Podemos dizer que um chimpanzé só olha para o próprio umbigo. Por um lado ele não tem a mínima tendência em oferecer alimento a parceiros do mesmo grupo, mesmo que a atitude não custe nada a ele. Por outro lado, ele também não costuma impedir que outro tenha acesso a alimento.
Dividir com os outros, pelo menos com os membros do próprio grupo social, é uma característica única do ser humano. Um estudo publicado esta semana pela revista Nature mostra que nosso lado altruísta não nasce pronto, mas vai se desenvolvendo durante a primeira década de vida. Pesquisadores suíços demonstraram que crianças entre 7 e 8 anos de idade já são capazes de dividir seu alimento de forma igualitária com parceiros do mesmo grupo social (coleguinhas de escola), mesmo quando têm a chance de ficar com a maior parte. Nesse estudo, as crianças ainda apresentaram aversão a situações em que a divisão era feita com desigualdade. A metodologia usada permitiu inferir que os resultados observados são independentes do efeito reputação, ou seja, a atitude altruísta das crianças foi considerada independente do fato de se “fazer o bem” porque tem gente olhando e que por isso a ação poderia trazer benefícios futuros. No caso de adultos, é mais difícil isolar o efeito reputação, já que mesmo instruídos de que as respostas serão mantidas em sigilo, o comportamento pode ser influenciado pela sensação de que sempre alguém pode estar olhando.
Em contraste, no mesmo estudo crianças ente 3 e 4 anos não tinham muita tendência em dividir com seu grupo. É sabido que crianças até com menos de dois anos de idade são capazes de colaborar com outras na realização de tarefas motoras, fenômeno chamado de altruísmo instrumental, e essa é uma condição também observada entre nossos ancestrais chimpanzés. Porém, dar uma forcinha para abrir uma porta é uma coisa. Já dividir o alimento é outra bem diferente.
O estudo demonstra que o altruísmo humano já existe entre as crianças e mais uma vez nos revela que a cooperação é mais forte entre indivíduos do mesmo grupo social, também conhecida pela ciência como cooperação paroquial. E essa é uma das mais marcantes habilidades do ser humano e que não é encontrada em outras espécies: a capacidade de criar e manter laços de cooperação com indivíduos que não são de seu mesmo núcleo familiar.
5 comentários
27 outubro, 2009 às 11:03 pm
maria jaciene dos santos lira
pra quew serve o altuismo
26 novembro, 2008 às 8:04 pm
Ricardo Teixeira
Olá Hélida,
Vida profissional ou pessoal é vida em cooperação e é difícil pensar que existam exceções. Muito tem se explorado sobre a liderança no trabalho que deve aprender a se doar, e um best seller do assunto é o Monge e o Executivo. Trabalhar em cooperação e num bom ambiente faz bem à saúde !
Essa semana a revista Occupational and Environmental Medicine divulgou um trabalho apontando que chefes arbitrários e insensíveis aumentam o risco de sua equipe apresentar um infarto do coração. Veja o press release da BBC :
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/11/081125_badbosses.shtml
26 novembro, 2008 às 6:25 pm
Élida Farias
Olá!
Alguem podia me responder em relação ao altruísmo, qual a sua importância para a valorização do ser humano na vida profissional?
Grata,
Élida
8 setembro, 2008 às 7:30 pm
Érika Sena de Oliveira
Professor Ricardo,
Pena que o Sr. não está mais conosco no mestrado da geronto. Foi de grande valia todas as dicas durante aquele período.
Atenciosamente,
Érika Sena de Oliveira
6 setembro, 2008 às 11:29 pm
Bruno Ayres
Obrigado, Ricardo! Esses seus posts sobre altruísmo e cooperação me ajudam muito a entender meu trabalho.
Essa semana mesmo, dei uma palestra em que falei que o senso de responsabilidade e cuidado pelo outro é atrubuto distintivo de nossa espécie. Já tinha lido isso em textos de sociólogos e agora vc confirmou. Valeu!
Um abração!