“Deve existir algo para estimular sua imaginação, sua determinação e convicção. Sua realidade é muito limitada. Prefiro viver em um estado de sonho acordado. Um sonho acordado perpétuo” – Carlos Santana no documentário Carlos, 2023.

Você está lavando a louça, no piloto automático, e a mente começa a vaguear, o pensamento foi para sua próxima viagem de férias. Para tarefas pouco complexas, manter o pensamento em outro lugar pode fazer o trabalho ficar mais ágil porque nesse estado o cérebro consegue processar detalhes que ficam escondidos nas entrelinhas. É um estado semiacordado com aumento do contingente de ondas lentas características do sono profundo e que são crucias para a consolidação da memória.

Isso tudo nos faz pensar que um cérebro com boa atenção e processamento rápido é importante, mas as fugidinhas do pensamento podem também ser muito interessantes, especialmente para a criação e consolidação da memória. E o que seria do nosso equilíbrio mental sem boas doses de fantasia? Isso me fez lembrar de outro documentário, este de Kleber Mendonça, Retratos Fantasmas. Após mostrar a substituição dos cinemas de rua do Recife por farmácias e igrejas, o motorista de aplicativo nas cenas finais fala a Kleber, seu passageiro, que ele tem um superpoder de se tornar invisível e o documentário termina com o carro andando sem ninguém ao volante. Tiraram do cidadão o convívio diário com os cartazes dos filmes fantásticos no centro da cidade e seu aparelho psíquico logo se incumbiu de repor a dose de fantasia. Não tem mais King Kong, Tubarão, mas tem homem invisível.

* Extraído da coluna semanal Neurônios em Dia, parceria entre o Instituto do Cérebro de Brasília e o Correio Braziliense. Confira mais sobre esse assunto e outros conteúdos acessando nosso site (link na bio): http://www.icbneuro.com.br