Uma pesquisa recém-publicada pelo American Journal of Nutrition investigou o padrão de consumo de peixe numa população de cerca de 15 mil idosos na China, Índia, Cuba, República Dominicana, Venezuela, México e Peru, e os resultados confirmam estudos anteriores realizados em países desenvolvidos: o consumo de peixe está associado a um menor risco de demência. Essa é a primeira vez que esse efeito é demonstrado em países fora do eixo Europa e América do Norte, e também é a maior pesquisa realizada até o momento sobre esse assunto.
Mais de 24 milhões de indivíduos no mundo apresentam o diagnóstico de demência, sendo que suas causas mais comuns são a doença de Alzheimer e a doença cerebrovascular. Calcula-se que cerca de dois terços dos casos de demência encontram-se em países pobres e em desenvolvimento, porém esse é um problema que tem sido relativamente negligenciado nesses países. O atual estudo reforça a recomendação consensual de que se deve comer peixe pelo menos duas vezes por semana para prevenção de doenças cardiovasculares.
O grande responsável por esse efeito protetor do peixe é o ômega-3, um tipo de gordura com efeitos antioxidantes, antiinflamatórios, antiateroscleróticos e neuroprotetores. Sabemos também que há peixes especialmente ricos em ômega-3, como é o caso do atum, sardinha e salmão. Vale ressaltar que sardinha e atum em lata também vale! Pesquisadores da Escola Paulista da Medicina avaliaram as sardinhas em conserva disponíveis no nosso mercado e demonstraram um conteúdo de ômega-3 bem satisfatório. Diferentemente dos peixes em conserva, o peixe quando é frito perde o status de protetor do cérebro e do coração.
Quanto à carne vermelha, o presente estudo evidenciou que seu efeito foi o oposto do encontrado com o peixe: quanto maior o consumo, maior o risco de demência. Esses resultados são consistentes com outras pesquisas prévias. Além disso, recentemente foi demonstrado também que quem come menos carne vermelha vive mais. Calcula-se que 11-16 % das mortes poderia ser evitada se as pessoas comessem menos carne vermelha, e a redução do risco de mortalidade por doenças cardiovasculares poderia chegar a 21%. As carnes vermelhas contêm grande quantidade de gordura saturada que por sua vez está associada ao aumento dos níveis de colesterol, da pressão arterial e do risco de câncer. As carnes vermelhas ainda possuem reconhecidos compostos carcinogênicos, que podem ser ainda mais concentrados nas carnes processadas.
Não é o caso de radicalizar e recomendar que todo mundo pare de comer carne vermelha. Limitar o consumo de carnes vermelhas e processadas a menos de 10% das calorias diárias já é o suficiente. Nesse sentido, dietas com altos teores de carne vermelha como fonte de proteína (ex: dieta do “Dr. Atkins”) não garantem bons resultados à saúde quando se pensa a longo prazo. Por outro lado, um peixinho 2 a 3 vezes por semana é um ótimo negócio à saúde.
7 comentários
20 agosto, 2009 às 6:40 pm
Valtinei Paulo Berbet
Olá doutor, adorei conhecer seu blog. Achei muito interessante a materia sobre o colesterol. Parabens. Obrigado.
20 agosto, 2009 às 7:01 pm
Ricardo Teixeira
Oi Valtinei,
Muito obrigado pelo seu retorno. São essas manifestações que fazem a gente manter o fôlego de publicação.
5 agosto, 2009 às 2:22 am
ines
Olá doutor, gostei muito da materia.
Sempre procuro estar atualizada com as informaçoes, pois tenho alguém na familia com esse problema.
Mas gostaria de saber qual a melhor maneira de fazer o peixe, eu faço sempre frito.
Muito obrigada.
Ines
5 agosto, 2009 às 1:31 pm
Ricardo Teixeira
Você deve cozinhar ou assar, pois os estudos mostram que o peixe quando frito perde suas propriedades mais nobres.
29 julho, 2009 às 9:56 pm
Jussara
Legal, dr. O projeto é realmente mto bacana.
Então vou continuar a comer um atunzinho de vez em qdo (não gosto de sardinha). É que não como carne vermelha e estou parando com frango, e naturalmente o organismo foi meio que “repelindo” a ingesta de peixe tb. Já não gosto tanto quanto antes, mas tenho pavor de ter uma doença cerebral no futuro :D.
28 julho, 2009 às 1:57 pm
Jussara
Olá, dr Ricardo,
Descobri o blog há pouco tempo e estou gostando muito. Sobre este post, já que o maior componente benéfico do peixe é o ômega 3, será que a semente de linhaça, que é bastante rica nessa gordura não faria o mesmo efeito?
Saudações e parabéns pelo blog!
29 julho, 2009 às 2:56 am
Ricardo Teixeira
Oi Jussara,
Fico muito feliz com retornos como o seu sobre o projeto ConsCiência.
A linhaça é rica em ômega-3 , mas os peixes (salmão, atum e sardinha) são mais ricos ainda.