A eficácia clínica da acupuntura para o tratamento da dor crônica tem sido demonstrada através de grandes estudos na última década. Os pesquisadores desenvolveram um tipo de acupuntura placebo, também chamada de sham acupuncture, em que o indivíduo acha que está sendo submetido ao tratamento verdadeiro, mas na verdade são agulhas que são colocadas em pontos aleatórios e em nível superficial. Já é bem reconhecido que o efeito da sham acupuncture existe e é até superior a alguns tratamentos convencionais para dor, mas é menor que a acupuntura verdadeira.
Uma pesquisa recém publicada pelo British Medical Journal joga um certo balde de água fria nos entusiastas do tratamento de acupuntura para síndromes dolorosas, demonstrando que grande parte do efeito alcançado é devido ao efeito placebo. Pesquisadores dinamarqueses realizaram uma metanálise dos grandes estudos em que houve comparação entre a acupuntura verdadeira e a acupuntura placebo (sham acupuncture). A acupuntura placebo foi moderadamente mais eficaz que o tratamento convencional para dor, superior em 10 pontos em uma escala de 100. Já a diferença de eficácia entre a acupuntura verdadeira e a acupuntura placebo foi bem menor, 4 pontos em uma escala de 100. Reconhece-se que efeitos menores que 10 pontos numa escala de 100 são considerados mínimos ou pequenos. Ou seja, os resultados da acupuntura verdadeira são quase os mesmos da acupuntura placebo, sugerindo que o maior componente de ação da acupuntura verdadeira se dá por efeito placebo.
A pesquisa é concordante com outras sete análises rigorosas do sistema Cochrane que concluíram que não existem evidências inequívocas, por questòes metodológicas, de que a acupuntura tem efeito analgésico. O presente estudo questiona as bases teóricas da acupuntura sem negar que o efeito placebo associado ao ritual do tratamento pode ser muito útil e até mesmo ético no auxílio de tantas pessoas que se sentem melhor com esse tipo de tratamento.
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Efeito placebo é muito mais do que pílula de farinha
5 comentários
31 janeiro, 2010 às 7:25 pm
Rodolfo Araújo
Olá Ricardo, obrigado pela visita e pelo elogioso comentário. Aproveito para sugerir dois outros textos onde abordo questões relativas à medicina:
Sobre Medicina Baseada em Evidências: http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2008/09/desafios-gravit.html
Sobre a importância da matemática na Medicina: http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2009/08/por-que-seu-medico-precisa-ser-bom-em-matematica.html
Os mais interessantes Experimentos em Psicologia: http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2009/06/experimentos-em-psicologia-introducao.html
Espero que goste! Um abraço, Rodolfo.
4 setembro, 2009 às 2:02 am
Rodolfo Araújo
O interessante é que, recentemente, o efeito placebo tem sido mais sentido nos estudos clínicos realizados pelos laboratórios. Especialmente nas drogas que atuam no Sistema Nervoso Central. Veja mais em http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2009/09/placebo-o-proximo-blockbuster-da-industria-farmaceutica.html
Atenciosamente, Rodolfo.
31 janeiro, 2010 às 3:25 pm
Ricardo Teixeira
Olá Rodolfo
Acho que falhei em não ter percebido um alerta de seu comentário. Sorry.
Gostaria de parabenizá-lo por seu texto irretocável sobre medicalização da saúde e a evolução do poder do placebo. http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2009/09/placebo-o-proximo-blockbuster-da-industria-farmaceutica.html
12 fevereiro, 2009 às 11:56 am
Elizabeth
Na mihna opinião e experiência com oito anos de formação em fisioterapia e dois em acupuntura, certifico que o equilíbrio das energias melhora o psico-
lógico inclusive favorecendo absorção medicamentosa que o paciente usa associada á acupuntura.
Porém, já é provado que o efeito no organismo é certo e comprovadamente
o método é eficaz em tratamento tanto paliativo e cura total em muitos casos. Isso só pode ser uma jogada comercial de interesse loboratorial e farmacêutico, pis com a acupuntura o paciente vai certamente não precisando mais de remédios alopáticos que fazenm tão mal á saúde devidi a sua série de contra-indicações.
ESTE ARTIGO É MAIS UMA PROVA QUE O DINHEIRO E SEUS INTERESSES ESTÃO ACIMA DO BEM MAIOR QUE É A SAÚDE DO SER HUMANO!
12 fevereiro, 2009 às 12:22 pm
Ricardo Teixeira
Cara Elisabeth,
O método científico é apenas uma das formas de se enxeragar o mundo, mas não podemos negar que é um dos pilares de nossa civlização. Não discordo de suas posições que pode haver interesses econômicos por trás de estudos como esse, mas no caso, não há de conflitos de interesse declarados e o estudo foi conduzido pelo sistema Cochrane, que tem respeitabilidade e legitimidade para dar vender e jogar fora. É bem diferente de uma metanaálise não muito antiga em que uma indústria farmacêutica financiou e ao final concluiu que restreição alimentar para ajudar na enxaqueca não serve para nada. A indústria é a fabricante de uma das principais medicações para se tratar enxaqueca. Claro que um estudo como esse jamais seria aceito para publicação em um jornal como o BMJ, que foi o caso da metanálise da acupuntura.
Avançar o conhecimento no sentiido de que muitas de nossas práticas terapêuticas, incluindo as medicações carregam consigo um efeito placebo, não deve ser visto como ameaça. Hoje discute-se que mesmo que o efeito de uma prática seja por conta do efeito placebo, ela não deixa de ser ética e eficaz, desde que não seja invasiva.
É o momento de reduzir o estigma da palavra placebo. É hora de parar de ter medo dos resultados da ciência, pois eles na mioria das vezes estão aí muito mais para ajudar do que para alimentar a indústria farmacêutica e de equipamentos. É preciso transparência para que consigamos separar o joio do trigo. Recentemente´uma metanálise comprovou, com todos os requintes científicos, que a psicanálise é realmente eficaz para transtornos psiquiátricos severos. Que beleza!
Quem disse que Freud tem medo da ciência?