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Um dos estudos mais importantes sobre o tema avós e evolução humana foi publicado na respeitada revista científica Nature no ano de 2004. Os pesquisadores avaliaram dados históricos demográficos de populações canadenses e finlandesas do século XIX e evidenciaram que tanto mulheres como homens que tinham mães que viveram mais após os 50 anos de idade tiveram seus filhos mais precocemente, intervalos mais curtos entre o nascimento dos diferentes filhos e uma maior chance de que eles chegassem à idade adulta. Além disso, as mulheres que moravam longe das mães tinham menos filhos quando comparadas àquelas que moravam na mesma casa, no mesmo bairro, na mesma vila. O efeito positivo da avó foi mais pronunciado ainda quando a avó tinha menos de 60 anos de idade quando do nascimento de seu neto. Um dos resultados mais importantes do estudo foi o de que a presença da avó foi relevante na sobrevida dos netos entre os três e cinco anos de idade, mas não nos primeiros dois anos de vida (período da amamentação), reforçando a idéia de que o “efeito avó” existe independentemente das peculiaridades genéticas dos netos ou do desempenho das mães. E os resultados não foram diferentes entre as duas populações estudadas: canadenses e finlandeses.
E parece que o poder do “efeito avó” chega a influenciar também a longevidade das relações de casal. Antropólogos liderados por Kristen Hawkes da Universidade de Utah – EUA publicaram esta semana uma simulação computacional de 30 a 300 mil anos do que seria dos casais sem as avós.
Na maior parte dos primatas, são os machos mais velhos que costumam ser inférteis e não as fêmeas como na espécie humana. Inclusive, os chimpanzés machos dão preferência às fêmeas mais velhas. O estudo de Hawkes mostra que com o passar dos anos temos mais homens do que mulheres férteis e isso cria uma concorrência mais forte entre eles. Nesse novo estado de concorrência é mais vantajoso fazer uma parceria estável, especialmente quando se tem uma avó cuidando das crianças que não precisam mais do peito materno e deixam a mãe “liberada” para gerar um novo filho. A simulação de Hawkes mostrou que as avós deixaram a concorrência masculina duas vezes mais difícil: sem as avós a concorrência é de 77 homens para 100 mulheres enquanto que com as avós isso sobe para 156 homens para cada 100 mulheres. A pesquisa foi publicada pela prestigiadíssima revista Proceedings of the National Academy of Sciences.