A velocidade com que um idoso consegue caminhar pode ser um marcador de sua longevidade. Esta foi a hipótese de um estudo publicado nesta semana pelo Journal of the American Medical Association e com resultados positivos: idosos mais rápidos têm uma tendência a viver mais.

 

Pesquisadores de vários centros de pesquisa dos Estados Unidos e Europa avaliaram os resultados de nove estudos que incluíam cerca de 35 mil indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos e com seguimento de 6 a 21 anos.  A média de idade era de 73.5 anos e a média de velocidade da marcha era 0.92 m/s. A taxa de sobrevida em 5 e 10 anos era 84.8% e 59.7% respectivamente. Uma maior velocidade de marcha estava associada a maior longevidade em todos os nove estudos e, quando maior que 0.8 m/s, predizia uma vida mais longeva do que a média dos indivíduos pesquisados.

 

E por que a velocidade da marcha de um idoso tem essa relação com sua longevidade? Caminhar exige um bom funcionamento de uma série de sistemas do corpo que inclui os músculos e os sistemas cardio-respiratório e neurológico. Uma marcha mais lenta reflete um custo maior de energia para realização do movimento por disfunção desses sistemas. Além disso, o baixo desempenho físico influencia a saúde num círculo vicioso, pois limita a realização de exercícios físicos.

 

Há pelo menos três décadas já dispomos de fortes evidências de que o desempenho físico é um importante indicador de saúde entre os idosos. Entretanto, esse tipo de avaliação não é rotineiramente realizado no dia a dia dos consultórios médicos. O presente estudo deu um passo importante ao padronizar o teste de marcha e sua interpretação, facilitando sua aplicação na prática clínica. O indivíduo é orientado a caminhar quatro metros no seu ritmo habitual, como se estivesse andando na rua, sem qualquer mensagem que o encoraje a andar rápido. É um teste sem custo e de fácil execução, e que tem mais relevância entre idosos que não têm limitações funcionais, ou seja, naqueles em que uma marcha mais lenta pode significar um sinal precoce de uma condição clínica que ainda não se manifestou.

 

A medida da velocidade da marcha pode ter inúmeras aplicações clínicas. Pode ajudar a definir a reserva fisiológica e a chance de sobrevida de um idoso nos próximos 5 ou 10 anos. Pode identificar um idoso com mal estado de saúde, quando, por exemplo, este tem uma velocidade de marcha menor que 0.5 m/s. Ajuda a separar aqueles que são velhos do ponto de vista biológico daqueles velhos apenas pelo fator cronológico, por acúmulo de anos de vida. É uma ferramenta que também pode ser usada para monitorização do estado de saúde e até para auxiliar na identificação de indivíduos com maior risco para procedimentos médicos, como cirurgias e quimioterapia.

 

** CLIQUE AQUI e confira um bate-papo sobre o assunto com o Dr. Ricardo Teixeira na Radio CBN Brasilia no dia 07 de janeiro de 2011.