O estado de felicidade está associado a diversos aspectos do bem estar, incluindo a saúde orgânica e mental, a relação familiar, relações e o próprio desempenho no trabalho, rede social, e há de se considerar também a dimensão espiritual. Uma série de estudos tem demonstrado que o estado de felicidade do indivíduo guarda relação com uma série de indicadores fisiológicos e de saúde: a) menor mortalidade; b) menores índices de marcadores hormonais, inflamatórios e do ritmo cardíaco associados ao estresse; c) maior rede e suporte sociais.
Um estudo publicado esta semana pelo British Medical Journal confirma que nosso estado de felicidade é mesmo um fenômeno de rede social, ou seja, depende do grau de felicidade das pessoas com as quais estamos conectados. A pesquisa foi desenvolvida com quase 5 mil pessoas do grupo Framingham e que foram acompanhadas por décadas. O grau de felicidade foi medido usando um componente do questionário CES-D já bem validado em estudos anteriores. Quatro perguntas eram aplicadas quanto à percepção de alguns sentimentos na última semana pelo indivíduo entrevistado: 1) Senti-me esperançoso quanto ao futuro; 2) Eu estava feliz; 3) Eu aproveitei a vida; 4) Eu senti que estava tão bem quanto as outras pessoas.
A análise da rede social dos indivíduos envolvidos no estudo revelou que há uma tendência de pessoas felizes estarem no centro de suas redes sociais e próximas de outras com alto grau de felicidade, criando aglomerados de pessoas felizes. Além disso, ao longo do tempo, as pessoas ficaram mais felizes quando passaram a ser cercadas por outras felizes. Um amigo feliz que mora por perto (menos de 2 km) aumentava a chance de uma pessoa ser feliz em 25%, irmãos felizes por perto em 14%, e vizinhos em 34%. Esse efeito contagioso da felicidade diminui com o tempo e também com a distância entre as pessoas, e não foi percebido entre colegas de trabalho. A felicidade de uma pessoa esteve associada à felicidade dos outros em até três graus de sua rede social (ex: “amigo do amigo do amigo”). Esse contágio do comportamento em três graus parece ser uma regra genérica, já que os mesmos pesquisadores recentemente o demonstraram também em outros padrões de comportamento como o tabagismo e a obesidade.
E qual seria a explicação para isso? Pesquisas já haviam demonstrado que existe um certo contágio emocional entre as pessoas. Pessoas que mantém contato com um indivíduo deprimido têm maior tendência a ficarem deprimidas. Emoções positivas também se disseminam entre as pessoas próximas. Emoções positivas, o sorriso, o estado de felicidade, todos podem ser vistos do ponto de vista evolutivo como um mecanismo que facilita as relações sociais ao promover sentimentos prazerosos nos outros, recompensar os esforços dos outros e encorajar a continuidade da relação social. E o sucesso da espécie humana depende de sua capacidade de fazer relações sociais.
O estudo é relevante do ponto de vista de saúde pública já que sugere que intervenções com potencial de aumentar a felicidade das pessoas (ex: melhoria do estado de saúde) podem provocar resultados positivos em cadeia. A Organização Mundial da Saúde tem reconhecido cada vez com maior ênfase a felicidade como um dos componentes da saúde. Se a felicidade é mesmo contagiosa como a pesquisa sugere, ela pode contribuir também para a transmissão social da saúde.
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6 comentários
3 janeiro, 2013 às 12:29 am
Compartilhar as boas experiências dá mesmo barato «
[…] prazer amplifica o prazer e isso está alinhado com os resultados de pesquisas que demonstram que a felicidade é contagiosa. Dividir as boas notícias levanta o astral do emissor, mas também do receptor da mensagem. Esse […]
17 março, 2009 às 12:35 pm
Heliany
Sentir-se uma pessoa feliz, não requer muitos esforços… precisamos aprender a obter felicidade nas pequenas coisas, como fazer algo de útil à alguém, valorizar os pequenos gestos de carinho de quem nos oferece, compreender a lei do reflexo, sorrir para que sorriem para vc. ficar alegre quando a sua roseira abriu um lindo botão! é para mim exercitar a felicidade. Enfim não deixar para ser feliz nos grandes acontecimentos, que geralmente demoram à acontecer e nem sempre acontecem como planejamos.
O estado de felicidade, requer paz de espírito, exercitar a ponderação, não descartar que momentos nem sempre satisfatórios virão, porém o mais importante e sair deste estágio de infelicidade o mais rápido possível… A retomada!
Lembramo-nos sempre que FELICIDADE É CONTAGIANTE… Vale a pena transmitir àqueles do nosso convívio.
Um grande abraço.
Heliany
18 fevereiro, 2009 às 7:29 pm
A popularidade também está no DNA. «
[…] A felicidade faz bem à saúde e é mesmo contagiosa […]
18 dezembro, 2008 às 4:05 am
Bruno Ayres
Que maravilha de Post! Mais uma vez, obrigado!!
15 dezembro, 2008 às 11:47 am
Ricardo Teixeira
Caro Silmar,
Hoje já podemos dizer sem exagerar na dose de que saúde e felicidade fazem parte de um círculo VIRTUOSO – mais felicidade gera mais saúde e mais saúde gera mais felicidade….
Operacionalizar o conceito de felicidade não é tarefa fácil mas como você disse , um dos fatores que mais confundem a sociedade de consumo é o bombardeio de publicidade que recebemos de que uma série de opções do TER podem representar o cálice sagrado da felicidade: turismo da felicidade, o carro da felicidade, o imóvel da felicidade familiar….
Tem uma máxima da cultura popular que acho muito interessante e que pode nos guiar um pouco nessa questão:
FELICIDADE NÃO É CONSEGUIR ALCANÇAR AQUILO QUE DESEJAMOS
( e não são só as coisas materiais). É SIM DESEJAR MUITO AQUILO QUE JÁ ALCANÇAMOS.
Um abraço
Ricardo
15 dezembro, 2008 às 11:37 am
Silmar Pereira Rodrigues
Caro Ricardo.
Grato pela matéria. Se a pesquisa mostraque felicidade é fator positivo de saúde, passo a acreditar em algo queintuitivamente já aceitava. Então, para melhorar os índices relativos à saúdedo povo, a sociedade como um todo deve agir no sentido de aumentar os “índicesde felicidade”. Aí começa o problema: vejo como um desafio oestabelecimento de indicadores para medir felicidade, algo que depende do graude aspirações/expectativas de cada indivíduo. E isso oscila muito de pessoapara pessoa. Entendo que o grau de felicidade varia na razão direta das aspirações/expectativasrealizadas. Frustrações de expectativas geram infelicidade. Essa é uma questãocomplexa, na medida em que a sociedade de consumo, por intermédio de bombardeiocontínuo da publicidade, induz e incrementa as aspirações materiais daspessoas. Cria falsas necessidades que, não satisfeitas, geram infelicidade. Felicidade,nesse contexto, passa a ser confundida com “TER” e não com “SER”.Eis a questão: se felicidade contribui para melhorar os índices de saúde, temosque aceitar que infelicidade causa doenças. Como agir? Um bom tema para reflexãomais ampla, abrangendo todo o contexto social.
Que tenhas um Feliz Natal e um Novo Ano cheiode realizações.
Silmar