Qual é o estado presente e o futuro das novas tecnologias voltadas para o melhora do desempenho humano no trabalho? Essa foi a temática de um relatório que acaba de ser publicado pela Royal Society e Academia de Ciências Médicas e de Engenharia da Inglaterra e que é fruto de um workshop que envolveu especialistas das mais diversas áreas envolvidas.

 

Medicações que podem turbinar o cérebro, braços biônicos, implantes na retina, e tantos outros dispositivos que ainda parecem ficção científica deverão fazer parte da nossa vida num futuro não muito distante. Podemos dizer que as medicações já devem ser indicadas para quem quer melhorar o desempenho, apesar de não sofrer de nenhum transtorno neurológico?

 

Já conhecemos uma série de atitudes no dia a dia que reconhecidamente podem turbinar nosso cérebro:  atividade física, sono e alimentação regulares, estar sempre aprendendo, equilíbrio psíquico, etc. Além disso, alguns estudos com as famosas pílulas usadas para turbinar o cérebro têm demonstrado que elas podem melhorar o desempenho intelectual até mesmo de indivíduos sem qualquer tipo de problema neurológico ou psiquiátrico. As medicações mais usadas para esse fim são as anfetaminas e o metilfenidato, indicadas no tratamento de indivíduos com o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

 

O fato é que dispomos de pouquíssimas evidências científicas de que essas pílulas trazem reais benefícios cognitivos a indivíduos sem transtornos neurológicos ou psiquiátricos, e há até resultados mostrando que algumas pessoas podem piorar o desempenho. É como se nosso cérebro fosse uma orquestra bem afinada e introduzíssemos um violino a mais. Pode melhorar, pode não fazer diferença no resultado, ou pode até desafinar. E apesar desse conhecimento ainda estar engatinhando, essas medicações têm se tornado cada vez mais populares entre adultos e adolescentes, na maior parte das vezes sem qualquer orientação médica.

 

O presente relatório é mais uma iniciativa para que se aprofunde a discussão, a regulação e as pesquisas pelo uso responsável dessas drogas por pessoas saudáveis. Em entrevista concedida à Scientific American e publicada recentemente na revista Mente & Cérebro, o Prêmio Nobel Eric Kandel, o neurocientista mais renomado do planeta e certamente um dos pesquisadores que mais contribuíram para o nosso atual entendimento da memória, declara: “Ainda não temos evidências de segurança e nem mesmo de eficácia do uso de medicações para melhorar o cérebro de pessoas saudáveis. Eu não aconselharia meus netos, pelo menos por enquanto, a usar essas medicações”.

 

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