Nesta última semana, duas irmãs me procuraram acompanhando o pai que sofre de um tipo de demência chamada de afasia progressiva primária. Essa é uma doença degenerativa em que o paciente vai perdendo gradualmente a função da linguagem, além da redução de outras funções cognitivas. As medicações usadas para o tratamento da doença de Alzheimer não são eficazes para essa patologia.

 

A conversa com as irmãs começou com a demanda de um pedido médico para um tratamento de oxigenioterapia hiperbárica para o seu pai, caso eu julgasse que realmente tivesse indicação. Esse é um tratamento em que o paciente é submetido a sessões de inalação de oxigênio 100% dentro de um equipamento parecido com um submarino com uma pressão superior à pressão atmosférica. Essa maior pressão faz com o oxigênio circule no sangue com maior intensidade e supostamente pode facilitar o tratamento de algumas condições clínicas.

 

 

O fato é que essa é uma modalidade terapêutica que não se mostrou eficaz para uma série de transtornos neurológicos, incluindo o derrame cerebral e doenças neurodegenerativas como a esclerose múltipla e doença de Alzheimer. Atualmente, não há nenhuma evidência de que esse tipo de tratamento possa auxiliar no tratamento da afasia progressiva primária.

 

Mas de onde surgiu toda essa expectativa? Dr. Google, claro. As irmãs sofrem muito com a experiência de ver o pai cada vez com menos interação com o meio e buscam com muita esperança um tratamento que pelo menos coloque um freio na doença. Talvez a percepção da situação tivesse sido diferente desde o momento do diagnóstico se elas não tivessem ouvido do médico que “não existe tratamento para esse tipo de doença”.

 

A inexistência de um tratamento farmacológico ou cirúrgico que possa mudar a história natural de uma doença definitivamente não significa que essa doença seja intratável. Tratar é cuidar. No caso em questão, fonoaudiologia e terapia ocupacional estão indicados e podem melhorar a interação do paciente com as outras pessoas. Se falar e escrever já não são atividades fáceis, o estímulo de outras modalidades de comunicação pode fazer a diferença, como é o caso de cartões com mensagens habituais do dia a dia. Isso é tratamento SIM.

 

 

smallicone

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