Estudos têm demonstrado que o excesso de trabalho está associado a reações do sistema endocrinológico e imunológico, alteração no padrão do sono, fadiga, depressão, hábitos de vida deletérios à saúde e aumento do risco de doenças cardiovasculares. Uma nova pesquisa recém-publicada pelo American Journal of Epidemiology demonstrou que pessoas que trabalham até 40 horas por semana têm um desempenho cognitivo melhor do que aquelas que trabalham mais de 55 horas.
Mais de dois mil voluntários ingleses com média de idade de 51 anos foram acompanhados por cinco anos. Quanto mais horas de trabalho, piores os resultados em testes de habilidades verbais (vocabulário e fluência), assim como de funções executivas. Os resultados foram significativos mesmo quando corrigidos para diversos fatores demográficos (ex: idade, nível educacional) e marcadores de saúde (ex: doenças cardiovasculares, transtornos do sono, estresse psicológico). Isso significa que não foi possível incriminar nenhum desses fatores em específico como responsável pelos resultados.
O presente estudo confirma pesquisas anteriores e é inédito por ter seguido os trabalhadores ao longo dos anos. Se o excesso de trabalho está associado a redução do desempenho cognitivo em indivíduos na meia idade, a grande pergunta que ainda está por ser respondida é se isso representa um fator de risco significativo para demência na terceira idade.
2 comentários
18 fevereiro, 2009 às 12:58 am
Ricardo Teixeira
Quanto aos médicos, a regulação de turno de trabalho deveria ter o mesmo nível de rigor a que são submetidos os controladores de vôo. Uma metanálise, incluindo 20 diferentes estudos, demonstrou que uma privação de sono por 24 a 30 horas é capaz de provocar severa degradação no desempenho da atividade médica. E o problema não é só dos pacientes, mas os médicos submetidos a turnos de plantão estendidos estão mais propensos a apresentar acidentes de trabalho com objetos perfurocortantes e acidentes de trânsito.
Philibert I. Sleep loss and performance in residents and nonphysicians: a metaanalytic examination. Sleep. 2005;28(11):1392-1402.
18 fevereiro, 2009 às 12:20 am
Leonardo Fontenelle
A partir desse estudo, espero que as empresas de todos os tamanhos passem a valorizar mais os funcionários que trabalham com dedicação exclusiva.
Para nós, médicos, fica o alerta de que o excesso de trabalho pode orejudicar nosso desempenho, e de que a sobrecarga da residência médica é uma boa forma de atrapalhar os aprendizes a raciocinar sobre aquilo que vêem na prática.