Quem é que não deixa o carro no “piloto automático” enquanto viaja em alguma idéia, uma preocupação, pensamentos que costumam estar bem distantes da atenção que a condução de um veículo exige. Já sabemos o quanto que o álcool e distrações externas como o uso do celular aumentam o risco de um acidente de trânsito, mas o impacto dessas viagens do pensamento na direção não foi bem estudado, em parte por dificuldades metodológicas. Como dizer que isso tem a ver com os acidentes?
Uma pesquisa recém-publicada pelo prestigiado periódico British Medical Journal coloca um pouco de luz sobre essa questão ao apontar que, em quase 20% dos acidentes de trânsito, o condutor do veículo supostamente culpado pelo acidente estava distraído por estar com o pensamento bem longe da direção.
Cerca de mil vítimas de acidente de trânsito que foram admitidas na unidade de emergência do hospital da Universidade de Bordeaux na França foram incluídas no estudo. Uma escala bem validada de responsabilidade de acidentes foi aplicada a cada voluntário assim como o nível de distração por questões externas ou por pensamentos internos, nível de privação de sono, uso de substâncias psicotrópicas e álcool. Todos esses fatores se mostraram associados a uma maior chance de provocar o acidente.
Distração por pensamentos internos esteve presente em 17% daqueles que foram classificados como potencialmente culpados pelo acidente e em 9% dos que foram classificados como inocentes. Podemos entender com isso que esse tipo de distração realmente coloca em risco o condutor do veículo. Contudo, esses passeios da mente também podem ser vistos como valiosos para o aprendizado, criatividade e o planejamento da vida pessoal.
A evolução provavelmente selecionou esses pensamentos internos como uma vantagem adaptativa para a resolução de problemas complexos, mas a condução de veículos não fazia parte do cenário. Mas será que existe alguma medida preventiva para essa condição? Talvez os carros do futuro venham com um mecanismo tipo Bluetooth que acione um alarme quando começarmos a sair do foco da nossa principal tarefa enquanto estivermos com as mãos no volante.