As medicações usadas para controlar a hipertensão arterial têm se mostrado a cada dia mais interessantes ao cérebro. E os efeitos benéficos vão além da capacidade de proteger o cérebro de altos níveis de pressão arterial. Em 2009, dois estudos avançaram muito na discussão da relação entre a hipertensão arterial e o risco de demência. Um deles demonstrou que o uso de anti-hipertensivos reduz o risco de demência, e o risco é menor até mesmo quando comparado ao das pessoas que nem apresentam pressão alta. O segundo estudo mostrou que o tratamento da hipertensão arterial reduziu o risco de demência, especialmente entre pessoas com menos de 75 anos de idade, onde a redução do risco foi de 8% quando comparado àquelas que nunca fizeram tratamento para pressão alta. Nenhuma classe de anti-hipertensivo foi superior às demais.
Uma pesquisa publicada na última edição do British Medical Journal confirma esse efeito protetor dos anti-hipertensivos sobre o cérebro, e desta vez tivemos uma pista de que alguns medicamentos podem ser mais eficazes que outros. Pesquisadores da Universidade de Boston nos Estados Unidos acompanharam por quatro anos mais de 800 mil indivíduos com mais 65 anos de idade (98% homens) e em tratamento para doença cardiovascular. Aqueles que faziam uso de medicações da classe bloqueadores dos receptores da angiotensina (ex: candesartan, losartan, valsartan) tiveram menos risco de desenvolver doença de Alzheimer e outros tipos de demência do que aqueles que usaram outros tipos de anti-hipertensivos. Além disso, entre aqueles que já apresentavam diagnóstico de demência, o uso de anti-hipertensivos também promoveu uma menor chance de internação em clínicas geriátricas.
Já é bem reconhecido que os bloqueadores dos receptores de angiotensina têm efeitos positivos sobre os pequenos vasos sanguíneos como um todo, incluindo os do cérebro. Um dos principais marcadores da Doença de Alzheimer é o depósito de proteínas no cérebro e é fundamental o pleno funcionamento da microcirculação cerebral para que essas proteínas não se acumulem de forma exagerada. Essa é uma das formas de entender a razão pela qual a atividade física, uma dieta rica em frutas e vegetais, com alto teor de ômega-3, consumo moderado de álcool, todos esses sejam considerados fatores protetores da Doença de Alzheimer. Se é bom para os vasos, é bom para o cérebro.
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2 comentários
13 julho, 2010 às 6:02 pm
Hudson
Olá Dr. Ricardo Teixeira,
não sei se este é o melhor post para buscar essa informação, mas vamos lá: Meu pai desenvolveu essa patologia e, pelos sintomas, acreditamos que ele esteja entre a periodo leve e moderado. Seu neurologista receita o Donepezil, que num espaço de 6 meses vem mostrando resultados otimistas, junto a citalopran, pois apresentou os primeiros sintomas após uma profunda depressão de dois anos.
Mas meu pai “nega” a doença, e temos dificuldades nos momentos das consultas, pois ele não participa dos testes práticos que seu neuro faz para avalia-lo. Isso é um tanto constrangedor, até porque em casa, e em suas atividades ocupacionais, vem mostrando mais interesse e espontaneidade, sempre muito tranquilo e alegre. Seu neuro quer interromper a medicação, alegando que, como não mostra evoluções nas consultas não há porque continuar com o tratamento. Dentro da minha ignorancia acerca do assunto, não entendo o porquê dele, em uma ultima tentativa, trocar apenas o antidepressivo e não tentar outro fármaco, diretamente relacionado, como o Rivastigmina ou qualquer outro. Temos esperança contra a doença, mas com uma situação dessa fica dificil persistir. Seria o caso de buscar uma outra opnião, pois não enxergamos mais sinais de depressão há algum tempo?
Muito obrigado pelo espaço!
14 julho, 2010 às 3:20 am
Ricardo Teixeira
Olá Hudson
Em casos leves a moderados a medicação pode ser uma grande aliada para a uma leve melhora cognitiva e comportamental. Acho que vale a pena rediscutir essa questão.