Um dos principais marcadores da Doença de Alzheimer é o acúmulo no cérebro de uma substância protéica chamada de beta-amilóide, substância também encontrada no cérebro de idosos saudáveis, porém em pequenas quantidades. Esse acúmulo excessivo de proteínas no cérebro, que é geneticamente determinado, faz com que aos poucos ele vá ficando ineficiente. Os medicamentos atualmente aprovados para o tratamento da doença apenas retardam levemente a progressão do declínio cognitivo, sem mudar a história natural da doença. O grande sonho é encontrar uma estratégia eficiente que reduza o acúmulo dessas proteínas no cérebro.

 

Estudos com ratinhos vêm demonstrando resultados positivos de vacinas com a intenção de reduzir o depósito de beta-amilóide no cérebro. Além da redução do menor depósito da substância, os ratinhos que tomam a vacina ficam mais espertos. Esses estudos foram o alicerce para que um estudo em humanos fosse iniciado no ano de 2000 e esta semana podemos ter acesso aos seus resultados em publicação pela revista The Lancet. Os participantes do estudo já apresentavam diagnóstico clínico de Doença de Alzheimer e foi evidenciado que aqueles que usaram a vacina apresentaram uma significativa redução de depósitos de beta–amilóide no cérebro. Entretanto, o estudo não conseguiu demonstrar que essa redução de depósitos cerebrais mudou a velocidade de progressão da doença: os pacientes evoluíram tão mal quanto aqueles que não usaram a vacina.

 

Os resultados não devem ser vistos exatamente como um banho de água gelada, já que a redução de depósitos cerebrais de beta-amilóide demonstrados já foi um resultado vitorioso. Entretanto, o fato da vacina não ter ajudado a evolução clínica dos pacientes reforça a idéia de que a simples redução dos depósitos é insuficiente para impedir o processo degenerativo. Talvez o uso da vacina em fases mais precoces da doença possa ter um melhor desempenho clínico e essa deve ser uma estratégia a ser testada, já que os pacientes incluídos no presente estudo já apresentavam a doença em fase clínica moderada.

 

E o diagnóstico da doença antes dos sintomas é a ordem do dia. Fortes linhas de pesquisa têm tentado demonstrar marcadores biológicos seja no sangue, seja no líquido da espinha, ou através de métodos de neuroimagem, que possam detectar a doença antes que ela se espalhe pelo cérebro. São esses marcadores que conseguirão apoiar as pesquisas com vacinas e outras formas de tratamento para a Doença de Alzheimer, e esperamos que em breve cheguem a fazer parte do repertório da medicina preventiva como já são a mamografia, a colonoscopia e dosagem antígenos prostáticos.