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Ricardo Afonso Teixeira*
O derrame cerebral, principal causa de morte em nosso país, é mais comum entre os idosos, mas tem ocorrido cada vez mais precocemente. Estudos apontam que os jovens chegam a representar uma fatia de quase 20% de todos os casos.
As mulheres têm alguns fatores de risco que os homens não têm e outros que elas apresentam de forma bem mais frequente.
Pílula anticoncepcional.
O tempo de exposição ao estrogênio pode ser estimado em uma mulher antes da menopausa pelo tempo entre a primeira menstruação e a menopausa adicionado ao tempo em que usou estrogênio como anticoncepcional. Uma pergunta muito comum no consultório neurológico é se o tempo prolongado do uso de anticoncepcionais pode aumentar o risco de derrame cerebral e uma grande pesquisa publicada em 2023 mostrou que maior exposição de estrogênio antes da menopausa, na verdade, reduz esse risco.
O estudo envolveu mais de 120 mil mulheres já na menopausa com acompanhamento por nove anos em média. Tanto o tempo de fertilidade, da primeira menstruação à menopausa, como o tempo de uso de estrogênio como pílula anticoncepcional, conferiram proteção contra a ocorrência de derrame cerebral.
Pesquisas anteriores já haviam demonstrado que o estrogênio tem um certo grau de proteção vascular no coração e no cérebro por suas propriedades vasodilatadoras, antioxidantes e de regulação no metabolismo do colesterol e glicose. Quando se pensa em reposição de estrogênio após a menopausa, essa proteção ocorre com o uso até os 60 anos de idade ou dentro de um período de dez anos após a menopausa. Após esse tempo, a resposta é indiferente ou o risco pode até aumentar.
Gravidez. O terceiro trimestre da gravidez e o puerpério são períodos em que a mulher tem mais chance de apresentar eventos vasculares, incluindo o derrame cerebral. As mudanças hormonais, na circulação e coagulação sanguínea podem responder por esse maior risco.
Enxaqueca com aura. Vale lembrar que as mulheres têm três vezes mais enxaqueca que os homens. Cerca de 25% das pessoas que sofrem de enxaqueca também apresentam sintomas que precedem as crises de dor de cabeça como por exemplo flashes visuais e formigamento de um lado do corpo. A esses sintomas dá-se o nome de aura e há inúmeras evidências de que a enxaqueca com aura aumenta a chance de derrame e o risco é ainda maior quando outros fatores de risco estão presentes.
A relação entre a enxaqueca e o derrame cerebral envolve uma complexa interação de particularidades do cérebro, vasos sanguíneos, coagulação, e até mesmo do coração de que tem enxaqueca. Os derrames costumam ocorrer mais nas regiões posteriores do cérebro e naqueles com crises mais frequentes. O risco é ainda maior quando existem outros fatores como uso de pílula anticoncepcional, dislipidemia, hipertensão arterial e obesidade e tabagismo. Mulheres com enxaqueca com aura devem evitar as pílulas anticoncepcionais que contêm o hormônio estradiol.
No caso do tabagismo, ele está associado ao derrame cerebral mesmo entre os jovens. Uma pesquisa acaba de ser publicada pela Neurology, periódico da Academia Americana de Neurologia, demonstrando que o risco de derrame cerebral é 2 a 5 vezes maior entre fumantes entre 18 e 49 anos de idade. É claro que esse risco é ainda maior quando o indivíduo tem enxaqueca com aura.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

Ricardo Afonso Teixeira*
Mais da metade das mulheres apresentam queixas de memória na fase de transição para a menopausa e temos algumas evidências de que, nessa fase da vida, elas realmente apresentam uma menor velocidade de processamento cognitivo e menor desempenho da memória verbal. Esse fenômeno também é conhecido por névoa cerebral (“brain fog”), a mesma expressão usada para as dificuldades que podem ser encontradas na COVID longa.
Uma forma de explicar esse menor desempenho na transição da menopausa é que a redução e flutuação dos níveis do hormônio estrogênio podem dificultar o pleno funcionamento cerebral. Já foi bem demonstrado que algumas áreas cerebrais são ricas em receptores de estrogênio, regiões que são fortemente vinculadas à memória, como é o caso do hipocampo e o córtex pré-frontal. Além disso, estudos experimentais revelam que o estrogênio é capaz de elevar os níveis de neurotransmissores e também promovem o crescimento neuronal e formação de conexão entre os neurônios.
As mulheres que recebem reposição hormonal antes do término da menstruação são beneficiadas do ponto de vista cognitivo, o que não acontece com aquelas que começam esse tipo de tratamento após o término da menstruação. Essa é mais uma evidência de que a reposição hormonal deve ser utilizada pelo menor tempo necessário. Temos até evidências que o uso prolongado desse tipo de tratamento pode levar à perda do volume de substância cinzenta do cérebro e declínio cognitivo.
Uma recente pesquisa aponta também que, quanto mais tarde se dá o início da menopausa, melhores são os indicadores cognitivos e o uso de reposição hormonal não teve qualquer influência. Esses resultados não foram válidos para os casos de menopausa cirúrgica, condição em que as mulheres têm os ovários removidos cirurgicamente. Em 2020, a revista Menopause da Sociedade Americana de Menopausa mostrou que durante as ondas de calor, que afetam um terço das mulheres de forma severa na transição da menopausa e em 30% daquelas na fase pós-menopausa, o desempenho cognitivo ainda é mais prejudicado. O aumento dos níveis do hormônio cortisol, elevados durante as ondas de calor, pode contribuir para esse efeito negativo na cognição. Isto abre uma oportunidade em que o tratamento das ondas de calor possa ser uma forma de incremento cognitivo nessas mulheres.
E no período pós-menopausa? Dois estudos são considerados referência na comparação entre o desempenho pré-menopausa, perimenopausa e pós-menopausa. O primeiro é o americano SWAN de 2009 que sugeriu que a limitação cognitiva era restrita a alguns anos no período de transição para a menopausa e depois as mulheres voltavam a apresentar o mesmo desempenho que tinham anteriormente. Em 2018, um estudo inglês (Kuh e cols.) revelou que as dificuldades cognitivas não são transitórias, mas persistem por vários anos, em concordância com outros trabalhos menos robustos. Entretanto, várias pesquisas também mostram que o perfil cognitivo na perimenopausa é pior que na pós-menopausa e há evidências de uma adaptação cerebral aos baixos níveis de estradiol – Mosconi e cols. (2021). Resumindo, muitas mulheres passam pela transição com dificuldades e depois se recuperam e essa chance pode ser maior se preservarem a rotina de estímulos cognitivos, atividade física, socialização, sono de qualidade e, acima de tudo, se cuidarem do equilíbrio mental.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

Ricardo Afonso Teixeira*
A mulher nasce com cerca de dois milhões de óvulos, no início da puberdade são 400 mil, e apenas uma pequena parte é usada nas ovulações ao longo da vida adulta. A maior parte dos óvulos degenera-se com o tempo e quando os remanescentes passam a ser insuficientes para produzir estrogênio suficiente para manter ativo o sistema ovário-cérebro (ovário-hipófise-hipotálamo) a mulher não mais menstrua. Diferente das mulheres, a grande maioria das fêmeas no mundo animal continua fértil até o fim da vida e não sabe o que é menopausa. Duas exceções conhecidas são algumas espécies de baleias e elefantes.
Elegantes linhas de pesquisa têm compreendido a menopausa nas mulheres como uma vantagem evolutiva, ou seja, ela aumentaria as chances da espécie em gerar descendentes, perpetuando assim seus genes. A menopausa serviria como um fator de proteção tanto para as mães como para os filhos. Mas de que maneira?
As mulheres contemporâneas vivem uma condição muito recente na sua história evolutiva que é o grande número de ciclos ovulatórios ao longo da vida, pois começam a ter seus filhos tardiamente, e poucos filhos. Essa frequência maior de ovulações faz com que a mulher seja muito mais exposta às elevações periódicas de estrogênio, o que já sabemos que aumenta o risco de doenças como o câncer de mama. A menopausa pode ser vista como uma resposta adaptativa evitando que a mulher chegue aos 80 anos de idade com o mesmo nível de exposição ao estrogênio.
Outra vantagem de as mulheres não continuarem férteis em idades mais avançadas é a de que assim os filhos poderão contar com suas mães vivas nos seus primeiros anos de vida, e pesquisas nos confirmam que isso aumenta a chance de uma criança chegar à idade adulta. Além disso, os óvulos de mulheres mais maduras têm mais chances de serem defeituosos, e caso fossem fertilizados, haveria maior risco de gerar anormalidades cromossômicas e recém-nascidos de baixo peso ou prematuros.
Por essas e outras razões a natureza foi sábia em fazer com que as mulheres a partir de certa idade fossem mais úteis à perpetuação da espécie ao investir energia para a sobrevivência de filhos que não precisassem gerar: seus próprios netos. Esse conceito é bem conhecido pela ciência como “Hipótese Avó”, onde a avó colabora não só com conhecimento, mas também colocando a mão na massa, aumentando a chance de seus netos sobreviverem. Em contraste, na maior parte das espécies animais, o mais comum é que os filhos em idades pré-reprodutivas colaborem com as mães aumentando o sucesso de geração de novos irmãozinhos. Além de suporte aos netos, a “Hipótese Avó” contempla também a menopausa como fator que evita a competição reprodutiva entre gerações na espécie humana.
Um dos estudos mais importantes sobre esse tema foi publicado na respeitada revista científica Nature no ano de 2004. Os pesquisadores avaliaram dados históricos demográficos de populações canadenses e finlandesas do século XIX e evidenciaram que tanto mulheres como homens que tinham mães que viveram mais após os 50 anos de idade tiveram seus filhos mais precocemente, intervalos mais curtos entre o nascimento dos diferentes filhos e uma maior chance de que eles chegassem à idade adulta. Além disso, as mulheres que moravam longe das mães tinham menos filhos quando comparadas àquelas que moravam na mesma casa, no mesmo bairro, na mesma vila. O efeito positivo da avó foi mais pronunciado ainda quando a avó tinha menos de 60 anos de idade quando do nascimento de seu neto. Um dos resultados mais importantes do estudo foi o de que a presença da avó foi relevante na sobrevida dos netos entre os três e cinco anos de idade, mas não nos primeiros dois anos de vida (período da amamentação), reforçando a ideia de que o “efeito avó” existe independente das peculiaridades genéticas dos netos ou do desempenho das mães. E os resultados não foram diferentes entre as duas populações estudadas: canadenses e finlandeses.
O que dizer sobre as avós no século XXI? Nas últimas décadas podemos perceber uma mudança no papel dos avós em nossa sociedade, muitos deles passando a desempenhar o papel de pais. Podemos identificar um crescimento no número de lares em que três gerações convivem: pais, netos e avós. Cresce também o número de lares em que os avós cuidam plenamente de seus netos com os pais morando em outro domicílio.
Esses modelos de organização familiar em que os avós assumem o papel de “avós em tempo integral” podem estar associados a benefícios, mas também a dificuldades, tanto para as crianças como para os avós. Os avós podem se sentir realizados, menos sós e com maior autoestima por assumirem a responsabilidade dos netos, mas por outro lado podem estar sendo submetidos a uma sobrecarga de funções que em alguns casos não são mais compatíveis com os estados de saúde física e financeira comuns entre muitos idosos.
A “Hipótese Avó” é bem reconhecida pela ciência como o meio pelo qual a evolução permitiu que as mulheres ao amadurecerem fossem avós e não mães de novas crianças. Hoje em dia cresce o papel de avós como tutores dos netos, mas também há o outro lado da moeda: situações em que os avós entram em conflito com os pais por ultrapassarem os limites de interferência na educação dos netos sem a concordância dos pais. Usando o bom senso a chance de sucesso é grande: avó tem que ser avó e mãe tem que ser mãe.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

Ricardo Afonso Teixeira*
São inúmeros os benefícios demonstrados do café sobre o cérebro. Temos uma ressalva quando se pensa nas gestantes e a recomendação atual é que elas evitem seu consumo por potencias efeitos negativos no desenvolvimento cerebral do embrião. Essa diretriz ainda é válida, mesmo após o estudo recém-publicado pelo periódico Psychological Medicine, envolvendo milhares de famílias norueguesas, demostrando que o café no período gestacional não interfere de forma significativa no desenvolvimento cerebral. A pesquisa se soma a outras que apontaram ausência de interferência negativa no cérebro e a várias outras que evidenciaram o contrário. A inconsistência dos resultados faz com tenhamos que aguardar por novos estudos.
Além das gestantes, pacientes com osteoporose representam outra população que deve ser cautelosa no consumo do café, pois o excesso de cafeína pode promover a perda de cálcio nos ossos. Na população geral, devemos encarar o café como bebida segura e com inúmeros benefícios à saúde. Uma pesquisa encomendada pela Associação Brasileira das Indústrias do Café (ABIC) revelou que 94% dos indivíduos maiores de 15 anos bebem café e 95% desses o consomem diariamente. Entre aqueles que não tomam café, a principal razão apontada é a de que ele pode fazer mal à saúde.
Uma revisão publicada pelo British Medical Journal reforça aquilo que já tínhamos boas evidências: 3 a 4 doses de café por dia fazem bem à nossa saúde. Pesquisadores do Reino Unido reuniram os resultados de mais de 200 estudos sobre os efeitos do café sobre nossa saúde e concluíram que podemos tomar café, com moderação, sem medo. Os resultados mostraram que o café promove maior longevidade e menor incidência de inúmeras doenças que elenco a seguir:
– doenças cardiovasculares
– alguns tipos de câncer, como o de próstata, endométrio, fígado e pele
– diabetes, cálculos biliares e gota
– depressão, Doenças de Alzheimer e Parkinson
Mas como o café pode ajudar a prevenir doenças neuropsiquiátricas? A grande responsável por esse efeito é a cafeína mesmo. A cafeína se liga a receptores do cérebro chamados de adenosina que promovem uma inibição da atividade cerebral. A cafeína tem uma ação inibitória nesses receptores fazendo uma inibição de um sistema que é inibitório. Por isso o efeito final é estimulante. Quando reduzimos o efeito do freio de mão, o carro anda mais. Esta é a cafeína.
Modelos animais da Doença de Parkinson apontam que a inibição do receptor adenosina pela cafeína reduz a perda de células dos sistemas comumente envolvidos na doença. No caso do da Doença de Alzheimer, estudos demonstram que o consumo de café ao longo da vida pode reduzir o risco da doença. Pesquisas em animais revelam que a cafeína tem o poder de reduzir as alterações patológicas encontradas no cérebro de quem sofre dessa doença. Entretanto, o consumo exagerado da bebida pode trazer efeitos danosos ao cérebro. Uma pesquisa, envolvendo quase 18 mil voluntários, nos mostra que o consumo de mais de seis doses por dia está associado a uma redução do volume cerebral e ao aumento do risco de demência. Café sem culpa, mas com moderação.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

Ricardo Afonso Teixeira*
Não é raro no consultório neurológico a apreensão de mulheres em tratamento para epilepsia que descobriram que estão grávidas. Exceto nos casos em que há um transtorno psiquiátrico grave associado, a grande maioria das mulheres que fazem tratamento para controle de crises epilépticas podem e devem ficar grávidas se este for o desejo.
Elenco a seguir algumas informações que devem ajudar a reduzir a ansiedade de pacientes e médicos quando frente à condição epilepsia e gravidez e podem também colaborar para a redução do estigma associado à doença. As recomendações foram atualizadas recentemente pela Academia Americana de Neurologia no periódico Neurology.
Há evidências inequívocas de aumento do risco para a mãe e o feto se a medicação for interrompida durante a gravidez, atitude não rara por medo da medicação vir a prejudicar o desenvolvimento fetal. Controle das crises por pelo menos 9 meses antes da gravidez significa uma chance de 84-92% da mulher não ter crises durante a gravidez.
Toda mulher fértil deve usar ácido fólico em combinação com a medicação antiepiléptica para reduzir o risco de malformações fetais, mesmo se não estiver planejando gravidez. Quando descobre que está grávida, a mulher não deve interromper seu tratamento. Se planeja ficar grávida, é bom discutir com o médico se há opções terapêuticas com menor risco. De todas as medicações, o valproato de sódio é o que está associado ao maior risco de malformações (9.7%). Em seguida vem o topiramato e fenobarbital. As drogas oxcarbazepina, lamotrigina ou levetiracetam devem ser consideradas como boas opções a depender do tipo de síndrome epiléptica. Entre essas três medicações, os índices de malformações ficam entre 3.1 e 3.5%. Sempre que factível, evitar a politerapia. Vale lembrar que o risco de malformações fetais na gravidez de uma mulher que não tem epilepsia e não usa drogas antiepiléticas é de 2.4% a 2.9%.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

Por Dr. Ricardo Teixeira*
Um dos fenômenos muito especiais da maternidade é o deslocamento do eixo de preocupações de uma fêmea. A vida orientada para suas próprias necessidades passa a se concentrar também no cuidado e bem-estar de seus filhos.
A natureza dá uma força para que esse projeto de cuidar da cria seja bem sucedido, já que as alterações hormonais características da gravidez, parto e lactação, permitem que o cérebro das mães seja “turbinado” nessas fases. O cérebro materno é por definição um modelo espetacular do fenômeno de neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro em criar novas conexões em resposta a um estímulo.
A maior parte das evidências de incremento de funções cerebrais com a maternidade tem origem em estudos com mamíferos inferiores, especialmente os roedores. Pesquisas apontam que não só as alterações hormonais, mas também o ambiente rico em estímulos associados à maternidade (ex: múltiplas novas tarefas, sons, cheiros), têm um papel importante nesse upgrade cerebral das mães.
A maioria dos mamíferos compartilha instintos maternais de defender seu ninho e sua cria. Ao ter que optar entre sexo, drogas, alimento ou seu ratinho recém-nascido, as mamães ratinhas escolhem seus ratinhos. O cuidado com os filhotes ativa nas mães centros cerebrais de recompensa ligados ao prazer, mesmo no caso de filhotes adotivos. Esse fenômeno também foi demonstrado entre as mães humanas ao ouvir o choro dos filhos, ou simplesmente ao olhar para eles.
Em ratinhas, temos evidências de que a maternidade provoca aumento do volume dos neurônios e mais conexões em algumas regiões cerebrais. Mais recentemente, tem sido demonstrado também o fenômeno de geração de novos neurônios. As mães passam a apresentar melhor desempenho em orientação espacial e memória, ficam mais corajosas e rápidas para capturar a presa, e com menos sinais de ansiedade em situações de estresse. Tudo em prol de uma maior capacidade de alimentar as crias. Artemis é ao mesmo tempo a deusa grega do parto e da caça.
E esses efeitos parecem durar bastante. As mamães ratinhas chegam ao equivalente humano de 60 anos de idade com melhor desempenho e coragem, além de menor declínio cognitivo e também menos sinais de degeneração cerebral quando comparadas a ratinhas virgens da mesma idade.
Cerca de 80% das mulheres na gestação, especialmente no terceiro trimestre, queixam-se de menor desempenho cognitivo e alguns estudos confirmam essa tendência, mas demonstram que a intensidade não chega a atrapalhar as atividades do dia a dia. Temos evidências também que, após o parto, a mães recuperam suas habilidades e ficam até mais eficientes do que antes da gravidez. O atual corpo de evidências, juntando resultados de modelos animais e humanos, nos permite pensar que a maternidade colabora para uma maior reserva cognitiva, deixando as mulheres mais resilientes ao processo de envelhecimento cerebral. Entretanto, conclusões ainda devem ser tratadas com cautela, pois há muito que se investigar ainda, especialmente no impacto de longo prazo da maternidade sobre o cérebro.
As mães modernas, com suas rotinas de malabaristas, devem apresentar adaptações cerebrais mais robustas do que as dos modelos animais, já que são submetidas a um nível de estimulação ambiental como nenhuma outra espécie. Além de cuidar da cria e de sua própria sobrevivência, protagonizam diversos outros papéis simultâneos (esposa, amante, conselheira, profissional, dona-de-casa, etc.). É estímulo para dar, vender e jogar fora.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

Por Ricardo Afonso Teixeira*
A defesa por uma vida de abstinência sexual teve sua vez na antiguidade. Na tradição cristã, podemos citar Paulo: “É bom para um homem que ele não toque em uma mulher”. No período helenístico, defendia-se o celibato como uma oportunidade para se dedicar à filosofia e alcançar a virtude e o bem estar. É comum, em várias culturas, a ideia de que o prazer da atividade sexual esteja associado à perda do vigor e do bem-estar. No norte da Índia, qualquer perda de sêmen é considerada como debilitante, podendo levar a problemas de pele, ansiedade e perda da concentração, dores articulares, palpitações, dor no peito e até mau hálito. A conta para reabilitação é a reposição de 40 kg de alimento para cada colher de sêmen perdida.
A ciência antiga também defendeu o conceito de que a restrição de sexo seria capaz de manter o vigor. No final do século XIX, Eugen Steinach ficou muito famoso com sua técnica cirúrgica que impedia a ejaculação por meiodo fechamento dos canais que levam o esperma até a uretra. A ideia era impedir a perda de sêmen e, mesmo com a atividade sexual regular, evitaria assim a perda de hormônios masculinos. Muitos dos seus clientes na época reconheciam o procedimento como uma promissora fonte da juventude, mas com a evolução da ciência e da medicina baseada em evidências, pôde-se ver que tal conduta cirúrgica não oferecia mais do que um poderoso e invasivo efeito placebo. Fica claro, até aqui, que o gozo feminino nem fazia parte do mundo real, ficando restrito às feiticeiras. A caça às bruxas da Idade Média ainda acontece com outros matizes no mundo contemporâneo, uma sociedade patriarcal que não dá conta de dividir o protagonismo com a mulher. Não deixe de ler o monumental livro O Cálice e a Espada de Riane Eisler, especialmente se você for mulher ou LGBTQIA+, e mais especialmente ainda se você for homem.
Nas últimas décadas, estudos científicos rigorosos não só desmontaram de uma vez por todas o mito de que a atividade sexual pode ser deletéria à saúde, desde que devidamente protegida contra doenças sexualmente transmissíveis, mas também têm revelado que o sexo traz inúmeros benefícios à saúde. Alguns desses estudos acompanharam indivíduos de meia idade e idosos por até 20 anos, e têm sido quase unânimes em mostrar que quanto mais regular a atividade sexual, menor a mortalidade, inclusive por doença isquêmica do coração. É bem reconhecido que uma relação sexual, devido ao esforço físico, pode até precipitar hemorragias cerebrais e morte súbita de causa cardíaca em indivíduos predispostos. Entretanto, à luz do conhecimento atual, pode-se dizer que o efeito protetor da atividade sexual é muito maior que os raros eventos precipitados pelo esforço físico. É claro que um indivíduo que tem dor no peito simplesmente por subir dois lances de escada deve discutir com seu cardiologista seu risco em fazer sexo ou qualquer outra atividade física.
Outros efeitos do sexo sobre nossa saúde têm sido investigados, alguns já com boas evidências científicas, outros nem tanto. Elenco a seguir alguns desses efeitos.
– Aumento da concentração de anticorpos do tipo IgA na saliva. Esse mesmo efeito tem sido demonstrado em atletas e está associado a menor risco de infecções do trato respiratório superior. As pesquisas sobre essa questão ainda são muito tímidas e não nos permite sair dizendo por aí que sexo previne gripes e resfriados.
– Um estudo realizado na Escócia através de entrevistas com mais de 3500 indivíduos revelou que aqueles que faziam sexo pelo menos quatro vezes por semana eram aqueles que aparentavam ser mais jovens de acordo com análise de um painel de juízes. O estudo não foi publicado em um periódico científico, mas no livro best-seller Superyoung, propondo que o sexo rejuvenesce. Defende-se a tese de que a atividade sexual, por aumentar os níveis de alguns hormônios, como o estradiol, pode deixar a pele e os cabelos mais viçosos. Além disso, uma outra pesquisa recente demonstra que mulheres com níveis altos de estradiol percebem-se fisicamente mais atraentes e, tanto na mulher como em várias outras espécies, esse componente hormonal faz com que a fêmea seja mais receptiva ao parceiro para a cópula e tenha também maior sucesso na fertilização do óvulo.
– Sexo é atividade física e pode ajudar a controlar o peso, mas isso depende da frequência da atividade sexual. Calcula-se que o gasto energético da atividade sexual seja muito próximo ao ato de caminhar e não há sentido em pensar que o sexo deva substituir a atividade física “não sexual”. É bom lembrar que aquilo que alguns podem chamar de atletas sexuais, pode ser na verdade um transtorno psiquiátrico, um tipo de compulsão chamado de Apetite Sexual Excessivo, ou Ninfomania, no caso das mulheres, e Satiríase, ou Don Juanismo, no caso dos homens. Claro que não existe um número mágico que defina que acima desse número tal existe um transtorno. Transtorno existe quando o comportamento passa a trazer repercussões negativas na vida social, familiar e ocupacional do indivíduo.
– A excitação sexual e o orgasmo estimulam a liberação cerebral de uma série de hormônios e neurotransmissores associados à sensação de satisfação e que também têm efeitos analgésicos. Essas modificações não são associadas simplesmente ao orgasmo, já que são muito maiores com a relação sexual propriamente dita do que com a masturbação. Estudos já demonstraram menos queixas de dor entre pessoas com atividade sexual regular.
– Atividade sexual regular está associada a menos insônia. Esse efeito não parece estar restrito à sonolência após uma relação sexual e, nesse caso específico, a química cerebral no pós-orgasmo parece ser a grande responsável. Pesquisadores da Unicamp demonstraram que mulheres que apresentam insônia têm um menor índice de satisfação sexual. O estudo sugere que a insônia e a baixa satisfação sexual não andam sozinhas, mas têm relação também com a depressão e uso de antidepressivos.
– Uma vida sexual ativa está associada a menos ansiedade, menos agressividade e menos depressão. Um estudo chegou a demonstrar que mulheres que não usavam preservativos na relação tinham menos índices de depressão do que aquelas que usavam. Uma das hipóteses para explicar é a de que a absorção pela vagina de estrogênios e prostaglandinas contidas no sêmen poderia reduzir o risco de depressão. Esse é um estudo isolado, não confirmado por pesquisas subsequentes e com falhas metodológicas significativas, como a diferença na frequência da atividade sexual entre os grupos. E mesmo que os resultados sejam confirmados no futuro, duvido, nada mudará quanto ao recado mais importante relacionado ao assunto: sexo seguro!
– Mulheres que fazem sexo pelo uma vez por semana têm ciclos menstruais mais regulares do que aquelas que fazem sexo de forma esporádica ou as abstêmias. A atividade sexual também fortalece a musculatura da pelve podendo ajudar a reduzir o risco de incontinência urinária com o envelhecimento.
– Homens com maior frequência de ejaculações têm menor risco de câncer de próstata. A produção de sêmen envolve uma alta concentração de substâncias pela próstata e pelas vesículas seminais que pode incluir substâncias carcinogênicas. A retenção de sêmen, por longos períodos, pode aumentar a exposição da próstata a essas substâncias.
A ciência moderna nos mostra de forma inequívoca que há razões de sobra para incorporarmos o prazer sexual como importante medida de promoção à saúde. O equilíbrio entre as diferentes dimensões da vida, e sexo é só uma delas, é fundamental. Podemos terminar ao som de Diversão dos Titãs e lembrar que sexo é muito, muito mais que diversão.
Às vezes qualquer um faz qualquer coisa
Por sexo, drogas e diversão
Tudo isso às vezes só aumenta
A angústia e a insatisfação
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

Ricardo Afonso Teixeira*
O arroz está salgado mesmo que a foto não mostre isso.
Muitas pessoas procuram um serviço de saúde com sintomas neurológicos como fraqueza de um lado do corpo e os exames clínico, de neuroimagem, entre outros, não evidenciam uma doença neurológica que responda por esse sintoma. Histeria, síndrome conversiva, crise psicogênica, pseudocrise, são outros termos para descrever esse fenômeno e hoje não devem ser vistos como a denominações preferenciais, pois alimentam o estigma, preconceito e desinformação.
Histeria traz a origem grega do termo histero, de útero, sendo que a condição afeta em 70% dos casos as mulheres, mas não só as mulheres. Para a “elite masculina” o termo neurastenia já foi muito usado, sugerindo sintomas como reflexo do excesso de trabalho e ambição. O termo conversivo alimenta a ideia de que existe um trauma na história do paciente que se converte em sintomas neurológicos. Isso vem de longe, ainda com Freud e seus antecessores. O trauma nem sempre existe, mas eles estavam certos. História de negligência na infância e abuso físico e sexual são oito vezes mais frequentes entre indivíduos com transtorno de sintomas funcionais neurológicos (TSNF) e duas vezes mais comuns quando comparados a outros transtornos psiquiátricos. Isso tudo acontece mais nas classes econômicas menos favorecidas, e aqui a mulher está em desvantagem. Vale também lembrar que a América Latina tem o maior índice de violência contra as mulheres em todo o mundo (Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas).
Pseudocrise é um termo que leva o quadro do paciente ao descrédito e desconfiança e psicogênico alimenta a cisão entre a mente e o corpo. Aqui vale uma correção ao que foi dito no início: “quando não evidenciam uma doença neurológica que responda por esse sintoma”. Hoje o TSNF é visto como uma doença neurológica sim, doença psiquiátrica sim, e pra romper essa separação mente e corpo, vamos ao termo doença neuropsiquiátrica, então. Essa condição neuropsiquiátrica é considerada a segunda razão pela procura por atendimento numa cínica neurológica.
A mesma fraqueza de um lado do corpo que descrevemos é muito mais respeitada pelos profissionais de saúde quando é decorrente de uma doença neurológica bem conhecida e reconhecida, como por exemplo um tumor cerebral. O TSNF ainda é frequentemente designado pelos profissionais de saúde como piti, às vezes de simulação, fingimento, que são coisas bem diferentes. Isso traz muito sofrimento ao paciente. O cérebro desses pacientes com TSNF apresentam alterações em neuroimagem funcional como PET Scan e até em avaliações morfológicas na ressonância magnética. Não só as conexões cerebrais, o software, está alterado, mas o hardware também está. Imaginem Sigmund Freud tendo contato hoje com essas evidências! Pois é. Ele nos apresentou um outro lado do cérebro, ainda no século XIX, mas a ficha ainda não caiu. O TSNF não é consciente!
Portanto, dizer a um paciente com TSNF que os sintomas são coisas da cabeça dele ou dela refletem ignorância e falta de sensibilidade. A abordagem empática influencia na aceitação do diagnóstico e aderência ao tratamento que inclui psicoterapia, e em casos selecionados, medicações. Os resultados, na maior parte dos pacientes, são ótimos.
* Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e diretor do Instituto do Cérebro de Brasília

Por Ricardo Teixeira*
Na última semana, uma paciente, acompanhada por mim para tratamento de enxaqueca crônica, pediu-me um relatório para o seu trabalho recomendando que se possível fosse oferecida a ela espaço de trabalho menos ruidoso e com iluminação branca menos intensa para o melhor controle de sua condição clínica. As pessoas que sofrem de enxaqueca sofrem com a luz, ruídos e odores, não só quando estão tendo uma crise de cefaleia, mas é comum serem hipersensíveis a estímulos sensoriais intensos também entre as crises. Esse é o meu caso, dessa paciente, e é claro, fiz o relatório.
Nesses três anos de pandemia a discussão sobre o espaço físico do trabalho ressurgiu com tudo. Já na década de 1960 a companhia química DuPont inovou com espaços únicos para inúmeros colaboradores com a promessa de maior colaboração entre eles. Inúmeros estudos mostraram que as pessoas, na verdade, colaboram menos nesse modelo e frequentemente se queixam de ruído e distração. Além disso, o modelo de grandes espaços alimenta o sexismo e a hierarquia corporativa, onde as mulheres se sentem mais oprimidas em serem julgadas pela vestimenta enquanto aqueles com níveis mais altos na hierarquia solidificam suas posições também por se vestirem de forma mais sofisticada.
A saúde também entra nessa equação de custo e benefício dos grandes espaços compartilhados. Nesse quesito, a pandemia de COVID-19 mostrou que a maioria das pessoas pode trabalhar em casa com a mesma qualidade ou até melhor que no local de trabalho tradicional. Desde a década de 1990 sabemos que dividir o espaço de trabalho aumenta em um terço as chances de múltiplas infecções virais no ano.
Hoje pensa-se que o melhor é oferecer a possibilidade de espaços customizados de acordo com o tipo de trabalho e preferências do colaborador, respeitando a neurodiversidade. Uma pesquisa conduzida em 2021 nos Estados Unidos (Gensler Research Institute) mostrou que um terço das pessoas gostariam de trabalhar em casa integralmente e metade preferem um esquema híbrido, idealmente com dois dias na semana no escritório. Lembremos também do maestro dessas decisões pelo lado do empregador: o dinheiro. O trabalho em casa ou em um escritório virtual, que pode ser um Café, permite redução de custos, maior satisfação e menor rotatividade por parte dos colaboradores.
*Ricardo Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e diretor do Instituto do Cérebro de Brasília

A Academia Americana de Neurologia publicou recentemente em seu periódico Neurology evidências de que pressão alta na gravidez reduz o desempenho cognitivo décadas mais tarde. O efeito é ainda maior quando o quadro é de pré-eclâmpsia, condição em que os rins e outros órgãos são envolvidos. Esse efeito também foi maior nas grávidas que apresentam eclampsia que é quando a hipertensão arterial vem acompanhada de uma ou mais crises epilépticas, podendo evoluir até para um estado de coma.
Já sabemos que a pressão alta na gravidez é considerada um fator de risco para doença isquêmica do coração e acidente vascular cerebral e tem sido demonstrada uma associação com quadro demencial no futuro, apesar de resultados conflitantes. A disfunção cerebrovascular é um elemento chave para explicar a relação entre pressão alta na gravidez e demência, mas não devemos pensar apenas na demência vascular, quando lesões vasculares causam o déficit cognitivo, mas também na Doença de Alzheimer.
Os achados do atual estudo, com número robusto de pacientes envolvidos, confirmam a ligação entre pressão alta na gravidez e déficit cognitivo futuro, chamando a atenção para o rigoroso controle da pressão nesse período, ou melhor, em qualquer período.

Um estudo acaba de ser publicado pela Neurology, periódico da Academia Americana de Neurologia, mostrando que mulheres na menopausa apresentam um contingente maior de lesões de pequenos vasos cerebrais quando comparadas a mulheres da mesma idade que não estão na menopausa. O volume dessas lesões também é maior nas mulheres na menopausa do que nos homens da mesma idade, mas isso não ocorre nas mulheres na pré-menopausa.
Mostraram ainda que o efeito deletério da hipertensão não controlada, quando se analisa a quantidade de lesões de pequenos vasos, foi maior entre as mulheres, independente de estarem ou não na menopausa. Além disso, os pesquisadores demonstraram que a terapia de reposição hormonal não foi um fator que modificou essas correlações. Isso sugere que enxergar esses resultados como decorrentes da redução do hormônio estradiol pode ser uma visão reducionista. Uma série de outros mecanismos têm sido explorados para explicar essa maior vulnerabilidade da saúde vascular entre mulheres na menopausa.
Quando se fala em lesões dos pequenos vasos que chegam a provocar um buraquinho no cérebro, também chamadas de lacunas, estudos com ressonância magnética revelam que cerca de 20% dos idosos apresentam tais lesões sem nunca ter apresentado sintomas. Quando se fala em lesões que só fazem pequenas cicatrizes no cérebro, elas estão presentes em até 90% dos idosos e foram essas que foram analisadas no presente estudo. Muito frequentes, muito pequenas, mas nem tão inocentes assim.
O raciocínio habitual quando se pensa em doença dos pequenos vasos cerebrais é o de que uma ou duas lesões realmente não costumam provocar sintomas, a não ser quando se localizam em algumas regiões muito específicas, também chamadas de áreas eloquentes. Já o cérebro que apresenta inúmeras dessas cicatrizes, esse sim começa a funcionar de forma mais ineficiente. Algumas pessoas chegam a apresentar dificuldades graves do pensamento e da marcha, e hoje em dia reconhece-se que essa seja uma das principais causas de déficit cognitivo entre os idosos.
Existem fatores genéticos que determinam o quanto de lesões terá um cérebro que envelhece. Entretanto, é bem sabido que os conhecidos fatores de risco para aterosclerose (ex: hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, etc.) aumentam significativamente a chance de uma pessoa colecionar mais dessas lesões ao longo dos anos.

Isso mesmo. Estudo publicado por Joanna Syrda da Universidade de Bath na Inglaterra mostra que casais com filhos, em que a mulher ganha mais do que o homem, acabam fazendo a divisão do trabalho doméstico ainda mais desequilibrada. E esse desequilíbrio é no sentido de mais trabalho para a mulher. E estamos falando só de limpeza, cozinha e outros trabalhos domésticos, sem incluir qualquer trabalho com os filhos. Foram estudadas mais de seis mil famílias americanas num período de oito anos, todos os casais com relação heterossexual.
A racionalidade econômica sugere que o casal, especialmente aqueles que têm filhos, encontrará um equilíbrio ideal nas tarefas de casa quando se coloca no tabuleiro o tempo livre e ganhos de cada um. O homem ou a mulher quando precisam trabalhar mais horas e têm a chance de um ganho maior que seu cônjuge, tem uma justificativa até razoável de contribuir menos com as tarefas de casa. Mas o que Syrda apontou é que esse raciocínio parece ser válido só para os homens. Muitos casais partem de uma condição fora da norma, da mulher ganhando mais que o homem, promovendo simultaneamente um incremento da assimetria das atividades domésticas, o que permite parecerem, para si mesmos e para os outros, mais próximos da norma. E esse incremento de assimetria é a mulher cuidando ainda mais da casa que o homem, mesmo trabalhando mais e ganhando mais. Reafirmam assim identidades ameaçadas e aumentam a tradição que se espera de um casal.
Syrda lembra da importância do ajuste nessa divisão de participação no trabalho de casa, especialmente quando nascem os filhos. Um padrão de divisão disfuncional deve ser discutido já na sua gênese, pois depois de uma rotina estabelecida, tudo fica mais difícil de renegociar. Isso sem falar na experiência que os filhos terão assistindo essa divisão de trabalho sem sentido que poderá ser replicada quando chegarem à idade adulta. Ela conclui o artigo lembrando da revolução comportamental da década de 1960 que deveria, no longo prazo, vir a ter uma crescente participação dos homens nas atividades domésticas à medida que as mulheres estivessem na rua trabalhando, muitas das vezes, com salários superiores aos deles. Como reativar essa revolução?
Diante disso, finalizamos com o jargão que o homem não tem que ajudar sua mulher em casa. Tem sim é que fazer sua parte. O homem tem que estar atento no que ela precisa, mesmo no meio de uma disputa. Gottmann, professor emérito da Universidade de Washington, estudou a fundo os fatores que promovem a estabilidade de um casal. Ele filmou o cotidiano de milhares de casais para analisar suas interações e apresentou os resultados de forma quantitativa. Ele lembra que podemos aplicar a Teoria dos Jogos nas relações conjugais também. A princípio, se um ganha dois pontos, o outro perde dois. O equilíbrio em que ambos ganham, em que cada um sai com um ponto, aproxima-se mais do equilíbrio de Nash – John Nash Prêmio Nobel de Economia. Rubem Alves trouxe a ideia das relações como um jogo de frescobol. Se o outro erra, o prejuízo é dos dois. Por isso vale a pena jogar a bola com capricho para o outro. Tudo isso precisa de esforço de ambas partes.

Sentimentos como nervosismo e entusiasmo são frequentemente associados mais a um gênero do que ao outro. Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos EUA, avaliaram se as mulheres realmente são mais emotivas que os homens, já que a ideia de elas serem mais emotivas que eles pode ser só um estereótipo. É comum a flutuação emocional de um homem durante um jogo de futebol ser considerada “paixão”, enquanto as flutuações das mulheres, em qualquer situação e mesmo que provocadas, são interpretadas, por muitos, como irracionalidade.
O estudo acompanhou 142 voluntários (18 a 38 anos) por 75 dias para mapear as emoções positivas e negativas no dia a dia. Os resultados mostraram que os altos e baixos emocionais não foram diferentes entre os gêneros, apesar de terem sido desencadeados por razões diferentes. Entre as mulheres, a flutuação emocional não estava associada ao uso de pílula anticoncepcional.
Os achados têm uma grande implicação na redução do estigma de “mulheres à beira de um ataque de nervos”, já que os homens estão na mesma montanha russa emocional. A pesquisa trará impacto também na inclusão das mulheres em estudos que historicamente as excluem com o argumento de que a flutuação emocional é muito alta e hormônio-dependente. Inúmeros estudos com roedores apontam que essas flutuações na fêmea são até menores do que no macho.
Refrescando a memória sobre esse estereótipo na CPI da covid-19:
Simone Tebet foi chamada de “descontrolada”.
A senadora Leila Barros foi interrompida várias vezes pelo senador governista Marcos Rogério enquanto tentava cumprir seu papel na CPI. Rogério afirmou, na ocasião, que ela estaria “nervosa”.
Ninguém chamou um homem de nervoso ou descontrolado na CPI. Estavam todos em estado de relaxamento profundo.

Ameaça de estereótipo é um fenômeno em que uma pessoa experimenta insegurança e ansiedade pelo receio de ter um pior desempenho por fazer parte de um grupo com estereótipo de inferioridade. Estamos falando da raça negra e gênero feminino, por exemplo.
As pessoas que fazem parte desses grupos têm pior desempenho quando “lembradas” desses estereótipos. Esse é o caso de meninas em testes de matemática quando lembradas que os meninos são melhores em matemática. O mesmo ocorre se as meninas recebem alguma mensagem subliminar durante uma partida de que meninos são superiores no xadrez. Além disso, o estereótipo de um campeão de xadrez é o de um homem esquisito e não o de uma mulher graciosa.
Negros também têm pior desempenho em um teste cognitivo quando são avisados que a resolução do problema depende de habilidade intelectual. Negros carregam o estereotipo que são menos inteligentes que os brancos. Pobres também carregam um estigma gigante.
A ameaça de estereótipos pode fazer com que mulheres não sigam uma série de carreiras que os homens são supostamente superiores. Pode fazer com que negros não desenvolvam plenamente suas habilidades cognitivas. Meninos também carregam seus estereótipos. Será que eles têm mesmo menores dons artísticos?
É fundamental a conscientização desse fenômeno por parte de pais e professores. Dar pistas para que se lembre da igualdade entre os gêneros e entre as raças pode fazer com que essas diferenças deixem de existir. E isso tem que acontecer desde cedo. Assim como no experimento do jogo de xadrez descrito acima, meninas já com oito anos de idade passam a se comportar de forma mais acanhada frente a uma figura masculina quando o assunto é negociação de uma premiação, semelhante ao que acontece entre adultos.
Isso foi recentemente demonstrado num estudo em que meninas e meninos tinham que negociar um prêmio após uma tarefa realizada. As meninas nas idades de 4 e 7 anos negociavam com um avaliador homem da mesma forma que o faziam com uma mulher, mas aos 8 anos já tinham uma demanda mais tímida frente a um homem. Com os meninos essa diferença não existiu. Com o passar dos anos, as meninas passavam a pedir um número menor de adesivos como prêmio, mas quando a negociação era com um adulto homem. Isso pode ser explicado por sinais subliminares, ou não, passados ano após ano às crianças. Ao negociar com uma mulher adulta, com a idade as meninas passavam a requisitar mais adesivos e com maior persistência! E lembramos mais uma vez: entre os meninos não houve qualquer diferença se o avaliador era homem ou mulher.

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Mais da metade das mulheres apresentam queixas de memória na fase de transição para a menopausa e temos algumas evidências de que, nessa fase da vida, elas realmente apresentam uma menor velocidade de processamento cognitivo e menor desempenho da memória verbal.
Uma forma de explicar essa lenhificação do pensamento na transição da menopausa é que a redução ou flutuação dos níveis do hormônio estrogênio pode dificultar o pleno funcionamento cerebral. Já foi bem demonstrado que algumas áreas cerebrais são ricas em receptores de estrogênio, regiões que são fortemente vinculadas à memória, como é o caso do hipocampo e o córtex pré-frontal. Além disso, estudos experimentais revelam que o estrogênio é capaz de elevar os níveis de neurotransmissores e também promovem o crescimento neuronal e formação de conexão entre os neurônios.
Nada de pessimismo! A boa notícia é que esses efeitos parecem ser limitados, já que as mulheres voltam a apresentar o mesmo desempenho cognitivo que tinham antes da menopausa após ultrapassarem a transição. Além disso, as mulheres que recebem reposição hormonal antes do término da menstruação são beneficiadas do ponto de vista cognitivo, o que não acontece com aquelas que começam esse tipo de tratamento após o término da menstruação. Essa é mais uma evidência de que a reposição hormonal deve ser utilizada pelo menor tempo necessário. Temos até evidências que o uso prolongado desse tipo de tratamento pode levar à perda do volume de substância cinzenta do cérebro e declínio cognitivo.
Uma recente pesquisa aponta também que, quanto mais tarde se dá o início da menopausa, melhores são os indicadores de desempenho cognitivo e o uso de reposição hormonal não teve qualquer influência. Esses resultados não foram válidos para os casos de menopausa cirúrgica, condição em que as mulheres têm os ovários removidos cirurgicamente. E este ano, a revista Menopause, da Sociedade Americana de Menopausa, mostrou que durante as ondas de calor, as mulheres na menopausa têm o desempenho cognitivo ainda mais prejudicado. Foram identificadas alterações em regiões responsáveis pela memória, especialmente o hipocampo e o córtex pré-frontal, pelo método de ressonância magnética funcional.
E suplementos de soja podem ajudar? A soja é a principal fonte de isoflavonas da dieta, micronutrientes que se ligam aos receptores de estrogênio do cérebro. Uma série de pesquisas tem procurado demonstrar seus efeitos sobre o desempenho cognitivo na menopausa e os resultados são bem discretos. Vale ressaltar que essas pesquisas envolveram mulheres já na menopausa e por isso a discussão está longe de ser encerrada. O efeito da soja na transição da menopausa pode ser diferente.

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Em países ricos, com menor diferença de oportunidades entre os gêneros, poderíamos esperar que as mulheres fizessem escolhas mais parecidas com as que tradicionalmente são associadas aos homens. Um estudo recém-publicado pela revista Science mostrou que as coisas não são bem assim.
Pesquisadores das Universidades de Bonn na Alemanha e da Califórnia nos EUA estudaram essa questão entre mais de 80 mil voluntários em 76 países e apontaram que as similaridades de escolhas entre os gêneros são menores em países ricos e com maior igualdade de gênero. Com mais oportunidades, homens e mulheres têm maior tendência em fazer “o que estão a fim”, com maior liberdade de escolha. As mulheres nesse cenário não se sentem pressionadas a tomar decisões que não condizem com suas crenças. O estudo investigou como os voluntários responderiam a cenários envolvendo seis diferentes questões: 1) comportamento de risco; 2) paciência; 3) altruísmo; 4) confiança; 5) reciprocidade positiva; 6) reciprocidade negativa. Os resultados mostraram que foram maiores as diferenças das repostas entre os gêneros em países mais ricos e com maior igualde de gênero.
Esse estudo me fez lembrar de uma pesquisa publicada pela Nature Human Behavior que mostrou que o processamento de comportamentos altruístas e egoístas é diferente entre os gêneros. Ações altruístas estimulam nas mulheres os sistemas de recompensa cerebral de forma mais robusta. Já os homens têm esses sistemas fortemente ativos quando as ações são egoístas.
Essa pesquisa foi além desses achados. Quando as mulheres recebiam uma droga que deixava esses centros meio adormecidos, por inibirem a ação da dopamina, elas passavam a se comportar de forma mais egoísta. E, surpreendentemente, o contrário aconteceu com os homens. Após o bloqueio da ação da dopamina, eles se tornaram mais generosos.
É importante frisar que esses resultados não nos dizem que essas diferenças são inatas. Isso pode muito bem ser decorrente do aprendizado durante a vida, expectativas diferentes para homens e mulheres. As mulheres desde a infância podem receber mais feedbacks positivos quando agem de forma altruísta. Isso também pode ocorrer com ações egoístas no caso dos homens. E esse mesmo raciocínio é válido para os resultados da publicação da revista Science. Não é razoável reduzir o entendimento das diferenças somente por componentes biológicos. É difícil pensar que a cultura não exerça sua influência.

A maior parte das evidências de incremento de funções cerebrais com a maternidade tem origem em estudos com mamíferos inferiores, especialmente os roedores. Pesquisas apontam que não só as alterações hormonais, mas também o ambiente rico em estímulos associados à maternidade (ex: múltiplas novas tarefas, sons, cheiros), têm um papel importante nesse upgrade cerebral das mães.
A maioria dos mamíferos compartilha instintos maternais de defender seu ninho e sua cria. Ao ter que optar entre sexo, drogas, alimento ou seu ratinho recém-nascido, mamães ratas escolhem seus ratinhos. O cuidado com os filhotes ativa nas mães centros cerebrais de recompensa ligados ao prazer, mesmo no caso de filhotes adotivos, e essa também é uma forma de explicar as raízes do altruísmo. Esse fenômeno também foi demonstrado entre as mães humanas ao ouvir o choro dos filhos, ou simplesmente ao olhar para eles.
É possível que a neurobiologia da maternidade humana não seja tão diferente daquilo que já foi demonstrado em mamíferos inferiores, já que a maior parte do código genético dos humanos é idêntica à dos ratinhos ou dos primatas. Não duvido que as mães modernas, com suas rotinas de malabaristas, apresentem adaptações cerebrais associadas à maternidade até mais robustas do que das ratinhas, já que são submetidas a um nível de estimulação ambiental como nenhuma outra espécie. Além de cuidar da cria e de sua própria sobrevivência, freqüentemente protagonizam diversos outros papéis simultâneos (esposa, amante, conselheira, profissional, dona-de-casa, etc.). É estímulo para dar, vender e jogar fora.

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Mais da metade das mulheres apresentam queixas de memória na fase de transição para a menopausa e temos algumas evidências de que, nessa fase da vida, elas realmente apresentam uma menor velocidade de processamento cognitivo e menor desempenho da memória verbal.
Uma forma de explicar essa lenhificação do pensamento na transição da menopausa é que a redução ou flutuação dos níveis do hormônio estrogênio pode dificultar o pleno funcionamento cerebral. Já foi bem demonstrado que algumas áreas cerebrais são ricas em receptores de estrogênio, regiões que são fortemente vinculadas à memória, como é o caso do hipocampo e o córtex pré-frontal. Além disso, estudos experimentais revelam que o estrogênio é capaz de elevar os níveis de neurotransmissores e também promovem o crescimento neuronal e formação de conexão entre os neurônios.
Nada de pessimismo! A boa notícia é que esses efeitos parecem ser limitados, já que as mulheres voltam a apresentar o mesmo desempenho cognitivo que tinham antes da menopausa após ultrapassarem a transição. Além disso, as mulheres que recebem reposição hormonal antes do término da menstruação são beneficiadas do ponto de vista cognitivo, o que não acontece com aquelas que começam esse tipo de tratamento após o término da menstruação. Essa é mais uma evidência de que a reposição hormonal deve ser utilizada pelo menor tempo necessário. Temos até evidências que o uso prolongado desse tipo de tratamento pode levar à perda do volume de substância cinzenta do cérebro e declínio cognitivo.
Uma pesquisa publicada na última edição do periódico da Academia Americana de Neurologia aponta também que, quanto mais tarde se dá o início da menopausa, melhores são os indicadores de desempenho cognitivo e o uso de reposição hormonal não teve qualquer influência. Esses resultados não foram válidos para os casos de menopausa cirúrgica, condição em que as mulheres têm os ovários removidos cirurgicamente.
E suplementos de soja podem ajudar? A soja é a principal fonte de isoflavonas da dieta, micronutrientes que se ligam aos receptores de estrogênio do cérebro. Uma série de pesquisas tem procurado demonstrar seus efeitos na menopausa e os resultados, apesar de conflitantes, não têm sido muito animadores. Os estudos mais robustos até chegaram a evidenciar uma melhora na capacidade de memória visual (ex: reconhecimento de rostos), mas sem impacto relevante em outras funções cognitivas. Vale ressaltar que essas pesquisas envolveram mulheres já na menopausa e por isso a discussão está longe de ser encerrada. O efeito da soja na transição da menopausa pode ser diferente.

É no mínimo intrigante quando nos deparamos com resultados de pesquisas no Brasil e no exterior mostrando que até 90% das mulheres sofrem de algum grau de tensão pré-menstrual, problema que hoje é mais corretamente chamado de síndrome pré-menstrual (SPM), pelo fato dos sintomas não se limitarem à tensão nervosa, ansiedade e irritabilidade. Outros sintomas comuns incluem alterações no padrão de sono e do apetite, humor deprimido, dor de cabeça, inchaço no corpo e dor nas mamas.
Não é difícil reconhecer o impacto da SPM na vida das mulheres se fizermos uma conta curiosa. A menstruação costuma começar entre os 12 e 13 anos de idade e termina por volta dos 50 anos. Mesmo descontando dois anos sem menstruação em mulheres que têm dois filhos ao longo da vida, contando com o período de amamentação, a mulher experimentará cerca de 450 ciclos menstruais na sua fase fértil. Se considerarmos que os sintomas da SPM duram uma média de 6 a 7 dias por ciclo, fechamos nossa conta com quase 3.000 dias de sintomas durante a vida: oito anos! Resumindo: as mulheres com SPM passam mais de 10% suas vidas com sintomas pré-menstruais.
E sendo a SPM uma condição tão frequente, admite-se que ela possa representar uma vantagem evolutiva que herdamos dos nossos ancestrais e que talvez já não nos sirva muito mais. Nossas ancestrais fêmeas aumentavam suas chances de gerar descendentes devido a um comportamento mais “amigável” na fase fértil e mais “arisco” na fase infértil, como é o caso do período pré-menstrual. Entre os primatas, que apresentam comportamento sexual promíscuo, essa estratégia permite que o macho escolha a fêmea com mais sinais de fertilidade para copular.
Comparadas a mulheres de sociedades coletoras / caçadoras, as mulheres de hoje têm a primeira menstruação quase 4 anos mais cedo, têm menos filhos sendo que o primeiro em idade mais avançada e com períodos de aleitamento mais curtos e têm a menopausa também mais tardiamente. Tudo isso leva a mulher moderna a apresentar três vezes mais ciclos menstruais do que a mulher em ambiente mais primitivo, e, a princípio, pode sofrer até três vezes mais com os sintomas da SPM ao longo da vida.
O mais comum é que os sintomas da SPM sejam leves ou moderados, mas em cerca de 5-8% dos casos os sintomas adquirem sua forma e apresentação mais severa, também chamado de transtorno disfórico pré-menstrual. Nesses casos a mulher apresenta sintomas com significativo impacto no seu trabalho / escola, atividades sociais ou relacionamentos afetivos.
O cérebro está cheio de receptores aos hormônios sexuais em regiões que regulam o comportamento e as emoções, como é o caso da amígdala e o hipotálamo. Entende-se atualmente que mulheres com SPM têm uma maior sensibilidade cerebral às flutuações hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual podendo influenciar a liberação de neurotransmissores envolvidos na regulação do humor, comportamento e funções cognitivas, especialmente a serotonina. Sabemos que os sistemas de serotonina são capazes de modular os efeitos comportamentais dos hormônios sexuais (ex: agressividade), fato bem apoiado pelo efeito positivo de medicações que elevam os níveis de serotonina em mulheres com SPM. Além disso, sistemas hormonais que controlam a concentração de água e eletrólitos no corpo também podem ser influenciados pela flutuação hormonal, o que poderia explicar os sintomas de inchaço.
Há muito que se fazer para reduzir o impacto da SPM no dia a dia. Estratégias medicamentosas é que não faltam, passando por suplementação de cálcio, magnésio, vitamina B6, intervenções hormonais e antidepressivos que aumentam as concentrações de serotonina (tanto de forma contínua ou só na segunda metade do ciclo). Além disso, medidas comportamentais são bem-vindas, tais como atividade física e técnicas de relaxamento. Quanto à dieta, é frequente a recomendação de restrição de calorias e fracionamento da dieta, mas não há evidências científicas suficientes para “prescrevermos” uma dieta específica. Além disso, estudos com dietas com alto teor de carboidratos complexos sugerem benefícios às mulheres com SPM, talvez por aumento nas concentrações cerebrais de serotonina. É a história do chocolate como melhor amigo da mulher na fase pré-menstrual.

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Elas processam comportamentos altruístas e egoístas de forma diferente. Ações altruístas estimulam nelas os sistemas de recompensa cerebral de forma mais robusta. Já os homens têm esses sistemas fortemente ativos quando as ações são egoístas. Essas são as conclusões de um estudo recém-publicado pela prestigiada revista Nature Human Behavior.
Pesquisadores alemães e suíços mostraram que as mulheres se mostram mais generosas em experimentos que envolvem compartilhamento de uma soma de dinheiro. E foi a primeira vez que foi demonstrado como é diferente a ativação dos centros de recompensa cerebral entre mulheres e homens estimulada por ações altruístas. A pesquisa foi além desses achados. Quando as mulheres recebiam uma droga que deixava esses centros meio adormecidos, por inibirem a ação da dopamina, elas passavam a se comportar de forma mais egoísta. E surpreendentemente o contrário aconteceu com os homens. Após o bloqueio da ação da dopamina, eles se tornaram mais generosos.
É importante frisar que os resultados não nos dizem que essas diferenças são inatas. Isso pode muito bem ser decorrente do aprendizado durante a vida, expectativas diferentes para homens e mulheres. As mulheres desde a infância podem receber mais feedbacks positivos quando agem de forma altruísta. Isso também pode ocorrer com ações egoístas no caso dos homens.



