A divulgação de notícias relacionadas à saúde pela mídia pode influenciar o comportamento de pacientes e de profissionais de saúde e é presumido que o tópico pesquisa científica é um dos mais explorados. O periódico CLINICS da Universidade de São Paulo publicará, em sua edição de março de 2012, uma análise das características das notícias de saúde de dois dos principais jornais brasileiros – Folha de São Paulo (FSP) e o Estado de São Paulo (OESP).

 

Pesquisadores do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp e do Instituto do Cérebro de Brasília avaliaram retrospectivamente notícias relacionadas à saúde publicadas nas versões eletrônicas de ambos os jornais por um período de três meses. Foram incluídos apenas os artigos que mencionaram pesquisas e estes foram categorizados de acordo com o assunto, fonte, local do estudo e natureza do título do artigo. Foram analisadas também a presença de conhecimento prévio sobre o assunto, citação do periódico científico, contextualização nacional e referência a produtos/empresas.

 

Os resultados mostraram que artigos sobre pesquisas científicas corresponderam a 56.7% e 20.4% de todos os artigos relacionados à saúde publicados pela FSP e OESP, respectivamente. FSP publicou mais artigos sobre estudos nacionais (FSP 56.4%; OESP 7.9%) e teve a maioria dos artigos (98.2%) escritos pelo staff do jornal. FSP também contextualizou melhor seus artigos à realidade brasileira.

 

A maioria dos artigos do OESP (93.1%) era originada de agências de notícias. OESP apresentou uma maior tendência em citar o nome do periódico onde o estudo foi publicado, tinham títulos mais otimistas, mas houve pouca contextualização nacional do tema em seus artigos, mesmo entre aqueles originados de agências de notícias nacionais.

 

Cerca de um terço dos artigos em cada um dos jornais foi dedicado ao tema “estilo de vida e comportamento”, desconstruindo uma velha crença de que o jornalismo em saúde é voltado de forma predominante às doenças. Os temas “câncer” e “doenças cardiovasculares” foram mais abordados pela FSP, enquanto o tema “genética e pesquisa experimental” foi mais explorado pelo OESP. Artigos que mencionam produtos e equipamentos de forma positiva foram mais presentes no OESP, mas essa diferença não foi significativa.

 

A importância da mídia para a saúde da população não deve ser subestimada, já que ela é uma das principais fontes de informação sobre saúde. O conteúdo divulgado influencia comportamentos, efeito que é ainda mais relevante numa sociedade que cada vez mais lida com a saúde como se fosse um produto de consumo. O objetivo da presente pesquisa não é o de desmerecer ou exaltar qualquer um dos jornais, mas sim de contribuir para a criação de estratégias para a uma melhor comunicação em saúde e conseqüente promoção da saúde no país.