Cuidar da saúde de outra pessoa envolve uma complexa interação entre o terapeuta e aquele que procura seus cuidados. Essa interação pode trazer benefícios que vão além dos efeitos da medicação ou de outro tipo de tratamento escolhido, e é a isto que chamamos de efeito placebo. Um novo estudo publicado esta semana no British Medical Journal evidencia com muita elegância o potencial desse efeito no tratamento de um problema gastrintestinal conhecido como Síndrome do Intestino Irritável (SII), condição crônica associada a dores abdominais e alterações da função intestinal (constipação e/ou diarréia).
Três tipos de tratamento foram testados ao longo de seis semanas: 1) apenas observação; 2) acupuntura placebo (sem perfuração da pele) e sem poder conversar com o paciente; 3) acupuntura placebo associada a atendimento com script padronizado com as seguintes características:
* 45 min de duração com questões relacionadas à descrição dos sintomas e percepção do paciente sobre a causa / razão do seu problema;
* comportamento empático por parte do terapeuta (ex: posso imaginar como a SII tem sido difícil para você);
* abordagem calorosa, amigável e com escuta ativa (ex: repetição das palavras do paciente e perguntas no sentido de melhor entender o que o paciente dizia);
* contato físico através da palpação do pulso em silêncio por 20s;
* comunicação por parte do terapeuta de expectativas positivas quanto ao sucesso do tratamento (ex: eu tenho uma boa experiência em tratar SII com bons resultados).
Ao final do tratamento a seguinte pergunta era feita: Nas últimas semanas você teve alívio adequado dos seus sintomas de SII ?
A resposta foi sim em:
* em 28% dos pacientes do grupo 1 (só observados)
* em 44% dos pacientes do grupo 2 (acupuntura placebo)
* em 62% dos pacientes do grupo 3
(acupuntura placebo + atendimento padronizado)
Os resultados não deixam dúvida o quanto o efeito placebo pode ter impacto em alguns tipos de queixas e problemas de saúde. Mais do que isso, reforça que o efeito placebo quando associado a um atendimento humanizado tem mais impacto ainda no sucesso de um tratamento.
Isso levanta uma importante discussão. Seria ético os terapeutas proporem tratamentos que sabidamente só teriam efeito placebo, sem contar aos seus pacientes ? Quando procuramos um terapeuta temos a expectativa de sermos ouvidos e bem tratados, e tão ou mais importante que isso, de que ele nos ofereça diagnóstico e tratamento precisos. “Remedinhos” ou procedimentos sem eficácia comprovada, que por alguns são vistos como inofensivos, podem estar associados a riscos de saúde – ver POSTS dos dias 7 e 8 de maio. Seguimos refletindo…..
5 comentários
19 maio, 2011 às 4:16 pm
ricardo
minha esposa tm depressao,seria possivel eu solicitar ao medico dela q a receitasse pillulas de placebo?eh uma pratica comum na medicina?e os interresses comerciais por traz da medicaçao?
21 maio, 2011 às 4:10 pm
Ricardo Teixeira
Muitas vezes os médicos passam medicações com efeito placebo. Eu particularmente não tenho essa prática e não o faria se um parente de um paciente viesse me pedir
10 março, 2011 às 1:20 am
A empatia do médico é capaz de influenciar os resultados de um tratamento «
[…] Para se ter mais uma idéia do poder de uma consulta médica em que o médico demonstra empatia, veja os resultados desta pesquisa publicada neste blog no ano de 2008. […]
28 janeiro, 2009 às 11:06 pm
Pesquisa ajuda a identificar o quanto de efeito placebo há na acupuntura. «
[…] Efeito placebo é muito mais do que pílula de farinha […]
10 setembro, 2008 às 2:04 am
Telefone celular pode provocar dor de cabeça? Pode sim, mas é só o efeito NOCEBO. «
[…] É claro que alguns pacientes são psicologicamente mais propensos a apresentar o efeito nocebo, o que é condizente com o pensamento popular de quem pensa muito em doença acaba ficando doente. Um estudo populacional (Framingham) chegou a demonstrar que mulheres que acreditavam que iriam adoecer do coração tinham quatro vezes mais chance de morrer do que aquelas que não tinham essa expectativa negativa, mesmo com o mesmo nível de fatores de risco para doença do coração entre os dois grupos. Pensamento positivo no momento de iniciar um tratamento pode não só reduzir as chances do efeito nocebo, mas aumenta em muito a chance de chamar para perto de si seu irmão bonzinho e poderoso: o placebo. É claro que o terapeuta precisa ajudar (ver post EFEITO PLACEBO NÃO É SÓ PÍLULA DE FARINHA). […]