A enxaqueca faz parte da vida de uma em cada cinco mulheres e sua prevalência é três vezes menor entre os homens. Por ser tão comum e por ser geneticamente herdada, há uma tese de que ela deve corresponder a uma vantagem da espécie humana construída ao longo da evolução, como se fosse um alarme que faz doer a cabeça quando estamos expostos a situações que não combinam com a preservação da espécie (ex: privação de sono, jejum prolongado).
Por conta desse alarme, existe uma crença de que as pessoas com enxaqueca tenham um estilo de vida mais saudável, com menos excessos. Entretanto, um estudo publicado na última edição online da revista Neurology, periódico oficial da Academia Americana de Neurologia, demonstrou que as pessoas com enxaqueca têm uma maior chance de apresentar fatores de risco vascular como hipertensão arterial, diabetes e colesterol alto, condições que têm um componente genético, mas que também têm forte associação com hábitos de vida.
O estudo acompanhou mais de onze mil americanos e ainda mostrou que os portadores de enxaqueca têm maior risco de infarto do coração, doença arterial periférica e derrame cerebral, independente de apresentarem fatores de risco vascular. No caso do derrame cerebral, esse risco só foi maior naqueles com enxaqueca com aura, que é quando a enxaqueca é precedida ou acompanhada de sintomas neurológicos como flashes na visão ou alteração da sensibilidade de um lado do corpo.
Esses resultados reforçam ainda mais a idéia de que os médicos devem encarar a enxaqueca como uma condição que vai muito além da dor de cabeça. Ações de prevenção de outras condições clínicas que aumentam o risco vascular devem ser fortemente encorajadas. No caso das mulheres com enxaqueca com aura, essas devem ser orientadas a evitar o uso de pílulas anticoncepcionais que contenham o hormônio estradiol. Cigarro nem em pensamento. Uma questão ainda em aberto é se o tratamento adequado das crises de enxaqueca é capaz de reduzir o risco de doenças vasculares. Que melhora muito a qualidade de vida ninguém tem dúvida.
8 comentários
12 fevereiro, 2010 às 9:59 pm
Leonardo Fontenelle
Ricardo, obrigado por estar sempre nos lembrando da importância da enxaqueca (reluto em chamar de migrânea). Acredito que todo médico deveria saber fazer diagnóstico e tratamento (na crise e também profilático) da enxaqueca, assim como todo médico deveria saber tratar de hipertensão arterial. Como você mesmo diz, é uma condição prevalente e importante.
12 fevereiro, 2010 às 10:47 pm
Ricardo Teixeira
Caro Leonardo,
Pela classificação da Organização Mundial da Saúde YLD, a migrânea é a décima nona doença no ranking das doenças que mais causam incapacidade funcional (YLD – years lived with disability). No caso da mulher, ela fica em décimo segundo lugar.
12 fevereiro, 2010 às 3:17 pm
sylvia nunes magalhaes
tenho adorado as reportagens recebidas do Dr. Ricardo Texeira .
Parabens !!!!
12 fevereiro, 2010 às 3:43 pm
Ricardo Teixeira
Cara Sylvia,
Fico muito contente com retornos positivos como o seu, e é isso que enche o tanque de disposição para manter o projeto ConsCiênciano Dia-a-Dia.
11 fevereiro, 2010 às 4:30 am
Gilberto Miranda Junior
Prezado Dr. Ricardo, tenho uma dúvida e uma pequena correção, se me permite…
– A dúvida: se as mulheres tem mais enxaquecas do que os homens, e a enxaqueca está relacionada com problemas vasculares, por qual motivo os homens, estatisticamente, possuem mais problemas vasculares que os homens?
– A correção: a expressão “tres vezes menos” é inconcebível. Não existe nada além do que 1 vez menos de qualquer coisa. Algo só pode ser menos ao limite de 100% de si, mais que isso é impossível. É um engano comum que não afeta o sentido do que o sr. disse, mas pode afetar o julgamento sobre o cuidado com que foi escrito.
Parabéns pelo Blog…. Eu acompanho pelo Feed do Blog de Ciências.
Abraços e sucesso…
11 fevereiro, 2010 às 11:46 am
Ricardo Teixeira
Caro Gilberto
Obrigado pela dica linguistica – faz todo o sentido – mas acho que vou manter o formato popular e ” errado” .
O homem tem mais eventos vasculares porque as causas vão muito além da enxaqueca – a enxaqueca na verdade é uma causa rara. As outras causas de eventos vasculares são mais comuns entre e os homens – aqui pode – são X vezes MAIS comuns entre os homens.
12 fevereiro, 2010 às 9:56 pm
Leonardo Fontenelle
Ricardo, que tal (risco) três vezes menor?
12 fevereiro, 2010 às 10:57 pm
Ricardo Teixeira
Obrigado Leonardo,
Acabei de corrigir. Estou convencido que não está certo : três vezes menos comum. Pra falar a verdade, eu não reconhecia isto como erro de português. Living and learning!