É crescente, inclusive no Brasil, um movimento que propõe a segregação de meninos e meninas na escola com o argumento de que as características cerebrais de cada gênero justificam duas formas de ensinar. Essa é uma questão polêmica, mas os neurocientistas não apóiam muito essa idéia, já que o que temos de evidências são diferenças cerebrais muito sutis entre os gêneros.
Entre as poucas e discretas diferenças que têm sido demonstradas, algumas não tiveram confirmação em estudos subseqüentes, como é o caso do corpo caloso, estrutura que comunica os dois hemisférios, e a lateralização da linguagem. Podemos ver com freqüência histórias de que a mulher consegue fazer muitas coisas ao mesmo tempo por ter o corpo caloso maior. Outra é a de que a mulher pensa mais do que os homens com os hemisférios cerebrais de forma sincrônica. Nenhumas dessas duas situações têm comprovação científica. A mulher pode até conseguir, num mesmo momento, fazer mais coisas do que os homens, mas a raiz disso pode estar em fatores culturais. Será que as meninas são diferentes dos meninos nesse sentido?
Quanto ao ritmo e sequência da maturação cerebral, vende-se a idéia de que as áreas cerebrais associadas à linguagem amadurecem quatro anos mais cedo entre as meninas, e as regiões do cérebro que processam informação espacial, como a geometria, ficam maduras quatro anos mais cedo nos meninos. Mas alguma pesquisa realmente mostrou isso? Na verdade, essa é uma interpretação errônea de um estudo conduzido na década de 1990 e cujos resultados estão um pouco longe dessas conclusões.
Aqueles que defendem as escolas “single-sex” falam de boca cheia que o cérebro masculino e o feminino são profundamente diferentes. Profundamente? Essas peculiaridades apontadas são baseadas na sua maior parte em estudos realizados em adultos que não podem ser extrapolados para crianças. Além disso, esses pequenos detalhes têm sido mal interpretados e exagerados com a chancela de que foram demonstrados por estudos científicos. Os maiores porta-vozes desse movimento são livros best-sellers, alguns deles escritos por médicos mesmo, e a própria mídia que endossa os conceitos por eles difundidos.
De uma forma geral, não há reais evidências de que, na hora de aprender, vale a pena deixar os meninos separados das meninas em nome de “hardwares” diferentes. Ao invés disso, as escolas poderiam passar para as crianças o conceito de que o cérebro delas é bem maleável, independente do gênero, raça e outras características demográficas. E ainda nem falamos dos ganhos do convívio entre meninos e meninas.
2 comentários
19 julho, 2012 às 12:45 pm
Ricardo Teixeira
Obrigado Mariza. Somos diferentes , mas bem parecidos…
19 julho, 2012 às 4:20 am
Mariza Monteiro Borges
Parabéns, Ricardo, por deixar claro que não há evidencias das enormes diferenças.