Estima-se que uma em cada duas pessoas apresentará pelo menos um episódio de perda de consciência ao longo da vida. A epilepsia é uma das principais causas, mas bem mais comum é uma condição clínica chamada de síncope, que também é conhecida por desmaio. São várias as causas de síncope, mas todas elas têm uma característica em comum que é a redução transitória da perfusão sanguínea cerebral. Isso pode acontecer por um problema no coração ou um controle ineficiente do ritmo cardíaco e/ou do calibre dos vasos sanguíneos por parte do sistema nervoso em situações específicas como a posição em pé por tempo prolongado.
As testemunhas de uma crise de perda de consciência podem até ter presenciado olhos revirados, contrações musculares e incontinência urinária, sintomas estes que fazem a gente pensar numa crise epiléptica, mas na verdade podemos estar diante de um quadro de síncope. No momento em que o cérebro sofre uma baixa na perfusão de sangue, os neurônios ficam irritados e podem disparar uma crise epiléptica de curtíssima duração. Nesse caso, não estamos diante crises espontânea, razão pela qual tais crises não configuram um quadro de epilepsia. Vale lembrar que a maioria dos eventos de síncope não vem acompanhada de crise epiléptica.
O nível de concordância diagnóstica entre clínicos diante de um primeiro episódio de perda de consciência é surpreendentemente baixo. É notório o valor de critérios clínicos objetivos que auxiliem o médico no diagnóstico diferencial entre síncope e crise epiléptica. Pesquisadores americanos (Sheldon e cols., 1992) aplicaram um questionário de 118 itens em mais de 500 pacientes com síncope e epilepsia bem investigados e sem dúvida diagnóstica, com história de mais de um episódio de perda de consciência. Selecionaram nove critérios que melhor diferenciavam uma condição da outra e elaboraram uma escala que permitiu a correta classificação com alto grau de acerto (ver tabela). A coluna da direita da tabela indica a pontuação que deve ser aplicada de acordo com cada sintoma associado ao episódio. Na soma final, uma pontuação maior ou igual a UM fala a favor do diagnóstico de crise epiléptica e quando menor que UM o diagnóstico de síncope é mais provável. Essa escala é uma ferramenta que pode auxiliar sobremaneira o médico a separar essas duas condições clínicas.
Diagnóstico diferencial entre síncope e crise epiléptica (Sheldon e cols. 2002 )
* Mordedura de língua | 2 |
* Deja vu ou jamais vu – sensação de que conhece algo que na verdade nunca viu OU sensação de experimentar uma situação bem familiar como se fosse pela primeira vez | 1 |
* Associação com estresse emocional | 1 |
* Desvio forçado da cabeça para o lado | 1 |
* História de arresponsividade OU postura anormal OU contrações musculares involuntárias | 1 |
* Confusão quando retoma a consciência | 1 |
* Sensação de desfalecimento | -2 |
* Sudorese antes da perda de consciência | -2 |
* Associação com posição sentada ou em pé prolongada | -2 |