Placebo não é simplesmente pílula de farinha. No dia a dia da prática clínica, os médicos, às vezes, lançam mão de vitaminas e analgésicos que não têm ação específica para a condição clinica específica do paciente e discute-se muito se essa prática é ética. As diretrizes de ética médica nos EUA proíbem seu uso sem que o paciente tome conhecimento, com o argumento que a prática pode enfraquecer a relação médico-paciente. No Brasil, o código de ética médica não ampara o uso do placebo sem o conhecimento do paciente.
Uma pesquisa publicada nesta última semana pelo British Medical Journal revelou que a maioria dos americanos não vê problema em receber uma medicação placebo. O estudo envolveu 853 voluntários com idades entre 18 e 75 anos que eram acompanhados por alguma condição clínica crônica. Apenas 22% achavam inaceitável o uso de placebo. O restante considerava o placebo uma alternativa possível nos casos em que o médico tem clareza que os benefícios são maiores que os riscos e, melhor ainda, quando existir transparência no que está sendo proposto quando o médico é interrogado.
Ao invés de pílula de farinha, que tal pílula de carinho?
Cuidar da saúde de outra pessoa envolve uma complexa interação entre o terapeuta e aquele que procura seus cuidados. Essa interação pode trazer benefícios que vão além dos efeitos da medicação ou de outro tipo de tratamento escolhido – é o efeito placebo.
Para ter idéia do poder de uma consulta médica em que o médico demonstra empatia, veja os resultados desta pesquisa:
Três tipos de tratamento foram oferecidos a pacientes com o diagnóstico de síndrome do intestino irritável: 1) apenas observação; 2) acupuntura placebo (sem perfuração da pele) e sem poder conversar com o paciente; 3) acupuntura placebo associada a atendimento com script padronizado com as seguintes características:
* 45 min de duração com questões relacionadas à descrição dos sintomas e percepção do paciente sobre a causa / razão do seu problema;
* comportamento empático por parte do terapeuta (ex: posso imaginar como a doença tem sido difícil para você);
* abordagem calorosa, amigável e com escuta ativa (ex: repetição das palavras do paciente e perguntas no sentido de melhor entender o que o paciente dizia);
* contato físico através da palpação do pulso em silêncio por 20s;
* comunicação por parte do terapeuta de expectativas positivas quanto ao sucesso do tratamento (ex: eu tenho uma boa experiência e bons resultados com este problema).
Ao final do tratamento a seguinte pergunta era feita: Nas últimas semanas você teve alívio adequado dos seus sintomas?
A resposta foi sim em:
* em 28% dos pacientes do grupo 1 (só observados)
* em 44% dos pacientes do grupo 2 (acupuntura placebo)
* em 62% dos pacientes do grupo 3
(acupuntura placebo + atendimento padronizado)
Não é que a pílula de carinho é poderosa mesmo?
2 comentários
11 julho, 2013 às 12:55 pm
Mulheres são melhores para reconhecer uma fisionomia |
[…] follow me on Twitter « Você aceitaria que seu médico lhe prescrevesse uma medicação placebo? […]
11 julho, 2013 às 3:06 am
Frances
Dr Ricardo, quando eu era pequena, tinha tanta confiança no meu pediatra, que só de ir à consulta eu já melhorava. Também porque eu achava que os exames que ele estava fazendo, como escutar as batidas do coração, e ouvir a minha respiração já faziam parte do tratamento. Meu pai notava a minha melhora e dizia pro médico: “Só de conversar com vc ela já está melhor!” Talvez vc conheça este médico, pois era um pediatra famoso, o Dr Jacob Renato Woiski. Qualquer coisa que ele receitasse pra mim, faria bem rsrs. Realmente, mas o médico precisa inspirar confiança e mostrar bom senso. Agora se me dissessem, olha, isto é um placebo… acho que não daria certo.