É muito comum as pessoas terem na ponta da língua uma recomendação de saúde do tipo “não misture manga com leite, pois você pode entortar a boca”. Muitas dessas dicas da cultura popular são à vezes duvidosas e sem comprovação científica. Não ter o status de “cientificamente comprovadas” não significa que são simplesmente mitos. Uma coisa é uma crença que já passou por inúmeras provas científicas e aí então passou a ser considerada como um engano cientificamente comprovado (ex: Ginkgo biloba para turbinar o cérebro). Outra coisa são crenças que ainda não foram submetidas a estudos científicos e por isso devem ser vistos como algo que ainda não foi cientificamente comprovado. Uma das histórias mais emblemáticas que vivi nesse sentido foi a crença por parte de pacientes com epilepsia de que na época da lua cheia as crises epilépticas são mais freqüentes. Eu dava um sorriso silencioso toda vez que ouvia de um paciente essa história, com a sensação de que a cultura popular cria coisas fantasiosas. Em 2006 caí do cavalo com um estudo publicado na revista Neurology demonstrando que crises epilépticas eram realmente mais freqüentes na lua cheia.
Nesta semana, pesquisadores da Universidade de Indianápolis nos EUA desconstruíram mais seis mitos, alguns fortemente associados às nossas festas de fim de ano, e publicaram a revisão na última edição do British Medical Journal.
* Suicídio é mais comum no feriado de fim de ano. É mito.
Justifica-se a idéia de que o suicídio pode ser mais comum nos feriados de fim de ano já que nessa data pessoas solitárias podem ter a solidão exacerbada, e no caso do hemisfério norte, também por coincidir com dias mais frios e noites mais longas do inverno. Entretanto, não há evidências científicas de que realmente exista um pico na incidência de suicídios nessa época do ano, mesmo em países do hemisfério norte. Os estudos existentes mostram que os suicídios na verdade ocorrem mais nos meses quentes do ano, e quanto à questão do “efeito solidão no natal”, as pesquisas mostram que as pessoas até mesmo procuram menos serviços psiquiátricos no natal, sugerindo que existe um maior componente de apoio emocional e social nessa época.
* Açúcar provoca comportamento de hiperatividade em crianças. É mito.
São pelo menos 12 estudos de primeira grandeza mostrando que o consumo de açúcar não tem a ver com o comportamento hiperativo.
* A flor conhecida aqui no Brasil como Bico de Papagaio é um dos maiores símbolos de natal em vários países, sendo muito usada na decoração natalina e por isso é até chamada de Estrela do Natal ou Flor do Natal. Ainda existe na cultura popular certo receio de que a ingestão acidental da flor pode ser perigosa, e como não é tão raro as crianças comerem aquilo que não foi feito para comer… Intoxicação pelo Bico de Papagaio também é mito.
Registros de quase 23 mil casos de ingestão acidental da flor nos EUA não evidenciaram nenhum caso que precisasse de cuidados especiais. Uma pesquisa tentando definir a dose potencialmente tóxica da flor em ratinhos não conseguiu demonstrar efeito tóxico mesmo após a ingestão equivalente a 500-600 folhas da planta.
* A perda de calor é maior pela cabeça, correspondendo a 40-45% da perda, e por isso é fundamental o uso de chapéus nos dias frios. É mito.
As pesquisas mostram que qualquer parte do corpo quando descoberta tem o potencial de perder calor proporcionalmente ao seu tamanho. A cabeça não tem nada de diferente das outras partes do corpo. O gorro do Papai Noel não é mais importante que o resto de sua roupa.
* Comer à noite engorda mais que comer de dia. É mito.
Várias pesquisas revelam que não é o fato de comer à noite que engorda, mas sim o total de calorias ingeridas por dia. Também é verdade que quem faz várias refeições no dia tem menos chance de exagerar em uma única refeição noturna.
* Existe remédio para evitar ressaca. É mito.
Não existe qualquer evidência que uma medicação ou suplemento alimentar possa ajudar a prevenir a ressaca. Pode-se dizer que o melhor remédio para evitar ressaca é beber pouco. Ao beber um pouco mais, evitar a desidratação com reposição de líquidos não alcoólicos pode fazer com que a ressaca seja menos penosa no outro dia.
CLIQUE AQUI e ouça um bae-papo na Rádio CBN sobre o assunto com o Dr. Ricardo Teixeira
3 comentários
24 janeiro, 2009 às 2:07 pm
Silmar
Caro Ricardo.
Grato pelas informações. Quantos mitos foram quebrados cientificamente. Gostei da maneira respeitosa com que a “sabedoria popular” é tratada. Em verdade, quase todas as “crendices” têm uma explicação, mesmo que sem qualquer fundamento científico. Aliás, algumas decorrem de interesses os mais diversos. Por exemplo: existem evidências históricas deque a crença popular de que leite misturado com manga faz mal tenha nascido apartir do interesse dos senhores de escravos produtores de leite. Para evitar que os escravos “subtraíssem” quantidades significativas de leite (o produto nobre e valioso das fazendas), “inventou-se” que seuconsumo juntamente com manga poderia matar. As mangas eram largamente consumidas pelos escravos, pois não tinham, à época do Império no Brasil, qualquervalor econômico. Os senhores de escravo, “bondosamente”, liberavam eaté incentivavam o seu consumo pelos escravos. Com isso, o medo fazia com quemenores quantidades de leite fossem consumidas de forma clandestina pelos escravos. Tudo tem uma razão de ser; cientificamente ou não.
Abraço.
Silmar
28 dezembro, 2008 às 10:49 pm
Raquel Barros
Dr.Ricardo, muito obrigada por mais estas informações tão
interessantes!
UM FELIZ NATAL E UM´PRÓSPERO ANO NOVO PARA O SENHOR E TODA A SUA
FAMÍLIA.
28 dezembro, 2008 às 10:47 pm
Rubens Gabriel Teixeira
Prezado Ricardo, muito obrigado pelas suas MSGs e desejo um Natal de muita luz e um Ano Novo repleto de conquistas!Um forte abraço do
Rubens Gabriel Teixeira Neto.