Hoje em dia, 5% das mortes em nosso país são decorrentes de doenças infecciosas, mas em 1930 esse número chegava a 50%, e essa proporção deveria ser ainda maior no século 19, antes de Osvaldo Cruz. No dia 05 de agosto, comemora-se o Dia Nacional da Saúde em homenagem ao dia do nascimento desse grande médico, cientista, epidemiologista, sanitarista, gestor público
Oswaldo Cruz é um dos maiores pilares da história da saúde no Brasil. Na sua luta patriótica pela saúde, foi uma das mais fortes lideranças no avanço da política sanitária impulsionando definitivamente o progresso do país. Na pesquisa sobre percepção pública de ciência e tecnologia em nosso país, conduzida em 2010, Oswaldo Cruz foi o cientista mais lembrado pelos entrevistados. É indiscutivelmente um herói nacional. Morreu em 1917 aos 44 anos.
Voltando ao conceito de saúde.
Em 1948, a Organização Mundial de Saúde (OMS) formulou uma definição de saúde bem arrojada para a época e que é válida até os dias de hoje: saúde é um estado de completo bem estar físico, mental e social e não simplesmente a ausência de doença. Já nessa época, o conceito já era alvo de muitas críticas, mas mesmo assim ele nunca foi adaptado pela OMS. Elenco a seguir duas das mais importantes críticas.
1- O termo “estado de completo bem estar” colabora para o fenômeno de medicalização da sociedade. Medicalização define o fenômeno em que um comportamento ou uma condição física ou mental passa a ser tratado como se fosse um problema médico, recebendo um rótulo de doença e opções de tratamento. Dessa forma, é difícil olhar para os lados e encontrar alguém que seja tão “completo” assim.
A medicalização não para de crescer. Percebemos limites da normalidade de marcadores biológicos cada vez mais estreitos além de um crescente número de novas doenças. O que não era diabetes agora se chama pré-diabetes. O que não era pressão alta, agora é pré-hipertensão. Transtorno de déficit de atenção que tinha que começar na infância, agora já se discute que pode ter seu início na vida adulta. Quase não existe mais tristeza. Qualquer sentimento parecido é encarado como depressão.
O centro da discussão quando se fala em medicalização é a força da indústria farmacêutica num processo que impulsiona a sociedade civil, profissionais de saúde, órgãos do governo e a mídia a retroalimentarem a cultura de que todo organismo vivo da espécie sapiens, a princípio, deve ter alguma doença ou precisa de algum remédio. Todos esses atores têm seu papel na medicalização;
2- Os tempos mudaram. Hoje em dia morre-se mais tardiamente e a chance de desenvolver doenças crônicas é maior, o que dificilmente permite uma situação de “completo bem estar”. Hábitos de vida modernos estão associados aos alarmantes índices de obesidade atuais e ao aumento da prevalência de diabetes e hipertensão arterial. Envelhecer com alguma doença crônica é quase a regra e essa não é uma condição restrita aos países ricos. Em 2007, 72% dos brasileiros morriam por doenças crônicas e provavelmente esse número hoje não deve ser muito diferente.
A definição da OMS não contempla a capacidade humana de adaptação a uma doença crônica com a preservação do bem estar. Uma forma mais moderna de definir a saúde seria a capacidade de adaptação para a manutenção da independência e sensação de bem estar. Ao invés de um estado de completo bem estar, o EQUILÍBRIO DINÂMICO ENTRE OPORTUNIDADES E LIMITAÇÕES também parece uma definição de saúde mais interessante.
2 comentários
5 agosto, 2011 às 11:45 am
Ricardo Teixeira
Obrigado Leonardo pelo seu comentário impecável.
5 agosto, 2011 às 10:52 am
Leonardo Fontenelle
Nas últimas décadas a OMS tem adotado uma posição mais prática, de que saúde é poder fazer o que se quer. Ou seja, as pessoas têm que ter saúde para viver, e não o contrário. Essa visão tem sido traduzida nos estudos através de indicadores como anos de vida perdidos, anos de vida perdidos ajustados à qualidade de vida, e anos de vida ajustados à incapacidade, em vez da simples mortalidade. Além disso, a relação entre os anos de vida ganhos (com ou sem ajuste) e as despesas com uma intervenção (tratamento, exame de rotina…) são cada vez mais usadas para indicar se a intervenção deve ou não ser utilizada.
Minha impressão é que as pessoas costumam ter duas definições muito práticas de saúde. A primeira delas, mais antiga, é adotada pelas pessoas que estão se sentindo doentes: “saúde é o que eu vim procurar aqui”, referindo-se ao consultório médico. A segunda, adotada pelas pessoas mais sadias, é que saúde é não precisar nem de médico, nem de remédio. O simples fato de receber uma prescrição de uso continuado, mesmo sem efeitos colaterais ou custos financeiros diretos, faz com que muitas pessoas se sintam menos saudáveis.
Infelizmente, no consultório médico abundam as pessoas que, espero, são exceção na população geral: as que acreditam é que saúde é uma bateria de exames normais. Não apenas a indústria medicamentosa, mas também a dos exames de imagem e laboratoriais, lucram muito com as pessoas que acreditam que exames são sempre capazes de diagnosticas as doenças no começo e fazer a diferença no tratamento.