Álcool zero para as grávidas é a recomendação difundida na atualidade pelas autoridades sanitárias nos mais diferentes países. Entretanto, a segurança de um baixo consumo de álcool durante a gravidez ainda é uma questão controversa, já que as pesquisas apontam resultados variados e acredita-se que isso seja em parte devido à dificuldade em se estudar o tema controlando fatores sociais e de estilo de vida.
Uma alternativa para se evitar essas dificuldades metodológicas é um tipo de pesquisa recém-desenvolvida chamada de randomização mendeliana. E foi isso que pesquisadores das Universidades de Oxford e Bristol utilizaram para mostrar que álcool na gravidez, mesmo em baixas doses, tem influência negativa sobre o desenvolvimento cognitivo das crianças. Os resultados acabaram de ser publicados pelo periódico PLoS ONE.
O perfil genético do metabolismo de álcool foi estudado em mais de quatro mil crianças. A presença de quatro variantes de genes ligados a uma menor capacidade de metabolizar o álcool mostrou-se associada a menores escores de QI aos oito anos de idade, mas isso só existia entre as crianças cujas mães beberam de forma leve a moderada durante a gravidez (<1 a 6 doses/semana). Metabolismo mais lento teoricamente leva a um maior risco de toxicidade. Além disso, nas mães, uma variante de gene desse metabolismo também teve relação com a evolução cognitiva das crianças, mas também só entre aquelas que beberam na gravidez. Mães com consumo de álcool exagerado não foram incluídas no estudo.
O estudo é complexo, mas o recado é simples: álcool durante a gravidez, mesmo em baixas doses, pode ser ruim para o desenvolvimento cerebral da criança.
1 comentário
21 novembro, 2012 às 1:31 am
Leonardo Fontenelle
O ideal seria avaliar também o consumo episódico intensivo de álcool, também chamado de “binge drinking”. A mulher pode ter consumido uma média considerada moderada de álcool por semana, mas ter concentrado todo o álcool em um ou dois episódios de consumo, o que significa picos maiores de álcool no sangue. Paciência, quem sabe numa outra pesquisa isso é contemplado.
Uma das respostas ao artigo destacou que a técnica estatística usada (análise multivariável passo-a-passo) é notoriamente propensa a encontrar associações válidas para a amostra mas ausentes na população.
Felizmente, a pesquisa corrobora uma prática consensual, de orientar a gestante a evitar completamente bebidas alcoólicas.
De resto, a randomização mendeliana é um método de investigaçao científica muito interessante, com o potencial para nos ajudar a driblar a grande confusão que os “fatores de risco” estão impondo à epidemiologia. Só não vi ainda uma discussão sobre como interpretar a randomização mendeliana à luz da epigenética.