Já faz uma década que pesquisadores têm procurado definir se o campo magnético dos telefones celulares está associado a um maior risco de tumores cerebrais. O tema sempre foi tratado como controverso e a partir do ano de 2007 alguns estudos têm mostrado o que o negócio da telefona móvel não gostaria de ouvir.
Pesquisadores suecos demonstraram que o uso de celular por mais de dez anos está associado ao risco de tumores cerebrais do mesmo lado do cérebro em que o aparelho é usado, especificamente gliomas e neurinoma do nervo da audição. Por outro lado, há uma série de pesquisas que não conseguiram demonstrar essa relação. Em abril de 2008 foi publicada uma metanálise, um tipo de balanço geral de todos os estudos realizados até então, e que evidenciou haver associação entre o uso de celular a longo prazo e tumores cerebrais (Hardell et al., Int J Oncol 2008).
Este ano uma série de neurocirurgiões de grande renome mundial tem se manifestado no sentido de que a tarefa de provar definitivamente que o celular causa tumor cerebral é só uma questão de tempo, já que uma lesão dessa natureza precisa de pelo menos dez anos para se desenvolver. Já existem estudos mostrando que a incidência de tumores cerebrais tem aumentado, e uma das explicações seria o diagnóstico por imagem cada vez mais desenvolvido, com uma crescente disponibilidade de aparelhos de tomografia computadorizada e ressonância magnética. A última edição da revista Surgical Neurology, jornal oficial da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia em nível internacional em conjunto com outras sociedades, traz um editorial conclamando a cooperação da sociedade científica com os órgãos governamentais para tirar essa história a limpo, devido à potencial gravidade da situação.
Tanto se reconhece a dúvida do risco dos celulares que o governo francês a partir desse ano passou a recomendar que as crianças devem evitá-los, e tanto o governo alemão quanto a Agência Ambiental Européia recomendam restrições ao uso de celular. Hoje em dia há cerca de três bilhões de usuários ao redor do mundo. Em Brasília há mais de um celular por habitante. Quem viver verá o resultado dessa polêmica.
4 comentários
28 outubro, 2008 às 1:06 pm
Silmar
Caro Ricardo.
Enquanto o “ter” for mais importante que o “ser” será assim mesmo. E não acredito que essa cultura se modifique com facilidade. Mas isso não quer dizer que devemos cruzar os braços. Campanhas de esclarecimento devem ser feitas. Protestos mais contundentes também. E a classe médica, sem dúvida, deve desempenhar papel fundamental nessa luta, que é obrigação de todos.
28 outubro, 2008 às 12:54 pm
Ricardo Teixeira
Prezado Silmar,
Quando estudamos a relação entre tabagismo e câncer de pulmão podemos ver que a indústria já tinha dados nas mãos anos e anos antes da população. Não acho que o caso do celular seja nem de perto agressivo quanto o do cigarro, mas acho que teremos notícias interessantes pelo futuro. Quem “sobreviver” verá….
Um abraço
Ricardo
27 outubro, 2008 às 9:38 pm
Silmar
Caro Dr. Ricardo.
Grato pela mensagem, que li com atenção. Realmente, essa polêmica a respeito dos danos à saúde que o telefone celular pode causar ainda vai longe. Há muitos interesses econômicos em jogo e, com certeza, haverá um grande embate de bastidores. O texto, pelo que pude entender, deixa claro o quanto essa pesquisa será difícil de chegar a resultado definitivo que possa convencer a todos: por um lado, o avanço da tecnologia oferece condições para diagnósticos cada vez mais seguros e detalhados, o que certamente faz crescer as estatísticas relativas a tumores cerebrais. Por outro lado, o aumento desses casos coincide com o crescimento exponencial do número de celulares, o que pode denotar correlação estatística forte. Obviamente, os fabricantes de celulares vão se agarrar à primeira hipótese. Os cientistas comprometidos com a verdade terão que considerar as duas possibilidades. Quem viver verá.
Abraço.
Silmar
27 outubro, 2008 às 10:33 am
DTRibeiro
Ai que medo!!
Na dúvida, vamos tagarelar menos…
Bjos, De.