A realização de testes genéticos para avaliar o risco da Doença de Alzheimer em filhos adultos e saudáveis de pacientes portadores da doença não provocou estresse psicológico significativo, de acordo com estudo publicado na última edição do periódico The New England Journal of Medicine. Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Boston e demais colaboradores nos EUA estudaram cerca de 160 indivíduos em que metade deles foi sorteada para receber resultados do teste genético (genotipagem da apolipoproteína E) e a outra metade para não receber.
Não houve diferença entre os níveis de ansiedade, depressão e estresse psíquico entre os dois diferentes grupos. Entretanto, aqueles que receberam resultados negativos no teste apresentaram menor grau de estresse psicológico, e aqueles que receberam resultados positivos apresentaram maior estresse psicológico, mas por um período de tempo limitado. Não houve diferença entre os grupos com teste positivo e negativo quanto a terem arrependimento em terem feito o exame. A pesquisa ainda revelou que o estresse psicológico associado ao teste foi maior entre aqueles que já tinham um maior grau de estresse psicológico de base.
Este estudo é de extrema importância no momento em que diversos testes genéticos para diferentes doenças começam a ser comercializados. Muita controvérsia ainda existe sobre o real benefício em se testar geneticamente a família de um indivíduo com a Doença de Alzheimer, já que o estresse psicológico pode ser maior do que os potenciais benefícios do exame. É importante ressaltar que os participantes do atual estudo foram cuidadosamente selecionados no sentido de se excluir indivíduos com transtornos neuropsiquiátricos. Além disso, os voluntários receberam aconselhamento genético por profissionais especializados. Esse é um cenário bem diferente da solicitação de testes para qualquer pessoa e por médicos que não têm experiência em aconselhamento genético. Hoje as empresas já começam a oferecer testes diretamente ao consumidor final, pessoas que não têm a mínima idéia do que fazer com um resultado positivo ou negativo.
O presente estudo acompanhou os voluntários por um ano, e eles continuarão a ser acompanhados para avaliação de seus estados psicológicos a longo prazo. Os resultados apresentados até o momento sugerem que não há prejuízos psicológicos significativos, pelo menos a curto prazo, ao se submeter filhos adultos de pacientes com o diagnóstico da Doença de Alzheimer a testes genéticos preditivos da doença.
As medicações atualmente aprovadas para o tratamento da doença de Alzheimer, na verdade, não mudam o curso natural da doença. As medicações fazem com que os portadores da doença possam melhorar seu desempenho cognitivo, mas a progressão da doença continua. Por isso, atualmente não há muita vantagem em se realizar testes genéticos para definir se uma pessoa tem maior ou menor chance de vir a desenvolver a doença. No dia em que tivermos disponíveis estratégias que realmente tratem a doença no sentido de evitar sua progressão, será fundamental definir o diagnóstico da forma mais precoce possível. Aí então, certamente os testes genéticos serão indicados em larga escala.
6 comentários
24 agosto, 2010 às 1:12 am
Iria
Dr Ricardo o sr sabe se existe algum lugar no brasil que estejam fazendo estudo com pessoas que , são filhos , netos ou irmãos de portadores de alzheimer ? A onde ?
Se o sr tem alguma matéria nova sobre alzheimer , gostaria de receber .
Obrigada
Iria
29 agosto, 2010 às 3:56 am
Ricardo Teixeira
Oi Iria
Certamente algumas universidades federais ou estaduais têm linhas de pesquisa voltadas a este tema. D~e uma olhada no último Post que fala sobre o ultimo artigo da Neurology sobre o assunto.
28 junho, 2010 às 12:29 am
Ricardo Teixeira
Oi Rosana
Essa pesquisa de tendência à Doença de Alzheimer envolve tese genético, avaliação neuropsicológica e exames de neuroimagem. Isso depende da idade da pessoa. Entretanto, essa investigação ainda é restrita, oor enquanto, a situações de pesquisa.
28 junho, 2010 às 12:28 am
Ricardo Teixeira
Boa noite Tomei a liberdade de enviar esta mensagem por ter lido uma reportagem sobre testes genéticos da doença de alzheimer. Gostaria de saber se aqui no RJ tem esse tipo de teste e onde seria. Mha mãe tem alzheimer e gostaria de saber a possibilidade de desenvolver essa doença. Sou bióloga e me interesso pela possibilidade genética dessa doença.. Obrigado Rosana
3 agosto, 2009 às 11:10 pm
Iria Vasques Ramos
oi , tenho 46 anos , meu pai morreu de alzheimer , o irmão dele e a irmã também , e uma prima dele .Tenho mais dois irmãos um com 47 anos e outro com 50 anos . E também tenho duas filhas uma com 21 anos e uma com 17 anos . E tenho uma preocupação em saber se tem alguma coisa que a gente possa saber se um de nós vai ter alzheimer , e se esse teste genético vai ter no brasil , e quem vai ter acesso a este teste . Se já existe este teste no brasil ,qual a possibilidade que eu tenho para fazer ??
obrigada
Iria Ramos
3 agosto, 2009 às 11:32 pm
Ricardo Teixeira
Olá Iria,
Esses testes genéticos já estão disponíveis no Brasil , mas é necessário entender que a realização destes exames realmente passarão a valer a pena quando houver tratamentos que mudem o curso natural da doença, algo que ainda não é uma realidade. As atitudes que podem ajudar na prevenção da doença são idênticas para quem tem testes positivos quanto para quem tem testes negativos: atividade física, manter atividade intelectual e lazer, dieta rica em vegetais e omega 3, prevenção de doença cerebrovascular.