Os esteróides anabolizantes androgênicos (EAA) constituem uma família de hormônios com efeitos anabolizantes (ganho muscular) e também masculinizantes. Na década de 1930 a testosterona foi quimicamente identificada e passou a ser usada no tratamento de quadros psiquiátricos como a depressão. Para os homens com deficiência na sua síntese, sua reposição pode aumentar a energia, libido e até mesmo o humor.
Na década de 1950, os EAA já eram usados no mundo do esporte de elite, e nos últimos 30 anos, seu uso entre atletas amadores passou a ser impulsionado pelo modelo de imagem corporal musculoso. Na verdade, essa história é bem mais antiga. Já em 1889, o famoso médico Brown Séquard dizia se sentir mais forte com a ingestão de um preparado de testículos de cães e porcos e provavelmente não estava enganado. Os hormônios realmente podem aumentar a massa e desempenho muscular além da capacidade aeróbica.
A maioria das pesquisas que avaliaram a freqüência do uso dos EAA por jovens do sexo masculino foram feitas em países ocidentais e apontaram que cerca de 3% já usaram esse tipo de hormônio alguma vez na vida. Entretanto, quando se avalia grupos mais restritos, essas cifras são bem maiores. O uso dos EAA entre estudantes universitários americanos não atletas chega a ultrapassar os 10% e é bem mais freqüente entre os rapazes. Cerca de metade dos usuários revelam que usam essas substâncias para melhorar o desempenho físico e a outra metade para melhorar a aparência. Em Porto Alegre, pesquisas realizadas em academias de musculação mostram que 11% dos atletas usam EAA e até 25% já os usaram.
O uso dos EAA por atletas amadores vêm quase sempre acompanhado de efeitos colaterais e em um quarto dos casos está associado ao uso de outras drogas como insulina e hormônio do crescimento (Med Sci Sports Exerc 2006). E não faltam efeitos colaterais associados ao uso dos EEA: redução da libido e fertilidade, acne, perda de cabelo e aumento das mamas entre os homens, dependência física e psicológica, variação do humor, sintomas psicóticos, irritabilidade e agressividade, aumento do colesterol ruim e da agregação das plaquetas (engrossa o sangue), doença isquêmica do coração, morte súbita, doença do fígado, dos rins e dos músculos. No caso da mulher, ainda podemos observar sinais de masculinização e alterações do ciclo menstrual. Além disso, adolescentes muito jovens podem ter sua curva de crescimento inibida. Os efeitos são proporcionais à dose e ao tempo de uso.
Outro efeito colateral sério associado ao uso dos EAA é o de que muitas dessas substâncias são de uso injetável, e aí caímos no problema de uso inapropriado de agulhas, sendo que em alguns estudos, o uso compartilhado de seringas é superior a 20% dos usuários.
O uso dos EAA é reconhecido mundialmente como prática contrária aos princípios éticos da competição esportiva. O American College of Sports Medicine, maior organização científica dedicada ao esporte, trabalha forte para a proibição dos EAA no esporte e para penalização daqueles envolvidos na produção, prescrição e distribuição dessas drogas com o fim de aumentar o desempenho atlético. No Brasil, é lei desde o ano 2000 que tais medicamentos só podem ser vendidos com receituário médico (e as indicações são para problemas de saúde e não para ficar forte). Entretanto, a maior parte de seu consumo é ilícito e, por incrível que pareça, ainda há médicos que têm prescrito esses hormônios a atletas, com o argumento de que só repõem a quantidade que falta a cada indivíduo. Vale lembrar que a deficiência de hormônios masculinos entre adolescentes e adultos jovens está longe de ser um diagnóstico comum.
4 comentários
10 abril, 2013 às 2:57 pm
Fabio
Infelizmente existem pessoas como eu que precisam tomar doses regulares de Testosterona para terem uma vida normal. Fui em dois médicos e os dois me receitaram. Infelizmente sofro preconceito de pessoas como o autor do texto.
20 abril, 2013 às 1:12 am
Ricardo Teixeira
Estamos falando de testosterona para melhora do desempenho no esporte e não por indicação´médica para uma condição de saúde.
6 dezembro, 2010 às 3:58 am
Alex
Sua postagem é excelente, não entendo muito do assunto, mas pratico exercícios regularmente em uma cademia, já procurei um farmacêutico e outras pessoas para me orientarem, não quero ser um super star, mas apenas entrar em forma e, conversando com um colega meu sabe o que foi que indicou a mim para fazer uso!!!??? Echei esquisito, mas ele disse que eu poderia ingerir gelatina, dentre outras substâncias simplem, isso procede, tem algum fundamento lógico?
15 dezembro, 2010 às 2:04 pm
Ricardo Teixeira
Oi Alex
São muitos os suplementos alimentares que são vendidos para atletas. Se você tem uma dieta balanceada e não é um atleta de competição, sugiro continuar se alimentando com bom senso nutricional e HIDRATAR-SE SE MUITO BEM.