Nesta última semana, um estudo publicado pelo periódico Neurology da Academia Americana de Neurologia demonstrou que idosos que tinham uma boa vivência social e se envolveram com atividades artísticas como pintura na meia idade e na velhice tinham menos chances de apresentar declínio da memória.
Pesquisadores americanos da Mayo Clinic em Rochester, Minnesota, avaliaram 256 voluntários com uma média de idade de 87 anos e, após um seguimento de quatro anos, metade deles desenvolveu transtorno cognitivo leve. Eles demonstraram que aqueles que se envolveram na meia idade e na velhice em atividades como pintura, desenho ou escultura tinham 73% menos chance de apresentar esse déficit de memória. O envolvimento com trabalhos artesanais como marcenaria, costura, e cerâmica estava associado a um risco 45% menor. Já uma vida social com o hábito de encontros com amigos, cinema, teatro, concertos ou viagens conferia uma redução de risco de 55%. Atividades no computador como o uso da Internet e jogos diminuía o risco em 53%. Por outro lado, o risco era maior quando se tinha história de pressão alta, depressão e outros fatores de risco vascular como diabetes.
O estudo nos faz concluir que deixar o cérebro ocupado é um grande negócio para proteger os neurônios, seja por garantir uma vida mais longa a eles, seja por estimular o crescimento de novos neurônios ou novas conexões. E não é só trabalho que deixa o cérebro ocupado.
É bastante comum vermos pessoas com mais de 60 anos de idade colocando a culpa de suas queixas de memória no cérebro que não é mais jovem. Na verdade, o envelhecimento cerebral normal provoca apenas discretas mudanças no desempenho cognitivo após os 50-60 anos de idade, muitas vezes só detectáveis através de testes rigorosos. Na maioria das vezes, porém, as queixas de memória têm mais relação com quadros de ansiedade, depressão, transtornos do sono e o estresse do dia a dia do que com doenças cerebrais propriamente ditas.
Infelizmente, algumas pessoas à medida que envelhecem começam a ter queixas de memória de forma mais intensa, podendo evoluir para quadros de demência. A definição de demência é o acometimento de diversas dimensões do pensamento que chega a comprometer a capacidade de um indivíduo em realizar suas atividades habituais. Entre o envelhecimento cerebral normal e a demência, podemos encontrar pessoas que estão no meio do caminho, e essa é uma condição chamada de transtorno cognitivo leve.
Idosos com transtorno cognitivo leve costumam apresentar dificuldades significativas de memória com outras funções cognitivas preservadas, sem que isso atrapalhe de forma expressiva suas atividades diárias. Outros apresentam uma variante em que a memória é preservada enquanto outras funções estão acometidas. Nem todas as pessoas que apresentam transtorno cognitivo leve apresentarão demência no futuro, mas a maioria apresentará sim. A cada ano, cerca de 10-15% de idosos com diagnóstico de transtorno cognitivo leve receberá o diagnóstico de demência, comparado a 1-2% para idosos sem o problema.