem reconhecido que o risco de derrame é maior entre mulheres que fazem uso de pílula anticoncepcional e esse risco é proporcional à concentração dos hormônios, especialmente o estradiol. O efeito da pílula sobre a chance de derrame também é maior entre mulheres com mais de 35 anos e naquelas com outros fatores de risco vascular como hipertensão arterial, dislipidemia, obesidade, tabagismo, enxaqueca com aura e algumas condições genéticas.

 

Gravidez.  O terceiro trimestre da gravidez e o puerpério são períodos em que a mulher tem mais chance de apresentar eventos vasculares, incluindo o derrame cerebral. As mudanças hormonais, na circulação e coagulação sanguínea podem responder por esse maior risco.

 

Enxaqueca com aura. Cerca de 25% das pessoas que sofrem de enxaqueca também apresentam sintomas que precedem as crises de dor de cabeça como por exemplo flashes visuais e formigamento de um lado do corpo. A esses sintomas dá-se o nome de aura e há inúmeras evidências de que a enxaqueca com aura aumenta a chance de derrame e o risco é ainda maior quando outros fatores de risco estão presentes. Vale lembrar que as mulheres têm três vezes mais enxaqueca que os homens.

 

A relação entre a enxaqueca e o derrame cerebral envolve uma complexa interação de particularidades do cérebro, vasos sanguíneos, coagulação, e até mesmo do coração de que tem enxaqueca.  Os derrames costumam ocorrer mais nas regiões posteriores do cérebro e nos enxaquecosos com crises mais freqüentes. O risco é ainda maior quando existem outros fatores como uso de pílula anticoncepcional, dislipidemia, hipertensão arterial e obesidade.

 

 

 

 

 

A enxaqueca, também conhecida como migrânea, é uma disfunção cerebral com reconhecido componente genético. Indivíduos que têm familiares com enxaqueca têm mais chance de apresentá-la, mas nem sempre. As crises de enxaqueca podem se iniciar já na infância, mas é mais freqüente entre os 25 e 55 anos, a fase de vida economicamente mais produtiva do indivíduo.

 

A enxaqueca afeta cerca de 20% das mulheres e é três vezes mais comum que nos homens. A dor de cabeça costuma ser forte, unilateral, de caráter latejante, com piora às atividades rotineiras, freqüentemente associada a náuseas, intolerância à luz, som e odores. As crises habitualmente duram entre 4 e 72 horas.

 

Menstruação. Cerca de 50-60% das mulheres com enxaqueca apresentam crises durante a menstruação e isso está associado ao súbito declínio dos níveis do hormônio estrogênio nessa fase do ciclo menstrual. Além disso, até 20% das mulheres com enxaqueca tem crises somente no período perimenstrual. O primeiro dia antes da menstruação é o dia em que a mulher tem mais chance de ter uma crise. Um pouco mais de 15% das mulheres com enxaqueca tem sua primeira crise na época da sua primeira menstruação.

 

Pílula anticoncepcional. O uso de contraceptivos orais pode dificultar o controle das crises, e pílulas com menor concentração de estrogênio podem favorecer o controle, inclusive no caso da enxaqueca menstrual.

 

A mulher deve evitar o uso de pílula anticoncepcional com conteúdo de estrogênio, especialmente se tiver mais de 35 anos de idade, se for portadora de fatores de risco vascular (tabagismo, hipertensão arterial) ou se tiver história pessoal ou familiar de eventos vasculares (trombose). A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a enxaqueca com aura como categoria 4 na indicação do uso de pílula anticoncepcional com conteúdo de estrogênio, o que quer dizer que é uma condição de saúde em que os riscos do uso da pílula são inaceitáveis. Riscos, nesse caso, são os relacionados ao derrame cerebral.

 

O conceito de AURA é o de um aviso, um sinal de que uma crise de enxaqueca está por começar, mas também pode ocorrer já na fase da dor de cabeça. Entre 15 e 30% das pessoas que sofrem de enxaqueca podem experimentar o fenômeno, habitualmente como sintomas visuais (pontos luminosos, flashes em ziguezague, falhas no campo visual), geralmente durando menos de uma hora. A AURA pode se apresentar como formigamento de um lado do corpo, dificuldade para falar e raramente como perda de força de um lado do corpo. Algumas pessoas experimentam aura sem apresentar dor de cabeça.

 

Gravidez. Durante a gravidez, as crises costumam melhorar em 60-80% das mulheres. Deve-se evitar tratamentos profiláticos medicamentosos devido a potenciais conseqüências ao feto. Algumas medicações sintomáticas são contra-indicadas na gravidez.

 

Uma série de estudos demonstra que mulheres com enxaqueca apresentam maior risco de apresentar hipertensão arterial na gravidez (pré-eclâmpsia) e bebês com baixo peso. Além disso, também é maior o risco de eventos vasculares nesse período entre as enxaquecosas, e aí podemos incluir derrame cerebral, infarto do coração e tromboembolismo pulmonar.

 

Lactação. Após o parto, as crises voltam a piorar em até 50% das mulheres no primeiro mês. Há evidências de que a amamentação confere proteção às crises nessa fase.

 

Menopausa.  Até 80% das mulheres apresentam melhora das crises de enxaqueca após a menopausa espontânea. Entretanto, por volta de 20% das mulheres começam a ter crises após os 50 anos, e raramente após os 60 anos. No caso da menopausa cirúrgica, há uma tendência de piora das crises de enxaqueca em dois terços das mulheres.

 

Já é consenso que a indicação de terapia de reposição hormonal [TRH] para a melhora de sinais e sintomas da menopausa deve ser restrita a mulheres com sintomas moderados a severos e utilizada pelo menor tempo e com mínimas doses possíveis. Essas recomendações são decorrentes do fato de que a TRH prolongada eleva o risco de câncer de mama, trombose nas veias e derrame cerebral. No caso da enxaqueca, mesmo a com aura, a TRH com doses baixas de estradiol pode ser considerada.

 

 

 

 

 

Ouço às vezes no consultório jovens dizendo coisas como: “Já fiz check up com o cardio, com o gastro, agora só falta o neuro”.  Mas afinal, que tipo de check up as pessoas realmente devem fazer?

 

Para quem não tem sintomas, ou qualquer doença conhecida, exames como PSA (antígeno prostático), tomografia das artérias coronárias, raio-x ou tomografia de pulmão têm sido colocados em xeque. Mamografia a partir dos 40 ou 50 anos? Testes genéticos que podem demonstrar uma maior chance de desenvolver doença de Alzheimer no futuro? Todo mundo poderia fazer exame para descartar aneurisma cerebral? Qual é o custo benefício?

 

Resultados falso-positivos levam à ansiedade, novos exames que não raramente são invasivos e, por vezes, até cirurgias desnecessárias. A isso se dá o nome de iatrogenia que é a contra-mão do que o pai da medicina Hipócrates deixou como princípio ético – primum non nocere (em primeiro lugar, não fazer mal). Check ups para pessoas assintomáticas só devem ser realizados quando existem evidências de que os benefícios são maiores que os danos. Isso não quer dizer que as pessoas devem deixar de ir ao médico ou ao dentista pelo menos uma vez ao ano, especialmente após os 40 anos.

 

 

Nos tempo de hoje, os médicos já não precisam cuidar só dos doentes, mas também das pessoas saudáveis. Estamos sempre vulneráveis a sermos rotulados como portadores de alguma disfunção ou transtorno.  

 

Veja abaixo algumas diretrizes de check up de diferentes sistemas do nosso corpo:

MAMA (mulheres) Auto-exame mensal.Após os 40 anos: exame clínico da mama e mamografia anualmente. Mulheres com alto risco (>20% de chance de desenvolver a doença ao longo da vida), podem discutir o custo-benefício da ressonância magnética e ultrasonografia.
COLON E RETO Após os 50 anos: sangue oculto nas fezes anualmente e retossigmoidoscopia a cada 5 anos ou colonoscopia a cada 10 anos. Se houver história de câncer de cólon na família, o sreening deve iniciar após os 40 anos (colonoscopia e testes genéticos).
COLO UTERINO (mulheres) Papanicolau anualmente (discutir custo-benefício do teste DNA HPV)
ATEROSCLEROSE Score de Frahmingham anualmente. Score intermediário (> 10%) : indicado teste de esforço.

Após 55 anos se apresentar qualquer fator de risco (hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, dislipidemia, história familiar, síndrome metabólica):  Ecodoppler de carótidas com espessura íntima média ou Score de Cálcio Coronariano pela tomografia computadorizada a cada 5 anos. Avaliação oftalmológica (retina) e US para descartar aneurisma de aorta abdominal  após 60 anos.

Cavidade oral:Visita ao dentista semestralmente.Olhos:Avaliação periódica com oftalmologista – anual a partir dos 45 anos de idade.Ossos:Densitometria óssea a partir dos 65  e a partir dos 60 anos se houver fatores de risco para osteoporose (ex: uso de corticóide, tabagismo).Pele:Avaliação dermatológica ao aparecer manchas, pintas, feridas inéditas.Estômago – Esôfago:Endoscopia digestiva alta  em caso de dificuldade para engolir ou dispepsia sustentada ou associada a outros sintomas / sinais (ex: perda de peso, anorexia, anemia).Tiróide: US de tiróide é recomendado para pacientes de alto risco (história familiar de câncer de tiróide ou de irradiação) e quando há nódulo palpável, bócio ou linfonodos suspeitos. (AACE 2006).Pulmão: Mesmo com história de tabagismo, a ACCP (2007) não recomenda screening.

Abdome, linfonodos: PET/CT de corpo inteiro não é recomendado como screening (SNM 2007). US de abdome pode ser realizado para avaliação periódica do fígado, vesícula, pâncreas, e rins.  

Sistema genito-urinário: Exame de urina anualmente. US de pelve via abdominal pode ser realizado  para avalaiação periódica de ovários, útero e bexiga. A realização de US transvaginal e CA 125 anual para screening de câncer de ovário é controverso, mesmo em mulheres com história familiar da doença.

PROTEJA SEU CÉREBRO E MANTENHA-O BEM AFIADO

– Durma bem

– Pratique exercícios físicos moderados pelo menos 30 minutos 5 vezes por semana. Evite a exposição solar entre as 10:00h e 16:00h.

– Controle os fatores de risco vascular (ex: tabagismo, pressão alta, diabetes, colesterol, etc)

– Mantenha seu peso ideal

– Equilibre o trabalho com o lazer

– Adote a Dieta Mediterânea na sua vida:  coma pelo menos 5 porções diárias de frutas / vegetais, dê preferência aos grãos integrais, evitando os refinados, e dê preferência às gorduras insaturadas (azeite). Limite o consumo de carnes vermelhas ou processadas (ex: defumados), e o uso de álcool a uma dose por dia. (dê preferência ao vinho tinto). Inclua o peixe na sua dieta pelo menos 2 vezes na semana, especialmente o atum, sardinha e salmão.

ESSAS SÃO ATITUDES QUE, ALÉM DE FAZEREM  BEM AO SEU CÉREBRO,PREVINEM A ATEROSCLEROSE E O CÂNCER

 

 

 

 

 

A teoria da evolução defende a tese que nós humanos chegamos até aqui com o cérebro que temos pelo menos em parte graças ao nosso padrão de alimentação. Há uma série de evidências paleontológicas que nos aponta que existe uma relação direta entre acesso ao alimento e tamanho do cérebro, e que mesmo pequenas diferenças nesse acesso podem influenciar a chance de sobrevivência e o sucesso reprodutivo. Entre os hominídeos, pesquisas mostram que o tamanho do cérebro está associado a diversos fatores que em última instância refletem o sucesso em se alimentar como é o caso da capacidade de preparar alimentos, estratégias para poupança de energia, postura bípede e habilidade em correr.

 

O consumo de ácidos graxos da família Ômega 3 é a mais estudada interação entre alimento e a evolução das espécies. O ácido docosahexanóico (DHA) pode ser considerado o ácido graxo mais importante para o cérebro, já que é o mais abundante nas membranas das células cerebrais e são considerados essenciais por não serem produzidos pelo organismo humano, que precisa obtê-los por meio de dieta. Acredita-se que o consumo de Ômega 3 teria sido fundamental para o processo de aumento na relação peso cérebro/ peso corpo, fenômeno conhecido como encefalização, ou seja, aumento progressivo do tamanho do cérebro em relação ao corpo ao longo do processo evolutivo. Estudos arqueológicos apóiam essa hipótese, já que esse processo de encefalização não ocorreu enquanto os hominídeos não se adaptaram ao consumo de peixe.

Deficiencia de Ômega 3 está associada a uma série de transtornos neuropsiquiátricos, como é o caso da depressão e transtorno bipolar, esquizofrenia, transtorno de déficit de atenção e dislexia.

Dietas ricas em Ômega 3, ou até mesmo na forma de suplementos alimentares, são capazes de melhorar o aprendizado e memória de crianças e ainda reduzem o risco de desenvolver depressão e demência. Pode ainda facilitar o controle da epilepsia e da esclerose múltipla.

 

 

Esta semana, um estudo inédito conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia demonstrou que as pessoas que consomem chocolate de forma frequente têm um menor índice de massa corporal. Parece bem paradoxal, hein? Fica mais magro quem come mais chocolate?

 

Participaram da pesquisa mais de mil voluntários com idades entre 20 e 85 anos (média de 57 anos) que responderam a questionários para avaliação do estado de humor, padrão de atividade física e dieta, incluindo o consumo de chocolate.

 

Os resultados mostraram um consumo médio de chocolate nessa população de duas vezes por semana e atividade física vigorosa numa média de três vezes por semana. A ingestão calórica foi maior entre aqueles que comiam mais chocolate, mas mesmo assim eles se mostraram mais magros. Essa associação não pôde ser explicada por diferenças no padrão de atividade física. Além disso, quanto maior o consumo de chocolate, maiores as pontuações na escala de depressão, fato que já havia sido demonstrado numa publicação anterior.

 

Já tínhamos boas evidências de que o consumo de chocolate, especialmente aqueles com alta concentração de cacau, traz alguns benefícios à saúde, como um melhor controle da pressão arterial e dos níveis de colesterol, assim como a promoção de uma melhor sensibilidade à insulina, o que potencialmente reduz o risco de diabetes. Um estudo chegou a mostrar uma maior longevidade associada ao consumo de chocolate.

 

O cacau é muito rico em flavonóides, substâncias fartamente encontradas nos vegetais e que promovem o bom funcionamento dos vasos sanguíneos e do nosso metabolismo. Essas substâncias são as mesmas que fazem a boa fama dos chás verde e preto e da casca das frutas vermelhas. Pesquisas recentes em modelos animais têm apontado efeitos positivos desses flavonóides, especificamente a epicatequina, sobre o volume e desempenho muscular, além de redução do peso mesmo sem qualquer mudança no padrão da atividade física ou da ingesta calórica.     

 

 

 

Principal recado da pesquisa.

Não só a quantidade, mas também a QUALIDADE das calorias podem fazer a diferença no controle do peso.

 

 

Referência: Arch Intern Med. 2012;172(6):519-521

 

 

 

Esta semana, um estudo envolvendo mais de 120 mil voluntários seguidos por até 28 anos foi publicado pelo Archives of Internal Medicine (Associação Americana de Medicina) e demonstrou de forma contundente que o consumo de carne vermelha está associado a uma menor longevidade e maior risco de doenças cardiovasculares e câncer. Já tínhamos boas evidências de que carne vermelha não faz bem à saúde, mas esse estudo, além de ser o mais robusto até então, demonstrou de forma inédita que a substituição da carne vermelha por outras fontes de proteína fez as pessoas viverem mais.

 

Calcula-se que 11-16 % das mortes poderiam ser evitadas se as pessoas comessem menos carne vermelha, e a redução do risco de mortalidade por doenças cardiovasculares poderia chegar a 21%. As carnes vermelhas contêm grande quantidade de gordura saturada que por sua vez está associada ao aumento dos níveis de colesterol, da pressão arterial e do risco de câncer. As carnes vermelhas ainda possuem reconhecidos compostos carcinogênicos, que podem ser ainda mais concentrados nas carnes processadas.  Na presente pesquisa, os riscos do consumo das carnes processadas (ex: salsicha, lingüiça) foi ainda maior. 

 

Não é o caso de radicalizar e recomendar que todo mundo adote a dieta vegetariana. Limitar o consumo de carnes vermelhas e processadas a menos de 10% das calorias diárias já é o suficiente. Nesse sentido, dietas com altos teores de carne vermelha como fonte de proteína (ex: dieta do “Dr. Atkins”) não garantem bons resultados à saúde quando se pensa no longo prazo.

 

 

Para terminar, vale a pena lembrar que a limitação do consumo de carne vermelha tem o potencial de conter o desflorestamento e a emissão de gás metano. Geralmente é assim. O que faz bem ao homem, também faz bem ao planeta. A ameaça das mudanças climáticas não está batendo à nossa porta. Já entrou e sentou-se à mesa com nossos filhos e netos. Se não tomarmos medidas efetivas para combater o problema, chegaremos a uma situação de injustiça intergeracional, ou seja, as novas gerações pagarão caro por aquilo que não tiveram qualquer responsabilidade.

 

 

 

Fatores psicológicos como fatalismo podem fazer a diferença no risco de uma pessoa vir a desenvolver um derrame cerebral. Essa é a conclusão de um estudo recém-publicado pelo periódico Stroke da Associação Americana de Cardiologia.

 

Cerca de 700 americanos internados por terem sido acometidos por derrame cerebral foram submetidos a uma entrevista com escalas que avaliam o estado psicológico antes do derrame cerebral, com ênfase no grau de otimismo, fatalismo, espiritualidade e sintomas depressivos.

 

Os resultados apontaram que um maior componente de fatalismo esteve associado ao risco de morte e à chance de um novo derrame cerebral. A escala que avalia o fatalismo aborda três diferentes dimensões: 1) pré-determinismo – percepção de que a saúde é uma questão de destino e que não há o que fazer para mudar; 2) sorte – tendência a vincular o estado de saúde à sorte; 3) pessimismo – expectativas negativas quanto ao futuro. A mesma associação com mortalidade e chance de recorrência do derrame cerebral foi demonstrada no caso de sintomas depressivos. Além disso, a influência do fatalismo sobre a mortalidade foi maior entre os pacientes que não apresentavam sintomas depressivos.

 

Esse é o primeiro estudo a associar o componente de fatalismo com o prognóstico de um derrame cerebral. O impacto negativo do fatalismo já havia sido demonstrado em condições como o câncer, doenças cardiovasculares, diabetes e comportamentos de risco. A hipótese que melhor explica essa relação é uma pior aderência a tratamentos propostos e maior dificuldade em assumir hábitos de vida saudáveis.

 

 

 

 

14 de novembro. Dia mundial do Diabetes. O diabetes mata uma pessoa a cada 8 segundos e não discrimina. Ele acomete mulheres e homens, jovens e adultos, ricos e pobres. Em muitos casos, o cérebro também perde desempenho.

 

O impacto do diabetes sobre a função cerebral é maior em duas fases da vida: durante o desenvolvimento cerebral na infância assim como na velhice, quando o cérebro passa por alterações degenerativas. O diabetes é um dos reconhecidos fatores de risco para o transtorno cognitivo leve dos idosos, assim como para a demência vascular e a Doença de Alzheimer. Fora desses períodos chamados críticos, os efeitos da doença costumam ocorrer preferencialmente entre aqueles que apresentam complicações vasculares como, por exemplo, a retinopatia, doença coronariana e complicações renais. 

 

A influência do diabetes sobre o funcionamento cerebral vai além do comprometimento dos vasos sanguíneos, pois há evidências de que a doença pode promover alterações cerebrais semelhantes às encontradas entre indivíduos com a Doença de Alzheimer, possivelmente decorrente do distúrbio de homeostase da insulina. Já sabemos que a insulina otimiza o consumo de glicose pelos neurônios e colabora para a formação de novas sinapses e para a modulação das mesmas. Na Doença de Alzheimer, a concentração e atividade desse hormônio no cérebro são reduzidas e já existem resultados bastante promissores do seu uso por via intranasal para o tratamento dessa patologia.

 

Para um desenvolvimento e envelhecimento cerebral saudável, devemos a todo custo evitar o desenvolvimento do diabetes. Atividade física regular e a manutenção do peso em dia é o dever de casa básico. Para quem tem história familiar da doença, o recado deve ser levado ainda mais a sério, pois o risco é duas a quatro vezes maior que na população geral. E para aqueles que já têm o diagnóstico, o dever de casa é o mesmo, acrescido de um controle rigoroso da doença.

 

 

 

 

 

Insônia aumenta o risco de infarto agudo do miocárdio (IAM). Essa é a conclusão de um grande estudo recém-publicado pelo periódico da Associação Americana de Cardiologia, Circulation.

 

Mais de 50 mil noruegueses foram acompanhados por 11 anos e as conclusões foram as seguintes:

 

– os voluntários que, no início do estudo, relataram ter dificuldade quase diária para induzir o sono, apresentaram um risco de IAM 45% maior quando comparados àqueles sem essa queixa;

 

– quando a queixa foi dificuldade em manter o sono quase toda noite, o risco de IAM foi 30% maior e, no caso de acordar mais do que uma vez por semana com sensação de sono não reparador, a chance de IAM aumentou em 27%;

 

– o risco de IAM foi cumulativo, ou seja, quanto mais sintomas de insônia, maior o risco.

 

Estima-se que cerca de um terço das pessoas apresente pelo menos um sintoma de insônia. É uma condição fácil de ser diagnosticada e tem várias opções de tratamento disponíveis. É bom saber que nem o coração aprova uma vida sem dormir direito!

 

 

 

Maçã e pêra parecem ser as melhores frutas para a prevenção de derrame cerebral.  Essa é a conclusão de um estudo holandês recém-publicado no periódico Stroke da Associação Americana do Coração.

 

Já é bem reconhecido que o consumo de pelo menos cinco porções diárias de frutas e vegetais é uma das atitudes que podem ajudar a prevenir doenças vasculares do coração e do cérebro. No presente estudo, mais de 20 mil voluntários com média de idade de 41 anos foram acompanhados ao longo de 10 anos. O padrão de alimentação foi analisado através de um questionário em que as frutas e vegetais eram classificados em quatro grupos:

 

Verde. Ex: Brócolis, alface, repolho, espinafre

Alaranjado / Amarelo. Ex: Frutas cítricas, cenoura

Vermelho / Roxo. Ex: Uva, morango, tomate

Branco.  Ex: Pêra, maçã, pepino, alho, cebola

 

As frutas e vegetais BRANCOS foram os únicos que fizeram a diferença na redução do risco de derrame cerebral, possivelmente pela presença de um tipo de flavonóide chamado de quercetina. Batatas não foram incluídas nesse grupo de vegetais brancos por terem um valor nutricional muito diferente.

 

55% dos brancos eram compostos por maçãs e peras
         
10% de alho, cebola e alho porró

35% de banana, couve flor, chicória, pepino, cogumelos

Os resultados não devem ser transformados em dogma, pois outras pesquisas devem ser realizadas para confirmação. Por enquanto, é bem razoável que não se deixe de incluir na dieta pelo menos uma porção ao dia de vegetais e frutas de cada uma das quatro cores.

 

 

 

 

Uma pesquisa apresentada esta semana no Congresso da Sociedade Européia de Cardiologia em Paris, e publicada no British Medical Journalaponta que o chocolate realmente é um alimento amigo do coração e do cérebro.

 

Pesquisadores ingleses e colombianos analisaram os estudos mais relevantes que tenham testado o impacto do consumo do chocolate sobre a saúde vascular, o que significou a apreciação de sete pesquisas conduzidas nos Estados Unidos e Europa que envolveram mais de cem mil pessoas. Os resultados mostraram que as pessoas que consomem mais chocolate têm um risco relativo de doenças do coração 37% menor, 31% e 29% menor no caso do derrame cerebral e diabetes.

 

Por essa análise, não foi possível detectar diferenças entre os diversos tipos de chocolate. Entretanto, as evidências apontam que o que há de mais nobre no chocolate, pelo menos do ponto de vista de saúde, não é nem o leite, nem a gordura, nem o açúcar, mas sim o cacau com seus fatores anti-oxidantes e anti-inflamatórios.

O cacau é muito rico em flavonóides, substâncias fartamente encontradas em alguns vegetais e que promovem o bom funcionamento dos nossos vasos sanguíneos. Essas substâncias são as mesmas que fazem a boa fama dos chás verde e preto e da casca das frutas vermelhas, só que o cacau apresenta uma concentração especialmente generosa do subtipo flavanol que ultimamente tem sido apontado como o componente que mais tem efeito na nossa saúde vascular.

Sabemos hoje que o consumo de chocolate com altas doses de flavanols – leia-se CHOCOLATE AMARGO! – promove uma série de efeitos benéficos ao nosso corpo: 1) aumento dos níveis de óxido nítrico, considerado um dos principais combustíveis para a saúde dos nossos vasos sanguíneos; 2) redução da agregação das plaquetas, ação que é igual à da aspirina; 3) aumento dos níveis do HDL – nosso colesterol bom – entre outras ações antioxidantes; 4) redução de marcadores de inflamação – lembrando que aterosclerose é igual a inflamação; 5) redução da resistência à insulina, facilitando sua ação nas células; 6) aumento do fluxo sanguíneo periférico (nos membros) e nas artérias do coração; 7) redução da pressão arterial; 8) aumento do fluxo sanguíneo cerebral e/ou atividade neuronal durante uma tarefa cognitiva. E os efeitos chegam até à pele, com aumento de sua microcirculação sanguínea e maior nível de fotoproteção.

* Não custa lembrar que 100g de chocolate tem cerca de 500 calorias. Chocolate  em excesso pode colaborar para um quadro de obesidade. Nesse caso, os benefícios do chocolate vão por água abaixo.

 

 

 

Nos últimos cinco anos, uma série de estudos foi publicada sugerindo que uma incompetência do fluxo sanguíneo venoso no cérebro poderia ser o pontapé inicial para o desenvolvimento da esclerose múltipla. Essa história foi lançada por pesquisadores italianos, sob a liderança de Paolo Zamboni, e hoje constitui uma das maiores polêmicas da neurologia clínica.

 

Essa suposta insuficiência do sistema venoso cerebral devido a estreitamentos ou incompetência de válvulas levaria a um estado de aumento da pressão venosa que por sua vez provocaria invasões microscópicas de sangue no cérebro. Esse processo todo seria a razão das bem reconhecidas alterações inflamatórias ao redor das pequenas veias dos portadores de esclerose múltipla.

 

A confusão começou mesmo quando Zamboni e seus parceiros propuseram que a correção via cateterismo dessas anormalidades do sistema venoso cerebral poderia trazer benefícios na evolução da doença. As redes sociais acenderam o fogo e os pacientes passaram a demandar esse tipo de procedimento e vários centros ao redor do mundo começaram a disponibilizá-lo, mesmo sem evidências científicas satisfatórias. A Sociedade Européia de Radiologia Cardiovascular e Intervencionista emitiu um documento neste ano para modular a euforia da nova promessa, declarando que o procedimento ainda é totalmente experimental.

 

 

Os periódicos científicos em que os resultados de Zamboni foram publicados são de primeira grandeza, mas mesmo assim ainda não são suficientes para que esse tipo de tratamento seja indicado no mundo real. Pesquisas mais recentes têm colocado em xeque os achados iniciais, mostrando resultados discrepantes daqueles publicados por Zamboni. A última delas foi publicada esta semana. Essa é uma história que ainda vai render muitos capítulos.

 

 

 

 

 

O derrame cerebral ou acidente vascular cerebral (AVC) é a segunda maior causa de morte e a primeira causa de incapacidade física permanente no mundo. Os AVCs de etiologia isquêmica (AVCi) representam 70 a 80% dos casos, e portanto, são os principais alvos para o desenvolvimento de terapêuticas que visem a redução da mortalidade e incapacidade física decorrentes das doenças cerebrovasculares.

 

Como o AVCi decorre da obstrução de um vaso arterial cerebral, a melhor estratégia para alcançar um tratamento eficaz é a busca de métodos que permitam a desobstrução desta artéria antes que haja um grau de lesão cerebral irreversível. Desde a década de 1950 que isso vem sendo tentado, mas foi só no ano de 1995 que tivemos os resultados do primeiro estudo que mudou para valer a história do tratamento do AVCi na sua fase aguda. Tínhamos então a primeira forte evidência de que o uso de uma medicação por via endovenosa nas primeiras três horas do início dos sintomas era capaz de salvar vidas e reduzir a chance de seqüelas. Nesse primeiro estudo, foram excluídos pacientes com mais de 80 anos.

 

Muita coisa evoluiu nesses últimos 15 anos. Vários outros estudos foram realizados confirmando a eficácia do tratamento inclusive no caso de pacientes com mais de 80 anos. Nessa idade, é de se esperar que o prognóstico não seja tão bom quanto o de pacientes mais jovens. Entretanto, as pesquisas apontam cada vez mais que as complicações do tratamento, especialmente sangramento cerebral, não são maiores entre os octogenários.    

 

No caso de pacientes com mais de 80 anos, a indicação de qualquer tratamento sempre deve se feita de forma mais criteriosa. Isso não quer dizer que devam ser privados, somente pelo fator idade, da chance de receber um tratamento que pode mudar radicalmente o curso de suas vidas. Essa é a posição do Pacto AVC, projeto brasileiro para organização do atendimento emergencial do AVC e que tem apoio da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares. Essa também é a posição das recentes publicações da American Heart Association sobre o assunto.

 

Não custa lembrar que metade dos pacientes que sofrem um AVC tem mais de 75 anos e um terço deles já tem mais de 80.

 

* Esse post é um alerta aos médicos que atuam nas emergências assim como uma homenagem a um paciente muito querido que não recebeu o tratamento trombolítico,  já que tinha 84 anos.  Não pude ajudar, pois estava fora do país no dia do AVC.

 

 

 

Quando as pessoas pensam em derrame cerebral, uma imagem que comumente vem à cabeça é a de uma pessoa com seqüelas motoras. Entretanto, nem sempre as lesões vasculares cerebrais são tão graves assim, muitas delas acontecem sem chamar a atenção de ninguém e costumam ser chamadas de doença dos pequenos vasos cerebrais.

Quando se fala em lesões dos pequenos vasos que chegam a provocar um buraquinho no cérebro, também chamadas de lacunas, estudos com ressonância magnética revelam que cerca de 20% dos idosos apresentam tais lesões sem nunca ter apresentado sintomas. Quando se fala em lesões que só fazem pequenas cicatrizes no cérebro, essas estão presentes em até 90% dos idosos. MUITO FREQÜENTES, MUITO PEQUENAS, MAS NEM TÃO INOCENTES ASSIM.

Um estudo publicado esta semana pela revista Neurology, periódico oficial da Associação Americana de Neurologia, aponta que essas pequenas lesões reduzem SIM o desempenho cerebral dos idosos.

Cerca de 400 idosos de onze diferentes centros europeus, independentes funcionalmente e com algum grau de doença dos pequenos vasos cerebrais à ressonância magnética, foram acompanhados por três anos. Durante esse período, 18% dos voluntários apresentaram uma ou mais lesões cerebrais novas do tipo lacuna, que é quando há uma pequena cavitação. Esse grupo de indivíduos passou a apresentar menor velocidade e controle dos movimentos, assim como piora das funções executivas que incluem pensamento abstrato, capacidade de planejamento e na tomada de decisões. O volume total do conjunto de lacunas e de lesões sem cavitação foi inversamente relacionado à performance das funções executivas.    

O raciocínio habitual quando se fala em doença dos pequenos vasos cerebrais é o de que uma ou duas lesões realmente não costumam provocar sintomas, a não ser quando se localizam em algumas regiões muito específicas, também chamadas de áreas eloquentes. O presente estudo contraria esta idéia geral, ao mostrar que pequenas lesões podem fazer diferença independente da localização. Confirma, por outro lado, a noção de que quanto mais lesão, pior a função cerebral.

O cérebro que apresenta inúmeras dessas cicatrizes ou buraquinhos, esse sim começa a funcionar de forma bem ineficiente. Algumas pessoas chegam a apresentar dificuldades graves do pensamento e da marcha, e hoje em dia reconhece-se que essa seja a principal causa de déficit cognitivo entre os idosos. Existem fatores genéticos que determinam o quanto de lesões terá um cérebro que envelhece. Entretanto, é bem sabido que os conhecidos fatores de risco para aterosclerose (ex: hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, etc.) aumentam significativamente a chance de uma pessoa colecionar mais dessas lesões ao longo dos anos.

O que fazer para proteger nosso cérebro dessas lesões?  São as mesmas coisas que boa parte das pessoas sabe que são eficazes para reduzir o risco de um infarto do coração ou derrame cerebral: 1) não fumar; 2) praticar atividade física; 3) reduzir o estresse; 4) para quem tem doença do coração, alterações do colesterol, diabetes ou hipertensão arterial, tratar essas condições com preciosismo; 5) bebidas alcoólicas só se for com moderação; 6) dieta saudável e controle do peso. E no quesito dieta saudável, os peixes oleosos estão com a bola toda.

 

 

 

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Na última edição do periódico Archives of Internal Medicine, temos os resultados de uma pesquisa que ilustra bem um fenômeno que temos vivenciado de forma crescente à medida que os testes diagnósticos ficam cada vez mais sofisticados. Poderíamos chamar esse fenômeno de OVERTREATMENT, e o recado principal é que nem tudo no corpo que é diferente ou alterado responde a um tratamento. Pode ser que em muitas dessas situações, o melhor mesmo seja ficar quieto, não intervir.

 

Nesse estudo, os pesquisadores acompanharam mais de mil coreanos adultos e assintomáticos que foram submetidos a uma tomografia computadorizada das artérias coronárias, método que tem o poder de demonstrar o grau de aterosclerose. Mais de 20% dos voluntários tinham evidência de aterosclerose das coronárias e, após acompanhamento de um ano e meio, foi demonstrado que esses indivíduos estavam fazendo mais uso de aspirina e estatinas, foram mais submetidos a outros testes diagnósticos para doença coronariana e procedimentos de revascularização do coração. Entretanto, todo esse arsenal de medidas não reduziu o número de infartos do coração no período estudado.

 

A realização de tomografia das coronárias como check up ainda é visto como uma medida heterodoxa pela falta de evidências que demonstrem que os benefícios são maiores que os riscos de exames e procedimentos invasivos que seus resultados podem desencadear. Estudos mostram que as pessoas que têm sinais de aterosclerose nas coronárias têm mais chance de eventos cardíacos, mas isso não quer dizer que o tratamento desses pacientes tenha que ser diferente daqueles que não têm esse achado na tomografia.    

 

Recentemente, o mesmo periódico publicou outra situação de OVERTREATMENT. Dessa vez foi o screening dos níveis do aminoácido homocisteína. Altos níveis no sangue desse aminoácido têm sido associados a um maior risco de eventos vasculares, como o infarto do coração e o derrame cerebral, e é bem reconhecido que a suplementação de ácido fólico, uma das vitaminas do tipo B, reduz a quantidade do aminoácido no sangue. Entretanto, as pesquisas também demonstram que essa redução dos níveis de homocisteína pelo ácido fólico não é acompanhada de uma menor chance de eventos vasculares, câncer ou mortalidade.

   

Esses estudos chamam a atenção para o fato de que o tratamento de uma alteração de exame laboratorial não necessariamente garante benefícios à saúde. Outro exemplo que pode ilustrar essa questão é a relação entre a vitamina D e o cérebro. Uma série de estudos tem identificado que indivíduos com menores concentrações de vitamina D apresentam desempenho cerebral menos afiado. Essa é uma constatação que não quer dizer que exista uma relação causa e efeito e não sabemos ainda se a reposição da vitamina promove melhora das funções cerebrais.

 

 

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Minha grande amiga Dani, que nasceu e viveu em Brasília por 40 anos, agora está morando em outra capital e está impressionada com o tanto que os moradores de lá buzinam. Ela ficou se perguntando se esse excesso de ruído nas ruas não teria influência sobre a saúde das pessoas.

 

As pesquisas realizadas sobre esse assunto mostram resultados conflitantes, e por isso uma análise em conjunto dos oito principais estudos foi realizada por pesquisadores alemães e publicada na última edição do periódico especializado Noise & Health. Mais de 20 mil indivíduos fizeram parte desse estudo e a conclusão foi a de que a sensação subjetiva de incômodo causado pelo barulho das ruas mexe sim com a saúde das pessoas, aumentando de forma significativa o risco de hipertensão arterial e de forma quase significativa o risco de infarto do coração.

 

Já sabemos também que o risco de doenças do coração é duas vezes maior em quem trabalha em um ambiente com alto nível de ruído. A exposição a um exagero de barulho pode ser um fator estressante comparável ao estresse psicológico, podendo levar a alterações no sistema nervoso autônomo e endócrino que promovem a redução de calibre de pequenas artérias, aumentando a pressão arterial e o risco de angina e infarto do coração. 

 

É importante frisar que o nível de incômodo ao barulho varia muito de pessoa para pessoa e essa experiência é, a princípio, o fator mais relevante. Entretanto, há estudos que apontam maior risco de hipertensão arterial mesmo entre aqueles que se dizem não incomodados com o barulho, sugerindo que ruído em excesso mexe com o corpo e a mente mesmo que de forma inconsciente. Mais um exemplo disso é o fato de que uma noite de sono barulhenta aumenta a pressão arterial e a freqüência cardíaca. Além disso, as crianças, que podem parecer não se incomodarem tanto com o barulho, também são susceptíveis ao aumento da pressão arterial com ruídos em excesso.  Na verdade, as pesquisas revelam que as crianças se sentem incomodadas sim com o barulho.

 

Não é difícil imaginar que muito barulho também atrapalhe o desempenho cognitivo.  Entre adultos, há evidências de piora da memória e de funções executivas durante a exposição ao barulho e mesmo um pouco depois de sua suspensão. As crianças são ainda mais vulneráveis, já que estão em franco processo de desenvolvimento cognitivo e os estudos apontam que múltiplas dimensões da cognição são afetadas por um ambiente cronicamente barulhento, como é o caso da atenção, motivação, memória e linguagem, chegando ao ponto de entenderem menos aquilo que lêem.   

 

Essa alta exposição a ruídos pode levar a um comportamento mais agressivo, reduzindo a capacidade de cooperação, o que pode se refletir no trânsito como um círculo vicioso. Mais ruído, mais intolerância, mais buzina, mais intolerância, mais acidentes… Vale lembrar que as ruas mais barulhentas são aquelas com maior emissão de poluentes, que além de afetarem o sistema respiratório, também estão associados à exacerbação da aterosclerose e conseqüente aumento de doenças vasculares como o infarto do coração e o derrame cerebral.

 

A saúde do homem não deve ser medida só por sua genética, pelo quanto ele se movimenta e dorme e por aquilo que entra pela boca/nariz, mas também pelas experiências sensoriais. No que diz respeito àquilo que entra pelos ouvidos, penso não só em ruídos, mas também no conteúdo das interações sociais, na música e demais artes que se comunicam com som. A busca do equilíbrio dessas sonoridades merece todo o nosso empenho.

 

 

 

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Uma pesquisa publicada na última edição do periódico Journal of Behavioral Medicine aponta que o paciente quando visualiza seu problema por um método gráfico tem mais chance de seguir as recomendações médicas.

 

O estudo acompanhou 510 americanos com uma média de idade de 64 anos, assintomáticos e sem história de doença coronariana. Todos os voluntários foram submetidos a uma tomografia computadorizada do coração para avaliação das coronárias e o conteúdo de cálcio das artérias que reflete o grau de aterosclerose. Além disso, os voluntários passavam por uma consulta médica padronizada com duração entre 15 e 30 minutos em que o médico apresentava o resultado do exame mostrando as imagens, discutia os fatores de risco associados à aterosclerose e fazia recomendações de hábitos de vida para redução de risco.

 

Mais da metade dos indivíduos pesquisados (58%) apresentava calcificação das coronárias e, após seis anos de seguimento, foram os que mais tiveram mudanças comportamentais no sentido de reduzir os riscos de doença coronariana através de melhora da dieta, incremento da atividade física e limitação do consumo de álcool. Aqueles que apresentaram escores de cálcio mais altos foram os que mais mudaram os hábitos de vida.

 

A visualização do problema através da tomografia proporciona um melhor entendimento da doença aterosclerótica e pode ter sido o fator crítico para as mudanças comportamentais. Estudos anteriores já haviam demonstrado que a visualização pelo paciente da calcificação de suas coronárias está associada a uma maior aderência ao tratamento medicamentoso e melhor controle de condições como a pressão arterial e dislipidemia.

 

Na faculdade de medicina aprende-se que a impressão clínica, independente dos exames complementares, é a ferramenta mais soberana para um correto diagnóstico.  Entretanto, no mundo contemporâneo, não há como negar que existe uma cultura em que a tecnologia é vista como detentora da palavra final, da palavra de certeza. O médico sempre será um mediador imprescindível para que essa tecnologia marque gols a favor dos pacientes.

 

 

 

 

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A teoria da evolução defende a tese que nós humanos chegamos até aqui com o cérebro que temos pelo menos em parte graças ao nosso padrão de alimentação. Há uma série de evidências paleontológicas que nos aponta que existe uma relação direta entre acesso ao alimento e tamanho do cérebro, e que mesmo pequenas diferenças nesse acesso podem influenciar a chance de sobrevivência e o sucesso reprodutivo. Entre os hominídeos, pesquisas mostram que o tamanho do cérebro está associado a diversos fatores que em última instância refletem o sucesso em se alimentar como é o caso da capacidade de preparar alimentos, estratégias para poupança de energia, postura bípede e habilidade em correr.

 

O consumo de ácidos graxos da família Ômega 3 é a mais estudada interação entre alimento e a evolução das espécies. O ácido docosahexanóico (DHA) pode ser considerado o ácido graxo mais importante para o cérebro, já que é o mais abundante nas membranas das células cerebrais e são considerados essenciais por não serem produzidos pelo organismo humano, que precisa obtê-los por meio de dieta. Acredita-se que o consumo de Ômega 3 teria sido fundamental para o processo de aumento na relação peso cérebro/ peso corpo, fenômeno conhecido como encefalização, ou seja, aumento progressivo do tamanho do cérebro em relação ao corpo ao longo do processo evolutivo. Estudos arqueológicos apóiam essa hipótese, já que esse processo de encefalização não ocorreu enquanto os hominídeos não se adaptaram ao consumo de peixe.

 

Deficiencia de Ômega 3 está associada a uma série de transtornos neuropsiquiátricos, como é o caso da depressão e transtorno bipolar, esquizofrenia, transtorno de déficit de atenção e dislexia.

 

Dietas ricas em Ômega 3, ou até mesmo na forma de suplementos alimentares, são capazes de melhorar o aprendizado e memória de crianças e ainda reduzem o risco de desenvolver depressão e demência. Pode ainda facilitar o controle da epilepsia e da esclerose múltipla.

 

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Alimentos com altos teores de carboidratos e gorduras têm grande poder de estimular nossos centros cerebrais relacionados ao prazer e à sensação de nos sentirmos recompensados, promovendo a liberação de neurotransmissores como a dopamina, serotonina e a endorfina. Isso já explica em parte porque o chocolate é tão prazeroso. Mas não as razões não param por aí.

 

O chocolate ainda é rico em substâncias chamadas de aminas biogênicas (ex: cafeína, teobromina) que também têm alto poder de estimular o sistema de recompensa cerebral. Contém também a anandamida, substância que se liga aos mesmos receptores em que a maconha exerce seus efeitos no cérebro e ainda faz com que a anandamida produzida pelo nosso corpo tenha efeito mais duradouro. Triptofano também faz parte do chocolate, substância precursora do neurotransmissor serotonina, conhecido por muitos como um dos protagonistas da química da felicidade. Além disso, recentemente foi demonstrado que chocolate é capaz de reduzir os níveis de hormônios do estresse, tanto o cortisol quanto a adrenalina. Os voluntários do estudo consumiram 40g diários de chocolate AMARGO com teor de cacau de 74% por duas semanas.

 

Mas os efeitos vão muito além do prazer e da redução do estresse. Sabemos hoje que o consumo de chocolate AMARGO promove uma série de outros efeitos benéficos ao nosso corpo pelo seu alto teor de flavonóides, as mesmas substâncias que fazem a boa fama dos chás, frutas e verduras. Entre os inúmeros bons efeitos já descritos temos: 1) aumento dos níveis de óxido nítrico, considerado um dos principais combustíveis para a saúde dos nossos vasos sanguíneos; 2) redução da agregação das plaquetas, ação que é igual à da aspirina; 3) aumento dos níveis do HDL – nosso colesterol bom – entre outras ações antioxidantes; 4) redução de marcadores de inflamação – lembrando que aterosclerose é igual a inflamação; 5) redução da resistência à insulina, facilitando sua ação nas células; 6) aumento do fluxo sanguíneo periférico (nos membros) e nas artérias do coração; 7) redução da pressão arterial; aumento do fluxo sanguíneo cerebral e/ou atividade neuronal durante uma tarefa cognitiva. E os efeitos chegam até à pele, com aumento de sua microcirculação sanguínea e maior nível de fotoproteção.

 

Vale lembrar que não é fácil adaptar uma barra de chocolate todo dia em nosso cardápio devido ao seu alto valor calórico. A boa notícia é que muitos estudos revelaram efeitos positivos do chocolate AMARGO mesmo em baixas doses, como um a dois quadradinhos por dia.

 

 

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Nesta semana, o periódico JAMA publicou uma revisão dos estudos científicos que analisaram o risco de um ataque do coração após uma relação sexual. Num mesmo indivíduo, a chance de um infarto do coração é maior durante a atividade sexual ou imediatamente após. Entretanto, esse risco é muito pequeno, ou mesmo nem existe, entre pessoas que praticam atividade física regularmente.  Os resultados sugerem que existem corações não muito saudáveis por trás dessa associação entre sexo e infarto.

 

Nesta semana, pudemos ver também algumas notícias do tipo “Sexo esporádico aumenta o risco de ataque cardíaco”. Esse tipo de afirmação faz parecer que sexo pode fazer mal às pessoas saudáveis. O recado desta pesquisa é que as pessoas com maior risco de eventos cardíacos devem colocar o assunto sexo na pauta de discussão na consulta médica.

 

Na verdade, a ciência tem demonstrado de forma inequívoca que sexo faz bem à saúde, especialmente ao coração. Algumas pesquisas acompanharam indivíduos de meia idade e idosos por até 20 anos, e têm sido quase unânimes em mostrar que quanto maior a atividade sexual, menor a mortalidade, inclusive por infarto do coração.

 

 

 

 

** O persnoanagem acima, que não tenho dúvida que sou eu mesmo, estará presente todas as sextas-feiras e  é uma criação do Super-Ilustrador Didiu Riobranco 

Portifolio  http://didiuriobranco.blogspot.com/

 

 

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