Cuidar da saúde de outra pessoa envolve uma complexa interação entre o terapeuta e aquele que procura seus cuidados. Essa interação pode trazer benefícios que vão além dos efeitos da medicação ou de outro tipo de tratamento escolhido, e é a isto que chamamos de efeito placebo. Como isso funciona ainda é uma pergunta bastante intrigante.
Um estudo publicado no ano de 2001 pela revista Science deu uma balançada naquilo que a comunidade científica até então entendia como efeito placebo. Pacientes portadores da Doença de Parkinson receberam medicação específica para a doença (levodopa) ou pílulas placebo e o surpreendente foi que tanto os pacientes que receberam a medicação como aqueles que receberam placebo, e que tiveram boa resposta clínica, demonstraram aumento das concentrações de dopamina no cérebro.
Na última edição da revista Neurology, pesquisadores de Luxemburgo explicam-nos um pouco melhor como o uso de placebo pode influenciar o cérebro em situações como a Doença de Parkinson, depressão e síndromes dolorosas. O efeito placebo positivo pode ser observado em até 50% dos pacientes com essas condições clínicas, e costuma ser mais pronunciado quando associado a procedimentos invasivos (ex: injeção) ou doenças em fases avançadas. No caso da Doença de Parkinson, confirma-se os resultados iniciais de que pacientes que apresentam boa resposta ao placebo apresentam aumento de dopamina no cérebro em regiões que são comuns ao efeito cerebral de recompensa. Isso sugere que o fator “expectativa positiva” pode ter um importante papel no efeito placebo nessa condição.
Em quadros de dor, também há evidências de que o placebo muda quimicamente o cérebro, dessa vez através da liberação de opióides endógenos, efeito que pode ser desfeito através de medicações que bloqueiam o efeito de medicações opióides. As mudanças químicas também ocorrem em quadros depressivos, sendo que o placebo apresenta efeito muito semelhante às drogas que aumentam a concentração de serotonina (ex: fluoxetina). Nessas duas condições, a “expectativa positiva” também parece ser a forma como o cérebro faz com que o efeito placebo funcione. E essa parece ser a explicação do porquê de algumas pessoas responderem positivamente ao placebo e outras não. Há evidências de que bons respondedores apresentam expectativa de receber maiores recompensas, e têm maior ativação do sistema de recompensa cerebral, não só na situação de tratamento, mas também em situações de jogos que envolvem recompensa em dinheiro.
5 comentários
29 janeiro, 2009 às 12:40 am
Pesquisa ajuda a identificar o quanto de efeito placebo há na acupuntura. «
[…] Como funciona o efeito placebo? Saiba que o cérebro dá uma boa ajuda. […]
28 dezembro, 2008 às 9:44 pm
Ricardo Teixeira
Olá Daniele,
A revisão mais atualizada sobre o tema e acredito ser a mais robusta está na revista Brain de Novembro de 2008 por Oken.
Link:
http://brain.oxfordjournals.org/cgi/content/abstract/131/11/2812
27 dezembro, 2008 às 6:58 pm
Daniele Bassini
Boa tarde!
Sou estudante de Psicologia e gostaria de me aprofundar no assunto sobre o EFEITO PLACEBO, estou a procura de palestras que falam sobre esse assunto. Se você puder me ajudar ficarei muito grata, na verdade gostaria de uma indicação ou esclarecimento.
Muito obrigada pela sua atenção.
Daniele
10 setembro, 2008 às 1:58 am
Telefone celular pode provocar dor de cabeça? Pode sim, mas é só o efeito NOCEBO. «
[…] de provocar mudanças fisiológicas em nosso corpo, e esse é o chamado efeito placebo (ver post COMO FUNCIONA O EFEITO PLACEBO?). E será que a expectativa negativa diante de alguma ação ou tratamento também é capaz de […]
3 setembro, 2008 às 2:14 pm
Raquel Barros
Obrigada Dr.Ricardo ,por mais uma informação muuito importante!