Um estudo liderado por pesquisadores brasileiros acaba de ser publicado pela revista Journal of Sleep Research, periódico oficial da Sociedade Européia de Pesquisa em Sono, apontando que o excesso de sono entre os idosos pode indicar uma má condição de saúde. Esse foi o primeiro estudo que correlacionou o padrão de sono de uma população da América do Sul com índices de mortalidade.  

 

A pesquisa acompanhou 1512 indivíduos com mais de 60 anos na cidade mineira de Bambuí, o que representou 87% de todos os moradores dessa faixa etária. A média de horas de sono foi de 7 h e 13 min e, após um acompanhamento médio de nove anos, os pesquisadores demonstraram que os idosos que dormiam mais de 9 horas por noite apresentavam maiores índices de mortalidade, independente da causa, quando comparados àqueles que dormiam sete horas. Além disso, foi demonstrada uma correlação linear entre a quantidade de sono e mortalidade, ou seja, quanto maior a noite de sono, maior a mortalidade.

 

Estudos anteriores com adultos jovens já haviam demonstrado que tanto dormir pouco como dormir demais está associado a uma maior mortalidade. Um sono muito curto pode promover disfunções metabólicas e processos inflamatórios aumentando o risco de doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, diabetes e obesidade. Já o sono em excesso pode influenciar negativamente a saúde por uma menor exposição a desafios fisiológicos como exposição à luz e mudanças de temperatura, estímulos que são bem reconhecidos como fatores que promovem a longevidade, pelo menos em modelos animais. 

 

Entre os idosos essa questão parece ser um pouco diferente, já que há evidências de que o sono em excesso tem um impacto maior na saúde do que um sono curto. Na presente pesquisa, idosos que dormiam 6 horas por noite tinham índices de mortalidade menores que aqueles que dormiam 7-8 horas. Outros estudos conduzidos na Inglaterra, Espanha e Taiwan também mostraram que idosos que dormiam pouco não tinham maiores índices de mortalidade. Esses resultados colocam em xeque, no caso dos idosos, a velha recomendação de sete a oito horas de sono por noite.

 

A grande maioria das pessoas, incluindo os brasileiros, dorme entre 7 e 8 horas por dia. O padrão normal do sono entre idosos ainda é uma questão polêmica e a principal razão é o fato de que algumas pesquisas incluem em suas análises idosos com problemas de saúde, enquanto outras não. Uma pesquisa realizada pelo Centro de Medicina do Idoso da Universidade de Brasília demonstrou que, entre idosos moradores de Brasília, sem qualquer problema de saúde ou uso de medicamentos, quase 90% deles tinham um sono de boa qualidade, com uma média de 6.8 horas por noite e cerca de 90% iam para a cama após as 22:00h, contrariando a crença de que os idosos “dormem com as galinhas”. Os resultados são concordantes com estudos internacionais que nos demonstram cada vez mais que os idosos realmente precisam de um pouco menos de sono noturno para se sentirem dispostos durante o dia e isso não deve ser visto como um sono insuficiente.

 

** CLIQUE AQUI e confira um bate-papo sobre o assunto com o Dr. Ricardo Teixeira, veiculado pela  Rádio CBN Brasília no dia 24 de setembro 2010

 

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