Quando vemos um atleta ingerindo soluções especiais ou alimentos durante uma prova de longa duração, o que vem à nossa cabeça é que ele está se hidratando e repondo calorias e sais minerais. Em provas muito longas em que há redução das fontes de glicose dos músculos (glicogênio), é reconhecido que os atletas que repõem carboidratos durante a atividade têm melhor desempenho. Entretanto, em provas mais curtas, como grande parte dos esportes coletivos, ainda é discutível se a reposição de carboidratos é capaz de trazer algum tipo de benefício, e há estudos que confirmaram esse benefício, enquanto outros não. Faz sentido duvidar desse efeito, já que numa prova de uma hora de duração, sabe-se que a contribuição das fontes de glicose dos músculos é mais importante do que o nível sanguíneo da glicose. Além disso, a quantidade de carboidrato que o organismo consegue absorver nesse período não é muito relevante, não passando de uns 20g.
Talvez o possível efeito positivo da administração de carboidratos não seja diretamente nos músculos, mas sim no cérebro. Essa possibilidade tomou mais corpo após alguns recentes estudos que demonstraram que a injeção de glicose na veia não foi capaz de melhorar o desempenho do atleta, enquanto o mero contato na boca de solução de carboidratos sem sabor doce (Maltodextrina) foi capaz de melhorar o desempenho. Isso levantou a hipótese de que os carboidratos se ligam a receptores na boca (ainda desconhecidos), independentemente de ter sabor adocicado, que ativariam o sistema nervoso central e que por sua vez melhoraria o desempenho do atleta.
Um novo estudo recém-publicado no The Journal of Physiology foi mais além. Pesquisadores da Universidade de Birmingham administraram três tipos de bebidas a ciclistas bem treinados: solução à base de glicose 6,4%, outra à base de Maltodextrina e outra só de água. Foi adicionado adoçante artificial às três soluções para que ficassem com sabor parecido, e solicitado aos atletas que apenas colocassem a solução na boca por 10 segundos e depois a cuspissem fora. Usaram a solução por oito vezes durante repetidos treinos de ciclismo de uma hora e apresentaram melhor desempenho quando usaram as soluções que continham carboidratos, e pior desempenho com a solução de água.
Os pesquisadores ainda avaliaram a resposta cerebral ao contato na boca de cada tipo de solução através de ressonância magnética funcional. E o resultado foi que ambas as soluções de carboidrato ativaram regiões cerebrais do sistema de recompensa cerebral, que também é ativado quando comemos de verdade algo prazeroso, ou quando experimentamos diversas outras formas de prazer. Os resultados sugerem que os carboidratros ajudam no desempenho dos atletas ao fazerem com que o cérebro dê um empurrãozinho como, por exemplo, ao perceber menos sinais de cansaço. O estudo ainda sugere que existem receptores na boca capazes de enviar sinais ao cérebro quando entram em contato com carboidratos. Ainda não se conhece que receptores são esses.