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Por Dr. Ricardo Teixeira*
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Por muito tempo, o termo esclerosado era usado para se referir ao estado de uma pessoa portadora de demência. Hoje consideramos que boa parte das pessoas “esclerosadas” eram, na sua maioria, portadoras da Doença de Alzheimer (DA), mas existem outras causas de demência, como a fronto-temporal e a causada por doença cerebrovascular.
Nos estudos que foram feitos para testagem de novas medicações para a DA, sempre havia um contingente significativo de voluntários que não apresentava qualquer melhora após o início das drogas. Além disso, as pesquisas também mostravam que muitos desses voluntários não apresentavam os marcadores patológicos da doença quando eram submetidos a necropsias. Estudos recentes têm demonstrado que muitas dessas pessoas podem, na verdade, ser portadoras de uma outra forma de demência que recebeu o nome de LATE. LATE é a sigla recém-proposta por múltiplos centros de pesquisa para Limbic-predominant age-related TDP-43 encephalopathy. Limbic é o envolvimento preferencial da doença nos circuitos límbicos, semelhante à DA; Age related nos diz que é uma doença que ocorre em idosos, de forma mais gradual e numa idade até mais avançada que na DA; TDP-43 diz respeito ao acúmulo de proteínas com esse mesmo nome; Encephalopathy significa disfunção cerebral difusa.
Peter Nelson, primeiro autor da publicação, compara o trabalho desse consórcio de pesquisadores com a descoberta da eletricidade por Benjamin Franklin. O grupo publicou no periódico Brain critérios patológicos para identificação de LATE à necropsia. Os estudos realizados até o momento mostram uma prevalência da patologia de LATE em necropsias que gira em torno de 20% dos indivíduos acima de 80 anos e, em muitos casos, a DA ocorre concomitantemente.
O trabalho abre uma nova janela para o desenvolvimento de modelos animais para pesquisa, biomarcadores e medicamentos específicos que, sem dúvida, serão bem diferentes dos que são atualmente disponíveis para a DA.
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Por Dr. Ricardo Teixeira*
Uma análise feita das carreiras de 31 ganhadores do Nobel de economia nos mostra que existem realmente épocas na vida em que somos mais criativos. Nessa avaliação, foram encontradas duas ondas diferentes de criatividade, uma por volta dos vinte e poucos anos e outra entre os cinquenta e sessenta anos.
A primeira onda foi chamada de inovação de conceitos. É o pensar “fora da caixinha”, onde novas ideias põe em xeque o saber convencional. A segunda onda, chamada de inovação experimental, é a produção de conhecimento a partir do saber acumulado e nos traz formas inéditas de análise, interpretação e síntese. Os resultados são concordantes com estudos prévios que analisaram ondas de criatividade nas artes e em outras áreas da ciência. Pablo Picasso e Albert Einstein tiveram suas maiores criações na primeira onda, enquanto Paul Cézanne, Virginia Woolf e Charles Darwin brilharam mais na segunda onda. A Teoria da Relatividade foi publicada por Einstein aos 26 anos de idade e Darwin publicou a Teoria da Evolução aos 51 anos.
Essas tendências apontadas acima não são uma regra absoluta. Shakespeare escreveu Hamlet aos 38 anos de idade e logo depois escreveu obras que não foram tão agraciadas. Uma pesquisa publicada pela revista Nature mostra que entre cientistas e artistas existe uma produtividade acima da média que dura uns cinco anos. Estamos falando de qualidade e não de quantidade e esses picos podem acontecer em diferentes fases da vida.
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*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasília
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Por Dr. Ricardo Teixeira
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É isso mesmo. Um casal ao longo do tempo substitui as briguinhas, mais presentes nos primeiros anos de convívio, por bom humor e compreensão. Essa foi a conclusão de um estudo recém-publicado pela Universidade da Califórnia nos EUA. Os pesquisadores estudaram, através de vídeos, as interações de 87 casais heterossexuais juntos há pelo menos 15 anos. Essa análise era feita por avaliação da expressão facial, conteúdo verbal e tom de voz. As emoções observadas eram então categorizadas em raiva, desprezo, comportamentos defensivos ou de dominação, medo, tensão, tristeza, manha, interesse, afeto, humor, entusiasmo e validação.
Os pesquisadores avaliaram por 13 anos o conteúdo emocional das interações desses casais e mostraram que aqueles que tinham mais tempo de estrada apresentavam menos comportamentos críticos e ficavam menos na defensiva. Foram também os que se comunicavam com mais ternura e humor. Os resultados são contrários à ideia de que com o tempo a relação de uma casal se desgasta e fica menos afetuosa. Pesquisas anteriores já haviam demonstrado que a relação estável de longo prazo reduz o risco de ansiedade e depressão.
No atual estudo, comportamentos negativos foram menos expressivos em casamentos mais duradouros de uma forma geral, independente do grau de satisfação com o casamento, mas as mulheres tinham uma maior tendência em assumir posturas dominadoras.
Outras pesquisas revelam que um projeto de vida a dois bem sucedido tem repercussões positivas em diversas dimensões do equilíbrio psíquico, mas também da saúde física. Por outro lado, um casamento estressante pode ter o efeito oposto, especialmente entre as mulheres.
A pobreza é reconhecida como um dos principais fatores que contribuem para o número de pessoas com retardo mental ao redor o mundo. Em países desenvolvidos, a prevalência de retardo mental situa-se em torno de 3-5 / 1000 indivíduos, enquanto em países pobres encontramos uma prevalência que chega a ser cinco vezes maior. A pobreza está por trás de dois dos principais fatores de risco para o retardo mental: deficiência nutricional e de estímulo cerebral. O problema deve ser visto como uma epidemia neurológica escondida. Do ponto de vista de saúde pública, a pobreza tem um impacto sobre o estado neurológico muito maior que a grande maioria das doenças neurológicas com suas organizadas sociedades médicas e associações de pacientes, e com seus medicamentos que movem o business da saúde.
Uma pesquisa recém-publicada pela revista Neurology mostra que mesmo as crianças que não desenvolvem retardo mental chegam em idades avançadas com menor desempenho cognitivo quando crescem em situação de pobreza. Assim como qualquer outro sistema do nosso corpo, o cérebro envelhece e os resultados da presente pesquisa evidenciam um envelhecimento mais rápido entre os pobres.
O estudo incluiu cerca de vinte mil adultos de 16 diferentes países europeus. Para avaliar o perfil socioeconômico na infância, eles usaram um método que incluía questões como o número de quartos e pessoas que viviam na casa e o número aproximado de livros. A análise apontou que 4% dos participantes viveram adversidade socioeconômica na infância. Estes tinham menor grau de educação formal, eram menos empregados, apresentavam mais sintomas de depressão e menos hábitos saudáveis. Mesmo após correção para esses fatores negativos, esses 4% tiveram uma perda mais acelerada da capacidade cognitiva com o envelhecimento. Outras pesquisas já haviam demonstrado que pobreza na infância está associada a uma redução do volume da substancia branca e cinzenta do cérebro.
Atacar de frente a pobreza vai além da questão de humanismo e de direitos humanos. O Banco Mundial reconhece que dentre todas as intervenções em saúde, o controle da desnutrição pode ser considerado a que apresenta melhor custo-benefício. E os primeiros anos de vida de uma criança são os mais vulneráveis para o cérebro, começando a contar desde o primeiro dia da concepção, na barriga da mãe. A mãe precisa comer bem. Todo mundo tem que comer bem. E uma coisa puxa a outra. Crianças desnutridas têm menor chance de chegar à escola, e quando chegam, têm maior chance de evasão.
Pense nisso na hora de votar. Um país com cérebros que não atingem o pleno potencial não vai para frente.
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As pessoas criativas não são necessariamente experts em uma determinada atividade. Ao invés de praticar exaustivamente um caminho já conhecido, elas criam sua própria rota. Picasso tinha habilidades de desenhista de dez mil horas antes de fazer suas obras desencontradas e geniais. A prática ajuda muito, mas não é tudo.
Existem atividades mais dependentes da prática do que outras. São atividades em que as regras para ser um “virtuose” já são bem estabelecidas. Podemos citar o xadrez, o esporte e a performance musical. De qualquer forma, sempre existirá o espaço mágico da criatividade. De um lado temos o criador que rompe com o já conhecido e do outro o incrível intérprete. De um lado temos um Garrincha e do outro Carlos Alberto Torres.
Obras e produtos criativos não são meros resultados de expertise. Eles precisam ser originais, surpreendentes e fazerem diferença por serem úteis. Originais porque os criadores transcendem o virtuosismo e vão além do repertório padrão. Fazer diferença é fundamental, pois o criador deve satisfazer necessidades. O iPhone não seria um sucesso se não resolvesse problemas. Ser surpreendente não só para uma ou outra pessoa, mas para quase todo mundo. As descobertas de Galileu são um bom exemplo.
Elenco abaixo dez evidências que mostram que a prática e experiência não garantem a criatividade.
- a criatividade é frequentemente cega. O criador não tem certeza se sua ideia será aceita;
- o processo criativo é errático. Shakespeare escreveu Hamlet aos 38 anos de idade e logo depois escreveu obras que não foram tão agraciadas. Entretanto, uma pesquisa recém-publicada pela revista Nature mostra que entre cientistas e artistas existe uma onda de produtividade acima da média que dura uns cinco anos. Estamos falando de qualidade e não de quantidade, e essa onda pode acontecer em diferentes fases da vida;
- a regra dos dez anos de prática nem sempre é verdadeira. Um estudo destrinchou o percurso de 120 compositores clássicos e mostrou que uma década de prática é uma condição frequentemente necessária para as primeiras grandes criações. Entretanto, alguns compositores demoraram menos, enquanto outros muito mais;
- talento ajuda muito. Se definirmos talento como a velocidade com que uma pessoa adquire expertise, podemos dizer que as pessoas criativas são mais talentosas. Precisam de menos tempo para alcançar esse nível de expertise e logo em seguida já viram o disco e passam a sobrevoar o desconhecido;
- o tipo de personalidade também ajuda. Pessoas criativas não se conformam com o arroz e feijão, não costumam ser convencionais, gostam de correr riscos e não raramente têm alguma psicopatologia;
- os genes também influenciam. Calcula-se que um terço a um quarto do desempenho depende da carga genética do indivíduo e isso repercutirá no poder criativo. É claro que os fatores ambientais influenciam e muito;
- os criativos costumam ter interesses amplos. Cientistas bem-sucedidos e criativos têm vários hobbies e interesses. Galileu era fascinado pelas artes, especialmente a música e literatura;
- excesso de expertise pode inibir a criatividade. Mais nem sempre é melhor;
- o olhar de fora tem suas vantagens criativas. Um querido professor me dizia que, quando suas ideias no laboratório estavam pouco criativas, ele ia para a biblioteca folhear periódicos de áreas radicalmente distantes e muitas vezes saía dizendo eureca;
- os criativos são bons não só para resolver problemas. São bons também para encontrar problemas. Nem sempre são os mais eficazes, mas seus olhos conseguem enxergar o que ninguém ainda se deu conta.
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Pessoas que pensam ter menos anos do que consta na certidão de nascimento têm um cérebro que envelhece mais lentamente. Essa é a conclusão de uma pesquisaconduzida por pesquisadores da Universidade de Seoul na Coréia do Sul e recém-publicada no Frontiers of Neuroscience.
O sentimento do quanto nos sentimos jovens ou velhos é também chamado de idade subjetiva e está associado a vários marcadores de saúde, como desempenho cognitivo. Idosos com queixas de memória simples, por exemplo, têm mais chances de no futuro apresentar um quadro demencial. É como se fosse uma percepção subjetiva daquilo que os médicos e exames não conseguem ainda mostrar naquele momento.
O presente estudo mostrou que idosos que se sentem mais jovens têm melhores pontuações em testes de memória, menos sintomas depressivos e consideravam ter um melhor estado de saúde. Além disso, estudos de neuroimagem mostraram que o cérebro desses idosos que se acham mais jovens tem um maior volume da substância cinzenta. Essa relação foi independente de outros fatores como a presença de sintomas depressivos.
Os pesquisadores levantam a questão de que a experiência subjetiva de se sentir mais velho do que realmente é pode acelerar o processo de envelhecimento cerebral com redução do volume da substância cinzenta. Por outro lado, aqueles que se sentem mais jovens têm uma rotina mais ativa, mais atividade física e mental, supervitaminas para o cérebro.
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Mais da metade das mulheres apresentam queixas de memória na fase de transição para a menopausa e temos algumas evidências de que, nessa fase da vida, elas realmente apresentam uma menor velocidade de processamento cognitivo e menor desempenho da memória verbal.
Uma forma de explicar essa lenhificação do pensamento na transição da menopausa é que a redução ou flutuação dos níveis do hormônio estrogênio pode dificultar o pleno funcionamento cerebral. Já foi bem demonstrado que algumas áreas cerebrais são ricas em receptores de estrogênio, regiões que são fortemente vinculadas à memória, como é o caso do hipocampo e o córtex pré-frontal. Além disso, estudos experimentais revelam que o estrogênio é capaz de elevar os níveis de neurotransmissores e também promovem o crescimento neuronal e formação de conexão entre os neurônios.
Nada de pessimismo! A boa notícia é que esses efeitos parecem ser limitados, já que as mulheres voltam a apresentar o mesmo desempenho cognitivo que tinham antes da menopausa após ultrapassarem a transição. Além disso, as mulheres que recebem reposição hormonal antes do término da menstruação são beneficiadas do ponto de vista cognitivo, o que não acontece com aquelas que começam esse tipo de tratamento após o término da menstruação. Essa é mais uma evidência de que a reposição hormonal deve ser utilizada pelo menor tempo necessário. Temos até evidências que o uso prolongado desse tipo de tratamento pode levar à perda do volume de substância cinzenta do cérebro e declínio cognitivo.
Uma pesquisa publicada na última edição do periódico da Academia Americana de Neurologia aponta também que, quanto mais tarde se dá o início da menopausa, melhores são os indicadores de desempenho cognitivo e o uso de reposição hormonal não teve qualquer influência. Esses resultados não foram válidos para os casos de menopausa cirúrgica, condição em que as mulheres têm os ovários removidos cirurgicamente.
E suplementos de soja podem ajudar? A soja é a principal fonte de isoflavonas da dieta, micronutrientes que se ligam aos receptores de estrogênio do cérebro. Uma série de pesquisas tem procurado demonstrar seus efeitos na menopausa e os resultados, apesar de conflitantes, não têm sido muito animadores. Os estudos mais robustos até chegaram a evidenciar uma melhora na capacidade de memória visual (ex: reconhecimento de rostos), mas sem impacto relevante em outras funções cognitivas. Vale ressaltar que essas pesquisas envolveram mulheres já na menopausa e por isso a discussão está longe de ser encerrada. O efeito da soja na transição da menopausa pode ser diferente.
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Gosta de comida indiana? Sim? Pois não é que seu cérebro também gosta? Pesquisadores da UCLA nos EUA publicaram este mês os resultados de uma pesquisa mostrando que o suplemento de curcumina em cápsulas, duas vezes ao dia, melhora as funções cerebrais por até 18 meses. Os efeitos antioxidante e anti-inflamatório da substância são os principais candidatos a explicar esses resultados.
Os voluntários do estudo eram adultos com idades entre 50 e 90 anos que tinham leves queixas de memória. Além de demonstrar os efeitos clínicos benéficos do suplemento (90mg de curcumina duas vezes ao dia), os pesquisadores mostraram através da Tomografia por Emissão de Pósitrons que o contingente de marcadores patológicos da Doença de Alzheimer, placas beta-amilóides e proteína Tau, eram menores no grupo que recebeu suplemento após 18 meses. A curcumina promoveu melhora nos níveis de atenção, memória e humor somente entre aqueles que receberam o suplemento.
Nenhum dos voluntários apresentava depressão e futuros estudos deverão incluir pacientes deprimidos e testar se os efeitos também são positivos nesse grupo de pacientes. Além disso, esses estudos deverão contar com a análise da predisposição genética a desenvolver a Doença de Alzheimer em cada indivíduo. Efeitos colaterais? Raras foram as pessoas que tiveram leves sintomas de diarreia e náuseas, algo que os que receberam placebo também apresentaram.
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Uma pesquisa encomendada pela Associação Brasileira das Indústrias do Café (ABIC) em nove capitais, quatro cidades de médio porte e quatro cidades rurais revelou que 94% dos indivíduos maiores de 15 anos bebem café, e 95% desses o consomem diariamente. Entre aqueles que não tomam café, a principal razão apontada é a de que ele pode fazer mal à saúde. O estudo também revelou que 13% daqueles que bebem café pretendem reduzir seu consumo, e a razão principal é a preocupação de que o café possa fazer mal à saúde. Por isso, vale a pena colocar algumas cartas na mesa.
Esta última semana, o British Medical Journal publicou uma pesquisa inédita que reforça aquilo que já tínhamos boas evidencias: 3 a 4 doses de café por dia fazem bem à nossa saúde. Pesquisadores do Reino Unido reuniram os resultados de mais de 200 estudos sobre os efeitos do café sobre nossa saúde e concluíram que podemos tomar café sem medo. Os resultados mostraram que o café promove maior longevidade e menor incidência de inúmeras doenças que elenco a seguir:
– doenças cardiovasculares;
– alguns tipos de câncer, como o de próstata, endométrio, fígado e pele;
– diabetes, cálculos biliares e gota;
– depressão, Doenças de Alzheimer e Parkinson.
As evidências dos benefícios do café descafeinado são menos robustas, mas fizeram a diferença em algumas dessas patologias. A revisão também foi categórica em lembrar que as mulheres devem evitar o café na gravidez e em situações de risco de fratura óssea.
Um estudo publicado esta semana no periódico Neurology da Academia Americana de Neurologia evidencia entre indivíduos com função cardíaca reduzida um menor fluxo cerebral em regiões do cérebro que processam a memória. Os voluntários da pesquisa não apresentavam insuficiência cardíaca com manifestações clínicas, mas, mesmo assim, aqueles com corações que bombeavam menores quantidades de sangue chegavam a ter o padrão de circulação cerebral nos lobos temporais de uma pessoa 15 a 20 anos mais velha.
Outras pesquisas já haviam mostrado que as pessoas com insuficiência cardíaca, mesmo nas suas formas leves, apresentam também certa “insuficiência cerebral”, e a dificuldade de memória é o problema mais comum. Nesses estudos, até 50% dos pacientes com insuficiência cardíaca apresentam déficit cognitivo.
A principal explicação para esses achados é a de que com a falência da bomba cardíaca o fluxo sanguíneo cerebral é reduzido e perde-se também sua capacidade de auto-regulação. Outra hipótese é a frequente ocorrência de derrames cerebrais entre pacientes com insuficiência cardíaca. Um coração fraco aumenta a chance de formação de pequenos coágulos de sangue que podem “escapar” para as artérias cerebrais, causando um derrame cerebral. Estudos evidenciam uma prevalência de derrame cerebral de até 35% entre pacientes com insuficiência cardíaca.
Um importante recado desses estudos é o de que uma boa parte dos pacientes com insuficiência cardíaca pode não ser mais capaz de seguir as recomendações feitas pelo médico, como é o caso de tomar corretamente diferentes medicações em seus diferentes horários. No caso de pacientes com dificuldades cognitivas, um cuidado especial na comunicação deve ser tomado, muitas vezes com a necessidade de se garantir o apoio de alguém que possa auxiliá-lo no seguimento do tratamento.

Na semana em que o tenista Roger Federer, 35 anos, ganhou seu oitavo título de Wimbledon e foi o atleta mais velho a faturá-lo, vale a pena refletir sobre esse monstro do tênis. Isso não tem nada de trivial.
A maturidade traz algumas compensações, mas aos 24 anos alcançamos nosso pico de desempenho cognitivo-motor. Essa é a conclusão de uma pesquisa publicada recentemente pelo prestigiado periódico PLoS ONE.
Pesquisadores da Universidade de Burnaby no Canada analisaram os dados de desempenho de mais de três mil jovens com idades entre 16 e 44 anos num jogo de computador chamado StarCraft 2. O jogo tem a mesma lógica de um xadrez e os dados analisados representam milhares de horas de quão rápido os voluntários reagiram aos seus oponentes no jogo e as estratégias que eles usaram no desafio. Jogadores mais velhos, apesar de mais lentos, compensam a desvantagem de velocidade com estratégias mais eficientes no jogo.
A maioria dos estudos que investiga o declínio motor e cognitivo com a idade analisa o efeito em populações de idosos. Dessa vez não. Os pesquisadores mostraram que a rapidez cognitivo-motora já começa a diminuir na segunda década de vida, mas são compensadas por estratégias mais eficientes. E dessa vez a evidência não veio de testes de laboratório, mas de um modelo da vida real, o que torna possível a demonstração a compensação com o passar dos anos.
Mas não é em toda atividade que essa compensação acontece. Simuladores de voo e performance no piano são dois exemplos. Por outro lado, em muitos esportes, o maior equilíbrio mental da maturidade pode ser até mais importante que a velocidade.
Estima-se que 2/3 dos casos de doença de Alzheimer ocorram entre as mulheres
As mulheres vivem mais, mas parece que existem outros fatores biológicos que ajudam a explicar essa diferença. Muitos candidatos estão na fila, mas sem resultados conclusivos até o momento. Um deles é a redução dos níveis de estrogênio com a menopausa. Isso pode potencializar o risco de uma mulher que já é geneticamente predisposta a apresentar a doença.
Outra possível explicação é o efeito protetor da educação formal. Apesar das diferenças educacionais entre os gêneros terem diminuído fortemente nos últimos anos, elas ainda existem em muitas regiões do mundo, especialmente em populações mais idosas.
Uma diferente resposta ao estresse e a maior prevalência de ansiedade e depressão entre as mulheres podem fazer a diferença. Eventos desgastantes como doenças, divórcios e problemas no trabalho parecem aumentar o risco de demência entre as mulheres, mas o mesmo não acontece com os homens. O estado de ansiedade de uma mulher aumenta as chances dela desenvolver a doença e essa associação não foi demonstrada entre os homens.
A doença é mais agressiva no caso delas
As pesquisas mostram que, após o diagnóstico de Alzheimer, os homens têm um melhor desempenho em diferentes domínios cognitivos como memória, habilidades visuoespaciais e até mesmo linguagem, função esta que as mulheres levam vantagem sobre os homens quando se pensa em indivíduos saudáveis.
A chance de apresentarmos um quadro de demência chega a 25% após os 80 anos, 50% após os 90, sendo que a causa mais comum é a Doença de Alzheimer. Ela é mais freqüente entre as mulheres e as evidências apontam que as lesões cerebrais associadas à doença têm maior repercussão clínica entre elas. Essas pesquisas solidificam o conceito de que a doença nas mulheres é mais agressiva.
Além disso, mulheres cuidam de parentes com a doença de Alzheimer 2.5 vezes mais que os homens, e em 20% dos casos têm que abandonar o trabalho.
Mulheres têm um melhor desempenho de memória verbal e faz com que testes cognitivos para o diagnóstico de Alzheimer sejam menos sensíveis para elas. Essa é a conclusão de um estudo publicado hoje pelo periódico Neurology da Academia Americana de Neurologia.
A pesquisa foi conduzida pela Universidade da Califórnia nos EUA e demonstrou que o desempenho delas era melhor que o dos homens em testes de memória verbal, mesmo em condições que o exame PET scan demonstrava redução do metabolismo cerebral, condição encontrada na Doença de Alzheimer. Na verdade, o desempenho das mulheres foi melhor em situações em que o metabolismo era normal ou com redução leve ou moderada. Quando a queda do metabolismo já era severa, não havia diferenças entre os gêneros nos testes de memoria.
Esses resultados sugerem que as mulheres têm maior capacidade de compensar perdas da função cerebral por conta de sua maior reserva cerebral nas fases iniciais da doença. Novos estudos deverão ser realizados, e se os achados forem confirmados, os testes cognitivos para o diagnostico da Doença de Alzheimer deverão ser ajustados de acordo com o sexo do paciente.
Comparison of grey matter (brown) and white matter (yellow) in sex-matched subjects A (56 years, BMI 19.5) and B (50 years, BMI 43.4). Credit: Lisa Ronan
O volume da substancia branca cerebral de pessoas obesas é menos volumoso do que de pessoas da mesma idade que estão com o peso em dia. Essa é a conclusão de um estudo recente conduzido por pesquisadores da Universidade de Cambridge da Inglaterra. Eles calcularam que a estrutura cerebral dos obesos é comparável à de indivíduos magros 10 anos mais novos. Um individuo de 60 anos magro tem um volume da substancia branca comparável ao de pessoas obesas com 50 anos de idade.
Nosso cérebro encolhe naturalmente com o passar dos anos e um corpo crescente de pesquisas tem mostrado que a obesidade com suas condições associadas, como ó caso do diabetes e doença cardíaca, está associada a um encolhimento de forma mais acelerada. É importante salientar que não houve correlação do volume da substancia branca com o desempenho cognitivo dos voluntários estudados.
A pesquisa envolveu quase 500 voluntários com idades entre 20 e 87 anos e foi publicada no periódico Neurobiology of Aging. Novos estudos precisam ser realizados para investigar os mecanismos que ligam a obesidade à redução de volume cerebral (componentes hormonais e inflamatórios são grandes candidatos) e se a perda ponderal tem o poder de reduzir essas diferenças.
Mais da metade das mulheres apresentam queixas de memória na fase de transição para a menopausa e temos algumas evidências de que, nessa fase da vida, elas realmente apresentam uma menor velocidade de processamento cognitivo e menor desempenho da memória verbal.
Uma forma de explicar essa lenhificação do pensamento na transição da menopausa é que a redução ou flutuação dos níveis do hormônio estrogênio podem dificultar o pleno funcionamento cerebral. Já foi bem demonstrado que algumas áreas cerebrais são ricas em receptores de estrogênio, regiões que são fortemente vinculadas à memória, como é o caso do hipocampo e o córtex pré-frontal. Além disso, estudos experimentais revelam que o estrogênio é capaz de elevar os níveis de neurotransmissores e também promovem o crescimento neuronal e formação de conexão entre os neurônios.
Nada de pessimismo! A boa notícia é que esses efeitos parecem ser limitados, já que as mulheres voltam a apresentar o mesmo desempenho cognitivo que tinham antes da menopausa após ultrapassarem a transição. Além disso, as mulheres que recebem reposição hormonal antes do término da menstruação são beneficiadas do ponto de vista cognitivo, o que não acontece com aquelas que começam esse tipo de tratamento após o término da menstruação. A Academia Americana de Neurologia publicou nesta semana a maior pesquisa realizada até então (mais de 500 mulheres) confirmando essa posição. Essa é mais uma evidência de que a reposição hormonal deve ser utilizada pelo menor tempo necessário.
E suplementos de soja podem ajudar? A soja é a principal fonte de isoflavonas da dieta, micronutrientes estes que se ligam aos receptores de estrogênio do cérebro. Uma série de pesquisas tem procurado demonstrar seus efeitos na menopausa e os resultados, apesar de conflitantes, não têm sido muito animadores. Os estudos mais robustos até chegaram a evidenciar uma melhora na capacidade de memória visual (ex: reconhecimento de rostos), mas sem impacto relevante em outras funções cognitivas. Vale ressaltar que essas pesquisas envolveram mulheres já na menopausa e por isso a discussão está longe de ser encerrada. O efeito da soja na transição da menopausa pode ser diferente.
A relação entre os níveis de vitamina D e a doença de Alzheimer parece ser muito maior do que se imaginava há dez anos. Para se ter uma ideia, um estudo publicado em 2014 envolvendo quase dois mil idosos mostrou que aqueles com baixos níveis de vitamina D tinham 53% mais chance de desenvolver demência, especialmente a doença de Alzheimer, e o risco era 120% maior entre aqueles com níveis muito baixos dessa vitamina.
A vitamina D também pode ajudar no tratamento do Alzheimer?
Sabe-se que a vitamina D está associada à expressão de diferentes proteínas e células essenciais para a função cerebral e seu efeito de proteção cerebral pode ser explicado também pelo seu papel no metabolismo do cálcio e pela sua capacidade de inibir depósitos de substâncias que estão associadas à doença de Alzheimer. Ótimos níveis de vitamina D podem ter importante papel na redução da velocidade de progressão da doença, mas estudos mais conclusivos precisam ser realizados.
A vitamina D ajuda na memória de pessoas saudáveis?
Temos evidências que, até entre indivíduos na meia idade, há uma associação entre o desempenho cognitivo e os níveis de vitamina D. As pessoas com melhor desempenho são as que têm maiores concentrações da vitamina no sangue. Isso não quer dizer que suplementos de vitamina D sejam capazes de turbinar o cérebro. Ainda esperamos novos estudos para chegar a essa conclusão.
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Sabemos que o hábito de consumir uma dieta rica em peixes é capaz de reduzir o risco de problemas no cérebro como o acidente vascular, depressão e Doença de Alzheimer. Na última semana, pesquisadores da Universidade de Columbia – EUA mostraram que esse hábito pode fazer também com que o cérebro resista à tendência de redução de volume em idades mais avançadas. O estudo foi publicado pelo periódico Neurology da Academia Americana de Neurologia.
Após avaliarem o hábito alimentar e estudos de ressonância magnética de quase 700 idosos com uma média de idade de 80 anos, os pesquisadores demonstraram que aqueles que eram adeptos da dieta mediterrânea tinham um volume cerebral comparado ao de pessoas cinco anos mais novas. Vale lembrar que a dieta mediterrânea é uma alimentação rica em peixes, verduras, legumes, frutas, cereais (melhor se forem integrais), azeite e outras fontes de ácidos graxos insaturados, baixo consumo de carnes e laticínios e outras fontes de gorduras saturadas, além do uso moderado, porém regular, de álcool.